A sombra que sorri
A música era muito calma e sombria, a chamava, a seduzia...
Tão linda...
E de quem era aquela sombra no piano, o deprimente intérprete se escondendo da sua única platéia?
Foi indo em sua direção, lentamente, o braço estendido, ansiando por poder tocá-lo, senti-lo.
Estava realmente perto, quase sentia o tecido macio na ponta dos seus dedos.
Um barulho estrondoso veio contrastar com a melodia.
Abriu os olhos assustada, sem saber onde estava, sentindo o pescoço dolorido pela má posição.
O livro que estivera “lendo” estava agora no chão, caído, provavelmente a causa da interrupção de seu sonho.
Procurou pelo relógio de cabeceira, a luz vermelha dos números digitais indicando que já eram 7 horas.
Olhou para o céu e sentiu uma onda de alívio ao ver que era noite.
Levantou-se, e foi se trocar para sair.
Mas, sair para onde?
Continuar a andar, e andar, pensando, até que fosse tarde demais e ela voltasse para casa?
Não...
Olhou-se no espelho, uma bela adolescente de 17 anos a encarando de volta.
Mudara... E como mudara... Só quem não percebera fora Ron, mas de que isso importa agora?
Já não era mais aquela garotinha, ansiosa pelo seu primeiro ano em Hogwarts. Mas em parte se sentia como ela. A mesma euforia, o mesmo sentimento de importância por ser a guardiã de um segredo que era para poucos.
Mas tudo mudara, não era?Bom, ela mudaria também sua atitude.
Optou por usar uma saia preta, cheia de rendas e fitas, uma blusa de gola alta sem mangas e uma bota de cano médio, que combinados com o cabelo solto, arrumado por um feitiço simples, resultaram no visual que ela desejava.
Passou pela mãe, dessa vez sem ter que omitir o que faria.
A mulher era afoita pelo dia em que sua filha começaria a ser como os jovens normais, se divertindo sem nenhuma preocupação, sendo que ela aprovou a resolução da filha de ir à discoteca mais perto de onde os Granger residiam.
Hermione alcançou a rua rapidamente, não se contendo em olhar em volta, procurando por certo par de olhos verdes.
Não encontrou e ao vagar pelo bairro em direção ao bar (certo, falara para sua mãe que era uma discoteca, o que não deixava de ser verdade, visto que o lugar era amplo e continha bons espaços para as pessoas dançarem...), também não notou que os olhos a seguiam.
Hiram caminhava, negando a si mesmo quem ele pretendia ver na verdade. A noite jazia calma e imutável, as ruas silenciosas, o vento com o aroma suave, aroma esse que ele sabia que, mais tarde, adquiriria um incomodo toque de morte...
Ao ouvir passos leves e conhecidos, um sapato tocando com uma maciez indescritível a rua, virou-se, e mesmo antes de enxergá-la, já sabia quem era.
Porém, ela estava diferente naquela noite. Não na maneira de se vestir, e sim na expressão impressa no seu rosto.
A menina repentinamente crescera cerca de dois anos, ele sabia para onde ela ia, e sabia que isso queria dizer que pela atitude, ela tinha a mesma idade física e mental. Mas pelo o pouco que convivera com ela, ele sabia também que os motivos pelos quais ela ia para lá eram totalmente improporcionais a sua idade, motivos que ressaltavam o quão ela era especial.
Seguiu-a, dizendo-se que na verdade, ele só iria guardar por ela.
O lugar era barulhento e confuso, massas compactas de jovens se beijando, dançando e bebendo por todos os cantos. Ela nem imaginava de onde eles surgiram, sendo que o condado era pequeno. Lembrou-se que passara quase sete anos fora, tempo o suficiente para as crianças crescerem...
A luz piscante, os sons e o aroma de bebida deixavam sua mente tonta, os pensamentos desconexos. Viu-se caminhando rumo a “pista”, esbarrando em casais se chacoalhando ao ritmo da música. Realmente, por mais que ela não quisesse admitir aquilo não combinava nem um pouco com ela.
Um rapaz mais velho vinha em sua direção, tentando puxar papo, pelo menos era o que diziam os lábios dele, visto que ela não ouvia nada por cima do som abafado.
Quando ele pegou na sua mão, a guiando, ela deixou-se levar, para onde nem ele deveria saber.
Tudo bem, ela pensou. Nenhum problema em fazer novos amigos.
Lestat estava encostado numa parede, os braços cruzados e o cabelo caindo de lado, numa pose... Provocante.
