Pelos Velhos Tempos
~ X ~
Can you feel a little love?
Você pode sentir um pouco de amor
~ X ~
A água caía sobre suas costas, quente e violenta, sua pele delicada e branca como leite sentia-se incomodada pelas gotas que pareciam pinicar durante aquela ducha de última hora. Estava atrasada, mas pouco se importava, não devia satisfações à ninguém, nunca. Esticou a mão para a válvula sem ânimo, virou vagarosamente cessando o banho. Apoiou as duas mãos na parede, esperando o excesso de água escorrer por seus cabelos negros e lisos.
Enrolou-se na toalha e saiu da banheira, teria que enfrentar as expressões felizes do outro lado da porta. As coquetes, suas companheiras de quarto, que não sabiam o real significado de uma noite como esta. Virou a maçaneta e empurrou a porta num ato brusco, qual foi a sua satisfação quanto se encontrou sozinha no dormitório. Definitivamente, chegar atrasada tinha suas vantagens.
Caminhou pelo carpete, umedecendo-o sem remorso, até chegar aos pés da cama. Seu vestido estava sobre a mesma, assim como seus sapatos e o colar, aquele que ganhara de seus pais. Uma jóia rara e belíssima.
Num impulso, ela o colocou e a toalha caiu, agora estava frente ao espelho, usando apenas o acessório e mirando-o com curiosidade. O corpo perfeito era esquecido enquanto seus olhos focalizavam apenas o pingente, grande e reluzente. “Ele vai se lembrar”, foi o pensamento que invadiu sua mente.
Vestiu-se sem demora, ainda imaginando o porque de tanta pressa. Por que se preocupava? Não entendia. Mirou-se no espelho novamente, com cautela, pois não gostava de falhas. Defeito era uma palavra que simplesmente não poderia ser usada para enquadrar Bellatrix Black. Pelo menos não em termos visuais. O corpo escultural esbanjava sensualidade e ela obviamente, aprendeu a se portar como a tal.
O traje era preto e justo, lhe caiu como uma luva. Perfeito. Impecável. Saltos altos desconfortáveis e incômodos, mas necessários para contato visual direto. Não gostava de olhares superiores, era difícil persuadi-los. O colar brilhante era a única coisa que poderia tirar a atenção dos seus olhos.
As pupilas desapareciam através da escuridão que aquele olhar possuía. Negro, seguro, mortal. Sorriu triunfante, não permitia que o sentimento de insegurança e culpa transparecesse, de maneira nenhuma. Não hoje, não esta noite.
“Ele vai se lembrar”...
~ X ~
As your bony fingers close around me
Enquanto seus dedos ósseos se fecham em mim
Long and spindly
Longos e envolventes
Death becomes me
Eu me torno a morte
Heaven can you see what I see
Céus, você pode ver o que eu vejo?
~ X ~
- Na minha opinião, você devia convidá-la James... – foram as palavras que saíram de sua boca, embora sua mente se encontrava em outro lugar.
- Mas e se ela recusar? – perguntou o amigo, mais interessado na conversa do que em qualquer outra coisa.
- E isso alguma vez o impediu de tentar? – Sirius respondeu com outra pergunta, isso era uma tática comum entre os Marotos, não desistir.
James suspirou incomodado, e passou a mão pelos cabelos negros e rebeldes com receio. Depois estufou o peito e seguiu em direção à Lílian Evans, andando devagar e ameaçando recuar quando finalmente alcançou a ruiva, que conversava com um grupo de amigas, fato que impediu James de ir até ela anteriormente.
Sirius revirou os olhos indiferente, reformou a postura e apanhou uma taça de ponche servida pelo elfo domestico à sua frente. Bebericou de leve enquanto contornava o salão com o olhar. Incomodado, ajeitou a máscara no rosto. Festa a fantasia em pleno baile de formatura! Uma idéia maravilhosa, claro. Vinda das garotas mesquinhas do sétimo ano, que organizaram tudo com pretexto para deixar a ocasião mais informal... Estúpido, era isso o que ele achava da idéia.
