Capítulo XIV
Capítulo XIV – Serpentes e morcegos
- Sasha, Sasha... – a voz de Lílian tentou despertá-la. – diabos, menina, acorda!
A morena abriu levemente os olhos e viu a imagem confusa da amiga em cima dela, sentada em sua cama.
- Tenho que falar com você... – ela dizia.
Então, Sasha sentou-se, coçando os olhos com os punhos fechados.
- O que foi? O que aconteceu?
Lílian olhou para os lados para certificar-se de que nenhuma das meninas do dormitório estavam acordadas, e fechou a cortina da cama de Sasha.
- Onde você foi com o Sirius? – ela quis saber, e em sua voz havia um tom de urgência.
- Na Casa dos Gritos... – ela sussurrou sem pensar – ele me levou por uma passagem... mas, espera aí, porque quer saber?
- Nada... ele lhe contou algo sobre o lugar? – perguntou a ruiva, interessada.
- Contou só que... Lily, você sabe de algo?
- Sei... sei o que acontece lá, e... digamos que alguém me pediu para lhe perguntar isso. – ela engoliu seco.
- Ele não me contou nada de interessante sobre lá – a morena respondeu, sem querer saber sobre quem havia perguntado ou alguma coisa mais – só que conhecia o lugar desde que mudou para Hogwarts... nada mais.
A ruiva acenou com a cabeça e fitou a cortina vermelha.
- Tem mais uma coisa. – disse, insegura.
- Diga.
- Hoje foi o meu turno na masmorra da Sonserina. – a voz dela estava muito baixa – e certamente há algo estranho acontecendo por lá.
Sasha franziu a testa e olhou-a interessada.
- Continue. – pediu.
- Eu peguei... bem, dei detenções à Snape e Malfoy, que estavam fora da cama agora pouco, e eles pareceram muito preocupados que eu tivesse visto eles... mas então chegou o professor Takashighi. Sasha, foi muito realmente muito estranho... – passou a mão pelos cabelos ruivos, preocupada.
- O que ele disse? – apressou-se em perguntar.
- Bem, ele disse que assumia o comando dali e levou-os para a sala dele. Malfoy e Snape pareciam muito aflitos.
- E você acha que ele os devorou? – ela caçoou com uma sobrancelha erguida.
- Claro que não, Sasha! Mas foi estranho. Você brinca porque não estava lá...
- Lily, não vai acontecer nada a eles. Apesar de estranho, ele é um professor!
- Não estou preocupada com eles, Sasha! – constrangeu-se, amuada – estou dizendo que fiquei encucada com o professor, aparecendo às escuras! Estávamos falando muito baixo! E ele olhou-os como se de alguma maneira soubesse o que eles estavam fazendo...
Ficaram em silêncio por algum tempo, enquanto diluíam a idéia do que ocorrera. Não podiam imaginar o que o professor, suposto vampiro, por eles, poderia ter com os sonserinos. Mas Lily lembrou-se de quando ele alterou seu turno na masmorra das serpentes, e também dos olhares que ele trocou com os alunos quando os encontrou. Sinistro.
Se a semana anterior havia sido agonizante, a próxima se passou deixando apenas flashes de lembranças: Sasha na biblioteca procurando um livro, Snape vem falar com ela. Mais lembranças atordoantes do passado são despertadas. Sirius saindo às pressas na quinta-feira à noite, alegando que tinha um compromisso com os meninos do quadribol – mas Sasha viu Spinnet e Bell no salão comunal no mesmo momento. Remo doente... Lílian contando-lhe sobre o convite para um encontro com Diggory no sábado... comentários animados sobre o jogo no sábado... Gloria estudando Táticas de Quadribol: aprenda as manhas. Ameaças dos sonserinos aos meninos nos corredores...
Levantou-se ofegante, seus cabelos estavam suados e grudados na testa. Sasha olhou para o relógio na mesa de cabeceira: três da manhã. Todos aqueles flashes haviam passado em sua cabeça como um sonho surreal, onde as imagens dançavam como para lembrá-la de algo... mas o que era? Como não chegava à conclusão alguma, seu sono foi-se embora. Levantou-se e, com a ponta dos pés, foi até o espelho e, com uma careta, mudou a sua estatura e pintou os cabelos de loiro e os olhos de verde. “Ótimo, pelo menos ainda sou eu mesma”.
Desceu em silêncio para o salão comunal sem se preocupar em voltar sua aparência, e não ficou surpresa ao ver Thiago inclinado em um papel desenhando jogadas e apagando-as sofregamente. Havia miniaturas das bolas de quadribol ao lado do papel e elas voavam em cima de uma pequena maquete perfeita de um campo ao lado da pilha de pergaminhos em que ele estava, atento. Apagou outra vez, até notar a garota ao pé da escada, sorrindo.
Ele franziu a testa e arrumou os óculos no nariz, continuando a escrever.
- Não se preocupe, Thiago – ela aproximou-se da mesa onde ele estava – você sabe que tem o melhor time em mãos e o jogo de hoje vai...
- Desculpe – ele respondeu, erguendo a cabeça – mas eu conheço você?
Sasha olhou para si mesma e gargalhou. Não se lembrava da forma em que estava, e então fez uma careta fechando os olhos, ainda rindo, e voltou à mesma forma de sempre; os cabelos negros, olhos azuis fúcsia e mais baixa que a loira anterior.
- Droga. – ele assustou-se, derrubando a pilha de papéis – não faça mais isso! – mandou.
Ela ajudou-o a recolher os pergaminhos, ainda rindo.
- Desculpe... eu havia me esquecido... – balbuciou a garota.
- Você dorme em outras formas? – ele quis saber, olhando-a divertido.
- Não... mas costumo ficar mudando de forma às vezes, só pra descontrair sabe...
Thiago deu-lhe um sorriso enorme. E, com outra careta habitual, Sasha mudou os cabelos para um curto e espetado de cor vermelha, e fez um nariz fino e extenso, os olhos amarelos como os de um gato. Ele riu novamente.
- Deve ser divertido fazer isso.
Ela apenas mordeu os lábios inferiores, sorrindo.
- Você precisa descansar para o jogo, Thiago – ela torceu o enorme nariz.
- Se você visse como fica com esse nariz, juro que não faria mais. – riu, mas respondeu – eu não consigo dormir. Mesmo sabendo que Gloria vai narrar o jogo e tudo... mesmo sabendo que os meus jogadores estão muito treinados e fortes... estou com um mal pressentimento, entende? A responsabilidade desse jogo está caindo toda sobre mim. Não que eu esteja reclamando, gosto de ser capitão e mandar naqueles idiotas. – corrigiu-se, fazendo-a rir – mas esse a gente simplesmente tem que ganhar... todos os jogadores estão nervosos e meio estúpidos, você mesma viu como Sirius está esses dias...
Thiago tinha desembestado a desabafar, e Sasha ouvia atentamente.
- Sabe, Sasha, os sonserinos são ignorantes e o pior é que a madame Hooch sempre lhes dá segunda chance, e eles sempre repetem as ignorâncias e... a questão é: temos que ser ignorantes também. Acho que é por isso que estamos nervosos assim. Não somos ridiculamente patéticos e ambiciosos, mas como estamos querendo vencer...
- Thiago – ela o interrompeu pela primeira vez – tem que se acalmar. Apenas jogue como você sabe, porque você realmente sabe jogar, e jogue como eles merecem... com jogo sujo ou não.
Ele pensou por um momento, e então deu um leve sorriso.
- Vou falar isso amanhã no discurso para eles.
Sasha riu e continuou:
- Apenas lembre-se que eu não sei nada sobre quadribol.
- Isso é o de menos...
