Encontros





Entrou naquela casa sem nenhuma preocupação em ser discreto. Bateu a porta e foi para a sala que sabia que ele provavelmente estaria. Andava sem se importar com o caminho, pois já o conhecia muito bem.

Chegou ao fim do corredor, e ao entrar no cômodo, logo encontrou quem queria. O cínico o olhava com os olhos erguidos, uma expressão falsa de contentamento pela sua presença.

-Hiram!Que prazer vê-lo!Pelo o que devo a honra de sua visita?
-Sabe muito bem por que estou aqui.O que deu em você dessa vez?
-Ah, amigo, sente-se, fique a vontade. Não é sempre que me dá o prazer de uma conversa agradável, por isso tenho que aproveitar estas ocasiões.Vinho?
Ele simplesmente lançou-lhe um olhar mortal, enquanto sentava-se em uma das diversas poltronas púrpuras espalhadas pelo recinto. Os outros, ao constatar que haveria uma longa discussão entre os dois, se retiraram imediatamente, os deixando sozinhos.
-Sobre o que tratávamos?-Disse Lestat, servindo a si mesmo um cálice de um líquido muito vermelho e espesso.
-Pare com isso.Você sabe o que fez e as conseqüências disso.
-Então, se já tens essa certeza, para que nos demorarmos em assuntos tão aborrecedores?
Hiram levantou-se rapidamente, a raiva estampada em seu rosto sempre tão calmo. Não estava com tempo para todo aquele cinismo e sarcasmo que preenchiam cada fala dele. Virou-se de costas para ele e disse:
-Irresponsável. Com suas brincadeiras põe todos nós em perigo. Se já não bastasse os problemas que temos, sempre nos arranja mais. Por que teve que matá-la?
Depois de um riso estridente, Lestat respondeu:
-O que queria que eu fizesse? A transforma-se em uma de nós? Poupe-me. Ela simplesmente foi meu alimento. Era a vida dela ou a minha, e é óbvio qual eu escolheria.
-Precisava chamar tanta atenção? Está em todo o lugar, levantando perguntas nos humanos.
-Para que tanta preocupação? Se vierem, os matamos. Sempre sobrevivemos a isso.Seu problema é que qualquer coisa atrapalhe sua vida sombria e isolada, Hiram. Nega sua espécie ao se recusar a beber sangue. Esquece-se que não são todos que tem a opção de viver sem ele, e mesmo se fosse, poucos escolheriam. Abstém-se dos prazeres destinados a nós em nome de uma vã filosofia.
-Fale o que quiser, só estou aqui para adverti-lo, Lestat. Não te impeço de fazer nada, só ordeno que faça sem que tantos fiquem sabendo.
-Claro, Hiram. Como desejar. Mas saiba que mais cedo ou mais tarde se juntará a nós. É sua natureza, e uma hora não conseguirá mais se opor a ela. E nessa hora, saiba que estarei aqui, para nos divertirmos juntos.
-Era só isso que desejava lhe falar. Adeus, Lestat.
Por um breve segundo, entre o ato de virar-se para sair, Hiram manteve um contato visual com Lestat.Esse breve momento de descuido permitiu que o outro visse algo muito eminente escrito nos olhos dele, o verdadeiro motivo para tanta preocupação.
-Qual é o nome dela?
Com um ímpeto, Hiram jogou-se em cima de Lestat, o prendendo com os braços e pressionando-o contra o chão.
-Não ouse, está ouvindo? Fique bem longe dela.
-Tanto sentimento por alguém? Quem seria? –Disse, com seu sorriso sarcástico claramente estampado em seu rosto.
-Não se atreva. É só o que digo.
-Mataria um dos seus?Lembre-se do código, Nosferatu. Não tocaria em sua noivinha mesmo que quisesse, não por sua proibição, e sim por que algo que te interesse é impossível despertar minha atenção. Mas se eu fosse você, ficaria de olhos abertos.