Milhares de faces cobertas por uma identidade falsa, deslizando pelo salão numa valsa envolvente. Pareciam mais marionetes sendo controladas por uma mente fútil e imaginativa do que pessoas com livre arbitro, que poderiam escolher entre juntar-se ao clima festivo ou decadente da comemoração. Havia sim, uma pessoa que não se encaixava naquele ambiente, esta vinha agora em sua direção.
Ele podia reconhecer aqueles olhos em qualquer lugar, mesmo que seu semblante estivesse escondido por trás da máscara branca e delicada. Brilhavam para ele, como todas as vezes que se cruzavam... De longe, parecia insegura, com medo?
Ela se aproximou, num andar deliciosamente sensual, característico dela. Um paradoxo, apesar de reconhecê-los, era impossível decifrar sua expressão através daqueles olhos. Estaria certo quando disse que pareciam temerosos esta noite?
Não! Pôde enxergar com mais clareza quando a luz do lustre os iluminou e ela finalmente parou, a centímetros dele. O olhar de Bellatrix, cheios de confiança, malícia, persuasão.
- Esperando alguém? – perguntou ela num teor debochado, típico.
- É tão obvio assim? – Sirius rebateu com um sorriso cínico que reservara somente para ela.
Ela fingiu-se interessada em suas próprias unhas por um momento e depois esticou a mão para Sirius, tocando seu braço de leve e mantendo contato visual. Uma expressão vaga e suave em seu rosto, agora descoberto:
- Mesmo lugar? – sua voz soou embargada e Sirius assentiu com um aceno da cabeça. Ela saiu mais do que depressa por entre os outros convidados, como se fugisse de algo. Ainda andando elegantemente, virou-se um segundo e piscou para Sirius, daquela forma que sempre fazia, deixando-o completamente alucinado. Ela era tão maravilhosa, tão... Bellatrix.
Descendo com cuidado as escadas, Bellatrix não precisava olhar para trás e certificar que Sirius a seguiria até o fim do mundo. Tinha poder sobre de persuasão ele, uma presa fácil. Seguia para o local onde sempre se encontravam, por entre as escadas caracóis e corredores tortuosos, o salto apertando-lhe os pés. Mas valia a pena, era seu esconderijo, de tudo e de todos.
Os pés finalmente alcançaram a sala, desabotoou a sandália incomodada, e sentiu-se afundar na neve, aquecida. Deslumbrada pela beleza daquele lugar, que parecia sempre diferente a cada visita, Bellatrix admirou sua figura esta noite. Essa era uma sala nada comum, muito abaixo do subsolo da escola, Sirius mostrara à ela anos atrás, numa de suas aventuras solenes. Um jardim de inverno aquecido, com flores belas e raras, “como você” ele costumava dizer em seu terceiro ano.
- Lindo não? – uma voz grossa e familiar sussurrou em seu ouvido. Maneou a cabeça em concordância, não conseguindo conter uma lágrima que escapou clandestinamente e escorreu pela bochecha. - Sabe, Bella... Descobri recentemente, que esse lugar é manipulado pelas pessoas que habitam-no. – ele esticou a mão por cima do ombro dela e puxou seus cabelos para trás beijando-lhe o pescoço com ternura. – Está chorando? – perguntou com ar debochado.
- Estou com frio, - ela falou ríspida em resposta à ridícula suposição que Sirius acabara de fazer.
Ele, por vez tirou o casaco e cobriu-a impaciente – Odeio neve – continuou ela, esquivando-se.
Seguiram até o enorme carvalho e Bellatrix parou bem abaixo dele, para se proteger da neve. O jardim sempre mudara, mas aquela árvore continuava ali, constante... E estaria ali, para sempre.
Diferente deles...
~ X ~
Hey you pale and sickly child
Ei você criança pálida e doente
You're death and living reconciled
Você é morte e vida reconciliados
Been walking home a crooked mile
Tem andado uma milha sinuosa para casa
~ X ~
- Desde quando odeia neve? – perguntou Sirius, sentado sob a árvore ao lado de Bellatrix.
