Vingança



Filadélfia TERÇA-FEIRA, 7 DE OUTUBRO - 16 HORAS.


Chegara a hora de cuidar de Ronald Weasley. Os outros eram estranhos. Rony
fora seu melhor amigo, amante, o pai de seu filho que não nascera... e ele
virara as costas a ambos.


Ernestine e Al foram ao aeroporto de Nova Orleans para se despedirem de
Hermione.


- Sentirei sua falta - dissera Ernestine - Você pôs esta cidade de pernas pro
ar. Deveriam elegê-la prefeita do povo.


- O que vai fazer em Filadélfia? - perguntara Al.


Ela respondera a metade da verdade:


- Voltarei a meu antigo emprego no banco.


Ernestine e Al trocaram um olhar.


- Eles... ahn... sabem que você está voltando?


- Não. Mas o vice-presidente gosta de mim. Não haverá qualquer problema. É
difícil encontrar pessoas qualificadas,para operar nos computadores.


- Boa sorte. Mantenha-se em contato, está bem? E não se meta em encrencas,
garota.


Meia hora depois Hermione seguia de avião rumo a Filadélfia.


A primeira coisa que Hermione fez quando chegou na Filadélfia, depois de
hospedar-se no Hilton Hotel, foi entra em contato com seu antigo colega de
escola Simas Finnigan.


Simas era hoje, um produtor de filmes bruxos, e exatamente a pessoa que
Hermione precisava.


Ela ligou para ele, e só depois de alguns galeões, foi que Hermione conseguiu
arrancar dele o nome de Marcos Flint, um ator pornográfico de quinta categoria
que estava de passagem por Washigton.


De posse do nome e telefone de Flint, Hermione combinou tudo com o ator de
cinema.


Às 11 horas da manhã seguinte, vestida com sua única roupa ainda decente (um
vestido de seda creme) Hermione foi ao banco procurar Clarence Desmond. - Olá,
Mae.


A secretária olhou aturdida para Hermione, como se estivesse vendo um.
fantasma.


- Hermione! - A moça ficou visivelmente embaraçada. - Eu... Como vai?


- Muito bem. O Senhor Desmond está?


- Eu... eu não sei. Deixe-me verificar. Com licença.


Ela se levantou, afogueada, entrou apressadamente na sala do vice-
presidente. Voltou um momento depois.


- Pode entrar.


Mae ficou de lado quando Hermione se encaminhou para a porta. O que há com
ela?, pensou.


Clarence Desmond estava de pé, ao lado de sua mesa.


- Olá, Senhor Desmond - disse Hermione, jovialmente. - Eu voltei.


- Para quê?


O tom era inamistoso. Decididamente hostil. Pegou Hermione de surpresa. Ela
insistiu: - Disse que eu era a melhor operadora de computador que já conheceu e
pensei...


- Pensou que eu lhe devolveria o seu antigo emprego?


- Isso mesmo, senhor. Não esqueci nada do que sabia. Ainda posso...


- Lamento muito, Senhorita Granger. - Não era mais Hermione. - O que está me
pedindo é inteiramente impossível. Tenho certeza de que pode compreender que
nossos clientes não ficariam satisfeitos em lidar com uma pessoa que cumpriu
pena numa penitenciária por assalto à mão armada e tentativa de homicídio. Isso
não estaria de acordo com a nossa imagem ética. E acho improvável que, tendo em
vista os seus antecedentes, qualquer banco possa contratá-la. Sugiro que tente
encontrar emprego mais condizente com as suas circunstâncias. E espero que
compreenda que não há nada de pessoal nesta decisão.


Hermione escutou as palavras primeiro com choque e depois com uma raiva
crescente. Ele a fazia parecer uma pária, uma leprosa.


- Deseja mais alguma coisa, Senhorita Granger?


Era uma maneira de encerrar a entrevista. Havia uma centena de coisas que
Hermione sentia vontade de dizer, mas sabia que de nada adiantariam.


- Não. Acho que você já disse tudo.


Hermione virou-se e deixou a sala, o rosto ardendo. Todos os funcionários do
banco pareciam observá-la. Mae espalhara a notícia: A condenada voltara. Mas
mesmo assim, encaminhou-se para a saída, a cabeça erguida, morrendo por dentro.
Não posso permitir que façam isso comigo. O orgulho é tudo o que me resta e
ninguém vai tirá-lo de mim.


Hermione passou o dia inteiro no quarto, angustiada. Como pudera ser tão
ingênua para acreditar que a receberiam de braços abertos? Era agora uma pessoa
notória.


- Você é a manchete no Daily News de Filadélfia. Pois Filadélfia que se dane,
pensou Hermione. Tinha um negócio inacabado ali, mas iria embora depois que o
concluísse.


Seguiria para Nova York, onde seria anônima. A decisão fê-la sentir-se
melhor.