E ficaram conversando até os primeiros raios de sol despontarem na janela do salão comunal. Bem cedo, Thiago foi para o salão principal tomar café da manhã, com Sasha em seu pé, dizendo-lhe o que era bom comer para que não passasse mal ou coisa assim. Logo, Lily juntou-se aos dois com o rosto inchado, ignorando e fazendo caretas para Thiago, e depois Sirius e Remo desceram as escadas com o resto do time, e todos na mesa da Grifinória comemoraram a chegada deles aos assovios e “boas-sortes”. Sirius beijou Sasha levemente nos lábios antes de sentar-se ao seu lado.
Thiago logo começou a pressionar os jogadores, mandando-os comer para que tivessem energia suficiente e depois, com um aceno determinado, disse muito alto:
- Jogadores, reunião! – e saiu até as escadas, de onde acenou para Gloria que estava na mesa da Corvinal e gritou – Você também! – imediatamente, ela levantou-se nervosa e saiu atrás do bando de meninos do time que saía para o Saguão de Entrada.
- Ainda faltam três horas para o jogo. – disse Lílian, virando seu suco de abóbora – vamos comigo ao Corujal? Tenho que enviar uma carta à mamãe.
E as meninas foram para a o Corujal, Lily com um envelope meio amassado nas mãos.
- Petúnia está namorando. – ela disse de repente, quando subiam as escadas.
- Sua irmã? Namorando? Quem?
- Um tal de... Victor. Não, Carter. Quer dizer, acho que é Válter. – a ruiva deu de ombros, desinteressada.
- Pelo menos ela é legal com alguém... – emendou Sasha.
- Ela tem dezoito anos e não sabe titica de nada sobre garotos! Imagine, que ela imaginou que Thiago e eu tivéssemos alguma coisa quando ele foi nos buscar nas férias! Mamãe me contou por cartas... sinceramente...
- Mas não é preciso ser tããããao experiente para perceber isso. – riu a morena.
Haviam terminado a escadaria e entraram no salão redondo do Corujal, um pouco limpos agora – e Lily disse que esta deveria ter sido a detenção dos sonserinos no fim de semana – mas mesmo assim as corujas voavam esperneadas de um lado para o outro, enquanto outras dormiam e faziam outras coisas mais, o chão coberto de penas e titicas. Sasha nunca havia entrado ali antes – na verdade, não recebia nem mandava correspondência para os avós. Primeiro que não queria preocupá-los, pois sabia que comentaria algo sobre o que acontecia no mundo bruxo – e segundo que com certeza eles matariam a coruja, apavorados, invés de ler a carta.
Com um assovio, Lílian chamou uma coruja cinza e gorda que brigava com uma pequenina no peitoral da janela. A coruja virou a cabeça para ela, deu mais umas bicadas na inimiga, muito irritada, e depois fez um vôo espetacular para alcançá-las, terminando no bebedor que jazia bem no centro da sala.
A ruiva acariciou o topo da cabeça dela levemente, e disse, amarrando o envelope na perninha do animal:
- Olá, Corvina... não precisa gritar com a sua amiga! – a coruja respondeu-lhe com um pio alto, como se reclamasse; Sasha aproximou-se para não perder – entregue esta carta para mamãe, está bem? O mais rápido que puder... – e novamente acariciou a cabeça da coruja que piscou preguiçosamente para a dona, e depois abriu as asas e partiu pela janela em direção aos céus.
- É a sua filha? – caçoou Sasha.
Lílian deu uma risadinha sem-graça e fez uma careta.
- Respeite a Corvina! – disse enquanto saíam.
Depois, foram para o salão comunal terminar alguns deveres e Lily insistiu que Sasha fizesse uma tabela de horários para começar a estudar para os exames que se aproximavam. A morena respondeu que faria depois, mas sabia que seguiria a mesma que Lily, então não falaram mais disso.
Quando eram aproximadamente dez e meia, elas pegaram os grandes chapéis vermelhos que haviam pegado na festa de comemoração do jogo anterior nos dormitórios e foram para o Saguão de Entrada, onde encontrariam Alice. Ela parecia mais nervosa do que Thiago, mas tinha uma boa explicação:
- Aqueles sonserinos irritantes! Cafagestes! – praguejou – Frank me disse que eles pregaram uma peça feia em Spinnet e ele está na Enfermaria agora! Não vai poder jogar!
- Mas ele joga muito bem!
- Sim, por isso mesmo né? – irritou-se – eles disseram para McGonagall que ele “caiu acidentalmente em uma poça ácida”. O garoto está todo pipocado com um feitiço de magia negra e ninguém quer culpar aqueles desgraçados...
- Calma – pediu Sasha – quem fez isso?
- Frank viu Goyle e Malfoy correndo com um caldeirão no terceiro andar. Cinco minutos depois encontrou Spinnet! – ela falou em voz muito alta, e um bando de garotas sonserinas que passavam perto delas explodiram em gargalhadas.
Alice ergueu a mão para elas e fez aquele gesto com o dedo do meio.
- Infantis. – Lílian xingou em voz baixa.
No mesmo momento, perto da porta, Gloria parecia nauseada, encostando-se no batente da porta. Quando Sasha a viu, elas correram até ela.
- Gloria, você está bem? – a morena perguntou, segurando sua mão para sentá-la na escada.
Haviam tons de verde em seu rosto, e ela levou a mão à barriga.
- Nem um pouco – respondeu com a voz fraca.
- Vamos levá-la à Enfermaria! – disse Lily.
- Não! Está louca? – Gloria reclamou, erguendo-se – estou só nervosa! O jogo está para começar... Thiago me mataria!
- Que aquele nojento se exploda! – reclamou a ruiva – você não vai narrar nenhuma porcaria de jogo...
- O medo de perder é tanto, ela está até passando malzinho! – uma voz estridente, muito conhecida por elas como repugnante e falseta, surgiu vinda de fora, e uma explosão de gargalhadas seguiu-a.
- O medo de quem, Black? Só se for o seu! – respondeu Gloria com energia.
- Ah, é quase óbvio que gente da laia Corvinal tinha que se aliar aos sangue-ruins da Grifinória, não é mesmo? – começou um pequeno garoto ao seu lado, era Régulo Black – o pior time da escola!
- Olha, o pintor de rodapé fala!!! – caçoou Alice – tirem fotos dessa aberração!
E as outras três garotas soltaram risadas altas para constrangê-lo ainda mais.
- Melhor segurar a maldita lingüinha, idiota. – Narcisa ia tirando a varinha de dentro das vestes verdes.
- Ooooh, ela sabe enfeitiçar também! – continuou Alice – o que mais será que esses sonserinos aprenderam, hein? São espertos!
- Não duvide de mim, amiga dos sangue-ruins.
- Vá lá, me enfeitice! – Lily abriu os braços para elas – já que você é tão sangue puro, esperta e boa assim... me prove!
- Podem me dizer que diabos está acontecendo aqui? – era o professor Takashighi, com sua voz mandona.
Eles fizeram silêncio. Narcisa guardou imediatamente a varinha nas vestes e trocou um olhar significativo com Régulo, que crispou os lábios.
- Então?
- Apenas uma conversa amigável antes do jogo, professor! – Gloria respondeu com cautela.
- Sim, senhorita Garret, percebi... espero que seja realmente amigável, já tivemos problemas demais entre os alunos das Casas de vocês hoje, e não quero precisar tirar mais pontos da Grifinória ou Sonserina. – disse calmamente, avaliando cada um deles.
- Até o jogo, então! – Narcisa forçou uma voz amigável para elas e deu um tchauzinho falso com a mão, partindo em direção ao campo de quadribol.
Elas responderam o aceno com a mesma falsidade. O professor fez uma leve reverência para as meninas antes de sair. Ele parecia ter fundas olheiras roxas embaixo de seus olhos cansados.
- Você vai narrar esse jogo mesmo que estiver vomitando as tripas! – exclamou Lílian, e Gloria concordou rindo.
