Nuvens de Algodão
Song-Fic: Breathe/Faith Hill
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Nuvens de Algodão
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Pedras me ensinaram a voar. O amor me ensinou a mentir. A vida me ensinou a morrer, assim, não é difícil se apaixonar quando você flutua como uma bala de canhão… [Cannonbal - Damien Rice].
O azul, no topo do céu, transbordava em um brilho intenso. O cheiro adorável de flores exalava agradavelmente, ainda que a fragrância e aromas fossem um tanto quanto impossíveis de serem distinguidos. Tais flores, indescritivelmente belas, localizavam-se na densa e flexível relva, ao lado do lago, abaixo das gotículas brilhantes da abóbada celeste. Certas pétalas voavam magicamente, semeando sentimentos ilusórios, porém, secretamente intensos. Delineando o que se chamava de “recanto das almas” ou simplesmente “morada da lula gigante”.
A neblina dos dias anteriores fora expulsa pelos constantes murmúrios da brisa, que, certas vezes, se assemelhava ao leão, rugindo incontestáveis vezes pelo simples e deleitoso prazer de acordar o sol. Mostrando, assim, uma beleza ainda mais delirante; uma projeção capaz de fazer lacrimar qualquer ser que ousasse observá-lo por algum tempo. O sol se escondia por trás dos caules incessantes da floreta, porém, seu calor intenso reinava em um fogo que ardia na pele de uma forma surpreendente. De uma forma imaginativa.
I can feel the magic floating in the air
(Eu posso sentir a mágica flutuando no ar)
Being with you gets me that way
(Estar com você me faz sentir assim)
I watch the sunlight
(Eu observo a luz do sol)
Dance across your face
(Dançar pelo seu rosto)
- Veja aquela. – O rapaz apontou para uma nuvem que deslizava pelo céu, enquanto comia um pedaço da torta de maçã preparada pela jovem, que focava sua atenção em um ponto mais extenso da atmosfera. – Tem um rabo semelhante a um dragão, uma boca de cachorro e braços de…
- Hipogrifo! – A morena torceu o nariz. – Na minha opinião, me parecem mais asas do que braços.
- Bem, talvez.
- Tem uma idéia melhor para definir essa nuvem? – indagou.
- Não me parece com qualquer animal que já ouvi falar – comentou, pegando a mão da moça e apenas acariciando a articulação de seu pulso.
- Bem, eu já li diversos livros que mostravam animais bizarros com bocas de cachorro e rabos semelhantes a dragões, mas… nada se compara a esta figura.
- Eu concordo com você! – foi o que ele disse antes de beijar a palma de sua mão, o que a fez rir demoradamente.
Era fascinante passar algumas horas intermináveis vendo o pôr-do-sol e discutindo calorosamente sobre as formas atraentes das nuvens vagando pelo horizonte, transformando-se e apenas mantendo seu ritmo habitual de plenitude. Gratificante seria se pudessem retroceder no tempo depois que terminassem Hogwarts. Talvez nada fizesse sentido depois dali; entretanto, não se importavam. Ao menos naqueles instantes.
- Sabe do que eu sinto falta, Harry? – ela suspirou, erguendo-se do chão e descansando sua cabeça no peito másculo do amigo.
A luz contribuía para seu humor, e o brilho nela existente apenas refletia, deixando cada vez mais intenso o contato entre os corpos. Sentiu-se segura, para logo experimentar a vergonha adorável.
- Você sempre sente falta das coisas – ele ironizou e acariciou os cachos de cor chocolate -… e sempre chora por isso.
Ela bateu em seu ombro de leve e sorriu, mordendo os lábios.
- Não é justo! – Olhou para as íris cor de esmeralda. – Você está brincando com meus sentimentos, Potter.
- Acha mesmo que eu o faria? – Seus olhos continuavam calmos, demonstrando seu torpor intenso.
Ela passou a mão nos cabelos negros e desgrenhados de Harry e se perguntou se conseguiria distanciar-se dele. Manter-se por dias e mais dias sem pensar ou criar hipóteses para tê-lo consigo eternamente. O sangue deixou seu rosto. Pensar naquilo aflorava um sentimento doloroso no fundo do peito. Massageou o coração, notando a maciez do buço do moreno e parecendo-lhe inteiramente adorável. A sensação calmante e a ânsia invadiram seu corpo rapidamente, como um vulcão em erupção, resultando em apenas meras explosões de fogo. Ela estava querendo beijá-lo novamente.
- Não sei – soltou um muxoxo. – Quem sabe?
And I've never been this swept away
(E eu nunca fui levada assim)
All my thoughts seem to settle on the breeze
(Todos os meus pensamentos parecem ser sobre a brisa)
When I'm lying wrapped up in your arms
(Quando eu estou deitada, envolvida nos seus braço).
Harry gargalhou, passando as mãos por sua cintura e depois navegando seus dedos por sua clavícula em um ritmo demorado, lentamente ativando a circulação quente da moça, massageando-a e vendo-a contorcer-se felinamente. No instante seguinte, roçou os lábios sedentos contra os dela, tentando descobrir o sabor intenso neles existente. Experimentando a textura profundamente saborosa, alimentando propositalmente a chama e as serpentes esverdeadas ao fundo. Sem medo.
- Ainda acha que eu brincaria com seus sentimentos, querida? – Beijou-a na face, tentando descobrir o que os olhos tão castanhos desejavam naquele exato momento.
Entretanto, Hermione não deu atenção ao que havia dito, terminando o contato entre ambos os corpos. Sentou-se na grama com os olhos contraídos, abraçando as pernas enquanto ajeitava ainda mais a saia do uniforme escolar. Seus cachos caíam em cascata em suas costas, porém, apenas conseguia sentir sua respiração falhando quando chegavam ao assunto sentimentos. A brisa apenas a beijava em silêncio, e a respiração de Harry era bastante audível - para seu desespero.