- Desde esta noite, oras. – respondeu desdenhosa antes de fixar a expressão incrédula e sarcástica do primo. Encostou a cabeça em seu peito fingindo-se cansada – O que estamos fazendo?
- Não sei, você quer... – ela o interrompeu com um beijo frio e inseguro, que ele retribuiu calorosamente. As mãos dela em sua nuca, embaraçando seus cabelos enquanto as dele enlaçavam sua cintura, puxando-a para mais perto de si. Logo, mudaram sua permanência, percorrendo livremente entre os corpos de ambos, numa confusão alternada e incontrolável.
Era assim com eles. Sem fôlego, sem receio, sem arrependimentos... Sirius a puxou com força, de modo que agora ela estava por cima dele, encostado no tronco da árvore. Ela o beijava com ferocidade, como se os seus atos não tivessem medidas, como se quisesse ir muito além daquele beijo. Ele passou a mão pelas costas nuas dela, a pele mais macia que já tocara em toda sua vida, beijou seu pescoço e sentiu-a tremer sob suas carícias.
- Oh droga, - ela sussurrava entre gemidos – Droga... – ele nunca entendeu realmente o porque ela dizia isso quando se encontravam, nunca se importara. Bellatrix era muito mais do que palavras, ela era um enigma completo. Não media esforços para conseguir o que queria e nunca estava satisfeita.
Para ela, Sirius era intoxicaste, sua fraqueza... Sim. Ela pronunciava aquela palavra repetidamente porque substituía o nome dele, ele era uma droga! Não em sua performance, jamais. Mas para ela, Sirius era mais do que um primo, um rapaz, um amante. Era uma obsessão, não conseguia nunca deixar de toca-lo quando ele a tocava. Esquecia de todos os seus mais sérios e temíveis problemas quando estava ao seu lado. Ele era um vício. Uma droga...
Sirius se afastou ofegante, Bellatrix sorriu estranhamente, como se escondesse confusão em sua reação:
- O que foi? – perguntou quando ele simplesmente não voltou a beija-la.
- O que é isso? – ele retrucou num tom visivelmente aborrecido – Por que fazemos isso? – segurou ela pelos ombros como se perdesse o controle – Bella, por que? – a balançava com certa violência, até demais para um corpo frágil como o da prima. Corpo, não mente...
- Me solte, - ela pediu raivosa, levantando bruscamente e afastando-se dele – Está louco?
A visão que teve, de certa forma, respondeu sua pergunta. Ele abaixou a cabeça, enrolando os dedos pelos cabelos embaraçados de forma senil, bateu com os pulsos fechados na nuca enquanto urrava.
- Sim! – ele respondeu. Levantou a cabeça e fixou seus olhos inchados e marejados na expressão aterrorizada de Bellatrix. – O que é isso tudo afinal?
Não queria responder, ainda estava paralisada pelo choque de vê-lo assim, descontrolado. Não queria admitir o que aquela noite significava para eles, era um passo que temiam tomar, para dentro de um abismo de puro sofrimento. Distância... Eles já esperavam por isso. Tinham discutido a situação, mas agora ela parecia um desastre.
Um vulcão prestes a entrar em erupção. Talvez era exatamente isso que estava acontecendo, seus corações partidos. Jorrando sangue... O nobre e puro sangue dos Black. O único elo que os manteria unidos a partir dali, depois daquela noite...
- Adeus? - ela retomou a fala, numa voz quase imperceptível.
~ X ~
Paying debt to karma
Pagando dívida para o karma
You party for a living
Você vive de festejar
What you take won't kill you
O que você recebe não vai te matar
But careful what you're giving
Mas cuidado com o que você vai dar
~ X ~
Por um momento os dois se olharam vagamente. A expressão perdida em lembranças que invadiam suas mentes tornando-os estátuas vivas, que serviriam de adorno para a visão daquele jardim. Uma melodia soava longe, misturada à brisa do ambiente, num cântico estridente e melancólico. Como se unhas arranhassem um quadro negro, o som os irritou por dentro, exterminando sua nostalgia.