Elas foram em direção as arquibancadas, agora com tanta energia para animar em uma torcida que pareciam até mesmo raivosas. Narcisa, Régulo e aquela maldita certeza que eles tinham de ser os melhores sempre havia chegado ao limite para Lílian, que vivia agüentando as provocações em seus turnos de monitoramente ou até mesmo nas reuniões de monitor; era aí que Remo a ajudava, sempre rindo deles ou contando-lhe histórias da família dos sonserinos, fazendo-a se entreter. Mas Remo estava em algum lugar no vestiário da Grifinória, preparando-se para jogar. Ele parecia tão abatido nos últimos dias que nenhuma delas havia falado direito com ele, pois este sumia e quando voltava, tinha uma incrível expressão doente e magra, os olhos fundos de olheiras e as bochechas encovadas, o sorriso maroto desaparecido, mesmo que o brilho nos olhos não o deixasse nunca.
- Desejem boa sorte para mim! – pediu Gloria quando se separaram na escada giratória.
- Sorte para todos nós! – completou Sasha.
E então subiram.
Uma legião de torcedores já fazia um enorme estrondo na arquibancada da Grifinória, com cartazes que se mexiam, escrevendo os nomes dos jogadores “Potter, Black, Carter, Grunt, Bell, Troller (substituto de Spinnet), e Lupin!”, e frases como “Os leões são os melhores” e “A Taça é Dourada de Godric Groffyndor!”. Pelo menos três quartos de toda a arquibancada circular brilhava e irradiava vermelho e dourado. Um quarto sofria para destacar-se, em prata e verde escuro, com uma enorme serpente verde esmeralda circulando atrás dos torcedores que balançavam os braços furiosos.
Lílian conferiu o relógio e o mostrou à Sasha, que acenou. Faltavam dois minutos para as onze. Incrível como o tempo voara...
- Atenção, torcedores! – a voz de Madame Hooch anunciou no megafone – a narradora Gloria Garret, Corvinal!
E Gloria sentou-se atrás do megafone timidamente, enquanto a torcida da Corvinal explodia em gritos e conselhos que não puderam ser ouvidos para a monitora, a qual acenou para as meninas da Grifinória, que sorriram e responderam.
- Todos prontos? – Gloria perguntou no megafone, e as torcidas todas explodiram em gritos mais uma vez – Vamos começar logo com isto!
Gloria mostrou o polegar para o lado, e recebeu um sorriso de McGonagall, que cuidava da integridade neutra da garota ao narrar, sentando-se perto dela.
Madame Hooch surgiu no meio do campo e apontou a varinha para as duas extremidades do campo, onde as portas grandes de madeira se levantaram. Antes de estar aberta pela metade, o time da Sonserina já havia mergulhado em vôos triunfais no campo, exibindo-se para os Grifinórios e festejando com os de sua Casa – e Gloria anunciou, delicada, Malfoy, Goyle e os outros jogadores. Então, a porta inteira de onde o time da Grifinória deveria sair abriu-se, mas ninguém apareceu ali. Houve um momento de tensão, e Sasha estremeceu: que diabos...?
Mas antes que alguém pudesse ir atrás de saber o que acontecera, um vulto muito veloz saiu de lá, quase imperceptível, e rodeou o campo com uma velocidade que deixava impossível saber que pilotava a vassoura, aparecendo apenas como um borrão. Mas o borrão parou na frente da torcida da Grifinória e qual não foi a surpresa ao verem... ninguém menos que Thiago Potter, com um enorme sorriso de todos os dentes brancos, dando um soco no ar. A torcida vibrou com energia.
- O primeiro é Potter, o apanhador e capitão do...
- Srta. Garret, isso não é desfile, apenas diga o nome dos jogadores!
- Ok, professora... e olha só, eles vêem aí! Black, que velocidade!, Carter em sua cola, Grunt, Troller, Bell e finalmente... o espetacular goleiro, Lupin! – ela vibrou consigo mesma, e a professora deu um cutucão nela, com os olhos arregalados.
Lílian gargalhou, seguida por Sasha. Lupin entrou no campo voando ligeiro entre as balizas onde o goleiro da Sonserina já estava e depois ziguezagueou entre os jogadores de verde, indo em direção aos seus próprios aros, e parou por ali com um pequeno sorriso, posicionando-se.
Madame Hooch adiantou-se no meio do campo:
- Como eu sempre repito em um jogo entre vocês... não percam a classe! Quero um jogo limpo e sem trapaças! Estão de acordo!?
E ela jogou a goles para cima, e Gloria berrou: “Está dada a largada!”
Por um instante, eles pensaram que Troller havia conseguido pegar a goles de primeira, mas ele apenas tropeçara nas próprias vestes, rodando na vassoura, e Thiago gritou: “Concentre-se!”, mesmo que soubesse que o garoto não tinha chances... ele era do quarto ano, meio magricela, e aparecera em apenas dois treinos durante os dois meses. Neste meio segundo, Goyle havia segurado a goles e passava para Flinch, que foi interceptado por Grunt e Bell dos dois lados e o primeiro conseguiu pegar a bola, lançando-a à Troller, que ia segurando-a fortemente embaixo do braço quando...
- Mas o que foi isso?! Crabbe lançou o taco no cabeção do Troller! Muito bonito, seu imbecil, ordinário!
A professora McGonagall não reclamou dos palavrões e observou furiosa enquanto a Madame Hooch berrava:
- Não pode acertar os jogadores sem o balaço, Crabbe, em momento algum! Falta para a Grifinória!
Foi a falta mais rápido de todos os jogos de quadribol, com certeza. Thiago escolheu Bell para lançar a goles, e quando a treinadora soprou o apito... Bell lançou a goles com toda a força, mas a bola não chegou nem mesmo no meio da distância entre ele e o aro, e logo sendo agarrada por um dos jogadores de verde. Bell também tentou separar o braço dos lados do corpo, mas não conseguia. Thiago novamente enervou-se, e foi até ele, ajudando-o a descolar os braços. Alguns jogadores da Sonserina riram alto.
- Não foi dessa vez, Bell, mas será na próxima! - Gloria apoiou-se na arquibancada, grudada no megafone - a justiça tarda, mas não falha! Os verdadeiros vencedores são os honestos e...
- Senhorita Garret!
- Goyle pegou a goles e está passando fácil pelos jogadores... isso, pega, Troller! Pega!!! Mas não foi dessa vez, e Goyle passa para Forks e ele vai... oh, que peninha! Grunt deu-lhe um soco e conseguiu apanhar a goles e passou para Troller, que dessa vez conseguiu pegar!
- Falta para a Sonserina! – Madame Hooch gritou – QUEREM PARAR DE SE ATACAR E JOGAR LIMPO?
Goyle fez um sinal de positivo para Malfoy, que sobrevoava na cola de Thiago acima de todos os jogadores, e foi cobrar. Esperou o apito soar, e ergueu os dois braços para cima segurando a goles, lançando-a com fúria contra Lupin, que nem ao menos conseguiu ver a bola passar pelo aro ao lado esquerdo da sua cabeça como um relâmpago.
- Mas... o que aconteceu? Dez pontos para a Sonserina? - perguntou Gloria confusa, e recebeu um aceno de Madame Hooch de lá de baixo - Impossível! Alguém viu isso? Onde está a goles?
- Está nas mãos de Forks! – disse a professora McGonagall, igualmente confusa.
- Goyle está enfeitiçado! – berrou Sirius para a Madame Hooch – não está vendo? Ele está incrivelmente forte...
- Cale a boca, Black, se tem alguma coisa enfeitiçada aqui é o seu maldito bastão! – Malfoy aprontou-se em responder, descendo na mesma altura que Sirius estava.
- Senhores! – gritou a professora McGonagall no megafone arrancado das mãos de Gloria.
- Uii, ele ficou nervsinho, isto não quer dizer nada, treinadora? – provocou Sirius.
- Quer dizer que se os dois não pararem AGORA, SERÃO EXPULSOS!