Hermione combinou com Flint, um jantar no Café Royal, um dos melhores
restaurantes de Filadélfia. Depois do sórdido encontro com Clarence Desmond


naquela manhã, ela precisava do clima tranqüilizador de luzes suaves,
ambiente elegante e música de fundo. Pediu um Martini de vodca. Quando o garçom
o trouxe, Hermione levantou os olhos e viu o ator vindo em sua direção.


- Boa noite, srta. Granger. A voz de Flint era grave e tinha uma conotação
sexual desagradável. O homem em si não era muito melhor. Era grande, como se
fosse demais para o corpo, musculoso e com cabelos ordinariamente cortados. Não
me espanta que seja de filmes pornô de quinta. - pensou Hermione.


- Boa noite, senhor Flint. Sente-se temos muitos negócios a tratar...


Foi somente quando voltou ao quarto no hotel, naquela noite, que Hermione se
lembrou que tinha dinheiro a receber do fundo dos funcionários do banco.
Sentou-se e calculou a quantia. Dava exatamente 1.376 dólares e 65 cents.


Ela escreveu uma carta para Clarence Desmond e dois dias depois recebeu uma
resposta de Mae:


Prezada Senhorita Granger:


Em resposta a seu pedido, o Sr. Desmond pediu-me que lhe comunicasse que, por
causa da política moral do plano financeiro dos funcionários, sua cota reverteu
para o fundo geral. O Sr. Desmond pede também para lhe assegurar que não guarda
qualquer ressentimento pessoal.


Atenciosamente, Mae Trenton Secretária do Vice-Presidente Sênior.


Hermione não podia acreditar. Estavam roubando o seu dinheiro, sob o pretexto
de resguardar a moral do banco! Ela sentiu-se indignada. E jurou: Não deixarei
que me enganem. Nunca mais deixarei que qualquer pessoa me engane.


O telefone tocou assustando-a:


- Está tudo pronto para hoje a noite srta. Granger


Era Flint.


Às seis horas da tarde, uma Hermione de cabelos lisos pretos, olhos verdes e
um corpo mais gordinho do que seria normal, entrou na lavanderia Clothes Cleans.
A lavanderia tinha um aspecto mal cuidado, e o chinês da recepção, perguntou
muito mal-educado:


- Ter roupa "pá" lavar,no?


- Não sr. Eu vou para o almoxarifado. - Essa era a senha para ir para o
ministério da Magia Americano.


- Pode ir srta.


Hermione seguiu ate o fim da lavanderia e abriu uma porta, de aspecto sujo,
saindo assim no átrio do Ministério da Magia.


Um guarda sentado atrás de sua mesa, lendo uma revista de Quadribol,
perguntou:


- Nome?


- Madalena McCoin.


- A varinha, por favor?


Hermione entregou a varinha que roubara aquela manhã da verdadeira Madalena
McCoin.


O guarda ainda de olho no que o artilheiro fazia na revista, colocou a
varinha na pequena balança à sua frente. De uma ranhadura do lado saiu uma
fitinha escrita:


Madalena McCoin Azevinho e um fio de cabelo de Veela, 26cm. 20 anos em uso.


Conferido o papel, o guarda deu-o a Hermione.


- Quando sair, passe aqui e pegue a varinha de volta. Não perca o papel.


Seguindo para a área de elevadores, Hermione respirou aliviada, ate ali o
plano estava dando certo.


As grandes portas, trabalhadas em prata, com desenhos de hipogrifos,
abriram-se e Hermione apertou o segundo andar no painel.


Uma grande saudade a invadiu, enquanto o elevador seguia seu destino, para o
DELM. Fora muito feliz como espiã dos trouxas. Era fácil o trabalho e sempre se
divertira muito com ele. Com um suspiro saudosista, Hermione tirou aquilo da
cabeça e se concentrou na vingança.


- Nível dois, Departamento de Execução de Leis da Magia, que inclui a Seção
do Controle do Uso Indevido da Magia, o Quartel-General dos Aurores e os
Serviços Administrativos da Suprema Corte dos Bruxos. Falou uma voz masculina
grave e cadenciada.


As grades de prata se abriram e Hermione seguiu ate o fim do corredor à
direita. Abriu uma porta, onde se achava uma plaqueta escrita:


Escritório de Ronald Weasley, Chefe do Departamento de Execução de Leis da
Magia. Hermione entro no escritório e deu de cara com a secretária dele. Uma
loira


oxigenada, peituda e de grandes unhas compridas.


- Boa Tarde. Eu tenho hora marcada com seu chefe, poderia me anunciar?


Depois de consultar a agenda do chefe, a loira perguntou:


- Você é Madalena McCoin?


- Sim, sou eu.


- Aguarde um momento que vou anunciá-la


A secretária saiu da sala rebolando, numa atitude afetada. Hermione não se
importou, mais uma parte concluída. Ela não a reconhecera.


- Pode entrar, por favor.


Hermione se levantou da desconfortável cadeira que estava sentada e entrou no
escritório de Ronald. Foi um choque ver que estava exatamente igual ao que
decorara na época que ele era secretário da rede do flu. A única mudança era que
a foto em cima da mesa era de Padma Weasley e não dela.