- Olhe novamente para o céu, Hermione.
- Não tenho vontade, desculpe. – Seus olhos embaçaram.
- Não é uma questão de vontade, é uma questão de sentir-se melhor e se permitir entender certas questões. – O rapaz brincou com um de seus cachos, mantendo a voz firme e convicta. – Agora, olhe para o céu e apenas veja.
Ela obedeceu.
- O que você vê?
Suspirou, não permitindo que as lágrimas tornassem a aflorar em seus olhos.
– Vejo flocos, ou, basicamente, nuvens juntando-se e transformando-se em formas grotescas. Nada muito relevante.
- Então acha que essa beleza natural não é relevante? – A voz continuava macia.
- Acho!
- Poderia explicar-me por quê? – Postou-se em frente a ela, tocando sua face levemente e tentando ignorar os olhos brilhantes, prestes a chorar.
- As nuvens são lindas, sim! – observou. – Apenas não sinto qualquer tipo de prazer ao vê-las deslizando pelo céu como verdadeiras almas amedrontadoras.
Ele soltou uma risada um tanto trêmula.
- Pois assim você acaba com a magia! – brincou, mostrando os dentes com o sorriso. – As nuvens são almas leves e plenas. Se você observá-las atentamente, terá a sensação de leveza. Algo grande, porém que não pesa absolutamente nada. Como plumas.
- Isso é ser sonhador em excesso. Nunca fui assim, Harry – Hermione aumentou a voz, destacando cada palavra – e nunca vou ser.
- Todos têm um lado sonhador na vida, Mione. Todos amam, choram, têm momentos infelizes ou não, é comum se abater. – O moreno beijou sua testa carinhosamente. - Mas, de uma forma surpreendente, há aqueles que conseguem ver além do óbvio, ver em quaisquer entrelinhas a palavra certa - correta e fatal. Há pessoas que sentem e aquelas que apenas tentam ignorar. Eu diria que estas são como você.
- Não tento ignorar ninguém! – explodiu, defendendo-se.
- Está ignorando o simbolismo das nuvens…
- É uma questão de gosto, um ato de livre escolha. – Harry revirou os olhos. – Se você aprecia o dossiê que elas produzem, é uma opção particular. Sua. Não minha.
The whole world just fades away
(O mundo inteiro some)
The only thing I hear
(A única coisa que eu ouço)
Is the beating of your heart
(São os batimentos do seu coração)
Ele pareceu magoado com a resposta, mas mostrou-se forte enquanto virava-se, ficando de costas para ela. Hermione pôde notar quando ele segurou um tufão aglomerado de grama e arrancou-o do chão grosseiramente. Suas mãos, sujas pela terra, se misturavam com o verde simples e insignificante que logo foi jogado ao longe. A moça continuou olhando-o, atônita. Nem mesmo o sussurro de seu coração explicava o que ele fizera. Na verdade, sabia que ele tinha algo em mente quando o cometera. Havia afundado as mãos na grama e a retirara do solo sem motivo algum, sem se permitir refletir sobre tal brutalidade.
- Você faz a mesma coisa cada vez que insulta as nuvens – foi o que murmurou, ainda sem olhá-la realmente.
- Não o entendo.
- Pois deveria! Sabe o que eu estou dizendo, apenas não quer aceitar, pois tem medo. – Harry puxou a mão de Hermione para si e a beijou. – Cada vez que você não consegue, ou não quer olhar e perceber o que é certo, você simplesmente acaba por arrancar um tufão de grama do solo. Da mesma forma que você está apunhalando meu coração neste exato momento.
- Não é a minha intenção, Harry. – Seus olhos tornavam a adquirir uma tonalidade brilhante e as lágrimas voltavam freneticamente.
E fora sincera. Não era seu intuito querer empurrá-lo e fugir dele cada vez que o olhava. Não era sua intenção acabar com o que existia entre eles. questão era que jamais pensara que poderia pecar daquela forma. Arruinar não somente uma amizade duradoura, mas também um coração. Dois exatos corações. Entrelaçar-se com algo frágil e impossibilitado de ser eterno não era como comprar diamantes. O prazer se ia e, com ele, apenas a dor sorria.
- Nunca é, eu sei. – O rapaz lambeu de leve o dedo indicador de Hermione, sentindo-a tremer com o ato.
- Não faça isso! – Ela puxou sua mão em vão.
Arrepios percorreram seu corpo infinitas vezes, até que sua sanidade pareceu evaporar-se aos poucos. Algo a fazia sentir-se diferente perto de Harry, e não queria acreditar em nada, não desejava sentir. E ele pareceu ler seus pensamentos, como se soubesse apenas com um leve olhar seus mais secretos desejos. Seus piores anseios.
- Não quer que eu toque em você? – Ela confirmou. – Tem certeza? Seu coração e seu corpo contradizem o que sua consciência anuncia.
“Pare de me fazer mentir, é inevitável pensar que seria adorável aproveitar-me de seu abraço”, pensou, abanando a cabeça e levando seus pensamentos às nuvens. Elas eram úteis no fim das contas.
- Não vou fazer o que você quer. – Um sorriso maroto estampou sua face. – Não tocarei em seu corpo, mas tocarei em você verbalmente.
Ela o olhou com uma intensa vontade de abraçá-lo e acabar com todos os legítimos medos que a perturbavam inconstantes vezes. Ela precisava desvanecer em sonhos. Aquele olhar penetrante do moreno estava deixando-a sem ar.
- As nuvens a tocam em silêncio. Considere-me como uma nuvem, mas isso não pode ser tudo – Harry lhe comunicou, enquanto ela apenas visualizava o brilho que o sol passava a refletir sobre seus cabelos, ainda mais rebeldes pelo vento. – Eu, ou simplesmente as nuvens, estamos esperando você se entregar. Não de uma forma forçada, apesar de que creio que isso jamais seria um esforço para você, afinal, você me ama. – Hermione ergueu a voz, mas ele a interrompeu. – Como as nuvens, estou tentando fazer você perceber isso.