Os dois metralharam-se uma ultima vez com os olhos e seguiram para suas posições iniciais. Forks lançou a goles a Troller, que cambaleou e lançou-a para Grunt, e esperaram o apito soar. Depois disso, Grunt lança para Bell, que segue rápido entre Flinch e Forks, e por pouco um balaço de Crabbe não o acerta no estômago. Bell voava muito rapidamente em direção aos aros, desviando-se dos jogadores, com os braços estranhamente abertos, como se temesse algum feitiço.
Um balaço de Sirius atingiu Malfoy, que tentava seguir Thiago em seu mergulho para o chão, mesmo sabendo que o amigo estava tentando apenas cansar o sonserino. Bell marcou dez pontos para a Grifinória. Dez a dez. Thiago continuou seu mergulho até chegar bem rente ao chão, e logo uma cabeleira loira alcançou-o, e bufou ao perceber que fora enganado, enquanto a torcida de três casas vibrava com os pontos marcados.
Flinch lançou a goles para Troller, que estava distraído, e esta bateu em seu braço para cair em Goyle que voava embaixo do garoto, e os dois gargalharam voando em direção aos aros. Desta vez, Goyle lançou para Flinch que tentou marcar gol, mas Remo fez um movimento fantástico e conseguiu segurar a goles com habilidade, lançando-a para Grunt. Thiago voou até ele para segurar-lhe a mão, com um sorriso, e foi atingido por um balaço em cheio no estômago. Sem ar, procurou com os olhos embaçados para encontrar o parceiro de Crabbe, o segundo apanhador, rindo alto e comemorando com o próprio bastão dando socos no ar, mas foi uma péssima idéia comemorar – Sirius derrubou-o da vassoura com um balaço na cabeça.
- PÊNALTI PARA A SONSERINA! BLACK, NÃO ATINJA OS JOGADORES QUANDO ELES NÃO ESTÃO COM A GOLES, QUANTAS VEZES TEREI QUE REPETIR?
Thiago grunhiu enquanto Sirius voava até ele, para observarem o lance:
- Vamos jogar como eles merecem! – o capitão do time ordenou, e o amigo assentiu.
- Forks vai cobrar... ele parece concentrado... o apito soou e... Isso, Remo pegou! Este goleiro não está de brincadeira hoje! - vibrou Gloria - Ele joga para Grunt, que a lança rápido para Troller... o menino novo está indo bem, olhem só! Ele joga para Bell, que vai para os aros novamente... podemos dizer que Bell é o melhor artilheiro deste jogo?
Bell voou ligeiro em direção as balizas e jogou com força na da direita, e o goleiro da Sonserina não conseguiu pegar. A revirada fez a torcida vibrar ainda mais, Vinte à Dez para a Grifinória!
- Isso, Bell! – incentivou Thiago.
Então o moreno começou a se concentrar no pomo-de-ouro. Seus olhos se estreitaram primeiro para os pontos próximos aos jogadores, mas depois começou a procurar entre a arquibancada. Passou pelas meninas com um olhar muito concentrado, procurando. Lílian murmurou “Olha aí a Terceira Guerra Mundial...” para Sasha, e ela riu. Mas apenas uns cinco minutos depois de o garoto ter passado por elas, que um balaço veio muito rapidamente na direção da arquibancada. Alice puxou Sasha para o lado e a torcida abriu um buraco para o balaço, e este atingiu com tudo o lugar onde a morena estivera segundos antes, quebrando a madeira e fazendo voar pedaços estilhaçados para todos os lados, abrindo um enorme buraco ali.
- Crabbe! CRABBE, VENHA ATÉ AQUI AGORA! – Madame Hooch chamou o garoto, que voou até ela perto da arquibancada dos professores; observaram enquanto ela ralhava muito furiosa com ele, com gestos que podiam ser traduzidos.
- Falta para a Grifinória! - gritou Gloria, depois que a treinadora deu-lhe algumas instruções - por falta de senso técnico! E completo com a minha opinião, se me permitem, por ser um péssimo batedor!
- Senhorita Garret, mantenha-se neutra! – ralhou a professora ao seu lado, mesmo que preservasse um sorriso de soslaio.
- Estou tão neutra quanto três quartos da torcida, professora! - ela falou, fazendo-os rir - e quem mais poderia cobrar esse pênalti além de Bell? Ele está com a goles entre as mãos e quando isso acontece... Hoooo, trinta pontos para a Grifinória!
Talvez fosse por essa súbita virada de vantagem que Thiago estivesse tão despreocupado com o pomo e prestando tanta atenção nos seus jogadores e em suas táticas. Estavam indo realmente bem, apesar do jogo estar sendo um tanto... sujo e estranho. Decidiu que deixaria os jogadores em seus cargos e retornaria sua atenção àquela bolinha dourada, que já devia ansiar por ficar presa entre seus dedos... Flishh... qual não foi a sua surpresa ao notar que o pomo-de-ouro voava bem na direção dos seus olhos, esperneando-se. Esticou a mão para pegá-lo e este desceu e sumiu entre os jogadores, com Thiago em sua cola. O garoto olhou para os lados atrás de Malfoy, que neste momento deveria estar ao seu lado brigando com ele pela posse, mas ele sequer estava se movimentando... de lá de cima, Thiago viu que o loiro o olhava estranhamente, observando com as sobrancelhas erguidas, a varinha meio escondida em suas vestes indicando a direção em que ele estav; e quando o moreno virou-se pra frente, tentando visualizar o pomo, espatifou-se contra a arquibancada da Grifinória, deslizando grudado à madeira e indo parar direto ao chão.
- Ohhh... essa não! Thiago Potter está caindo! Se ele cair... - Gloria aprumou-se na arquibancada.
Thiago tentou ajeitar-se na vassoura, não podia ser difícil! Mas sentiu alguma coisa gelada em sua cabeça, algo como sangue, e uma zonzeira incrível invadiu seu cérebro e tudo foi escurecendo...
- Pontas! Diabos, acorde! – Sirius o sacudia.
Ele olhou ao seu redor, estava no vestiário, e o time estava à sua volta, todos com uniforme e as vassouras encostadas na parede atrás deles.
- Quanto tempo eu perdi? – quis saber rapidamente, procurando seus óculos e colocando-os.
- Apenas alguns minutos, depois que você desmaiou a Madame Hooch pediu tempo! – disse Remo.
- Potter, você está bem? – a professora McGonagall ia entrando no vestiário com passos rápidos e uma expressão levemente ríspida, seguida por Gloria que quase corria para alcançá-la.
- Estou bem, professora. – disse enquanto ela examinava seu corte na cabeça e sua temperatura.
- Acho melhor ir direto para a Enfermaria e...
- Não! Estou bem! O jogo ainda está rolando e temos que voltar!
- Potter... você não poderá jogar. – ela disse com pesar na voz.
Thiago arregalou os olhos.
- Quê?! – ele levantou-se de supetão, e sentiu uma enorme fisgada na cabeça – se eu não jogar, estaremos sem apanhador! E sem apanhador não há pomo, NÃO HÁ TAÇA! – raciocinou rápido.
- Sim... mas as regras são claras, Potter – a voz dela tornou-se mais ríspida do que de costume – se um jogador cai da vassoura, ele não pode mais voltar ao jogo! Há tempos venho lhe avisando para arrumar um substituto de apanhador! Não é possível que pensasse que nunca iria se machucar em algum jogo ou coisa assim! – ela repreendeu.
Thiago arrumou os óculos, sentindo o suor escorrer em sua testa.
- Nenhum outro jogador pode tentar pegar o pomo? – quis saber Gloria, com a testa franzida.
- Não... não temos mais chances agora. – Grunt esbravejou.
- Voltem para o campo e tentem fazer uma diferença de cento e cinqüenta pontos! – Thiago mandou, sentindo uma imensa fúria começar a possuí-lo – e tentem manter isso, até que Malfoy pegue o pomo!