Hiram o soltou, e em questão de segundos já descia as escadas rumo à rua. Odiava a conduta de Lestat. Eram vampiros como ele que havia marginalizado sua raça e criado tanta aversão a eles. A escória. Era isso que ele era.
Mas todos seus pensamentos sobre esse encontro sumiram de sua mente quando seus olhos notaram a presença solitária de uma menina não muito longe dele.



Hermione sentara-se na calçada em frente à escadaria.
O ambiente era calmo e desolado, ela contou no máximo duas pessoas passando por ali durante o tempo em que ficara pensando.
Tudo. Tudo não saia de sua mente. Desde que a carta de convocação para Hogwarts chegara, eram raros os momentos em que sua mente a privava de lembranças, muitas vezes tão deprimentes. Tantas perdas, tantas lágrimas derramadas e sonhos partidos...
E agora mais uma carta vinha a perturbar. A família Weasley a convidava para passar o mês restante para o inicio das aulas em sua casa.
E era a primeira vez que ela não desejava ir. Não ansiava por encontrar os olhos azuis de Ron ou as faces amigas de Harry e Gina.
Gostava de sua solidão, mesmo a odiando.
No meio da oscilação de sentimentos, percebeu uma pessoa parada no outro lado da rua.
Ele a olhava.
Ela não conseguia pensar em mais nada que não fosse aqueles olhos verdes entrando no fundo dos seus.
E a sensação. Ah, aquilo que desejara por tanto tempo e que perdera sem nem ao menos ter encontrado. Toda a sua vida se resumia e a abandonava naquele olhar. Era uma porta para o desconhecido que uma parte dela conhecia muito bem. Sentiu o mundo desabar aos seus pés quando viu que ele vinha em sua direção, era incapaz de respirar. E sua última lembrança antes de tudo virar escuridão era de dois braços a segurando enquanto ela caia.




Abriu os olhos, sem saber quanto tempo havia se passado. Presumiu que fora muito, pois a noite já começava a cair no céu quando se sentou no chão frio e seu olhar percorreu a sua volta.
Já estivera ali antes. Estava em um banco da pequena junção de árvores que alguns chamavam de parque, ou os mais generosos de bosque.
O vento bagunçava seus cabelos, impossibilitando a visão de uma parte da paisagem, e quando ela finalmente conseguiu afastá-los, viu o mesmo rapaz de antes sentado ao seu lado, a olhando com os mesmos olhos penetrantes.
-Hiram...



Ele surpreendeu-se ao constatar que ela sabia seu nome. Era de se esperar, mesmo sem ele saber como aquilo era possível.
-Está melhor?
Ela o olhou com mais espanto do que antes, como se desacreditasse que ele era capaz de falar. Como ela sabia o nome dele, se é que aquele era seu nome, era um mistério, como tudo relacionado aquela criatura tão próxima a ela mas com a fala tão distante.
Concordou com a cabeça, percebendo que ela doía um pouco quando se mexia. Pousou sua mão nas têmporas, como se fosse capaz de retirar a dor com um simples toque.
Se ele notou isso ou não, ela jamais saberia, pois mais uma pergunta se sucedeu a sua ultima resposta.
-Como se chama?
-Hermione...
O nome ressoava conhecido em seus ouvidos, abrindo uma rede de informações e de lembranças, mesmo se ele saber de nenhuma.
-Sendo, assim, o que você, Hermione, estava fazendo chamando vampiros noite passada.



Uma rajada de vento passou naquele momento, levantando um arrepio por todo o seu corpo. Rapidamente sua mente assimilou que para saber disso, ele tinha de ser...
-Como você sabe?
-Você sabe como eu sei, mas o que eu não sei é a razão por você ter feito isso ou como você conseguiu fazer isso, mesmo sendo uma bruxa.
A situação ainda era absurda demais para ela aceitar tudo. Por que cargas d’água ela, Hermione Granger, estava batendo um papo com o menino (literalmente) dos seus sonhos, que era ao mesmo tempo um vampiro, que sabia que ela era uma bruxa e sabia sobre o que ela andara fazendo.
Só lembrou-se da pergunta dele quando percebeu que ele a encarava, e rapidamente respondeu.
-Eu achei um livro na biblioteca.
-E resolveu que iria invocar alguns vampiros para saber como é que era?
-Praticamente isso.


