Perdas e Ganhos
Título: Acerto de Contas – O Dossiê Haarlem
Autor: Mari Gallagher
Contato: marigallagher(arroba)Hotmail(ponto)com ou mmaaryy(arroba)Hotmail(ponto)com
Shipper: Harry e Hermione
Spoilers: Livros 1 a 5
Gênero: Romance/Aventura
Status: Em andamento
Sinopse: (PÓS-HOG) Hermione está à beira do altar, pronta para casar-se e ser feliz para sempre. Mas algo faz com que ela simplesmente repense suas decisões. Harry Potter voltou, mais misterioso e charmoso do que nunca...
No capítulo Anterior...
Uma viagem ao passado relembrou a Hermione e Harry aquela que deveria ter sido a noite de sua morte. E Harry ainda tem algumas questões para acertar... Sozinho.
Capítulo VI – Perdas e Ganhos
Pelo contorno do campo e golfe era possível ter uma vista panorâmica de Beverly Hills. A cidade estava movimentada naquela época do ano, o clima era agradável e a programação para turistas ia de vento em popa. Bill Carrington era seu advogado há cerca de dez anos, e também um dos poucos amigos verdadeiros que havia conseguido enquanto vivia no anonimato. Tinha vindo para Califórnia, exclusivamente para vê-lo. Assinou a última página com capricho de devolveu a pasta de couro preto para o homem à sua frente que vestia um terno azul marinho que Harry poderia apostar que não custava menos de dois mil dólares.
- Então… Quanto tempo fica na América?
- Tenho que estar de volta a Londres amanhã pela manhã. – respondeu Harry. – Acha que posso ir tranqüilo e ciente que minhas empresas ainda continuam sendo minhas empresas?
O outro homem riu tomando um gole de seu suco de abacaxi.
- Eu não seria o melhor advogado do Hemisfério Norte se você não pudesse ter esta certeza! – foi o que ele respondeu. Harry também sorriu.
- Foi o que eu imaginei, afinal seus honorários o tornam capaz de ressuscitar uma pessoa e todo o seu patrimônio, não é?
- Bah! Deixe os honorários fora disso. Ressuscitar alguém se torna algo possível quando a pessoa a ser ressuscitada é alguém tão notório e é claro, quando se fala com as pessoas certas.
- É exatamente por isso, que eu não me importo com os honorários Bill. – os dois riram.
- Mas desta vez, admito que me deu algum trabalho Mr... Potter.
- Já estava na hora disso acontecer!
- É verdade. Sabe que há muito me preparava psicologicamente para que este momento chegasse. Você sabe... Ter que mexer com todo este assunto. Inclusive acho que demorou mais do que esperava para tomar esta decisão.
Harry tomou um gole de seu suco.
- Você tem razão. Demorei muito para resolver voltar. Mas este era o meu tempo. Não conseguiria fazê-lo antes de... – parou com as palavras engasgadas na garganta.
- Antes de quê?
- De perceber o quanto eu estava perdendo. – respondeu com os olhos no chão e com algumas memórias recentes na cabeça.
Bill abriu um meio sorriso e franziu o cenho.
- Pensei que você sempre soubesse o que estava perdendo! Quer dizer... Que você tivesse plena consciência do que havia perdido com esta idéia louca de morrer... – Harry considerou a hipótese. – O que percebeu de novo?
- Bem... Eu... – hesitou - O mesmo de sempre.
- Não. Não, não. Você falou claramente que não poderia fazer isto antes de perceber o que estava perdendo. Ou seja, algo novo. Aconteceu alguma coisa que eu não saiba?
- Não. – respondeu de imediato. Bill não pareceu convencido. – Foi apenas... Força de expressão.
- Está bem. Vejo que subestima meus neurônios. Eu o desculpo.
Harry virou os olhos.
- Obrigado.
Os dois brindaram os copos de suco enquanto Harry refletia sobre tudo que pôs em risco quando morreu e tudo que tinha a recuperar quando retomou a vida. Abriu um sorriso lentamente. Sentia-se feliz.
XXX
“You could be my enemy
I guess there’s still time
I get round to loving you
Is that such a crime?”