Sirius se escorou na árvore a fim de se levantar, sem desviar o olhar da prima que mantinha os braços ao lado do corpo, inexpressiva. Achou que ela iria embora, porque nisso ela era boa, assuntos inacabados. Para ela, não fazia muita diferença. Mas ela se aproximou, com pressa e puxou-o a seu encontro cessando qualquer ação a ser feita segundos antes.
Novamente os dois se beijavam intensamente, quase que de forma violenta. Não suportavam distância, era como se fossem metades que jamais deviam se separar. Atracando-se entre beijos e carícias, Sirius virou encostando-a na árvore e puxando sem delicadeza a barra de seu vestido.
Ela não fez objeção, mesmo que a textura do tronco pressionada contra suas costas fosse dolorosa, não podia evitar contentamento. Dor, ele causava isso nela de várias maneiras, no corpo, na mente, no coração... Ergueu os braços enquanto ele fazia força para ergue-la do chão. Por fim conseguiu, e ela enlaçou as pernas pela cintura dele enquanto segurava firmemente seu pescoço.
Nada de palavras, nenhum pedido...
Movimentos suaves, olhos abertos, corpos suados... Bellatrix respirava com dificuldade, pois o ar que saía de sua boca misturava-se com o de Sirius, os lábios quase encostadas, emitiam gemidos surdos e sussurros imaginários. A única sincronização perfeita vinha de seus corações, batidas pausadas, como se estivessem se esgotando, fracos...
- Não chore. – ele pediu ao notar Bellatrix contorcer o rosto numa careta de dor.
Engoliu seco em resposta, e uma lágrima escapou do canto de seus olhos, quente e singela. Não sabia que tipo de dor era aquela, mas queria que ela prevalecesse sob o prazer que sentia no momento. Apertou o pescoço de Sirius quanto sentiu seu corpo enfraquecer, tremendo e desorneado.
Completamente dormente agora, descansou o rosto no ombro dele.
- Não chore. – ele pediu novamente, de forma suave, quase que educada enquanto tentava relaxar sob o peso da prima em seu corpo. A segurava firmemente, mas preferia desabar em sua fraqueza. Talvez a queda o fizesse perder os sentidos, queria isso.
- Droga! – exclamou Bellatrix novamente empurrando-o confusamente. Mas não caiu, pena...
~ X ~
There's no time for hesitating
Não há mais tempo para hesitar
Pain is ready, pain is waiting
A dor está pronta, a dor está esperando
Primed to do it's educating
O primordial a se fazer é educação
~ X ~
- Bellatrix – ouviu uma voz fina chamar. Virou-se para encarar a irmã mais nova da prima, Narcisa. – O que está fazendo?
- Me despedindo – ela respondeu com total desdém. A garota loira levou as mãos à boca, incrédula e apavorada, mas Bellatrix se mostrou impassível à sua reação – Saia daqui, Cisa. Ou você sabe o que farei.
Unindo toda a dignidade que podia em sua postura, Narcisa estufou o peito enquanto se afastava dali andando de costas, em passos curtos e vagarosos e sem desviar o olhar da irmã. Chegou até a porta e estreitou os olhos para os dois:
- Não pode me chantagear com isso para sempre, Bella – sorriu triunfante – Não depois disso. – e por fim saiu.
A distância novamente separava os dois, ainda atônitos pela interrupção de Narcisa. Olhares vagos, não ousavam cruza-los. Expressões enigmáticas, percebidas apenas pela falta de movimento em sua postura. Sustentava-se pelo ar rarefeito do jardim, que mergulhou em total nevasca agora. Quanto mais a neve caía, mas ela parecia desaparecer do solo sendo substituída por um mesmo punhado no minuto seguinte.