Ela sorriu, mas mordeu os lábios para que ele não percebesse tal gesto.
- Não o amo! – atirou –... e você não me ama.
- Jamais disse que a amava, as nuvens também não falam… – Aproximou-se dela, flertando.
A claridade cândida em que agora mergulhavam se tornou ainda mais compatível com o sensor que exibia um calor fulminante. Os olhos fixamente verdes de Harry debatiam com os castanhos vivos e intensos; as mãos se contorciam no colo de Hermione, que tentava numerosas vezes pensar em uma grosseria que o faria voltar a se manter ignorante com suas atenções e desejos. Porém, havia tempos em que o desprezível sentimento os modificava surpreendentemente. Amadurecia-os ou simplesmente tornava-os meros tolos que apenas sabiam desejar e flutuar.
Não era sensato ambicionar daquela forma seu melhor amigo. Não era sensato ignorar sua consciência e seguir o coração. Talvez a traição do mesmo pudesse acordá-la dos sonhos grotescos que somente a fariam cair. Morrendo. Sem nuvens. Sem Harry.
- É apenas uma paixão, vai embora da mesma forma com que veio – sentiu seu corpo fracassar ao murmurar aquelas palavras tão falsas quanto a alegria de uma serpente.
- É o que você acha? – ele perguntou, sua face, antes calma, parecendo enfurecer-se aos poucos. – É o que você sente, querida?
“Não, nunca!”.
- Sim, é o que eu sinto. – Quando piscou, jamais soube definir o que se passava.
- Bem, isso não tem importância.
Sem entender, pensou nas nuvens e no quão transparentes elas eram. Harry definitivamente não lhe parecia transparente naquela ocasião. Sugeria algo como esconder alguma coisa de si, dela. Um jogo particular, sem importância. Ou talvez, com tamanho contraste que chegava a doer o peito.
- Não tem importância? – engasgou.
- Não – repetiu. – Eu quero você e você me quer.
- Não o quero – afirmou.
- Se é paixão, existe um fogo. Você mesma se denunciou. – Inteiramente constrangida, Hermione empurrou os cabelos para trás, em disfarce. – Quer ser minha aqui e agora, Hermione?
Antes que pudesse responder, seu corpo foi envolvido com uma intensa força que a apertou contra Harry. O rapaz a segurava pela cintura enquanto beijava seu pescoço com a intenção de fazê-la perder os visgos angustiantes de sanidade. Passava os lábios sedentos por seu colo, vendo-a se contorcer de prazer, de calor insaciável. Seus olhos perdiam o foco e a própria visão se desanuviara. A sensação de plenitude se contorcia em seu peito, agitando-o e transmitindo uma pressão submersa sobre o coração.
- É assim a minha paixão por você – foi o que ouviu sair da boca de Harry antes de mergulhar em um transe prazeroso o qual apenas sentia e retribuía. As respostas eram póstumas. O choque deixava-a tremendamente atordoada, de tal forma que o brilho de seus olhos tornava-se ainda mais contagiante. Harry vagava suas mãos por seus quadris, envolvendo-a por completo, e os suspiros eram mais freqüentes do que um dia jamais imaginara.
Podia ouvir serenamente as flores cantando melodias incessantes sobre a perfeição e suas idealizações. Porém, não poderia conter-se de tamanha magia frenética que umedecia e apetecia seus sentidos, cada vez mais agitados. Seu coração arfava, suas pernas tremiam, seu corpo se derretia a cada toque, a vontade de remexer-se para dentro dele aflorava ainda mais. Sentiu-se doente por alguns segundos.
- As nuvens são intensas quando querem um determinado objetivo. – Ergueu-lhe o queixo, mordiscando freqüentemente seus lábios carnudos e suaves. – Como eu, elas querem estar perto de você.
- Hummm…
- Você ainda está aí? – brincou, abraçando-a, como se pudesse agarrá-la e morrer ali mesmo.
- Não consigo respirar. – Harry assentiu quando ela o puxou pelo pescoço e simplesmente encostou sua cabeça em seu ombro, suspirando. Não mais havia medo. Nada mais havia além de uma paixão fulminante. Um amor.
- É assim que tem de ser, querida – assegurou. – As nuvens fazem aqueles que as apreciam perderem o fôlego, apenas por fazerem quaisquer pessoas discutirem suas adoráveis e atraentes formas.
'Cause I can feel you breathe
(Porque eu posso sentir sua respiração)
It's washing over me
(Está tomando conta de mim)
Suddenly I'm melting into you
(De repente, estou derretendo dentro de você)
There's nothing left to prove
(Não restou nada para provar)
Baby all we need is just to be
(Querido, tudo que nós precisamos é apenas estar)
Caught up in the touch
(Presos ao toque)
The slow and steady rush
(Lentos e firmes)
- Acho que gosto das nuvens – ela sussurrou em seu ouvido.
- Sei que gosta, e também sei que pretende lutar pelo que sentimos.
- Está zangado?
Harry limpou a garganta.
– Tenho motivos para estar?
Ela quis desvencilhar o rosto, porém, Harry não permitiu, prendendo-a entre seus carinhos. A batida peculiar de ambos os corações acelerava em frenesi, sem permitir pensamentos além dos essenciais, sem deixar que algo abatesse o ritmo tremendamente agradável que o destino havia tecido.
- As nuvens, Hermione, não esperam que o mundo esteja observando-as, porque mais da metade do mundo não se importa se elas estão lá. Ninguém é capaz de trocar minutos de trabalho apenas para observá-las movimentando-se, mas é possível e adorável dizer que somente corações clarividentes – ele roçou os lábios na curva de seu pescoço – é que conseguem ver a beleza.