Oasis – Guess God thinks I’m Abel
Quando Ginny despertou, assustada, estava no banco de trás de um veículo conhecido que tantas vezes usara na companhia de Draco. A última memória que tinha era de sua cela no Ministério ser aberta e então um clarão apagara totalmente sua visão. Ainda zonza reparou que estavam estacionando, e bem diante da sua casa.
Nem esperou que lhe abrissem a porta. Desceu do Rolls Royce num salto e correu para dentro da casa. Um turbilhão de ansiedade lhe subia pela garganta. Uma mistura de alívio com desespero que apenas lhe dava mais forças para romper em correria os cômodos que a distanciavam da suíte. Estava sem fôlego quando abriu num ímpeto a porta do quarto e o viu. Draco tinha um copo de whisky em uma mão e o antebraço escorado à porta do banheiro. Tinha uma expressão abatida, mas seus olhos brilharam antes que rompesse os metros que os separavam e a abraçasse. Ginny o apertou o mais forte que pôde e conseguiu voltar a respirar.
- Você está bem?
- Sim, sim. Agora estou. Oh Merlin! Pensei que nunca mais o veria denovo. - sussurrou com voz trêmula.
Ele segurou seu rosto entre as mãos e disse:
- Eu não deixaria que isto acontecesse.
Ginny conseguiu sorrir, embora os olhos estivessem marejados e então sentiu seus lábios serem tomados de forma arrebatadora pelos de Draco. Um beijo quente, ardente que a pôs em chamas e lembrou-a de forma intensa o quanto sentira falta do marido. Ao fim estava arfante acariciando as madeixas loiras entre os dedos. Respirou fundo quando se separaram.
- Eu sinto muito. - falou ela. - Sinto muito por ter dado tudo errado, eu deveria ter percebido que era uma armadilha e...
Draco a deteve com um gesto de mãos.
- Shhh. A culpa não foi sua, Ginny. Se eu tivesse refletido mais um pouco jamais teria prosseguido com a operação. Vamos esquecer isso.
- E os outros?
- Não se preocupe. Está tudo sob controle. - falou Draco em tom seguro.
Ela sorriu e caminhou até a janela do quarto retirando o sobretudo.
- Tenho algo importante para falar com você. - começou em tom sério. - Sei que o que vou dizer vai parecer estapafúrdio, mas é verdade, tenho certeza.
- O que houve? - disse ele cruzando os braços.
- Quando estávamos em operação, antes de me pegarem em Somerset, eu vi aquele capanga do Carter. - fez uma pausa. - E Harry estava com ele. Harry-está-vivo! E está com aqueles homens horríveis. - Draco mirou o chão por alguns segundos, ainda em silêncio. - Precisamos fazer alguma coisa, o mais rápido possível. Quero saber o que está havendo, porque parece simplesmente fantástico! Há uma espécie de conspiração ou algo do tipo! Você consegue acreditar que Harry não morreu naquela noite?
Os olhares deles se encontraram. Ginny esperou alguma reação do homem, mas ele permaneceu impassível. Ela intrigou-se por dois segundos, porém quando o olhar de Draco hesitou do chão para encará-la novamente, Ginny sentiu-se tonta e percebeu tudo.
- Draco? - foi o que pronunciou e mais uma vez o olhar de Draco foi-lhe claro o suficiente. - Eu... Não acredito. Você já... HÁ QUANTO TEMPO SABE DISTO!?
Não houve resposta. Mais uma vez ele estava com o copo de whisky nas mãos. Ela caminhou possessa na sua direção e o vidro explodiu fazendo escorrer o líquido pelo chão.
- Draco! Eu perguntei há quanto tempo sabe disto? - apontou o dedo na cara dele.
- É melhor se acalmar. - retrucou em tom calmo.
- Há-quanto-tempo? - rosnou entre dentes segurando com agressividade o tecido da camisa de Draco.
- Há... Algum tempo.
Ginny cobriu a boca com as mãos, os olhos arregalados, e afastou-se dele, indo encostar-se à janela.
- Oh Merlin... - murmurou antes de virar-se para ele e vociferar: - Seu desgraçado! Você sempre soube! Sempre! É tão óbvio!
- Parece que sim.