Um ciclo que estava irritando Bellatrix profundamente, os pés molhados e a pela quente, um choque térmico que incomodava, mas não queria demonstrar fraqueza. Sirius tremia com o clima, suas vestes eram leves demais para o lugar.
O sangue dos Black congelavam em suas veias, cessaram a distância insuportável num abraço. Novamente sem palavras antecedentes, apenas o gesto mútuo que pareceu aliviá-los. Por completo...
~ X ~
Unwanted, uninvited kin
Parentes não desejados e não convidados
It creeps beneath your crawling skin
Rastejam sob a sua pele que pinica
It lives without it lives within you
Eles vivem sem você, eles vivem com você
~ X ~
Era estranho o que faziam agora, nunca tiveram uma conexão tão pura como essa. Os braços entrelaçados carinhosamente proporcionavam uma sensação de segurança a ambos. Sirius sentia o corpo de Bellatrix desmanchar em si, como se ela estivesse prestes a desmaiar. Afastou olhando-a com cautela, tocou seu rosto e sentiu a mão dela encobrir a sua...
- Você está bem? – perguntou quando ela fechou os olhos, apertando as pálpebras como se o toque dele a machucasse.
- Sim, estou ótima – respondeu cínica encostando a cabeça em seu peito.
Não adiantava persistir, Bellatrix sempre esteve um passo a frente dele, enclausurada numa redoma de vidro inquebrável. Podia senti-la fraquejar às vezes, mas nunca totalmente. Isso o incomodava, não saber o que ela sentia ou sequer se importava. Tinha certeza sobre sua decisão, embora desejasse não ter que toma-la tão cedo.
Uma nova onde de desespero invadiu seu peito, sufocando-a. Não queria sair dali, nunca. Porém era necessário, não apenas pela situação em si. O que sentia por ele era perigoso, ele a consumia por completo, sem fazer esforço algum. Sempre acreditava na própria ilusão de que ele era o obsessivo, mas agora sabia que era o reverso.
Finalmente percebera, amava-o.
~ X ~
Feel the fever coming
Sinta a febre chegando
You're shaking and twitching
Você está tremendo e se contraindo
You can scratch all over
Você pode se coçar todo
But that won't stop you itching
Mas isso não vai parar a comichão
~ X ~
Sentiu as lágrimas quentes dela umedecer sua camisa branca, nunca vira tanta sinceridade num gesto de fraqueza em Bellatrix. A maioria das vezes ela usava isso, para escapar de algo. Sua falsidade era reconhecida de longe, pelo menos por ele.
O que houve com a fria e calculista Bellatrix?
Os olhos dele mostravam-se confusos, supôs que era uma reação imediata à sua expressão: fraca. Tentou manter a postura, pois além das sensações paralelas que sentia no momento, o orgulho deveria transparecer com mais clareza.
- Pare com isso. – ele ordenou, ela entendeu exatamente o que ele quis dizer, mas não atendeu seu pedido. Continuou com a mesma expressão desdenhosa e indiferente quando ele voltou a segura-la pelos ombros – Seja sincera pelo menos uma vez, Bellatrix.
Finalmente conseguiu se mostrar impassível, vê-lo derrotado era muito estimulante. Achou que havia superado essa futilidade, mas estava errada. Sorriu para ele, superficial:
- Sobre o que?
~ X ~
Can you feel a little love
Você pode sentir um pouco de amor
Can you feel a little love
Você pode sentir um pouco de amor
~ X ~
Como fora estúpido o bastante para pensar que conseguiria tirar algum sentimento dela?
~ X ~
Dream on dream on
Sonhe sonhe
~ X ~
- Acho melhor subirmos – falou ela ao perceber que ele não responderia sua pergunta – Não quero levantar suspeitas – ajeitava seu vestido com cuidado esperando uma resposta forte, que não veio.
- Adeus... – aquelas palavras saíram da boca de Sirius amarguradas, ele repôs seu paletó enquanto ela sem concentrava na palavra dita.