Uma explicação aceitável, pela qual ele já esperava. Mesmo sendo um absurdo, era a verdade e ele sabia disso. Mas algum motivo tinha para justamente ela ter encontrado aquele livro e justo ela ter aparecido em sua vida.
-Ah, desculpe te atrapalhar, mas, tipo, quem é você?
-Era eu que deveria estar fazendo essa pergunta.
Ela não achou nada para dizer, e tendo ficado calada, ele continuou.
-Simplesmente, meu nome é Hiram, eu sou um vampiro que vivia na paz eterna até acordar uma noite com uma pessoa o chamando.
Ela corou. Mas ao ver que ele terminara, ela se viu obrigada a protestar.
-Só isso? Oi, eu sou um vampiro, e como está sua família?
Ele arqueou as sobrancelhas, mas não pode deixar de sorrir.
-O que mais? Sobre minha espécie você já sabe. Então me deixa sem ter nenhuma informação adicional.
-Sendo assim, você pode me atacar a qualquer instante?
-Não. Sou puro sangue.
Mesmo odiando essa expressão, ela sabia o que significava e que no caso dele, não era uma ofensa. Lera sobre o que ser descendente de vampiros significava e o que isso trazia, e sabia que ele, se quisesse, poderia não sobreviver de sangue humano.
-Isso explica...Sobre mim, bom, eu sou uma bruxa de 16 anos que no meio das férias pegou um livro e resolveu fazer uma experiência.



Silencio. Sem perguntas adicionais, sem a curiosidade eminente dela. Pelo jeito, ele era quieto e retraído mesmo. Ficou observando a figura serena e obscura do rapaz. E como ele era belo. De uma maneira que ela não sabia explicar.Algo nele chamava sua atenção. Uma espécie de campo invisível que a atraia e a fazia desejar ter uma relação mais profunda com ele. Algo que nunca sentira antes por ninguém. Queria abraçá-lo e ficar assim, quieta e calma para sempre, mas o por que de querer isso o conhecendo há tão pouco tempo era um mistério. É claro que havia o charme natural dos vampiros, mas era mais que isso. Era uma dependência física e emocional que a dominava, a fazendo devanear sobre como seria se suas vontades se tornassem reais.
Despertou com a voz grave e calma dele.

-Já está tarde, é melhor você voltar.

Rumou para sua casa perdida, sem saber o que fazia, sem saber de nada.Ignorou as perguntas maternas e entrou em seu quarto, jogando-se em sua cama, cheia de dúvidas e perguntas. Fechou os olhos, e como se quisesse velar por ela, uma última palavra veio a sua mente antes de adormecer.

-Hiram...



N/A: Ola!!!
Olha, demorei muito tempo para terminar esse capítulo, e mesmo assim o resultado não me agradou. Eu precisava de menos palavras e uma conversa entre Hiram e Hermione melhor... Algo que já desse pistas de como seria a relação dos dois, mas acredito que falhei totalmente... Bom, eu vou postar, e se eu tiver uma idéia melhor depois eu mudo...^^

Obrigada a quem tem lido e comentado!!!Ora, toda escritora sã gosta de comentários, sabe, relacionamento com os leitores...Então...


Karina Angélica Tresso: Oras, quem disse que a velhinha não era criminosa??? Ha ha!Sério, eu não sabia....Como no filme ele matava qualquer alma que cruzasse o caminho dele achei que era assim mesmo...Sorry, entom... Vou ter q deturpar mesmoooo ele, sabe... Para continuar com a idéia que tenho para a fic...Mas mesmo assim obrigada!!!!! Se eu arranjar um jeito de fazer com que ele só se alimente de criminosos, estaja certa de que o farei!!!Obrigada pelo comment!!Bjs!!

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