- Vamos, agora! – a professora ordenou quando o apito de Madame Hooch soou em algum lugar lá fora, e partiu com Gloria em seu encalço.
O time olhou-o todo como se dissessem “é uma pena, seria realmente bom”, e então começaram a sair pela porta. Thiago chutou com força um armário onde guardavam as vestes, tentando fazer parar o fluxo de fúria que lhe subia pela cabeça e fazia seu rosto corar-se e seus lábios se crisparem e estremecerem. Algum últimos jogadores olharam para trás da porta, e Thiago percebeu que Sirius não havia saído do vestiário.
- Hey, Sirius – ele segurou o braço dele quando o amigo fez menção de sair junto com os outros – não era o pomo que eu estava seguindo. Era uma ilusão, eu vi Malfoy com a varinha!
Sirius franziu a testa.
- Alguém enfeitiçou Bell quando ele foi cobrar! Grudou os braços dele! – lembrou-se.
- Eu pensei... em uma coisa. – Thiago falou, andando até um armário vermelho, e abrindo a porta encontrou as varinhas dos jogadores todas em fileira, então pegou a que reconheceu ser a de Sirius – vai lá e mostre para eles que não vamos deixar isso acontecer tão fácil. – os olhos dele arderam com um brilho hipnótico e Sirius encarou a própria varinha entre os dedos.
Lançou-lhe um sorriso maroto:
- Você é quem manda, chefe! – e pegou a sua vassoura, montou nela e saiu voando rapidamente pelo túnel, até sair no campo.
Thiago fez algum tipo de meditação para controlar a sua raiva por alguns minutos e só depois deu por si que se Sirius estava com a varinha, com certeza o jogo não estivesse completamente perdido. Tirou a blusa do uniforme e saiu do vestiário até a arquibancada da Grifinória, que já fora arrumada com um feitiço lançado por McGonagall, a mesma que lançou um olhar significativo quando o viu sentar-se na primeira fileira da arquibancada, espremendo-se entre alguns alunos.
O jogo havia recomeçado e a posse da goles estava com a Sonserina. Malfoy olhava-o de onde estava no campo, e Thiago não conseguiu reter um gesto feio com o dedo do meio quando notou isso. Lúcio balançou a cabeça negativamente e voltou a voar, a procura do verdadeiro pomo. “Agora sem nenhuma barreira, como o melhor apanhador da escola.”, Thiago pensou, envenenado. Sentiu o sangue escorrer por sua testa e limpou-o com rapidez, antes que a professora, que estava de olho nele, pudesse notar.
- Thiago! Você está bem? – era Sasha.
- Ótimo. – ele respondeu com rapidez, tentando não desconcentrar-se do jogo.
- Grunt conseguiu pegar a goles de Forks! Ele passa para Troller e...
- Mas você está sangrando! – insistiu Lílian, ao lado da morena.
- Já disse que estou bem! – bradou nervoso, ainda sem olhá-las.
As meninas não tornaram a voltar a palavra a ele em nenhum momento mais depois disso. Então, com uma incrível passada de Bell, Troller conseguiu marcar. O goleiro da Sonserina pareceu estranhamente... cego. Conjuctivus. Quarenta a dez para a Grifinória.
Depois disso, o jogo pareceu relativamente fácil. Sirius lançava feitiços contra os jogadores – os quais só eram percebidos por Thiago, pois o amigo parecia profissional ao fazê-lo imperceptivelmente aos olhos de centenas de bruxos - , e ao mesmo tempo lançava balaços para todos os lados. Quando o placar ficou Noventa a trinta para a Grifinória, Thiago percebeu que havia alguma coisa errada. “Eles não estão se empenhando” pensou com raiva, “vão nos fazer perder da pior maneira possível!”
Acima de suas cabeças, Malfoy parecia passear de vassoura, observando o jogo. Grunt, Bell, e até mesmo Troller, marcaram mais quarenta pontos com passes incríveis, mas que aos olhos do capitão poderiam ter sido interrompidos com facilidade. Até mesmo Malfoy parara de lançar feitiços contra os jogadores. O jogo parecia não ter fim, quando Lúcio pediu tempo para Madame Hooch.
- CINCO MINUTOS!
Os jogadores da Grifinória voaram até a proximidade da arquibancada, onde Thiago estava acenando. Sasha trocou um olhar com Lílian: era a primeira vez que os via tão sérios como estavam.
- Cento e trinta pra gente! Cem pontos de diferença... – Thiago falou. – tentem fazer isto rápido! Malfoy está com planos de nos deixar perto da vitória e depois capturar o pomo! Sirius, tente distraí-lo! – e o garoto assentiu com a cabeça – Grunt e Bell, continuem marcando sem parar, não se importem com o tamanho da facilidade! Troller, tente marcar também! Remo, continue como está! – os jogadores iam sair quando Thiago segurou o braço do segundo batedor – e Carter... meta balaços na cabeça deles!
Carter deu-lhe um sorriso e saiu voando.
- Isto é coisa de se mandar? – brigou uma ruiva ao seu lado.
Thiago acalmara-se ao falar com os jogadores – se tudo ocorresse como planejara...
- Relaxa, ruivinha, eu tenho tudo sobre controle!
- Ruivinha é a mãe, Potter! – ela começou – você realmente acha que é o dono do mundo e... – ela parou de falar, emburrada, percebendo que ele virara-se de costas para ela observando o jogo, sem dar-lhe atenção.
O restante do jogo desenrolou-se nos próximos vinte minutos com rapidez extraordinária – parecia que os sonserinos estavam empenhados em encontrar alguma coisa, invés de marcar pontos.
- Canalha! – xingou Thiago em voz alta – ele colocou todos eles para procurar o pomo! Esse Malfoy não tem sangue de apanhador... – e continuou com uma série de xingamentos ao loiro durante alguns minutos.
Remo impediu uma tentativa de gol, de Forks. Grunt passou para Troller, que marcou mais dez pontos.
- Cento e dez a mais. – disse Thiago para si mesmo.
Forks lançou para Goyle, e ficaram fazendo tabelinha até chegar em Lupin, que segurou novamente, e Gloria gritou elogios. Bell agarrou a goles e marcou sozinho.
- Cento e vinte a mais, cento e vinte a mais... – o capitão continuava.
Flinch entrou na frente de Grunt quando este pegara a goles de novo e voava até as balizas, mas isto não o impediu de lançar para Troller que voava ao seu lado e...
- Cento e trinta de vantagem...
Warrison, outro artilheiro da Sonserina que até aquele ponto parecera morto, levou um balaço na cabeça de graça. Malfoy pareceu ter um ataque de nervos ao notar que a Madame Hooch não percebeu.
- Isso, Sirius, desse jeito... - Thiago continuava.
- Os verdes amoleceram! - Gloria vibrou - não conseguem mais marcar! O placar está Cento e sessenta a trinta para a Grifinória, e se eles não pegarem o pomo, eu digo para vocês, ganharemos mesmo sem o apanhador!
Foi aí que Goyle marcou gol, quando Remo piscou. Tão rápido como se ele tivesse dado uma flechada.
- Cento e vinte de novo... - Thiago contou em voz baixa entre os dentes.
Bell lançou a goles do meio do campo e marcou. O goleiro ainda parecia estar cego... Forks lançou para Goyle, que recebeu um balaço perto dos pés, desequilibrando-se e dando a goles de graça para Troller, que voou ligeiramente até as balizas, marcando também.
- ISSO, GAROTO! – Thiago não se conteve, e Troller deu socos no ar quando passou pela arquibancada, comemorando com o capitão – Agora são só vinte... – ele repetiu consigo mesmo, observando Troller voar para o meio do campo.
Malfoy parecia muito concentrado, estava se empenhando em localizar o pomo... mas se eles continuassem com aquela rapidez, talvez pudessem passar por cima do plano maléfico dos sonserinos... e sim, eles pagariam pela sujeira depois de qualquer maneira!