- Boa tarde, Sra McCoin. Em que posso ajudá-la?


Hermione tomou outro choque. Era incrível, mas olhar para aquele homem , não
a alterava em nada. Via somente um homem de vinte e cincos anos, com uma cara
quinze anos mais velha e cabelos horrorosos. Ainda dá tempo de mudar de idéia e
ir embora, pensou ela. Mas Hermione sabia que não poderia ir em paz sem se
vingar.


- Boa Tarde, Sr. Weasley. Na verdade é mais uma recomendação que preciso do
Senhor.


Ronald suspirou, era sempre o mesmo. Apontando para a cadeira a sua frente,
pediu para a sra. McCoin se sentar.


Acomodada, Hermione, desfiou tudo o que cuidadosamente ensaiara.


- Sr. Weasley, sou uma viúva e não sei se o sr. se lembra de meu finado
marido, que Deus o tenha, mas ele estudou com o sr., o nome dele era Amos
McCoin.


- Claro que me lembro senhora. - Respondeu Ronald, mentido.


- Ah, que bom sr. que bom! Meu marido era um inventor e quando morreu no ano
passado, o seu projeto ficou inacabado. Na época o sr. ainda era secretário na
Comissão do Flu e o maior sonho de Amos era que o sr, por sua amizade dos tempos
de colégio, experimentasse o invento dele primeiro. É uma poção que nos
transporta de um lugar ao outro, de um modo bem mais confortável que o pó de
Flu.


- A sra. será que ir na Comissão de Feitiços Experimentais...


- O sr. não entende? O sonho de amos era que o sr. experimentasse primeiro, é
só o sr. beber um pouquinho ver que funciona e eu vou embora feliz. - Nesse
momento Hermione deixou duas lágrimas caírem silenciosas pelo canto dos olhos.


Tudo o que queria era chegar em casa e descansar, pensou Ronald. É melhor
fazer o que ela quer do que ficar aqui discutindo.


- Tudo bem sr. McCoin, mas onde eu iria parar, se bebesse isso?


- À dois metros de distancia senhor. Nada alem disso.


- Tudo bem então.


Hermione sorriu feliz. Agora vinha uma parte complicada do plano. Fazer
chegar a taça nas mãos dele, sem encostar nela.


Com muito cuidado, Hermione, pegou a bolsa e despejou o seu conteúdo em da
mesa. Uma taça dourada, um frasco pequeno azul e um monte de bugigangas. Se
Ronald achou aquilo estranho não disse nada.


- O senhor deve beber o que esta no frasco primeiro, sr. Weasley e depois
pegar na taça. Mas lembre-se deve se concentrar para onde quer ir.


Ronald tirou a tampa do frasco azul e tomou um gole pequeno da solução. Não
sentiu nada. Sorrindo ele pegou na taça (achando tudo uma grande perda de tempo)
e se concentrou, querendo parar do outro lado da mesa.


Mas não foi isso que aconteceu.


Com um sorriso nos lábios, Hermione pegou o intercomunicador na mesa e falou
para secretária, numa imitação perfeita do ex-noivo:


- Lola, vou desaparatar aqui mesmo, aconteceu uma emergência. Acompanhe a
Senhora McCoin à saída.


- Sim senhor. Respondeu a peituda do outro lado.


Dois dias depois, Hermione se achava parada do lado de fora da entrada
familiar do Trust and Fidelity Bank de Filadélfia. Usava hoje como disfarce
cabelos pretos compridos, tom de pele moreno, e uma cicatriz vermelha no queixo.
Se alguma coisa desse errado, seria da cicatriz que se lembrariam. Apesar do
disfarce, Hermione tinha a sensação de estar nua, pois trabalhara naquele banco,
mais tempo que no Ministério, e os empregados eram pessoas que haviam-na
conhecido muito bem.


Teria de tomar todo cuidado para não se trair.


Ela entrou claudicando no banco. Havia muitos clientes lá dentro, pois
Hermione escolhera deliberadamente a hora do pique do movimento. Aproximou- se
de uma das mesas de atendimento dos clientes. O homem sentado por trás concluiu
um telefonema e disse:


- Pois não?


Era Jon Creighton, o fanático do banco. Odiava judeus, pretos e porto-
riquenhos, mas não necessariamente nessa ordem. Sempre fora um motivo de
irritação para Hermione durante os anos em que ali trabalhara. Agora, não houve
qualquer sinal de reconhecimento no rosto dele.


- Buenos días, senhor. Eu gostaria de abrir uma conta corrente, ahora.


O sotaque de Hermione era mexicano, o mesmo sotaque que ouvira por tantos
meses de Paulita, sua companheira de cela. Havia uma expressão de desdém no
rosto de Creighton.


- Nome?


- Rita Gonzales.


- E quanto gostaria de depositar em sua conta?


- Dez dólares.


A voz de Creighton era de escárnio


- Em cheque ou em dinheiro?


- Acho que em dinheiro.