- A beleza do mundo está nos olhos de quem a vê – prosseguiu. - Já ouvi isso em algum lugar.
- Porque é fato.
- Porque talvez seja real.
Ela havia-se perdido, entregado-se inteiramente. Apenas sentia.
- Não quero romances, nunca quis.
- Eu não compartilho a sua idéia. Perdoe-me se estou sendo apressado ou talvez lento demais ao tentar fazer você perceber certos acontecimentos, no entanto, não consigo compreender e não quero aceitar as suas opiniões.
- O que há com você? – Ela suspirou a contragosto.
- Querendo ou não, um dia terá de perceber que o mundo não é feito de tortas de maçã.
Ela gargalhou.
- Sei disso.
- Então por que não aceita o que seu coração lhe diz?
- Porque ele é tolo! – respondeu rispidamente.
- Seu coração é você. – E seria mais fácil se colaborasse com o meu, ele pensou.
- Seria desagradável dizer que talvez meu coração não seja razoável com relação aos sentimentos em si. Estamos entrelaçados um ao outro nesse exato minuto, mas o que você me dirá do amanhã? – cuspiu. - Não quero retroceder, lembrando numerosas vezes do que já passou. Não quero simplesmente chorar por insignificantes sentimentos!
- Você não quer se entregar. Parcela do que sente permanece inerte dentro de você, não consegue perceber que tudo isso apenas gera dor?
Hermione levou as mãos aos ouvidos, apaziguando o calor excessivo que se aglomerava em sua face.
– Não quero você!
Viu quando os olhos de Harry se modificaram, percebendo o mergulho inteiramente doloroso no qual ele afundava com suas últimas palavras. E queria salvá-lo. Ainda que ele permanecesse em silêncio, as batidas ardiam no peito. Talvez nem mesmo as lágrimas aliviassem tamanho pesar, mesmo que fosse possível despejar as milhares de sensações ali presentes, dentro dela. O moreno apenas afirmou com a cabeça e fez menção de dizer algo.
Mas não o fez.
Inesperadamente, agarrou o pescoço de Harry e o abraçou forte, compreendendo cada partícula de desgosto ao proferir mentiras. Apenas tinha medo, e isso não significava que o magoaria.
Sentiu-o suspirar e retribuir a forma de carinho, duvidando se aquilo poderia ser apenas afeição de amigos que se tornavam atuais amantes. No sangue, poderia definir uma cor predominante. O vermelho possuía um significado diferenciado. Nada mais natural e casual. Entretanto, nada lhe parecia comum, nada era realmente comum quando sua boca se aproximava perspicazmente dos lábios masculinos.
- Não a entendo.
- Isso é sensato, então.
- O que é sensato?
- Permanecer em silêncio enquanto olhamos as nuvens passar ao longo do céu. A verdade é que não existe nada no mundo que traduza essa libertação, entende agora?
- Não.
Ambos riram.
- Quer conversar sobre as nuvens? – Carinhosa, olhou as íris verde-esmeralda. – Estou disposta a ouvi-lo agora.
Ele suspirou, contendo-se para não lhe roubar outro beijo.
– As nuvens…
- Prossiga.
- Primeiramente, quero que me responda como consegue me cativar dessa forma? Quero dizer, em um instante está desvencilhando-se do meu corpo, dizendo que não me quer. No momento seguinte, me abraça, com os olhos pedindo amor… – Harry balançou a cabeça. – Isso não faz sentido, especialmente quando lidamos com você.
- Gostaria que eu fosse previsível? – perguntou, marota.
- Seria mais fácil, se me permite dizer.
- Não me insulta. Aliás, olhe para o céu. Há uma nuvem com formato de boneca, veja os cachos. – Ela sorriu infantilmente. – Poderiam ser dourados.
- Ou talvez cor de chocolate – falou.
Ela o olhou, abismada.
- Não combina.
- Gosto de morenas medrosas de cabelos cor de chocolate – piscou, flertando.
- Você é muito inconveniente. – Hermione gesticulou algo com as mãos. – Aquela nuvem ao canto me parece ser basicamente um “fazedor de viúva”, é uma nuvem fina como galhos. Um ‘fazedor de viúva’ se localiza em florestas menos propícias a caminhadas. Seria interessante encontrarmos um por aí.
- Para que pudesse esmagar nossas cabeças? – ironizou.
- Para servir de alimentação aos ursos…
- Ao menos, morreríamos juntos.
Hermione olhou-o atentamente, soprando uns poucos fios de cabelos negros que tornavam a atrapalhar a visão do moreno.
- Puxa vida, você deveria ser irlandês! – refletiu.
I can feel you breathe
(Eu posso sentir sua respiração)
Just breathe
(Apenas respire)
- Já faz algum tempo… – Harry a estudou, brincando serenamente com seus cachos –… que você não diz isso.
- Tem uma nuvem cândida que…
O rapaz puxou seus cabelos levemente, roçando os lábios contra os seus, calando-a de um modo perfeitamente eficiente. Levou uma das mãos à sua face, passeando os dedos por suas bochechas rosadas enquanto sentia uma náusea sufocante atingi-lo sem demoras. O beijo começou terno, com intuito de apenas sufocar. Ambos permitindo um mero deslocamento durante o contato singelo, porém excitante.
- Não mude de assunto, por mais que as nuvens sejam adoráveis.
Ela soltou uma risada generosa.
– Quer que eu desista, não é?
A língua dele acariciou os lábios, mordendo-os em êxtase. Ela abandonou a idéia de poder respirar.
- Talvez.
- Só não quero incertezas.
Ele a abraçou, espremendo seu corpo contra o dela.