Odiava aquilo, odiava os adolescentezinhos batendo os minúsculos cérebros na caixa craniana, mas era o lugar mais fácil para se achar uma vítima. Ninguém notaria que ela sumira, e se notasse nada mais normal. Quando ela não chegasse em casa, oras, mais uma vítima do caos urbano, da violência de hoje em dia.
Sem contar que o que ele deveria fazer era extremamente simples. Ficar lá, jogado, procurando pela menina do dia, quando encontrasse, jogar um pouco do seu charme e esperar que ela viesse até ele. O resto...
A escolhida da noite era uma loira de seus 18 anos, olhe lá... Corpo bem feito, roupas vulgares, maquiagem forte, mas não o bastante para ser daquelas que “cobram pelos serviços”. Como o previsto, ela veio até ele. Uma apresentação ridícula, na qual ninguém falava o nome verdadeiro, muito menos a idade. (Até parece que ele ia dizer que tinha duzentos e muitos anos...). Saíram de lá juntos, rumo a casa dele.
Junto com ele viu que saia de lá Mario, vampiro bobo e fraco de seu clã, mas com uma crueldade que ele até gostava. Carregava uma menina consigo. Ele sentia que já tinha a visto em algum lugar... Sua companheira apertou sua mão, o levando para longe de seus pensamentos. Mais uma noite de diversão.
Hiram esbarrou com Lestat na entrada. Este nem ao menos reparou na presença dele, pois olhava para o canto oposto, para o caminho rumo ao estacionamento. Depois que ele passou, Hiram foi olhar o motivo da distração do outro. Lá, prensando alguém em uma parede, estava um dos “jovens de Lestat”, como ele chamava os vampiros que o seguiam. Já ia entrar na boate, quando seus olhos notaram o pé da pessoa que o acompanhava, e distinguiram certa bota.
Saiu correndo, temendo que já fosse tarde demais.
Hermione estava no estacionamento, as costas contra a parede fria. Descobrira que o garoto se chamava Mário, e que na verdade, ele não era tão bonito quanto parecia. Ela queria sair dali, não estava gostando de nada. Seus olhos encontraram com os dele. Uma espécie de sonda foi tentando se infiltrar, como se ele estivesse aplicando legimancia contra ela. Lembrou-se de tentar fechar sua mente, o que foi terrivelmente fácil. Mas ele pareceu não notar. Uma onda de medo passou por ela quando os olhos dele foram mudando de cor, passando para um azul muito claro e assustador.
Deu-se conta do que estava acontecendo tarde demais. Ele era forte, e segurava seus pulsos firmemente. Não adiantava se esquivar, ele estava muito perto. Procurou alguma informação na sua cabeça. Nada que ela pudesse fazer.
Ele se aproximando mais e mais foi uma cena terrível, que ela assistiu como se estivesse fora do seu corpo.
Maldita idéia de ir para lá. Se ao menos tivesse sua varinha... Se ao menos pudesse pega-la...
Foi ficando cada vez mais e mais fora de foco. (Por que ela tinha sempre que desmaiar?).
E em um segundo, seus braços estavam livres, o vampiro que tentara ataca-la no chão, o mesmo sendo expulso por Hiram.
Escorregou até sentar-se no chão, sentindo-se ingênua e desprecavida. Afinal, estaria morta se não fosse por ele.
Ergueu sua cabeça, o olhando nos olhos. O cabelo dele estava bagunçado, ele a olhava com repreensão.
Ele a repreendia e se repreendia no olhar. Um segundo mais tarde e...Afastou da sua mente o que poderia acontecer. Virou-se, tentando se afastar de lá e ao mesmo tempo pedindo para que ela o acompanhasse.
Não olhou para trás, mas sentiu que ela o seguia.
Observando toda a situação em cima de um telhado, um vulto sorriu.
- Olá...
Cada vez mais eu demoro para postar, eu sei... Mas me entendam, o.k.? Eu estava relutante em escrever esse capítulo antes de terminar o “entrevista com o Vampiro”, livro que surpreendentemente eu encontrei na biblioteca do Liceu... (Eu ainda me pergunto o que o coitado estava fazendo lá...). Bom, mas a inspiração e a vontade foram maiores, por isso que eu estou aqui, com demora fenomenal...
Ah... Amaria se você, querida pessoa que está lendo essa nota, comentasse, O.k? Preciso da sua opinião... ^^
Beijos e até o próximo!
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