Ela tirou cuidadosamente da bolsa uma nota de dez dólares, toda amassada,
meio rasgada, entregou a Creighton. Ele estendeu um formulário em branco para
ela.


- Preencha isto.


Hermione não tinha a menor intenção de escrever qualquer coisa com sua letra.
Franziu o rosto.


- Desculpe, señor. Machuquei minha mão... num acidente. Importa-se de
escrever para mim, se faz favor.


Creighton, bufou. Esses mexicanos analfabetos!


- Disse que seu nome é Rita Gonzales?


- Sim.


- Endereço?


Hermione forneceu o endereço e o telefone do hotel em que estava hospedada.


- Nome de solteira de sua mãe?


- Gonzales. Minha mãe casou com seu tio.


- E sua data de nascimento?


- 20 de dezembro de 1970.


- Lugar de nascimento?


- Gudad de México.


- Cidade do México. Assine aqui.


- Terei de usar a mão esquerda.


Hermione pegou uma caneta e desajeitadamente escreveu uma assinatura
ilegível.


Jon Creighton preencheu uma ficha de depósito.


- Eu lhe darei um talão de cheques provisório. Seus cheques impressos serão
remetidos pelo correio dentro de três ou quatro semanas.


- Bom. Muito agradecida, senhor.


- De nada.


Ele observou-a sair do banco. Malditos mexicanos.


Há diversos meios ilegais de se obter acesso a um computador e Hermione era
uma especialista no assunto. Ajudara a montar o sistema de segurança do banco e
agora estava prestes a contorná-lo.


Seu primeiro passo era encontrar uma loja de computadores, onde poderia usar
um terminal para fazer contato com o computador do banco. Encontrou uma a vários
quarteirões do banco, quase vazia. Um vendedor ansioso se aproximou.


- Posso ajudá-la, dona?


- Talvez si,Talvez no, senhor. Estou apenas dando uma olhada.


Os olhos dele foram atraídos por um adolescente empenhado num jogo de
computador.


- Com licença.


O vendedor afastou-se apressadamente. Hermione virou-se para o computador à
sua frente, um modelo de mesa, ligado a um telefone. Entrar no sistema seria
fácil, mas ela estaria obstruída sem o código de acesso apropriado. Esse código
era mudado diariamente. Hermione participara da reunião em que fora decidido o
código de autorização original.


- Devemos mudá-lo constantemente - dissera Clarence Desmond - a fim de que
ninguém possa violá-lo. Contudo, queremos que seja bastante simples para as


pessoas que estão autorizadas a usá-lo.


O código finalmente escolhido usava as quatro estações do ano e o dia
corrente.


Hermione ligou o computador e bateu o código para o Trust and Fidelity Bank
de Filadélfia. Ouviu um zumbido estridente e pôs o receptor do telefone no
módulo do computador. Um aviso apareceu na pequena tela: SEU CÓDIGO DE AUTORIZA-
ÇÃO, POR FAVOR?


Era o dia 10.


OUTONO 10, bateu Hermione.


ESTE É UM CÓDIGO DE AUTORIZAÇÃO IMPRÓPRIO. A tela do computador ficou em
branco.


Eles teriam mudado o código? Pelo canto do olho, Hermione percebeu o vendedor
a se aproximar novamente. Ela deslocou-se para outro computador, lançando-lhe um
olhar casual e seguindo para o corredor. O vendedor diminuiu as passadas. Uma
curiosa, concluiu ele. E adiantou-se apressadamente para cumprimentar um casal
de aparência próspera que entrava na loja. Hermione voltou ao primeiro
computador.


Tentou se situar na mente de Clarence Desmond. Ele era um homem de hábitos e
Hermione tinha certeza de que não teria variado demais o código. Provavelmente
mantivera o conceito original das estações e dos números. Mas como os mudara?
Seria complicado demais inverter todos os números; portanto, era provável que
ele tivesse apenas trocado as estações.


Hermione tentou de novo.


SEU CÓDIGO DE AUTORIZAÇÃO, POR FAVOR?


INVERNO 10.


ESTE É UM CÓDIGO DE AUTORIZAÇÃO IMPRÓPRIO. A tela tornou a ficar vazia.


Não vai dar certo, pensou Hermione, desesperada. Farei só mais uma tentativa.


SEU CÓDIGO DE AUTORIZAÇÃO, POR FAVOR?


PRIMAVERA 10.


A tela ficou vazia por um instante e depois a mensagem apareceu: CONTINUE,
POR FAVOR.


Então Desmond trocara mesmo as estações. Ela bateu rapidamente: TRANSAÇÃO
INTERNA DE DINHEIRO.


No mesmo instante, o cardápio do banco, as categorias de transações
disponíveis, apareceu na tela:


VOCÊ DESEJA


A) DEPÓSITO DE DINHEIRO


B) TRANSFERENCIA DE DINHEIRO


C) RETIRADA DE DINHEIRO DE CONTA DE POUPANÇA


D) TRANSFERENCIA ENTRE SUCURSAIS


E) RETIRADA DE DINHEIRO DE CONTA CORRENTE REGISTRE POR FAVOR SUA OPÇÃO


Hermione escolheu o B. A tela tornou a se apagar e logo um novo cardápio
apareceu.