Bem perto, podiam perceber a brisa soprando no lago, as margens remexendo-se fervorosamente. Suas águas mergulhavam em um azul intenso que esbanjava uma série de sonhos interiores. Lembranças passadas dos anos anteriores. O farfalhar constante penetrava demoradamente, contudo, teimavam em apenas escutar as batidas, os sons conseqüentes de suas respirações.
- Você não as terá.
In a way I know my heart is waking up
(De alguma maneira, eu sei que meu coração está despertando)
As all the walls come tumbling down
(Enquanto as paredes desabam)
I'm closer than I've ever felt before
(Estou mais perto do que eu jamais me senti antes)
Ela mordeu os lábios, fisgando, com seus olhos castanhos, os dele. Roubou-lhe um beijo rápido, esperando que fosse envolvida novamente pelos ritmos constantes dos atos inconseqüentes. Sem demoras, enlaçou-o pelo pescoço, escorregando suas mãos por sua pele. Se fosse tão fácil o modo como o moreno via tal relacionamento, entraria no suposto jogo. Iria até o fundo. Algo que jamais fizera em toda sua vida. Não pensaria. Pelo contrário, agiria.
- Quero respostas, Harry – gargalhou ao falar.
Ainda zonzo, o rapaz ergueu as sobrancelhas, segurando os quadris de Hermione.
– Você as terá.
Lentamente, com o intuito de fazer com que os segundos sumissem e os fatos se desorganizassem, Hermione afundou os lábios dentro da boca dele. Os dedos na nuca passaram a massagear seus músculos, flutuando sobre uma colina densa, acendendo uma chama ardente dentro do peito. Incendiando vigorosamente e estendendo-se por todo o corpo como um calmante. Uma amnésia potente tomou o controle, deixando os flocos inertes e as respostas em um baú trancado.
Ela deixou-se engatinhar por cima dele, vendo-o fitando-a como se fosse a única. A única flor dos jardins e a última nuvem no topo do céu.
Seus joelhos fraquejaram quando a onda de sensações tornou a mexer com seu sistema, até então paciente. Sua boca era invadida pela língua macia do moreno e seus olhos perdiam o foco cada vez que ouvia sua respiração serena. Era como criar asas e voar até a mais longínqua floresta, desfrutando de cada bosque e de cada fruto ali existente. Semelhante a dormir, ter um sonho e morrer em êxtase.
Se estivessem mortos, isso não significaria absolutamente nada. Eram uma só alma quando as nuvens se juntavam.
Harry a abraçou em meio aos toques afetuosos e murmurou algo em seu ouvido inconfundivelmente. Poderia jurar que eram palavras doces sobre… Amor. Entretanto, tudo em que conseguia pensar naquele instante era o quanto à boca de Harry era leve, intensa e profunda. Afogava-a. Entorpecia. Hermione a absorvia, se envolvendo e entregando-lhe o máximo de seu coração; dando-lhe de presente seu intimo.
Suas mãos pequenas passeavam pela coluna do moreno, que se contorcia aos poucos, a pontinha de sua língua explorando as curvas de seu pescoço, ao contrário de Harry, que a envolvia intensamente em toques pouco ousados, apenas aconchegantes, que nutriam sentimentos vigorosos e apertavam o peito devido à sua intensidade.
Preenchiam-se em leves murmúrios ao vento e se contorciam a cada golpe similar ao roçar de seda. Uma chuva encobriu-os quando a necessidade tornou-se exigente, de tal forma que as partículas indiscutíveis de sua consciência se dissolviam. Desvaneciam-se, dando lugar ao prazer. Ao amor.
Ouviu-o suspirar diversas vezes em um estado febril. Escorregou seu corpo para ainda mais perto, descansando sua cabeça em seu peito; somente ouvindo os seus batimentos; deliciando-se com o aroma sonhador e inteiramente masculino de sua pele. Harry se limitou a rodear suas costas, apertando-a ainda mais contra seu corpo perfeito e adorável. Os lábios dela se entreabriram ligeiramente em um desejo vigoroso que aflorava devaneios delirantes. Imagens quentes que flutuavam – iam e vinham.
- Quero respostas agora, Harry – comunicou, ainda que seus movimentos fossem minuciosamente decretados.
- Res… - limpou a garganta, sem deixar que seus corpos se separassem –… respostas?
- Sim, você afirmou que eu as teria. Pois bem, quero-as neste exato momento. – Um fino sorriso delineava sua face. – É capaz de dar-me o que eu quero se eu lhe pedir?
Harry apenas balançou a cabeça, permitindo-se prender sua atenção no lago, à procura de um contragolpe.
- As respostas vêm com o tempo, Hermione, é uma questão de…
- Quero agora! – Silenciou-o com um beijo.
And I know
(E eu sei)
And you know
(E você sabe)
There's no need for words right now
(Não é preciso palavras agora)
'Cause I can feel you breathe
(Porque eu posso sentir sua respiração)
It's washing over me
(Está tomando conta de mim)
Suddenly I'm melting into you
(De repente estou derretendo dentro de você)
Ainda enlaçado pelo aroma cítrico de seus cabelos, Harry tossiu, amenizando as sensações que o deixavam cada vez mais bêbado. Sorriu e passou a mão pelos cabelos, em um charme ardentemente exclusivo que a fez suspirar e revirar os olhos. O rapaz apenas ignorou, ajeitando-se na grama e olhando-a atentamente. Os cachos de chocolate voavam ao sabor do vento, a tentação em suas mãos de acariciar os fios sedosos fazendo-se presente, mas se contentou em apenas lhe dar o que queria.
“Ela quer respostas e certamente as terá”.
- Pergunte o que quiser – sua voz assumiu um tom mais sério. – Tentarei responder a todas de modo convicto.
- Será sincero, Harry? – ouviu-a perguntar. – Não só quero respostas que voem acima do céu, como também quero sentimentos nelas. Respostas rápidas que contenham o sentido e a significância que atualmente procuro.