Era isso. A palavra final daquela noite. Significava distância, para sempre... Novamente veio, aquele turbilhão de angustia em seu peito, em sua alma. Ele não lhe dava atenção, caminhando para além dela, em direção à saída. Metades não foram destinadas à separação. Tinha que impedir, fazer alguma coisa! Ele já estava saindo da sala quando ela gritou:
- Eu te amo. – ele parou, de costas. Ela levou a mão a boca assustada com a própria revelação.
- Está demente? – ele perguntou se virando, riu enquanto ela era incapaz de se mover.
- Adianta alguma coisa? – ela recuperou as pernas, seguindo até perto dele – Diga-me se adianta agora? – bateu em seu peito, sem força. Os olhos marejados liberaram lágrimas em uma velocidade incrível impedindo-a de enxugá-los. – Diga! Diga! – ela gritava enquanto continuava a socá-lo, agora com mais força.
Ele tentou segurar seus braços, pois ela estava descontrolada. E chorava alto enquanto gritava:
- Você não se importa... Não se importa... Não! – os soluços a impediam de continuar a falar, mas os constantes e repetitivos tapas em seus braços demonstravam que ele realmente merecia toda sua fúria. Não acreditara nela, mas como poderia? Ela não parecia sincera. – Me machuque, por favor. Eu quero sofrer! EU quero...
- Pare! – ele interrompeu, porém ela continuou a bater em seu peito, chorando.
- Eu... não... consigo... fazer... isso... sozinha. – Batia com fraqueza agora, as lágrimas consumiam toda sua força. Cedeu sobre ele, caindo de joelhos sobre seus braços. Ele abaixou-se também, segurando ela com firmeza.
Chorava ainda, com a cabeça em seu ombro. – Eu não consigo. – falou com mais calma enquanto ele acariciava seus cabelos, atônito.
- Eu sinto muito. – foi a única coisa que conseguiu dizer em resposta àquela cena. – Mas... Não posso.
A decisão foi tomada, muito cedo...
~ X ~
Blame it on your karmic curse
Culpe sua maldição cármica
Oh shame upon the universe
Oh, que vergonha do universo
It knows its lines
Ele sabe suas falas
It's well rehearsed
Está bem ensaiado
~ X ~
Ouvir aquilo foi... Não tinha uma palavra concreta para descrever sua reação. Sentiu como se arrancasse seu coração, como se a privassem de toda sua felicidade. Não queria entrar em detalhes, talvez fosse melhor assim.
Fazia isso desde há muito tempo, estava acostumada. Escondia seus sentimentos, de todos. Nunca se abria, para que? Os outros estão preocupados demais com suas próprias dores para ligar para a sua. Aprendera isso com a mãe, ainda criança.
Considerava qualquer reação relacionada à amor uma fraqueza, e de fato era... Olha onde veio parar através daquele sentimento. Vulnerável...
~ X ~
It sucked you in, it dragged you down
Sugou você, levou você para baixo
To where there is no hallowed ground
Para onde não há terra santa
Where holiness is never found
Onde não existe santidade
~ X ~
Não podia. Não era assim. Sua única saída seria tomar os velhos hábitos. Ele ainda a encarava confusamente, como se tentasse ler seus pensamentos. Desejou que não tivesse conseguido.
Sorriu. O seu melhor sorriso. Aquele que encantava e ao mesmo tempo destruía corações. Inclusive o dele.
- Eu imaginei que não. – aquelas palavras soaram vazias quando preencheram o longo silêncio anterior.
Não agüentou ficar mais tempo ali. Saiu correndo pela porta, deixando Sirius perplexo e completamente a par de que estava tudo terminado. Dando pulinhos como se estivesse feliz e cantarolando com a melodia agora não tão longe do corredor que percorria, finalmente alcançou o salão, que continuava cheio de máscaras valsando pela pista.
- Até quem enfim, - ouviu uma voz embargada dizer. Virou-se para encarar Rodolfo Lestrange. Ele parecia um tanto alterado, segurava uma taça de vinho e sorria de forma maníaca. – Por onde esteve Bella? Eu a procurei em toda parte.