VALOR DA TRANSFERêNCIA?


PARA ONDE?


DE ONDE?


Ela bateu: DO FUNDO DE RESERVA GERAL PARA RITA GONZALES.


Quando chegou o momento de indicar o valor, ela hesitou por um instante.
Tentador, pensou. Como tinha acesso, não havia limite para a quantia que o
computador agora subserviente poderia lhe dar. Se quisesse, tomaria milhões. Mas
não era uma ladra. Tudo o que queria era o que lhe pertencia por direito.


Ela bateu 1.375,65 dólares e acrescentou o número da conta de Rita Gonzales.


A tela comunicou: TRANSAÇÃO CONCLUÍDA, DESEJA EFETUAR OUTRAS OPERAÇÕES?


NÃO.


SESSÃO ENCERRADA. OBRIGADO.


O dinheiro seria automaticamente transferido pela Câmara de Compensação
Interbancária que manipulava os 220 bilhões de dólares deslocados entre os
bancos todos os dia


O vendedor se aproximava outra vez o rosto franzido.


Hermione se apressou em apertar uma tecla e a tela do computador apagou,


- Está interessada em comprar esse aparelho, dona?


- Não, obrigada. Não consigo mesmo entender esses computadores.


Ela telefonou para o banco de uma drugstore na esquina e pediu para falar com
o chefe dos caixas.


- Olá. Aqui é Rita Gonzales. Eu gostaria que minha conta corrente fosse
transferida para a matriz do First Hanover Bank, em Nova York, por favor.


- O número de sua conta, Senhorita Gonzales?


Hermione deu a informação.


Agora só falta uma coisa. Saindo da loja Hermione passou numa banca que
vendia o Profeta Diário e a primeira pagina do jornal a deixou satisfeitíssima.


Uma grande foto de dois homens nus se beijando, numa cama redonda de motel,
era encimada pela seguinte manchete;


ESCÂNDALO HOMOSSEXUAL DO CHEFE DO DEPARTAMENTO DE EXECUÇÃO DE LEIS DA MAGIA.


Uma história sem precedentes, abalou o mundo mágico, na manhã do dia de hoje,
escreve a nossa colunista Rita Sketter. Os bruxos e bruxas inocentes, que
depositaram sua confiança e seu resguardo moral no sr. Ronald Weasley, terão um
choque profundo ao abrir o Profeta de hoje.


Um anônimo mandou para a nossa reporter fotos escandalosas, de um encontro do
sr. Weasley com o conhecido ator pornográfico, Marcos Flint. Claro que a opção
sexual de cada um não os impede de ser um bom chefe de departamento, mas como
poderemos confiar numa pessoa que trai a própria esposa? Em um homem que
apregoava em seus discursos a moralização do mundo bruxo? Que, segundo fontes,
deixou a quase noiva ser presa, para fazer um golpe de Marketing publicitário, e
ganhar a campanha para Chefe de Departamento?


A luz dessa e de outras fotos, o Ministro da Magia, Mark Patil (sogro do sr.
Weasley) não viu outra solução a não ser transferi-lo para a Seção de Ligação
com os Centauros. Que todos sabem, é uma espécie de piada no Ministério, afinal
eles nunca usam essa seção.


O que o Profeta Diário quer, e o povo bruxo também, é que o Ministério deixe
de ser esse antro de corrupção e imoralidade.


Fazemos votos que a senhora Weasley, se recupere logo. Ela foi internada esta
manhã no Hospital. St. Mungus para Doenças e Acidentes Mágicos, vitima de uma
crise hipertensa.


Uma hora depois, Hermione deixou o Hilton e partiu para a cidade de Nova
York.


Quando o First Hanover Bank de Nova York abriu, às 10 horas da manhã
seguinte, Rita Gonzales ali estava, a fim de retirar todo o dinheiro de sua
conta.


- Quanto tem? perguntou ela.


O caixa verificou.


- Tem 1.385 dólares e 65 cents.


- Sim, está correto.


- Gostaria de levar um cheque visado nesse valor, Senhorita Gonzales?


- Não, obrigada. Não confio em bancos. Quero tudo em dinheiro.


Hermione recebera os 200 dólares habituais ao deixar a penitenciária estadual
e mais a pequena quantia que ganhara tomando conta de Amy. Contudo, mesmo com o
dinheiro do fundo do banco, ela não tinha segurança financeira. Era
indispensável que conseguisse um emprego o mais depressa possível.


Jamais voltaria a trabalhar para o ministério. Tinha nojo daquilo lá!


Ela hospedou-se num hotel barato na Lexington Avenue e começou a enviar seu
currículo aos bancos de Nova York, solicitando um emprego como técnica em
computadores. Logo descobriu que o computador se tornara subitamente o seu
inimigo. Sua vida não era mais particular. Os bancos de memória dos computadores
continham a história de sua vida e prontamente a revelavam a qualquer um que
apertasse as teclas certas. E no instante em que a ficha criminal de Hermione
aparecia, seu pedido de emprego era rejeitado.