- Serei o que você quiser que eu seja.
Hermione torceu o nariz em desagrado.
- Quero que seja você mesmo, Harry. Se estou apaixonada por alguém, quero que seja de um modo real, e não simplesmente uma mera brincadeira idealista. Confio no que você é e acredito no que consigo decifrar em seus olhos. – Ela suspirou, acariciando-lhe a face carinhosamente. – Da mesma forma que pretendo ser eu mesma em todos os momentos, naturalmente. Creio que na vida não é necessário manter mascaras quando se ama. – Sorriu de um modo doce ao notar o olhar penetrante que ele lhe mandava. - Existirão aceitação, intriga, os problemas conseqüentes. Você terá peito para superá-los, apesar das circunstâncias?
- Certamente – disse, estufando o peito.
- Por quê?
- Por que o quê? – Ele lhe pareceu confuso.
- É a segunda pergunta – sorriu, em deboche. – E você foi infeliz nela.
- Para mim, tudo se resume ao sentimento que permanece intacto dentro do peito. Se você o tem de verdade, saberá os caminhos corretos a seguir. A sentença correta a ser cumprida, sem erros, sem vestígios de alguma falha. – Harry abaixou a cabeça, levando seus lábios próximos aos dela. – Dizem que o amor é um sinal de que a perfeição ainda existe. Esse é o laço. Quando se ama, não há rupturas, ou seja, é fácil lidar com tais problemas.
- Você ainda não chegou ao que eu quero ouvir! – ela murmurou.
- Não posso capturar seus pensamentos neste momento, querida. – Ela tremeu ao sentir a respiração masculina roçando em seu rosto.
- Eu pediria que não tentasse.
- Creio que não será necessário, enquanto ainda houver caminhos concretos a caminhar…
- Quais são estes caminhos, Harry? – indagou.
- São verdadeiros transtornos que são obrigatórios que enfrentemos. São os caminhos vigorosos e estreitos que se resumem em livres e plenas aceitações. – Entorpeciam-se vagarosamente. Harry massageou suas costas levemente em cima da blusa, mesmo que seu intuito fosse encontrar alguma parte desnuda para que pudesse acariciar e sentir. – Você acaba de passar por um deles, Hermione.
- Explique-se melhor.
- O que quero dizer é que, a partir do momento em que você duvidou da significância das nuvens, rapidamente, você adentrou nesse centro característico de reflexão. Uma meditação intensa de aceitações. Obviamente, eu dei certos motivos para que você admitisse que a pureza de tal nuvem é tremendamente adorável…
- Ainda consigo concordar, ou talvez sempre tivesse concordado – assegurou, sorrindo.
Harry beijou-a na face, caminhando seus lábios por toda a extremidade de seu rosto sedoso.
- Pois bem, quero que você me aceite aqui e agora. É um jeito generoso de fazer com que compartilhemos uma felicidade intensa. Não posso forçá-la a aceitar, porém, posso impor motivos eficientes.
- O que está fazendo agora… – Ela gemeu quanto um arrepio agitou-lhe a espinha –… ou talvez, você esteja em um jogo apropriado de flerte.
Ele gargalhou, mordiscando o lóbulo de sua orelha. Ela se contorceu em seu abraço, e ele sentiu seu cheiro adentrando em suas narinas; um perfume exótico. Ou talvez, fosse apenas sua imaginação idealizando e… flutuando.
- Não considere o “talvez” – sussurrou. - Esse é o meu legítimo jogo se flerte, sinta-se privilegiada por fazer parte dele.
- É produtivo, no final das contas… – Ela queria aquilo e não se contentou quando ele se apossou de sua boca –… e muito bommmm…
- Sei que é.
- Mas não fuja do atual assunto. – Deu uma risadinha desdenhosa, sentindo-o resmungar. – O que é a felicidade intensa?
Ele passou a mãos entre os cabelos – novamente.
- É se derreter inteiramente. Afugentar-se em um único coração e não sentir falta de outros corpos. É um ritmo saudável de plenitude – analisou. – E, ainda sim, não ter palavras quando elas realmente são necessárias.
- Já se sentiu assim?
- Diversas vezes – confessou. – Me sinto exatamente assim, agora.
Ela enlaçou-o pelo pescoço em um abraço apertado.
– Eu também. Sinto você aqui.
Sem perceberem, beijaram-se novamente, sentindo a brisa acompanhando-os em um compasso vibrante e, ao mesmo tempo, inteiramente convidativo. Podiam acompanhar os murmúrios fracos e melancólicos do balançar das águas do lago. E, ao fundo, o sol escondia-se por entre as colinas densas. Entretanto, não puderam perceber quando ele disse adeus e foi-se, dando um espaço maior para a escuridão. O céu, antes rosado, formou belos pontos brilhantes espalhados por todo o horizonte.
Mas não existia nenhum fim evidente.
As bocas buscavam uma a outra interminavelmente. Seus olhos mudavam de cor, as faces rosavam e, no céu, as nuvens adquiriram uma coloração azul-marinho. Sem o cândido algodão de antes.
***
There's nothing left to prove
(Não restou nada para provar)
Baby all we need is just to be
(Querido, tudo que nós precisamos é apenas estar)
Caught up in the touch
(Presos no toque)
The slow and steady rush
(Lentos e firmes)
- Na realidade, ela está mais propícia a ter uma forma de leão. Perceba a juba exageradamente grande e faiscante, as pontas dos fios e os olhos de um lobo ruivante, mas, espere, não… – Ele coçou os olhos, tentando clarear a vista. - Espere, agora está semelhante a um dementador, olhe lá, Hermione, veja, nossa! – Ele passou o binóculo rapidamente para a namorada e esperou.
Ela torceu o nariz, balançando a cabeça incontáveis vezes.