- Você sabia desde que aconteceu. E eu não sabia! - tinha um tom agudo e indignado na voz. - Por que nunca me contou?! Por quê!?
- Por que eu contaria? - falou com frieza.
- Como é que é? Draco... Estamos falando de Harry. Meu amigo Harry! Você tinha a obrigação de me contar!
- Não tinha não.
- Não? Céus eu sou sua mulher! Acha que não teria que me contar que meu amigo Harry não morreu? Será que você perdeu o senso da realidade!? - abriu os braços, tinha as faces coradas. Draco permaneceu impassível. – Não consigo acreditar que tenha escondido algo tão sério de mim!
Ele respirou fundo.
- É? E por que eu deveria ter contado? Por que você gostaria tanto de ter tomado conhecimento disto? Ah, não precisa responder. Isto também é tão óbvio! Para ir correndo para os braços dele, não é mesmo?
- Não seja ridículo!
- Não estou sendo. Por qual outro motivo você faria tanta questão de saber? Para se juntar ao seu namoradinho, é claro!
- Cala a boca! Não se trata disto, se trata única e exclusivamente do fato de ter escondido esta informação de mim! Eu tinha o direito de saber, Draco! Harry meu amigo passou estes anos todos sob o poder daquela corporação horrorosa e você não me contou por ciúmes?! Não vê o quanto foi inconseqüente? Ele podia estar correndo perigo, e ainda pode estar!
- Quem se importa?
- Eu me importo.
- Ah, é claro. – falou com desdém. – Por um segundo tinha esquecido a sua adoração doentia pelo Potter. “Seria tudo tão diferente se Harry não tivesse morrido” – imitou a voz de Ginny. – “Ele não merecia aquele fim, após tanto sofrimento.”
- Cale-se!
- Aposto que sim. Aposto que tudo teria sido diferente caso ele não tivesse morrido. Vocês estariam sendo felizes para sempre... Não era isso que você queria? Sinto muito, acho que estraguei tudo!
- Como pode dizer essas coisas? Sabe que nada disso iria acontecer. Quantas vezes terei que repetir?! Você é o homem que amo, nada mudaria o que sinto. Não é possível que ainda tenha dúvidas em relação a isto! Não confia em mim?
- Acredite, não é uma questão de confiança.
- E é uma questão de quê?
- De precauções. – disse dando de ombros. – E negócios.
Ginny sacudiu lentamente a cabeça.
- Você é patético.
- Provavelmente sim. Quem não seria patético? – fez uma pausa. – Ah! Potter, é lógico.
- Pare. Não faça me aborrecer mais ainda com você! Estou cansada. – falou de modo estafado. – Tudo o que não preciso agora é aturar o seu ciúme obsessivo e imbecil!
Caminhou até a entrada do quarto e abriu a porta. Draco observou a cena tomando mais um gole de whisky.
- Fora. – disse ela apontando para o corredor. Draco ergueu a sobrancelha.
- O-quê? – disse sorrindo incrédulo.
- Saia do quarto. Agora! – gritou a última palavra.
- Ginny, eu acho que...
- Não se aproxime. – falou quando o homem deu um passo em sua direção. – Você não dorme aqui, fui clara?
- E se eu não sair?
- Saio eu.
Procurou clemência no olhar de Ginny, mas ela estava imperturbável. Ele respirou fundo e lentamente caminhou para fora da suíte. Mal havia dado o passo que o levou ao corredor e a porta bateu em suas costas num estrondo ensurdecedor.
XXX
“I've been doing it wrong all of my life
This holy town has turned me over
A young man running when he didn't understand
The wind from the Loch just get colder, colder”
U2 – North and South of the River
Harry havia voltado para Londres naquela manhã, tempo exato para que sua poção ficasse pronta. Todos seus assuntos pendentes haviam sido resolvidos. Agora, só lhe restava aquele. Então poderia voltar, realmente voltar à ativa. Não estava em seus planos passar tanto tempo fora, mas era necessário. Temia pela segurança de Hermione, na verdade seu intuito sequer era envolvê-la nisto, mas já que havia envolvido tinha tomado a precaução de pelo menos observá-la de longe. Ao que parecia tudo corria tranqüilamente, Hermione também estava tomando bastante cuidado, o que o acalmou.