Acho improvável que, tendo em vista os seus antecedentes, qualquer banco
possa contratá-la. Clarence Desmond estava certo.


Hermione enviou outros pedidos de empregos a seguradoras e outras empresas
que operavam com computadores. As respostas eram sempre iguais: negativo.


Muito bem, pensou Hermione, sempre posso fazer outra coisa. Ela comprou um
exemplar de The New York Times e começou a procurar os anúncios de emprego.


Havia uma vaga de secretária numa firma de exportação. No momento em que
passou pela porta, o gerente de pessoal disse:


- Ei, eu a vi na televisão . Você salvou uma garota na prisão, não é mesmo?


Hermione virou-se e fugiu.


No dia seguinte ela foi contratada como vendedora no departamento infantil da
Sak´s, na Quinta Avenida. O salário era muito menor do que ganhava antes, mas
pelo menos daria para se sustentar.


Em seu segundo dia de trabalho, uma freguesa histérica reconheceu-a e
comunicou ao gerente do andar que se recusava a ser servida por uma assassina
que afogara uma criancinha.


Hermione não teve sequer a oportunidade de explicar. Foi sumariamente
despedida.


Parecia a Hermione que os homens contra os quais executara a sua vingança
estavam dando a última palavra, no final de contas, convertendo-a numa criminosa
pública, uma pária. A injustiça do que estava lhe acontecendo era corrosiva. Não
tinha idéia de como odiaria viver e pela primeira vez começou a experimentar um
sentimento de desespero. Ela vasculhou a bolsa naquela noite para verificar
quanto dinheiro lhe restava. Num canto da carteira viu o pedaço de papel que
Betty Franciscus lhe dera na prisão. CORNÉLIO FUDGE, JOALHEIRO, QUINTA AVENIDA,
640, CIDADE DE NOVA YORK. Ele se empenha na reforma criminal. E gosta de ajudar
as pessoas que já passaram pela prisão.


Jewelry Store Fudge era um estabelecimento elegante, com um porteiro de libré
do lado de fora e um guarda armado dentro. A loja propriamente dita era simples,
mas as jóias eram requintadas e caras. Hermione disse à recepcionista:


- Eu gostaria de falar com o Sr. Fudge, por favor.


- Tem um encontro marcado?


- Não. Uma... uma amiga comum sugeriu que eu o procurasse.


- Seu nome?


- Hermione Granger.


- Um momento, por favor.


A recepcionista pegou um telefone e murmurou alguma coisa que Hermione não
pôde entender. Ela repôs o telefone no gancho.


- O Sr. Fudge está muito ocupado neste momento. Pergunta se poderia voltar às
seis horas.


- Posso, sim. Obrigada.


Hermione saiu da loja e parou na calçada, indecisa. Vir para Nova York fora
um erro. Provavelmente não havia nada que o ex-ministro pudesse fazer por ela. E
por que deveria fazer?


Ela era uma estranha total. Ele me fará uma preleção e me dará uma esmola.
Não preciso de qualquer das duas coisas. Nem dele nem de qualquer outra pessoa.
Sou uma sobrevivente. Darei um jeito, de alguma forma. Que se dane Cornélio
Fudge. Não voltarei a procurá-lo.


Hermione vagueou pelas ruas a esmo, passando pelos salões reluzentes da
Quinta Avenida, os prédios de apartamentos guardados na Park Avenue, as lojas
movimentadas na Lexington e na Terceira Avenida. Passeava pelas ruas de Nova
York sem pensar, sem ver nada, dominada por uma amarga frustração.


Às seis horas descobriu-se de volta à Quinta Avenida, diante de Jewelry Store
Fudge. O porteiro se fora e a porta estava trancada. Hermione bateu na porta,
num gesto de desafio, depois se virou. Mas, para sua surpresa, a porta abriu-se
abruptamente.


O ex-ministro continuava quase o mesmo. Com o mesmo gosto para roupas, hoje
ele usava um terno cinza com uma gravata amarela horrorosa. Os cabelos dele eram
mais brancos ele tinha mais rugas no rosto.


- É a Senhorita Granger?


- sou...


- E eu sou Cornélio Fudge. Não quer entrar, por favor?


Hermione entrou na loja deserta.


- Eu estava à sua espera - disse Fudge. - Vamos para o meu escritório, onde


poderemos conversar mais à vontade. Ele conduziu-a através da loja até uma
porta fechada, que destrancou com uma chave. O escritório era elegantemente
mobiliado e mais parecia um apartamento que um lugar de negócios, sem
escrivaninhas, apenas sofás, cadeiras e mesas distribuídas com bom gosto. As
paredes estavam cobertas por quadros de velhos mestres.


- Gostaria de tomar um drinque? - ofereceu o dono da joalheria. - Uísque,
conhaque ou talvez um xerez?


- Não quero nada, obrigada, ex-ministro.- Era melhor ele saber que ela era
bruxa de uma vez.


