Mais um tango
Nem mesmo eu poderia imaginar que algo tão surreal e inacreditável pudesse acontecer, mas com a convivência aprendi a nunca duvidar da capacidade dela. Sim, Gina sabia exatamente quando e como me surpreender e sinceramente acho que esse era o seu maior dom e também o que a tornava tão necessária para completar os meus dias.
Surpreenda-me mais uma vez
Faça o que sabe fazer de melhor
Mostre que esse sonho ainda é possível
Façamos juntos, um espetáculo real.
Quem diria que ela fugiria de casa as vésperas de um casamento “quase arranjado” com Harry Potter? Realmente uma atitude no mínimo inusitada, mas que me rendeu uma segunda chance de reviver meus preciosos dezessete anos. Ainda me lembro com perfeição do novo diário e das gotas de sangue que ela derramou para que eu pudesse voltar. Como eu imaginava. Eu era ainda imortal na memória de Virginia.
Se ela me chocou com a iniciativa de me reviver, eu a choquei ainda mais ao exigir que ela completasse as tarefas de anos atrás. Nada de Câmara Secreta dessa vez, mas ela teria que entender de uma vez por todas que o destino dela era me servir e ao contrario do que eu pensei, ela aceitou sem reclamar, talvez por não entender as segundas intenções por trás dessa ordem.
Muitos anos aprisionado dentro das memórias esquecidas pelo tempo me tornaram um pouco mais ávido por companhia do que eu esperava, logo a oportunidade de ter Gina junto a mim mostrou-se bem tentadora não só pelo fato de ter uma “amiga” para conversar, mas também pela revelação de uma mulher encantadora por trás da menininha que ela fora um dia. Juntando tudo era como unir o útil ao agradável.
Acolha-me em seus braços
Mostre-me o que eu não conheço
Teus carinhos sempre gratos
Seu calor é o que eu peço
Se ela esperava amor de mim então deveria ter ficado com Potter, pois era fato consumado que eu não amava ninguém. Mas por incrível que pareça ela não queria isso, assim como não queria nem poder nem fama, alegando que teria conseguido tudo isso ao lado do ex-noivo. Pois bem, o que ela queria afinal?
A presença dela era uma eterna interrogação na minha vida pelo simples fato de eu não conseguir entender o porque dela continuar ao meu lado por vontade própria e foi essa curiosidade que fez com que eu me aproximasse e de certa forma baixasse a guarda perto dela. Merlin, aquela mulher era amaldiçoada ou no mínimo estava me deixando louco!
Passei a conversar mais com ela e fui encontrando por trás daquela aparência delicada uma mulher de fibra incontestável. Ela era sem duvida um ser determinado e ainda sim agradável de se ter por perto. Confesso que minhas experiências com mulheres de gênio forte não eram das melhores, Bellatrix era um bom exemplo disso, já que nem o marido conseguia controlar seus acessos de histeria.
Gina não era como nenhuma Comensal que eu conhecia, ela era mais refinada, mais graciosa e não menos perigosa. Sim, ela aceitou matar e mostrava ousadia em cada missão para qual era enviada, mas nunca perdeu seu jeito gentil de falar e suas maneiras sutis de agir. Com o tempo eu não conseguia mais ficar sem nossas conversar diárias e passei a perceber que ela gostava daquela demonstração de atenção.
Um belo dia pedi para que ela tocasse alguma coisa no velho piano de calda e ela disse que não sabia musica, mas nem por isso ela deixou de satisfazer o meu capricho. Enfeitiçou o instrumento, que ficou tocando por horas. Acho que estava tão cansado no dia, ou quem sabe muito confortável com a presença dela, que acabei adormecendo e quando acordei estava com a cabeça no colo dela enquanto suas mãos percorriam os meus cabelos numa caricia aconchegante. Não consegui me esquivar e acabei adormecendo de novo, mas dessa vez com uma leve sensação de plenitude dentro de mim.