Bellatrix podia sentir o cheiro do álcool por entre as baforadas que ele soltava entre as palavras. Ele se aproximou e enlaçou-a pela cintura, puxando para pista e tentando dançar, mal conseguindo ficar em pé. A garota, ainda fraca e chocada pela perda de Sirius, não conseguiu se desvencilhar do namorado.
Sim, Rodolfo era seu namorado. “Um casamento honrado, um bom rapaz, um sangue puro!” Palavras de sua mãe. Concordava, mentalmente...
As mãos dele percorriam por sua cintura e quadris, já permitira ser tocada antes, mas não dessa maneira. Não com essa afobação que tanto a incomodava. E principalmente, não por ele...
- Solte-a – ouviu Sirius ralhar puxando seu pulso e ficando frente a frente com Rodolfo.
Como o odiava! Já não bastava serem inimigos de escola, de quadribol, de duelo, eram também no amor. O salão inteiro parou, como se tivessem sido atingidos por feitiços petrificantes. Olhavam para os três, esperando algum movimento ou palavra. O grito de Sirius pareceu mais um urro e não passou despercebido por cima da melodia lenta e nauseante tocada segundos antes.
- Eu te amo. – foi a vez dele dizer, num sussurro que todos puderam ouvir.
Tarde demais, ela pensou. As expressões dos convidados passaram de curiosas à incrédulas. Apesar de rumores, “...primos íntimos, cenas de ciúmes constantes, amor platônico...” ainda era difícil crer naquilo tudo.
Uma lágrima quente escorreu por debaixo da máscara de Bellatrix. Não podiam, era proibido. Um mundo não suportaria um amor como o deles. Queimava. Consumia. Aterrorizava.
Decidiu.
- Você está bêbado – falou com voz enojada. Depois riu, histericamente. Como se quisesse provar que aquilo tudo não passava de uma situação idiota. Extremamente embaraçosa, mentalizou.
E em alguns segundos a valsa tornou a ser tocada, Bellatrix voltou a envolver-se nos braços de Rodolfo. E as marionetes. As malditas marionetes continuaram a deslizar pelo chão polido e liso do salão principal.
A revelação passou despercebida, como uma brisa...
~ X ~
Paying debt to karma
Pagando dívida para o karma
You party for a living
Você vive de festejar
What you take won't kill you
O que você recebe não vai te matar
But careful what you're giving
Mas cuidado com o que você vai dar
~ X ~
Não suportou. Talvez estivesse mesmo bêbado. Forçou a memória tentando se lembrar quantos copos de ponche havia tomado. Subia as escadas com passos firmes, não queria mais ver ninguém, e certamente não veria. Último dia, última noite...
~ X ~
Can you feel a little love
Você pode sentir um pouco de amor
Can you feel a little love
Você pode sentir um pouco de amor
~ X ~
Deitou na cama, cansado. Deixou escapar uma lágrima quente e raivosa. Pensava nela, com ódio. Virou-se encarando o teto e um braço envolveu sua cintura.
Os olhos brilhantes de Bellatrix brilharam na escuridão. Podia reconhecê-los, sempre:
- Pelos velhos tempos... – ela sussurrou, pondo a cabeça sobre seu peito. – Durma.
Não necessitavam de mais palavras, nem de pedidos... Eram Bellatrix e Sirius Black. Novamente nos braços um do outro, naquela noite. Última noite.
Para sempre... E nunca mais...
~ X ~
Dream on dream on
Sonhe sonhe
~ X ~
FIM
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[N/A] Primeiramente, que esclarecer que essa fic foi desenvolvida para o II Challenge Songfics Românticas do Fórum Aliança Três Vassouras, e para minha surpresa total, tirou o 1º Lugar.
Obrigada à Mismi (mestra do Challenge) e ao Depeche Mode por ter escrito essa música maravilhosa.
DP
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