O plano era simples, não tinha como falhar, por isto ele percorria os quarteirões que faltavam na Gray’s Inn Road em passos lentos e comedidos, atento ao movimento de todos e concentrado, recapitulando sempre que possível os passos da tarefa.
Conhecia bem o prédio da C&C Associations, a presidência, onde estava o escritório de Carter, ficava no vigésimo andar, mas era uma sala apenas de fachada onde os negócios aparentemente lícitos eram realizados. A sede do Consecro, no entanto, ficava no subsolo, cinco andares abaixo. Lá um templo fora montado para os rituais de adoração à Deusa Nemesis. Harry tivera a oportunidade de presenciar parte de uma dessas cerimônias. Fora a coisa mais repulsiva que já vira na vida. Naquela noite de lua minguante teve certeza que Carter e os companheiros eram dementes. Todos estavam encapuzados e cantavam hinos em uma língua indecifrável enquanto faziam gestos e movimentos de veneração à uma estátua central. Uma cena bizarra.
Após romper o hall principal chegou ao elevador privado de acesso aos andares inferiores, que era guardado por uma outra pequena recepção, onde atrás do balcão um jovem franzino, pálido e nervoso manipulava desajeitadamente alguns papéis.
- Boa tarde. - Harry disse secamente.
- B-boa tarde, Sr. Stuart.
E após o aceno a porta se abriu à sua frente. Harry entrou. No espelho lateral paralisou-se sobre a sua própria imagem. Nunca se vira tão feio diante de um espelho. Aliviou-se ao lembrar que sua imagem real era bem mais agradável e atraente. Quando no visor ele viu as letras "S5" saltou para o longo corredor de paredes acinzentadas. Seu destino era o arquivo central. Não seria difícil já que Stuart freqüentemente, leia-se, todos os dias, tinha como obrigação checar se estava tudo em ordem no grande escritório, inclusive no arquivo que eram salas conjugadas.
Cortou caminho pelo hall lateral reservado para pequenas recepções e sorrateiramente penetrou na sala de arquivo pela entrada dos fundos. Era uma espécie de grande gabinete, semelhante à uma biblioteca, onde em altas prateleiras jaziam uma quantidade enorme de pastas, pergaminhos e caixas. Caminhou entre os corredores até parar em um último que dava para um compartimento mais estreito contido por uma grade, como na seção restrita da biblioteca de Hogwarts. Sem dificuldade atravessou a grade indo até o final do estreito corredor.
Sabia exatamente onde procurar. Na última divisória estava o recipiente que a alta elite da irmandade vulgarmente chamava de "Caixa de Pandora". Cuidadosamente, Harry tomou em mãos uma caixa dourada, retangular, cuja superfície era coberta por palavras escritas em uma língua desconhecida. Com um discreto e satisfeito sorriso nos lábios de Stuart, passou a vasculhar as pastas, folheando com velocidade todos os papéis. Um baque forte de porta batendo o fez estancar. Escondeu-se atrás de uma das colunas, mas percebeu que o som vinha da sala anexa, e agora estava também acompanhado por vozes, que por sinal lhe eram muito familiares. A primeira, apenas de um homem.
- N-não p-pode ser... Minha deusa, não pode. E-eu vi, eu ouvi errado. - lamentava-se a voz masculina. - É impossível... N-não pode estar acontecendo!
Harry esgueirou-se até a porta de interligação das duas salas que estava entreaberta e tentou localizar o homem. Sem muita dificuldade o avistou, caminhando nervosamente de um lado para outro, pingava em suor. Respirou aliviado. Era apenas Kirk Heston. Mais um iludido fanático, porém inofensivo, que naquele instante parecia especialmente atordoado. Apressou-se para pegar o que precisava e sair quando uma segunda pessoa adentrou o escritório em passos fundos.
- Meu garoto... - bradou a voz gélida que Harry também conhecia muito bem. Era a mesma voz mansa que o iludira anos atrás.
- Afaste-se de mim! - Kirk retrucou. - Eu ouvi tudo, tudo!
- Do que você está falando, menino? - falou Carter em tom acolhedor.
Harry voltou a posição anterior e passou a observar os dois.