Os cochilos e conversas se tornaram bem mais freqüentes. Eu não me preocupava com nada, nem dentro nem fora do esconderijo, apenas em dar a Virginia, sempre que podia, atenção e alguns momentos de risadas. Descobri que mantê-la feliz era a garantia que eu tinha de tê-la sempre fiel a mim e aos meu planos, alem de ter a minha disposição uma companhia realmente agradável.
Chegamos em um ponto no qual eu queria experimentar mais do que simples diálogos. Eu queria sentir aquele carinho de maneira mais intensa então passei a deseja-la todas as noites na minha cama. Imaginava como seria aquela determinação entre quatro paredes e admito que esse pensamento me excitava. Passei a caça-la dentro daquele castelo todas as noites como um animal selvagem em busca de sua presa.
Fui realmente muito bruto com ela, um verdadeiro retrocesso na evolução humana. Ela ficou magoada e passou a chorar bastante naqueles dias, até que passou a ser indiferente aqueles momentos de selvageria.
Admito, fiquei irritado com aquilo. Eu queria ao menos ter a certeza de que ela sentia alguma coisa, fosse bom ou mal, queria ao menos uma expressão facial que denotasse prazer ou repulsa, mas não conseguia nada. Como agir diante de uma mulher assim?
Foi num desses momentos de reflexão que me lembrei de algo interessante que ouvi na época em que eu morava naquele terrível orfanato trouxa. “Para ter uma mulher aos seus pés siga as regras do tango: sedução, ardor e paixão”. De fato aquilo fazia sentido.
Eu me lembrava dessa dança trouxa, era envolvente, sensual, forte, a verdadeira essência do desejo sem a necessidade do amor. Era tudo o que eu queria para mim e Gina naquele momento, um lindo tango. E foi o que eu fiz.
Seja o consolo para as noites frias
Vamos mostrar um pouco do que sabemos
Minhas mãos na sua cintura
E ao ritmo nós nos rendemos.
Meus olhos procuraram os dela durante o jantar num mistura de malicia e fogo contidos em timidez. Naquela noite, quando ela subiu para o quarto eu estava escondido nas sombras formadas pela fraca iluminação. Ao notar a minha presença ela tentou sair de lá, mas eu a segurei com firmeza pelo braço, ela ainda tentou se desvencilhar quando eu a enlacei pela cintura. Fiz questão de provoca-la em meus braços, sussurrando qualquer coisa sensual ao pé do ouvido dela. Fiz ela rodar suavemente para que me encarasse nos olhos e o que vi no castanho profundo foi à curiosidade em resposta ao meu azul incandescente e indiscreto. Minha boca investia contra a dela e depois recuava, fazendo uma doce tortura para que ela se rendesse logo. As pernas se enroscavam tentando fazer um caminho tortuoso até a cama de dóceis, ora ela me girava ora eu o fazia com ela. Os olhos não se distanciavam assim como as respirações descompassadas. A mão dela na minha nuca a minha na cintura dela.
Rodopie, minha cara.
Vamos aos olhares de fogo
Mostre-me o caminho que suas pernas traçaram
Enquanto em seus braços eu morro
Silenciosamente pedíamos um ao outro “Dança comigo?”. E éramos correspondidos em nossos anseios com calor e caricias. Os olhos fazendo promessas e suplicando por mais daquela dança insaciável, formando uma discussão silenciosa na qual eu a calava com beijos e ela se entregava pedindo por mais carinhos. Laços apertados, as mãos delicadas dela sobre o meu corpo, o arrepio ao meu toque frio em sua pele quente, hálitos confusos e todos os pecados que puder imaginar. Era perfeito, nada de amor nem ilusão, tudo bem real na resposta para as nossas necessidades, carinho e atenção, misturados ao desejo mutuo.