Grunt deu uma guinada na vassoura e conseguiu impedir um ponto de Goyle, que não pareceu dar total atenção à sua falha, e o jogo virou novamente. Grunt passou para Bell, que deu a volta no campo atraindo os sonserinos, e jogou para Troller, que voava velozmente até as balizas, quando Flinch surgiu em sua frente – mas o garoto jogou a goles para Grunt, que passou de novo para Bell, que finalmente...
- Cento e oitenta a quarenta para a Grifinória! - berrou Gloria, e a professora McGonagall ao seu lado deu um grande sorriso de orelha à orelha.
Faltavam apenas mais dez pontos para os leões, e pelo correr do jogo, não parecia que seria tão difícil assim. E não foi, quando Bell marcou cento e noventa para a Grifinória – a torcida pareceu ter sido eletrocutada, tamanha era a agitação e as explosões de gritos. Estava sendo um jogo fantástico.
Mas a Taça caiu entre os dedos dele como se fosse água escorrendo – Goyle marcou mais trinta pontos para a Sonserina com sua incrível força demonstrada repentinamente em cinco minutos. O sol começava a baixar e o céu começava a escurecer levemente – assim como a esperança do capitão do time, que fervilhava entre os alunos na arquibancada.
Foi então que Malfoy pegou o pomo. Tão de repente que ninguém o havia visto correr em torno do campo rápido atrás da bolinha dourada, mas ele segurou-a entre os dedos bem na frente de Thiago na arquibancada. ”Bom... eles ganharam.”, terminou Gloria com desleixo, e sumiu entre os professores.
Thiago parecia enlouquecido.
- DESGRAÇADO! – ele gritou, e o loiro desatou a gargalhar em cima da vassoura – ISSO NÃO É QUADRIBOL DE VERDADE! COVARDE!
- Potter! - a voz da professora surgiu no megafone - aceite a derrota!
- Um dia é da caça, outro do caçador, Potter! – continuou Malfoy, aproximando-se mais dele com a bolinha dourada entre os dedos, debatendo-se como se quisesse sair desesperadamente.
Alguns alunos iam descendo as arquibancadas, mas outros ficaram para trás.
- Roubando deste jeito quem não ganha, não é Malfoy? – começou Sasha, ao lado do capitão.
Thiago parecia muito vermelho.
- Por favor, senhores, o jogo acabou, não há mais volta! - insistiu a professora - vou ter que tirar mais pontos das Casas de vocês?
Sasha ia abrir a boca de novo, mas Lílian segurou-a pelo braço em um sinal que lhe aconselhava que parasse, e a morena o fez, mesmo que também estivesse vermelha de raiva. Quando Thiago reunira o time, ela entendeu perfeitamente o que estava acontecendo – e mais do que nunca sentiu náuseas daqueles escrotos sonserinos.
Então, Thiago apressou-se entre os alunos e sumiu, e elas deduziram que ele correra para o vestiário, onde o time deveria estar.
- Droga, Sirius deve estar péssimo! – falou Sasha, arrumando os cabelos nervosamente.
- Todos eles devem. – Alice surgiu ao lado delas.
Lílian concordou quieta e desceram as escadas do mesmo jeito. Subindo as colinas, a voz da ruiva voltou:
- Agora, prepare-se, Sasha – avisou – é depois dos jogos que aqueles garotos viram diabos, mesmo quando perdem.
- Nossa, verdade! – Alice bateu a mão na testa – eles ficam atacados!
- Ano passado eles ergueram Snape pelos pés com um feitiço e tiraram as calças dele, enquanto ele espumava pela boca – a ruiva lembrou-se – coitado. Pena que ele é um tremendo ignorante, e quando eu fui defendê-lo de Potter, me atacou!
- Eles fizeram mesmo isso?! – Sasha repetiu, indignada.
- Snape não é muito popular, Sasha, já deve ter reparado – Alice comentou – mas eles parecem ter uma implicância especial com o garoto, como se o fato de ele existir fosse o suficiente para incomodá-los.
Sasha esperaria para ver, e arqueou as sobrancelhas em silêncio. No salão comunal, o clima estava tenso e muito mais silencioso que o normal – as pessoas pareciam esperar o time chegar como se algo fosse acontecer.
Lílian, Sasha e Alice estavam espalhadas no chão na frente da fogueira com livros e pergaminhos, com ânimo para uma única coisa: terminar os deveres e começar a estudar para os exames; e o céu já estava escuro e começava a despejar trovoadas quando o time chegou. Remo arrastava-se na frente do time, que vinha muito desanimado atrás, e lançou um sorriso fraco a elas – Lily acenou. Sirius vinha atrás discutindo algo com Sppinet, que parecia muito doente e mancava; e então chegaram Grunt, Troller e Bell. Alguns alunos deram palmadinhas nas costas deles como se o consolassem, e os amigos de Troller pareciam realmente excitados com o desempenho do amigo em um canto do salão comunal, e este correu até eles.
Sasha levantou-se, foi até Sirius e lhe abraçou.
- Hey, você não espera ganhar sempre, não é? – ela perguntou somente para ele.
Sirius lhe ofereceu um sorriso curto.
- O mais importante eu já ganhei – falou, mas seu rosto ainda estava rígido de tensão: - mas nós perdemos a Taça!
- Ah, Six, larga de ser desanimado – ela tentou, bagunçando os cabelos negros do maroto, sentindo sua umidade nas pontas dos dedos – esta não foi a última oportunidade! – lembrou-o.
Sirius revirou os olhos. Um trovão soou estrondoso lá fora e a chuva começou a despencar lentamente do céu – o tempo parecia estar colaborando para tornar o momento um pouco pior.
- É, mas nunca perdemos uma Taça em toda a nossa estada em Hogwarts. – informou – e isto é deprimente.
Sasha deu-lhe um soco no braço.
- Não quero ver você assim. – ela pensou por um momento, até completar: - Almofadinhas.
Sirius tentou rir, mas não foi com o incrível sucesso que ele o fazia antes. Murmurou “Amanhã estarei melhor”, beijou a testa da garota desejando-lhe boa noite e sumiu nos aposentos masculinos. Era sábado e eram sete horas – definitivamente, aqueles garotos levavam quadribol à sério!
Thiago apareceu pelo menos meia hora depois. Estava sem camiseta e segurava-a enrolada nas mãos, mantendo seus olhos baixos nela. Seus cabelos (um pouco vermelhos na parte de trás), sua calça e sapatos estavam molhados e seus óculos ligeiramente embaçados – ficara se lamentando, ou qualquer outra coisa, na chuva que fustigava a janela como pedras tentando invadir o aposento. Nas costas dele descia um filete de sangue que sumia em suas calças. O garoto fez o caminho mais curto até o dormitório e não desviou o olhar das mãos, deixando um rastro de lama e água.
- Dramático. – grunhiu Lily, mas algo em seu tom chamou a atenção de Sasha.
- Quadribol é a vida dele, Lily – ralhou Alice, sem erguer os olhos do pergaminho no qual escrevia freneticamente.
- Eu sei, assim como ter todas as atenções voltadas para si e essas coisas. Típico de Potter. – ela disse, balançando a cabeça negativamente.
- Você parece saber muitas coisas sobre o Potter - provocou Sasha, usando o mesmo tom que ela ao dizer o sobrenome de Thiago.
- Está enganada – a ruiva corou, abrindo um grosso livro à sua frente e sumindo atrás dele – sei o suficiente para saber que não gosto dele nem um pouquinho. – explicou.
- Evans – era Thiago, atrás delas, com a voz um pouco embargada – você é monitora. – a voz dele estava quase rouca.
- Sim, mas isso não quer dizer que...
- Só queria pedir – ele a interrompeu parecendo fraco – que fosse até a Enfermaria comigo. McGonagall disse que eu poderia fazer isso... e Remo está tomando banho. – completou como se adivinhasse o que ela estava pensando.