- O corpo é muito magro para ser um leão, e não há jubas. – Harry resmungou algo, mas ela prosseguiu. – Os lobos jamais subiriam aos céus, ou talvez você esteja confundido as botas. É um sinistro e você vai morrer nos próximos cinco minutos. – Ela gargalhou. – E um dementador? Puxa vida! Não é assustador o bastante para ser um deles.
- Aposto que veria se conseguisse absorver o impacto.
Havia um lençol de cor amarelada. Livros estavam aglomerados em uma parte perto de árvores grandes e intermináveis que acompanhavam a trilha até o final. A trilha que os levaria à casa dos Potter. Diante do sol, a calmaria sedentária aflorava uma intensa e adorável vontade de entregar as atenções a um espaço mais puro de suas vidas. Os sábados, como habitual, separavam-se dos demais dias, programados exclusivamente para piqueniques familiares. Nada mais natural, levando em conta que as guloseimas com líquidos fortificantes - vigorando, principalmente, a alimentação - também repartiam aquele mesmo momento.
Chocolates eram espalhados por toda a parte coberta da grama e, ao longe, uma saborosa e suculenta torta de maçã descansava. Seu cheiro emanava um delicioso aroma que desvanecia de acordo com os minutos que se prolongavam, cada vez que um suspiro era ouvido.
- Estou vendo além do óbvio, Harry, e não consigo compreender porque nuvens tão completamente belas e legítimas poderiam se assemelhar com dementadores. – A jovem balançou a cabeça. – Puxa vida!
Harry pareceu ignorá-la.
- As nuvens são lindas, porém, estas… – apontou com o dedo, indicando -… têm formas de um dementador.
- Não têm, não! – afirmou. – São brancas como a neve, por isso não se comparam com um deles.
Ele deixou-se analisar os olhos castanhos, buscando alguma resposta dentro deles. As íris brilhavam diante do sol, como diamantes bem estruturados e de obra rara. Junto ao olhar, um mero sorriso delineava seus lábios de cor rosada. Sua face, corada, mostrava suas covinhas fascinantes. Harry sentiu-se tentado a morder suas bochechas, mas se conteve.
- Então, com que se podem comparar as nuvens, Senhorita Sabe-tudo? – perguntou, acariciando levemente seu pescoço em uma massagem agradável.
- Hum, uma pergunta bem estruturada, mas creio que as nuvens são únicas. Não existe
Comparação. – Mordeu os lábios. – Concorda comigo?
- Em parte, sim…
- Claro que concorda. – Hermione bocejou, jogando-se de braços abertos na grama, sentindo uma liberdade intensa tomando-a aos poucos em um ritmo lento. Sorriu ao sentir o toque firme de Harry em sua cintura e deduziu exatamente o que ele planejava nas próximas cinco horas.
- Eu disse em parte.
- O que quer dizer? – a moça perguntou, sonolenta.
- Nuvens são únicas, mas são semelhantes às coisas, são perfeitas. E há coisas de igual profundidade. – Harry se atirou ao seu lado.
A brisa parecia sorrateira naquela tarde em especial. Os barulhos eram inexistentes, talvez porque precisassem de calma, ou simplesmente por estarem mais próximos da perfeição. Os fragmentos que os envolviam transformavam-se em legítimos toques de seda, acariciando e mostrando o ritmo intenso de ternura.
- Coisas de igual profundidade? – teimou na pergunta. – Cite exemplos, então.
Baby, isn't that the way that love's supposed to be
(Querido, não é assim que o amor deve ser?)
I can feel you breathe
(Eu posso sentir sua respiração)
Just breathe
(Apenas respire)
Caught up in the touch
(Presos no toque)
The slow and steady rush
(Lentos e firmes)
Baby, isn't that the way that love's supposed to be
(Querido, não é assim que o amor deve ser?)
- Nuvens são artifícios que devem ser admirados. O amor é a mesma coisa. – Ele piscou. – Mas poderíamos idealizar com o que elas se parecem de verdade. No aspecto físico da coisa.
- Oh… – Ela prendeu sua atenção nas nuvens e ergueu as sobrancelhas. – Talvez com bolas de neve em aglomeração.
Ele analisou, olhou-a de modo contundente, mas apenas ficou em silêncio, escutando os murmúrios que chegavam à mente. Ouvindo de forma lenta o sussurro da brisa em sua face.
- Neve não é colorida – disse calmamente -, mas as nuvens são.
- Eu li uma vez que…
O moreno deu uma leve gargalhada.
– Sem livros, Hermione.
Ela pareceu sorrir também, aconchegando-se nos braços do marido carinhosamente. Passou as mãos em volta dele firmemente. Sentiu o hálito que esvaía de sua boca e tremeu ao perceber o gosto de menta nele existente. Rapidamente, uma onda de prazer invadiu-a e sentiu-se vazia e cheia por alguns segundos. O amor a deixava ceder diante de qualquer sentimento, porém, não se sentia frágil por isso.
- Vamos definir com que a neve se parece, mas sempre há uma estória envolvida no meio de tudo, sempre há motivos evidentes para um fato ser correto e concreto. Essa é a magia. – A mulher suspirou, sentindo o aroma das flores ao longe.
- E há uma estória por de trás de tudo? – ele murmurou.
I can feel you breathe
(Eu posso sentir sua respiração)
Just breathe
(Apenas respire)
I can feel the magic floating in the air
(Eu posso sentir a mágica flutuando no ar)
Being with you gets me that way
(Estar com você me faz sentir assim)
- Mamãe me contava coisas assim quando pequena, na hora de dormir. Uma delas, eu jamais pude esquecer, falava sobre as nuvens e sua existência. – Hermione olhou para o céu, como se pudesse capturar a inspiração vendo-o atentamente. – Um casal à procura de uma única resposta. As nuvens, um coração. – De longe, ainda podia ouvir a voz serena de sua mãe contando com sentimentos para que pudesse dormir com os anjos. – Eles se perguntavam qual era o valor do amor e o porquê de sua existência. Mas, mais do que tudo, eles acreditavam que as nuvens tinham algum aspecto parecido com a ternura de um beijo.