- Então a srta. Também é bruxa? Mas que surpresa agradável. Ficou sabendo do
ultimo escândalo? Eu conhecei o pai daquele garoto que bateria nele, com certeza
pelos escândalos.


Hermione soltou um risinho, o que fizera com Ronald era muito bom. Só de
lembra como fora esperta, ela ficava maravilhada.


O plano fora bem simples. Dopara o canalha com uma poção da hipnose e a taça
era uma chave de portal que o levara direto para o quarto de motel.


Lá Marcos fez todo o trabalho sujo. Hermione só voltou quatro horas depois
para pegar os restos de Ronald, as fotos, pagar o ator e alterar sua memória.


Voltando para o presente Hermione disse:


- Betty Franciscus sugeriu que eu o procurasse, Sr. Fudge. Ela disse que o
senhor... ajudava pessoas que já estiveram... em dificuldades.


Ela não foi capaz de dizer prisão. Cornélio Fudge cruzou as mãos e Hermione
notou que as unhas eram impecavelmente cuidadas.


- Pobre Betty. Uma moça maravilhosa. Mas não teve sorte.


- Não teve sorte?


- Isso mesmo. Foi apanhada.


- Eu... eu não compreendo...


- É realmente muito simples, Senhorita Granger. Betty trabalhava para mim.
Era bem protegida. Mas a pobre coitada se apaixonou por um chofer de Nova
Orleans, e resolveu operar por conta própria. E... acabou sendo apanhada.


Hermione estava confusa.


- Ela trabalhou aqui como uma vendedora?


Fudge recostou-se na cadeira e riu até que os olhos ficaram marejados de
lágrimas.


- Não, minha cara - disse ele, enxugando as lágrimas. - Obviamente, Betty não
lhe explicou tudo.


Ele tornou a se recostar e uniu as pontas dos dedos, antes de continuar:


- Tenho um pequeno negócio paralelo muito lucrativo, Senhorita Granger. Sinto
o maior prazer em partilhar esses lucros com meus colegas. Sou bem- sucedido em
contratar pessoas como você... se me perdoa dizê-lo ... que já cumpriram uma
pena de prisão.


Hermione estudou o rosto dele, mais perplexa do que nunca.


- Deve compreender que me encontro numa posição singular. Tenho uma clientela
extremamente rica. Meus clientes tornam-se meus amigos E me fazem suas
confidências. - Ele bateu com os dedos, delicadamente. - Sei quando meus
clientes viajam. Bem poucas pessoas viajam com jóias nestes tempos perigosos.
Assim, suas jóias ficam guardadas em casa. Recomendo as medidas de segurança que
devem adotar para protegê-las. Sei exatamente quais as jóias que possuem, pois
as compraram de mim. E os clientes.


Hermione descobriu-se de pé.


- Obrigada por seu tempo, Sr. Fudge.


- Já vai embora?


- Se está dizendo o que eu penso...


- Claro que estou.


Hermione podia sentir as suas faces ardendo.


- Não sou uma criminosa. Vim aqui à procura de um emprego.


- E é justamente o que estou lhe oferecendo, minha cara. Ocupará uma ou duas
horas de seu tempo e posso lhe prometer vinte e cinco mil dólares. - Ele sorriu
maliciosamente. - E livre de impostos, é claro.


Hermione fazia um grande esforço para controlar sua raiva.


- Não estou interessada. Pode me deixar sair, por favor?


- Pois não, se é isso o que deseja. - Ele levantou-se e acompanhou-a até à
porta. - Deve compreender, Senhorita Granger, que se houvesse o menor perigo de
alguém ser apanhado eu não estaria envolvido. Tenho uma reputação a zelar.


- Prometo que não falarei nada a esse respeito - disse Hermione friamente.


Fudge tornou a sorrir.


- Não há nada que possa dizer, minha cara, não é mesmo? Afinal, quem
acreditaria em você? Eu sou Cornélio Fudge.


Ao chegarem à porta da loja, ele acrescentou:


- Não quer me avisar se mudar de idéia? O melhor momento para me telefonar é
depois das seis horas da tarde. Ficarei à espera de sua ligação.


- Pois não fique - disse Hermione bruscamente.


Ela saiu para a noite que caía. Ainda tremia quando chegou a seu quarto.


Mandou um empregado do hotel buscar um sanduíche e café. Não tinha vontade de
falar com ninguém. A conversa com Fudge deixara-a com a sensação de ter sido
contaminada. Ele a confundira com todas as criminosas tristes, confusas e
derrotadas que a cercavam na Penitenciária Meridional da Louisiana Para
Mulheres. Mas ela não era uma delas. Era Hermione Granger, uma perita em
computadores, uma cidadã decente, que respeitava as leis. A quem ninguém queria
contratar.


Hermione passou a noite inteira acordada, pensando em seu futuro. Não tinha
emprego e lhe restava muito pouco dinheiro.


Tomou duas decisões: Pela manhã, iria se mudar para um lugar mais barato e
arrumaria um emprego. Qualquer tipo de emprego.