- Não, não, não se faça de desentendido. - apontou o indicador para o outro. - Eu ouvi tudo... Sobre o crime que cometeram! E duvido que tenha sido apenas um!
Carter permanecia impassível.
- Eu não sei do que está falando.
- Estou falando sobre Peter. E sobre Mary. - lágrimas escorriam sobre a face de Kirk. Harry fechou levemente os olhos. De alguma forma ele havia descoberto tudo. - Eu ouvi muito bem o que você e o Professor falavam! Vocês são... Assassinos! Assassinos! Vocês me enganaram este tempo todo!
- Não. Isto não é verdade.
- Não minta! Eu já sei de tudo! Vocês... Vocês apenas me enganaram! - disse em tom deveras desgostoso. - Onde está toda aquela história de paz, e de moral!? Vocês tiraram a vida de um de nossos irmãos! Quero que saiba que Peter e Mary terão justiça, no que depender de mim!
- É melhor você ficar calmo, ou seu coração pode não agüentar. - falou Carter, caminhando até o bar, voltando poucos segundos depois com um cálice e entregando ao franzino garoto. - Tome, vai se sentir melhor, filho.
- Não me chame de filho! - Carter pôs o cálice sobre a mesa de centro.
- Por que age desta maneira tão hostil? – Kirk encolheu os olhos. - Nunca o enganamos. Você queria crer na Deusa e nós demos isto a você. Demos um templo, e orações e irmãos. Só precisava de um bom motivo para continuar vivendo, e o encontrou aqui. Apenas isto. Nunca o enganei.
- De que merda você está falando!?
- Não entendeu? Eu disse que não o enganamos. Você o fez por si próprio. – declarou sem mover um músculo.
Os lábios do garoto tremeram, os olhos acinzentados voltaram a brilhar.
- Você é um monstro e quero que saiba: eu vou embora daqui! - tomou a bebida em um gole só.
- Ah, vejo que entendeu tudo errado. - disse Carter friamente. - Não pode ir embora. Filho.
- Tente me parar! Já d-disse que... Eu p... E-eu... - não conseguiu prosseguir.
E suando mais do que antes Kirk levou desesperadamente as mãos à garganta e caiu de joelhos numa expressão agonizante. Harry cresceu os olhos. Sabia o que Carter havia posto na bebida, já o tinha ouvido mencionar o ‘âmbar de Cartago’ muitas vezes. Kirk agonizaria por cerca de vinte minutos, mas não tinha nada que alguém pudesse fazer a respeito. Ele já estava morto.
- O que disse? Desculpe, não consigo ouvi-lo. - falou Carter, inabalável. - Eu sei... A bebida é deliciosa.
Kirk rosnava, como se tivesse um dragão engasgado em sua garganta. As faces estavam cobertas por suor e rubras, o corpo se debatia, numa luta perdida, enquanto Carter saboreava um conhaque.
O homem riu com as inúteis tentativas do jovem de clamar por ajuda. Naquela sala a esperança havia se esvaído e mais uma vida era levada pela obsessão de Carter e do maldito Professor. Horrorizado com o que via juntou o máximo de papéis que pode sob o sobretudo e saiu em disparada, seria fácil demais para um bruxo como Carter descobrir que havia mais alguém no escritório. Alguém que não devia estar lá. Passou tranqüilamente pelos corredores e subiu ao primeiro piso pelo elevador. O rapaz pálido da recepção gaguejou algo na sua direção que foi prontamente ignorado. Estava a três passos da passagem giratória quando passou pela última pessoa que poderia. Charles Stuart, apesar de distraído, estancou dois passos após quase colidir com uma figura muito parecida com ele próprio. Por dois segundos refletiu se poderia estar imaginando coisas. Mas não... No mundo mágico não se imagina esse tipo de coisas. Elas realmente acontecem. Caiu em si e correu para fora à procura do homem de sobretudo que tinha a sua face. Avistou-o a longe girando em um beco. Arfante ao chegar ao lugar, após um estampido e um chicotear, encontrou apenas o vazio. Ele se fora bem há tempo. E Stuart tinha a forte impressão de que Carter não ia gostar nada, nadinha disso.