Lily olhou para Sasha e em seguida para Alice, com o olhar perdido e um pouco assustado. Quando Thiago olhou para trás para olhar através da janela a chuva, as meninas puderam ver um intenso corte em sua cabeça que jorrava sangue, seu cabelo todo empapado de vermelho. A ruiva ficou de pé em uma fração de segundo e arrumou os cabelos atrás da orelha, e enfim foi em direção ao quadro da porta, que girou para que eles passassem.
Para a maior surpresa de Lílian – ou talvez o seu maior desejo concedido – Thiago mantinha distância da garota como se não ousasse dizer qualquer palavra ou até mesmo chamá-la para sair. E ela sentiu-se... estranha.
- Você é mesmo irresponsável, Potter – ela ralhou quando dobraram o corredor, não suportando o silêncio entre eles – como não dá importância a um corte feio desses na cabeça?
Thiago pareceu suspirar, e então tossiu.
- Eu estava preocupado com outras coisas. – respondeu simplesmente.
- Uma taça de quadribol não pode ser tão importante como um pedaço do seu cérebro.
- Pode acreditar que é sim.
Então o silêncio caiu pesado entre eles novamente. Thiago estava se sentindo cansado demais para dizer qualquer coisa naquele momento. Quando chegaram às portas de vidro fosco, ouviram vozes altas e viram algumas silhuetas passeando lá dentro como borrões altos e escuros. Lílian adiantou-se a abrir a porta vai-e-vem para o garoto passar, e quando entraram depararam-se com o professor Takashighi e Hagrid – o gigante guarda-caças – que estavam discutindo algo antes e cessaram rapidamente.
Caminharam até a saleta separada onde provavelmente a enfermeira deveria estar, e quando passaram pelos dois, Hagrid lançou um olhar aterrorizado ao professor, que levou a mão ao nariz como se estivesse sentindo um cheiro insuportável, e correu até a porta, deixando o guarda-caças reclamando sozinho para trás. Lílian colocou a mão nas costas de Thiago para fazê-lo apressar-se, e sentiu a alta temperatura do corpo do garoto nos dedos.
Ele separou-se dela desajeitado e sentou-se em uma das camas, afundando a cabeça entre as mãos. A ruiva correu até a porta e gritou pela enfermeira.
- No meu tempo este jogo era coisa de fracotes – começou o grandalhão, sentando-se na frente de Thiago, que ergueu a cabeça para observá-lo – o que a gente realmente jogava era corrida de Lula Gigante. Sabe, antigamente tinham muitas no Lago e a procurávamos até encontrarmos o suficiente, e quase morríamos para atravessar as águas sem cair do bicho. Mas é lógico que era proibido, Dumbledore não podia sonhar – segredou em voz baixa.
Thiago riu fracamente.
- Acho que não tem ninguém! – a ruiva voltou com a voz preocupada.
- Deixe-me ver. – Hagrid levantou-se da cama, provocando um estrondo, e foi examinar o corte na cabeça de Thiago.
Ele gemeu quando o gigante tocou os lados com os dedos.
- Isto está horrível! – bradou – deveria ter vindo há muito tempo para cá!
- Eu avisei... – murmurou Lílian.
- Oh, por Merlin, Potter! – a voz indignada de Madame Pomfrey adentrou a Enfermaria antes mesmo que o clique da porta fosse ouvido – o que aconteceu com a sua cabeça?
Thiago explicou como caíra da vassoura e batera a cabeça nas arquibancadas.
- E porque não veio direto à minha Enfermaria? - ela ralhou.
- Como eu disse... – emendou Lily.
Thiago bufou.
- Madame Pomfrey, pode dar um jeito nisso até esta noite? – ele pediu educadamente, olhando-a nos olhos, como se tentasse conquistá-la.
Lílian revirou os olhos, sem acreditar no que o garoto fazia. A mulher baixinha e gorducha estreitou os olhos, virando ligeiramente a cabeça para o lado para dizer:
- Já caí nas suas, Potter! – ela falou, ríspida – esta noite você passa aqui. – e, puxando a cabeça dele, examinou cautelosamente o corte – e talvez amanhã também.
Ele pareceu indignado.
- Não posso ficar dois dias trancado dentro da Enfermaria!
- Eu sei que não gosta deste lugar, Sr. Potter, mas é o meu meio de sobrevivência. – ela informou, magoada – e além disso, você está ardendo em febre e está gripado!
- Como sabe que eu estou gripado? – ele quis saber, e no instante seguinte espirrou.
Ela ergueu as sobrancelhas, mostrando-lhe a resposta.
- Ele ficou na chuva, Madame Pomfrey – Lílian fofocou – depois de já ter feito o corte, ele ficou lá fora no vento e na chuva.
- Muito bem, sabichona. – o garoto virou-se para ela, desdenhoso.
- Eu digo isto é para você! – a enfermeira falou alto – vamos, vamos, começar a cuidar disso já! Venha até aqui tomar um banho quente...
Ele levantou-se e seguiu-a até a saleta dela, de onde a mulher voltou segundos depois.
- Muito teimoso, esse Potter, mas muito esperto. – ela falou consigo mesma.
- Pomfrey, estamos... de acordo com aquele assunto, então? – Hagrid disse, dando uma olhadela de lado para Lílian.
- Acho que... não precisam mais de mim aqui. – a ruiva caminhou até a porta, envergonhada.
Na verdade, nem mesmo sabia porque tinha ficado tanto tempo cuidando de Thiago na Enfermaria. Deveria tê-lo despachado na porta e ido embora, pois tinha deveres para fazer e exames para estudar, e ainda checar o seu horário de rondas na sala dos monitores. Andou a passos duros em direção ao salão comunal, quando notou um pequeno alvoroço em um dos corredores – e definitivamente não se surpreendeu ao ver Snape pendurado pelas calças em um suporte de tochas apagado na parede, cercado de grifinórios que riam e debochavam dele.
- Muito bem... – ela apressou-se até o garoto – quem foi o autor?
Olhou para os lados e encontrou dois jogadores – Carter e Sppinet – entre os alunos que riam gostosamente do garoto. Snape arfava e se esperneava tentando se soltar, enquanto sua cueca alargava-se e o mantinha pendurado.
- Eu não vou perguntar outra vez! – ela ralhou para eles, olhando diretamente para os jogadores – quem foi a criança que fez isso com Snape?
Vendo que ninguém ia responder, ela virou-se para ele, que a olhava com uma fúria imensa nos olhos negros.
- Então?
- Evans... você quer fazer o favor... de me tirar... daqui?
Lily surpreendeu-se com sua própria lerdeza. Tirou Snape de onde ele estava, lançando um feitiço para cortar sua cueca, e ele caiu de joelhos no chão. Uma onda de gargalhadas ouviu-se.
- Quem fez isso com você? – ela perguntou a ele, ao mesmo tempo em que o ajudava a levantar-se.
- Não te interessa, Evans, acho melhor meter o seu nariz onde é convidada!
- E eu realmente acho melhor você falar com ela direito, Seboso! – Carter adiantou-se apontando a varinha para o nariz do outro.
Lílian olhou surpresa para ele. Nunca ao menos conversara com o batedor e ele estava defendendo-a! Mas caiu em si que era apenas mais um propósito para meter-se em intrigas com o sonserino por causa do jogo de hoje.
- Nada de brigas, Carter! – ela se colocou entre os dois – agora chega. Cada um para seus dormitórios.
Carter mirou Snape com a varinha uma ultima vez e depois escondeu-a nas vestes, quando Snape saiu andando em passos firmes entre os alunos e sumiu. Todos olharam para Lílian, esperando sua reação.
- Foi você, Carter? – ela perguntou.
A aglomeração em volta deles começara a dispersar.
- Não. – Sppinet respondeu por ele – íamos para a Enfermaria ver como Thiago estava quando passamos por eles, acabamos de chegar também, Evans.