Era um vicio inebriante do qual eu não conseguia mais me livrar e ao que parece nem ela. Aquele era o nosso paraíso, ou melhor, nosso inferno. Um pouco de vinho para esquecer os problemas e tornar tudo ainda mais inconseqüente, uma lua clara para testemunhar aquele espetáculo e o calor da lareira misturado ao calor dos corpos. Todas as noites o mesmo ritmo quente.
Você é minha a final
Somos um par nesse salão vazio
Dançando ao som dos solitários
Mais um tango sombrio
O mundo lá fora rodava, mas não me importava contanto que ela estivesse todas as noites ali para mais um espetáculo. Só me dei conta das responsabilidades nas quais meus atos implicavam quando ela disse estar grávida. Bem, cedo ou tarde ia acontecer algo do tipo. No final de tantos tangos saímos com mais um par. Herdeiros de tudo o que eu e ela construímos durante tanto tempo.
Não tem como o mundo ser perfeito, mas eu pouco me importava com isso, a minha vida se tornara perfeita e isso era o bastante. Eu tinha meus medos, a despeito de tudo o que diziam ao meu respeito. Tinha medo do esquecimento de perder tudo o que eu havia conquistado para a morte, para que minha satisfação fosse plena eu queria a eternidade em todos aqueles momentos.
Somos tudo o que restou da beleza
Somos tudo o que sobrou da magia
Minha dama que não pode ver tristeza
E eu que não dou alegria
Eternidade era tudo o que eu sonhava. Poder, posse, paixão e Gina, para sempre, até o fim dos tempos. Sim, era tudo o que eu queria.
Somente Virginia conhecia e compreendia essa minha necessidade, aliás, só ela me aceitava como eu era assim como eu fazia com ela. Acho que sempre foi esse o nosso destino, compreender e acolher um ao outro, talvez pela semelhança de nossas ambições. Ela queria atenção e carinho e no final era isso o que eu queria também. Eis a nossa sentença, nada de amor e suas promessas vazias, apenas cumplicidade em nossos sonhos.
Sentia que não havia mais sentido em uma vida na qual Virginia não estivesse presente e já não me sentia capaz de imaginar meus dias sem a presença dela. Nos tornamos dependentes um do outro de tal forma que o ar parecia faltar se não houvessem mais conversas demoradas e cochilos ao som do piano enfeitiçado, se não houvesse risadas livres e discussões a cerca de como educar as crianças, não haveria graça em um mundo solitário.
Cheguei a conclusão de que eu havia nascido para tê-la ao meu lado e de que inconscientemente nós sempre pertencemos um ao outro. Eu a queria ao meu lado quando eu estivesse no topo, queria que ela me ajudasse a subir e que saboreasse comigo a vitória. Ao final dessa existência quase sempre vazia, havia alguém que me preenchia com afeto. Havia uma luz no fim do meu túnel chamada Virginia Weasley.
Não haveria perfeição e nem graça no mundo sem o sorriso dela. Se fosse para morrer eu a queria ao meu lado no caixão, por que nem mesmo o inferno seria a mesma coisa sem Gina. E se o Potter-perfeito cruzasse o meu caminho, te garanto que dessa vez ele não seria mais o menino-que-sobreviveu, porque eu não seria capaz nem mesmo de imaginar aquela ruiva repetindo com ele o nosso tango.
Sou bastante realista ao dizer que imagino até mesmo a nossa morte, eu e ela juntos. De mãos dadas, com nossos olhos fazendo a mesma pergunta e ao final nos entregando à mais um tango, mas dessa vez o nosso ultimo e eterno espetáculo.
A luz baixa indica o final
A dança não tem mais sentido
E me pergunto se você aceitara
Dançar seu ultimo tango comigo.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------Devido ao sucesso da fic "Me concede essa dança?" decidi escrever essa aqui. Obrigada aquele que comentaram minhas fics.
bjux Gabriela
P.S.: O poema que setá intercalado com a fic é de minha autoria tambem, assim como o de todas as outras.
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