XXX
Era madrugada e Ginny ainda não havia conseguido pregar o olho, na sua mente ainda martelava a amplitude das revelações que vieram à tona. Aquele, definitivamente fora um dia longo, cansativo e surpreendente. Num instante estava presa no Ministério da Magia e num outro instante ainda de olhos vendados embarcava no carro de volta para casa. Sim... Era algo a se considerar. Como não tinha pensado nisso antes? Estava presa e logo em seguida livre? Como, como Draco conseguira tirá-la do Ministério? A felicidade por estar sã e salva era tão grande que sequer parara para considerar o quão fantástico aquilo parecia!
Pôs-se de pé em um pulo e saiu do quarto. Uma música ecoava vinda do andar de baixo. Sem dúvida Draco ainda estava de pé. Só de camisola, Ginny se dirigiu para lá. Ele ouvia uma ópera, a vitrola no último volume, sentado na grande poltrona da saleta de música, tinha os olhos fechados e um copo de whisky na mão. Parou ao lado do piano, com um gesto nas mãos fez o som baixar o que chamou a atenção de Draco para ela. Estava séria, ainda muito decepcionada com o marido.
- Como você fez aquilo? – perguntou com um semblante rígido. Ele respirou fundo massageando os olhos, abriu os braços.
- Isto denovo? Se deu ao trabalho de descer para defender o Potter novamente?
- Não falo disto, mas só a título de informação, sim eu me daria ao trabalho de fazer muito mais do que descer uma escada para defendê-lo.
Draco pousou o copo na mesinha de centro e começou a bater palmas.
- Bravo! – gargalhou. – Agora terá a oportunidade de fazer isto por ele, mas é melhor se apressar, por que eu não sei por quanto tempo ele ficará fora da sepultura.
- O quê? – ela encolheu os olhos e se aproximou dele. – o que você quer dizer com isso?
- Que o consecro não vai achar interessante este defunto andando por aí. Aliás, não só o Consecro.
- Como você consegue ser tão sórdido? Acha mesmo que vão conseguir pegar Harry denovo? – riu. – Eu digo que não. E mais! Saiba que eu farei o pós-máximo para que Harry não volte para sepultura nenhuma tão cedo! – falou em tom imperativo.
Pela segunda vez, antes que Draco se pusesse de pé, o copo de whisky explodiu.
- Não! Você não fará! – segurou-a com força pelo braço. Ginny se desvencilhou.
- Por que não?
- Por que você é minha! Minha! Eu não permitirei, assim como não permiti até hoje que você mova uma pena a respeito disto. Entendeu??
- Está enganado se acha que vai me impedir de alguma coisa! Por que acha que eu deveria obedecer ou acatar ordens de uma pessoa que foi desonesta comigo por quase dez anos!?
- Você é minha mulher! Você deve lealdade a mim!
- E você não deve lealdade alguma a mim Draco Malfoy?? – gritou. Draco novamente a puxou severamente pelo braço. – Pra começar pode me contando como conseguiu colocar seus homens no Ministério, por exemplo! – o olhar de Draco hesitou. – Vamos! Não é de lealdade que estamos falando? Pois então é a sua vez. Chega de segredos! Como conseguiu me tirar de lá, Draco? Como?!
Draco abria a boca para retrucar quando em passos rápidos e corridos o mordomo adentrou na sala.
- Senhor Malfoy! – falou o homem em tom ofegante e ansioso.
- Agora não, Marcus! – disse com impaciência.
- Mas senhor, acabaram de...
- Não está vendo que estou ocupado! Já disse que agora não posso...
- Mas… É sobre o senhor Kirk!
- Por Merlin, Marcus! Diga a Kirk que não posso socorrê-lo ou o que quer que seja às duas da madrugada e também...
- Mas... Ele está... morto, senhor!
Draco pestanejou várias vezes e soltou o braço de Ginny num impulso. A mulher prendeu a respiração.
- O... O quê... O quê você disse? – Draco titubeou.
O mordomo deixou os ombros caírem antes de repetir para os olhares apreensivos e perplexos de Draco e Ginny.
- o Senhor Kirk...
...Está morto, senhor.
XXX
TO BE CONTINUED...
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