Harry se debruçou para que pudesse observá-la melhor.
- Diziam que as nuvens eram recursos naturais e que serviam para o começo de uma determinada chuva, mas o casal não admitia essa hipótese. Então criaram sua própria teoria. – Ela o olhou, perguntando-se se aquilo não lhe era reconhecível nos dias atuais. – As nuvens são densas e têm uma beleza inabalável. São agradáveis e, ao mesmo tempo, inteiramente acomodadas a andar pelos horizontes da vida.
- São calmas…
- Sim, e por melhor que isso seja, aquele casal definia tudo aquilo com perfeição. Então, criaram uma suposta estória para simplesmente apreciarem o valor das nuvens na vida do ser humano. – Hermione sorriu e beijou a testa de Harry.
- Conte-me a história – pediu.
Relaxada, a morena molhou os lábios com a língua.
- As nuvens eram nada mais, nada menos que flores incrivelmente belas, com um cheiro gostoso semelhante a flores brancas, que mais se pareciam com abrunheiros e frésias. Mas isso não era tudo. Aquelas flores tão completamente silvestres se alastravam por locais densos, como a relva. Deixando, assim, um toque gracioso de sua existência. – Hermione entrelaçou suas mãos nas de Harry. – Sendo, assim, tão minuciosamente perfeitas, os humanos passaram a retirá-las do solo simplesmente para pesquisas. Mas o que eles não sabiam era que elas eram raras e únicas. Sem meios de se reproduzirem.
- Hum, odeio humanos.
Hermione riu.
- Brilhavam diante do sol e, à noite, murchavam. Entretanto, todas as manhãs, seu brilho era intenso. Seu toque naqueles tempos era de seda. Por isso fora chamada de algodão. – O moreno assentiu. – Em pouco tempo, aquelas flores tornaram-se famosas e os homens galanteadores viviam a arrancá-las do solo para dar às esposas apaixonadas.
- Mas elas não poderiam ser criadas novamente?
- Não! E é exatamente por isso que não existem mais.
O moreno ergueu uma sobrancelha, parecendo infeliz.
- Mas, de acordo com o mito, os deuses não permitiram que elas morressem inteiramente. – A moça respirou durante alguns instantes e continuou: – Como eles sabiam que os homens certamente acabariam com aquelas flores, deixaram-nas com um formato redondo, sem cheiro e com uma cor pálida. Porém, permitiram que sua maciez permanecesse. Fizeram com que fossem possíveis sua germinação e procriação. E foi assim que se resolveu todo o problema.
- Mas isso não acabou com o encantamento? Afinal, elas se tornariam iguais a todas as outras.
- Sim, elas se tornaram como todas as outras flores comuns, mas o “algodão” ainda é muito bem apreciado. E… deixe-me contar o resto. – Passou a mão entre os cabelos, olhando mais uma vez para as nuvens. – Havia uma certa magia naquelas flores, como prevemos anteriormente. E a grande questão dos deuses seria a séria dúvida de onde colocariam aquela magia intensa.
- Hum…
- Perceberam, então, que algo no céu não fazia sentido. As nuvens mantinham formas simples, como quadrados, círculos, retângulos e etc… Por isso, despejaram toda a magia daquelas flores nas nuvens. – Hermione observou as íris de Harry. – Não é à toa que hoje elas são mágicas, Harry. Pode-se perceber o quanto elas se parecem com o algodão, e sua cor continuou a ser pálida apesar de que, às vezes, até se tornam coloridas.
- E os ventos…
- Beijam-nas. – A morena sorriu. – Sempre. Por isso que têm formas. As nuvens imitam a natureza e clamam a imaginação.
- Bela estória!
- Sim! – admitiu. – Lembro-me que naquela noite, após a mamãe fechar a porta, eu sonhei com as nuvens. Mas havia-me esquecido disso.
- Não se deve esquecer das nuvens. – Passou a mão nos cabelos dela.
- Nem das flores.
Harry roçou seus lábios contra os dela, mergulhando seus pensamentos inteiramente em algum rio fundo o bastante para serem esquecidos. Enterrou suas mãos nos cachos cor de chocolate e a ouviu gemer quando sua língua adentrou sua boca. Os batimentos descompassados de seus corações formavam um calor dilacerado. E, bem ali, sentiam-se completos e inteiramente sedentos por si próprios.
O amor os fazia serem únicos.
- Você é brilhante, Hermione, e eu a amo – murmurou, abrindo devagar alguns botões da camisa da morena, que suspirou mais uma vez.
- Eu também o amo muito. – Fungou com um arrepio ao sentir os dedos espertos do rapaz massageando sua pele de uma forma tremendamente adorável.
Ela levantou o rosto para ele, de encontro aos seus lábios. As serpentes de fogo os incendiavam em um profundo e único contato. A brisa corria e fugia à procura de um meio de encontrar o caminho perfeito. Diante das nuvens, entregaram-se completamente ao prazer intenso. Já era o bastante.
FIM
N/A: Eu gostaria muito que vocês opinassem sobre ela. Afinal, eu amei escrever cada palavra, ponto e virgula nela existente e acho que todo autor espera que as pessoas comentem sua respectiva fic. Portanto, será que eu pediria muito? xD Comentem! E a personalidade do Harry esta um tanto quanto estranha, mas... Relevem. E sintam o aroma irlandês. xD
Queria agradecer principalmente a Lo, que betou a fic. Eliminando, literalmente, os meus erros esdrúxulos. >.<
Comentários (1)
muito boa mesmo!!!hermione dando uma de dificil no começo... foi bastante divertido as tentativas de invertida do harry...
2012-05-31