Prologo.



Meia noite, um quarto mal iluminado. Uma mulher falando sozinha. 1979.

Só depois que o tempo passa é que você olha pra trás e vê quantos erros cometeu na vida.
Não que eu tenha cometido muitos, é claro.
Eu sou uma Black, e os Black nunca erram...
Tudo bem... quase nunca. Que ironia. Eu me lamentando.
A verdade é que os anos passam e você se pergunta: por que?
Esse é o grande X da questão...
Não que eu seja muito boa em pensar em toda essa baboseira sobre o sentido da vida, mas às vezes, numa noite como essa em que você está jogada no seu quarto fumando um cigarro atrás do outro e sem ter uma viva alma pra pelo menos poder gritar com ela é que essas perguntas vêm.
Por que eu fiz isso? Por que escolhi aquilo? Por que me deixei levar? Por que empurrei a Andrômeda do topo da escada quando eu tinha 13 e ela 10 anos...?
Se bem que a resposta pra essa última eu sei: foi por pura maldade mesmo...
Acho que é isso que me impulsiona nos últimos anos... pura maldade.
Houveram tempos diferentes, é claro. Tempos em que havia mais do que fumar, beber e matar uma pessoa ou outra de vez em quando.
Havíamos nós três, nossas vidas, nosso juramento.
Foi o curso natural das coisas que nos juntou. Almas irrequietas se procuram. Buracos negros se atraem e se engolem criando cada vez mais vazio a sua volta.
O fato de a minha mãe ter morrido quando eu tinha só três anos ajudou também. O bêbado do meu pai, que não conseguia limpar nem a própria bunda direito ia poder cuidar de uma criança...? Eu acho que não. Então lá vamos nós... casa da tia Laurent e do Tio Órion... dividir espaço com as filhinhas deles... Bella e Andie.
A Andie foi sem graça desde o começo... medrosa. Calada. Vivia pelos cantos tentando não incomodar ninguém... Mas pelos olhares que Tio Órion lançava a ela eu imaginava que o só o fato dela respirar o incomodava.
Mas Bella não. Bella era a alma daquele lugar. Eu e ela éramos a alma daquele lugar.
Uma alma selvagem, dura, maldosa e ciumenta, mais ainda assim radiante. Os orgulhos dos meus tios. Verdadeiras Black. Tão parecidas que podiam nos confundir.
Pouco depois veio Narcissa. Oh céus... o bebê mais lindo que eu já vi! Ela foi o bebê mais lindo que eu já vi, por mais que eu nunca fale isso a ela. Ela já foi mimada o bastante, não precisa disso. Era nossa bonequinha de porcelana e eu e Bella a acolhemos, meio egoistamente, mais por nós do que por ela. Mais pela beleza dela do que por que a queríamos junto de nós. Eu e Bella a mimamos também.
E no fim de tudo éramos nós três: mais que irmãs... mais que sangue nos unia.
Nós nos amávamos... ah amávamos sim, por mais que digam que essa palavra é ridícula.
Engraçado como as coisas acabam.
E por que...?
Maldita perguntinha de novo.
Por que...? por causa de puros desejos carnais? Ambição desmedida? Talvez um pouco mais que isso... talvez simplesmente por que nós não poderíamos sempre nos amar mais...
Ela não poderia sempre me amar mais...
Vejamos... por que eu tento insistentemente não lembrar do passado...?
Outro por que.
Não sei. Nunca soube muita coisa na vida mesmo, agindo impulsivamente sempre que possível.
Melhor deixar todos esses por quês de lado. Amanhã é outro dia. Amanhã Milord me espera.
Por que eu sirvo a “Ele”...?
Taí outra coisa que eu não sei responder... Desejo de matar desenfreadamente...?
Bem, isso eu poderia fazer profissionalmente não podia...? Eu sou uma curandeira... ! oh, eu adoro o som dessa minha risada sarcástica...!
É melhor deixar esse pensamento de lado. Pode me custar mais do que eu posso pagar quando estiver amanhã, na frente d’Ele...
É, a despeito de tudo que eu poderia perguntar e de todas as respostas que nunca viriam é melhor eu ir me deitar.
Amanhã é outro dia...
Ninguém no quarto pra que eu possa me despedir... céus, isso é pura decadência...
E Bella deve estar lá... com ele... Certo, ignore esse ultimo pensamento Kassi... !
Bem, ninguém vai poder me ouvir mesmo não é...?
Boa noite Kassi... durma bem...
Ah, você sabe que eu não vou conseguir dormir bem... todas aquelas lembranças... elas vão vir me atormentar...
Ok, então simplesmente cale a boca e pare com essa idéia ridícula de falar consigo mesma...
Por Slytherin! Eu estou enlouquecendo...


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