Ela olhou de um para outro e depois simplesmente falou:
- Potter está bem nos cuidados de Madame Pomfrey. Acho melhor todo mundo voltar para o salão comunal agora.
Com uma careta da parte dos jogadores, os três voltaram para o salão comunal.
No outro dia durante o café da manhã, a mesa da Grifinória parecia tão absorta e envolvida em um silêncio tão monótono por causa da derrota do dia anterior que a escola parecera ter perdido a vida. A questão era que os Sonserinos não sabiam comemorar à sua maneira: tinham que fazer piadinhas de muito mal gosto e mexer com um dos jogadores ou suas namoradas. Ou suas namoradas.
- Pois é, Cissa – Bellatrix falava alto de algum ponto atrás deles no gramado – você viu como nosso priminho jogou ontem! Jogou mal, horrores! – enfatizou – será que ele dá conta mesmo da namoradinha? Ela não parece feliz ao lado dele e...
Sasha foi a primeira a levantar, seguida de Sirius. Bellatrix e Narcisa pareciam papéis estirados na grama verde de tão pálidas, e os outros dois que as desafiava não eram tão diferentes.
- Está se metendo na minha vida de novo, Black? – Sasha quis saber, forjando indignação na voz.
- Oh, não priminha, estava apenas comentando o incrível desempenho de Siriusinho no jogo de ontem! Não achou o mesmo que eu disse? – perguntou falsamente.
- Não me chame de priminha, por favor, me dá náuseas! – ela pediu, passando a mão na própria barriga.
- É melhor você voltar pra sua caverna, Bellatrix, lá você é feliz? – Sirius provocou, fingindo inocência na voz.
Narcisa levantou-se furiosa.
- Como se atreve, traidor? Não fale como se soubesse da nossa vida, pois você se abdicou dela!
- Então não fale como se soubesse da minha também! – ele respondeu em tom alto – me abdiquei e não me arrependo nem um segundo disso!
- Você ainda vai se arrepender. – ameaçou Bellatrix simplesmente, e levantou-se também.
- Ohhh, me salvem, me salvem! – Sirius fez aquela voz feminina – duas garotinhas magricelas estão querendo me enfeitiçar!
Sasha riu, seguida por Remo que estava atrás deles ainda na grama, lendo um pesado livro entre as pernas. Narcisa e Bellatrix se entreolharam em um momento cúmplice de maldade. Elas pareciam saber de muitas coisas juntas.
- É só esperar para ver, priminho.
- Estou esperando há tempos, nojentinha.
Elas deram as costas e subiram os jardins. Mais tarde, Sirius foi visitar Thiago, que parecia uma pilha de nervos por estar deitado em uma cama de Enfermaria pleno domingo, quando centenas de sonserinos debochavam dele lá fora.
- Eu estou planejando tudo, Almofadinhas – ele disse com aquele tom maroto inseparável – não quero nem imaginar o que eu vou fazer com Snape se ele cruzar o meu caminho... mas Malfoy... aquele merece uma boa.
Sirius piscou, apoiando.
- Eu estava pensando, Pontas. Tenho uma ótima idéia sobre o que fazer com Snape. – os olhos de Sirius brilharam.
- Compartilhe. – ordenou, rindo.
- Bem... ele não está realmente curioso para saber o que Remo faz uma vez por mês na Enfermaria? Não está nos seguindo sempre? – começou – o que acha... de darmos uma chance dele saber? Podíamos enfiá-lo no buraco. Só pra dar um susto.
Thiago olhou para ele, divertido.
- Você está me surpreendendo. Está obcecado com a idéia de Sasha ter sido íntima dele anos atrás... não está? – Sirius grunhiu em resposta – Acho fascinante mas... e se algo der errado?
Sirius fitou-o pensativo, com um curto sorriso. A luz fraca do entardecer que invadia a grande janela ao lado da cama de Thiago fazia um efeito incrível no rosto dos dois marotos.
- Então dará errado, ué.
Thiago abriu um enorme sorriso. Remo entrou pela porta vai-e-vem da Enfermaria, apressado.
- Então, quais são as novas? – quis saber, pulando em cima da cama de Thiago, mas eles nada disseram do plano.
- Sasha, quais são os ingredientes para a poção da sorte? – a voz de Lily encheu-lhe os ouvidos, despertando-a do leve cochilo.
Sasha bocejou antes de dizer:
- Muita auto-confiança e só. – respondeu, deitando-se na mesa para dormir.
Estava acabada. Era noite de segunda-feira e já não suportava ouvir falar de livros, deveres e matérias para o exame, e ainda faltavam meses para estes começarem – talvez porque Lílian estivesse falando sobre isso mais do que deveria, e Sasha não saia do lado da ruiva. Precisavam de alguma coisa diferente para animá-los, para que ao menos sobrevivessem até os exames... alguma distração.
- Desse jeito você vai longe... – ela ouviu a ruiva resmungar, e o sono entrou-lhe no cérebro como uma droga, fazendo-a tombar a cabeça entre os braços e adormecer.
Lílian voltou a ler o grosso livro, muito concentrada agora. Parara em umas páginas que nada tinham a ver com a matéria da redação pedida por Flitwick, mas era realmente interessante... “Diabos!”
- Sasha! – ela cutucou-a de lado.
A morena mexeu-se de leve, erguendo os olhos para ver se alguém as via e abaixando em seguida. Eram as única que ainda restavam no dormitório meio escuro.
- Acorde, você tem que ver isso! – a ruiva chamou mais uma vez.
Ela levantou a cabeça nervosamente, erguendo as sobrancelhas para a amiga, que indicou uma página no livro:
Poção Anti-Vampiro
O principal a fazer, antes de tudo, é identificar um vampiro com todas as suas características principais, como a pele branca como cera, o sonambulismo (vampiros não dormem), sua incrível força e sua capacidade de ouvir muito longe e falar muito rápido. Mesmo assim, ainda não se pode ter certeza de que há uma presença vampiresca.
- Claro que não. Este ainda pode ser o nosso professor! – ironizou Sasha. Lílian fez uma careta e voltaram a se debruçar sobre o livro.
Alguns vampiros podem ser vegetarianos, ou seja, se abdicam do sangue humano e escolhem o sangue animal para alimentar-se para o resto de sua vida. Mas mesmo assim, os vampiros não podem mudar sua natureza: a principal forma de identificar um vampiro, é colocando sangue em sua frente ou bem debaixo de seu nariz – pois o cheiro é extremamente fatal para ele. Perceberá como este ficará atordoado e fugirá rapidamente; e apenas os vampiros mais fortes e decididos conseguirão manter-se afastados do sangue sem querer sugá-lo lentamente para dentro de si como água...
- Espere – Lily segurou o braço da amiga de repente – o professor... ah, Merlin!
- O que foi? – Sasha quis saber, quando a ruiva arregalou ainda mais os olhos verdes.
- O professor Takashighi estava na Enfermaria quando eu e o Potter entramos – falou entre os dentes, raciocinando rápido – o Potter estava sangrando muito na cabeça, e o professor pareceu... ele colocou a mão no nariz, sabe... como se estivesse sentindo... um cheiro...
- E aquela vez, quando eu entrei na sala com o braço arranhado! – Sasha lembrou-se – ele dispensou-nos de dois períodos!
- Branco como cera... se fosse apenas por isso, metade dessa escola seria de vampiros.
Lílian riu.
- Sim, Sirius, e o resto dos Black. – disse – ah, e você também. E Gloria. Acho que fora estes, mais ninguém.
Sasha fez uma careta e voltou a olhar o livro. Na continuação continha uma poção extremamente complicada que quase poderia ser magia negra, mas estava no livro do sexto ano. Não falava nada sobre alho, luz do sol, ou caixões, e todas essas coisas que se ouvem nas histórias. As características dadas sobre vampiros eram quase angustiantes, quando chegaram à conclusão de que podia haver mil vampiros entre eles: sem que ao menos tivessem idéia.
...
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