O lugar mais barato era em um horrível apartamento de um só cômodo, no quarto
andar de um prédio sem elevador, no Lower East Side. De seu quarto, através das
paredes finas como papel, Hermione podia ouvir os vizinhos gritando uns para os
outros, em línguas estrangeiras. As janelas e portas das lojas que margeavam as
ruas eram gradeadas e Hermione podia compreender por quê. A área parecia povoada
por bêbados, prostitutas e mendigos.


A caminho do supermercado para fazer compras, Hermione foi abordada três
vezes... duas vezes por homens e a outra por uma mulher.


Não posso suportar isso. Não ficarei aqui por muito tempo, Hermione garantiu
a si mesma.


Ela foi a uma pequena agência de empregos, a poucos quarteirões de seu
apartamento. Era dirigida por uma certa Sra. Murphy, uma mulher corpulenta, de
aparência matronal. Ela examinou o currículo de Hermione com uma expressão
irônica. - Não sei para que precisa de mim. Deve haver pelo menos uma dúzia de
empresas que brigariam para ter alguém como você.


Hermione respirou fundo.


- Acontece que tenho um problema.


Ela explicou tudo. A Sra. Murphy escutou em silêncio e disse, quando Hermione
terminou:


- Pode esquecer a procura de um emprego em computadores.


- Mas acabou de dizer...


- As companhias andam muito preocupadas atualmente com os crimes por
computador. Não contratarão ninguém que tenha uma ficha criminal.


- Mas preciso de um emprego. Eu...


- Há outros tipos de emprego. Já pensou em trabalhar como vendedora?


Hermione lembrou-se de sua experiência na loja de departamentos. Não podia
suportar passar de novo pela mesma situação.


- Há mais alguma coisa?


A mulher hesitou. Hermione Granger era obviamente alguém muito acima do
emprego que tinha em mente.


- Sei que não é da sua classe, mas há uma vaga de garçonete no Jackson Hole.
É uma lanchonete no Upper East Side.


- Um emprego de garçonete?


- Isso mesmo. Se quiser aceitar, não cobrarei qualquer comissão. Acabei de
ser informada.


Hermione ficou em silêncio por um momento, pensando. Servira as mesas no
refeitório da universidade. Fora então divertido.


Agora, era uma questão de sobrevivência.


- Vou experimentar.


Jackson Hole era um tumulto, com fregueses ruidosos e impacientes,
cozinheiros mortificados e irritados. A comida era boa e os preços razoáveis, a
lanchonete estava sempre apinhada. As garçonetes trabalhavam num ritmo
frenético, sem tempo para descansar. Ao final do primeiro dia, Hermione
encontrava-se exausta. Mas estava ganhando dinheiro.


No segundo dia, por volta de meio-dia, quando Hermione servia a uma mesa
cheia de vendedores, um dos homens subiu a mão por baixo de sua saia. Hermione
deixou cair um pote de chili em sua cabeça. Foi o fim do emprego.


Ela voltou à Sra. Murphy e relatou o que acontecera.


- Talvez eu tenha uma boa notícia - disse a Sra. Murphy. - O Wellington Arais
precisa de uma arrumadeira-assistente.


Mandarei você para lá.


O Wellington Arais, era um hotel pequeno e elegante na Park Avenue que
atendia aos ricos e famosos. Hermione foi entrevistada pela chefe das
arrumadeiras e contratada. O trabalho não era difícil, as colegas simpáticas e o
horário razoável.


Uma semana depois, Hermione foi chamada à sala de sua superior. O gerente-
assistente também estava ali.


- Verificou a Suíte 827 hoje? - perguntou-lhe a sua superior.


A Suíte era ocupada por Jennifer Marlowe, uma atriz de Hollywood. Parte das
funções de Hermione era inspecionar cada suíte e verificar se as arrumadeiras
tinham feito seu trabalho direito.


- Verifiquei, sim.


- A que horas?


- Às duas. Algum problema?


O gerente-assistente interveio:


- A Senhorita Marlowe voltou às três horas e descobriu que um valioso anel de
diamante desaparecera.


Hermione pôde sentir seu corpo ficar tenso.


- Você entrou no quarto, Hermione?


- Claro. Verifico todos os cômodos.


- Viu alguma jóia quando esteve no quarto?


- Bom... não. Acho que não.


O gerente-assistente insistiu:


- Você acha que não? Não tem certeza?


- Eu não estava procurando por jóias - respondeu - Apenas verificava as camas
e as toalhas.


- A Senhorita Marlowe afirma que deixou o anel na penteadeira quando saiu da
suíte.


- Não sei de nada a esse respeito.


- Ninguém mais tem acesso à suíte. E as arrumadeiras já estão conosco, há
muitos anos.


- Não peguei nenhum anel.


O gerente-assistente suspirou.


- Teremos de chamar a polícia para investigar.


- Só pode ter sido outra pessoa - protestou Hermione. - Ou talvez a Senhorita
Marlowe tenha esquecido onde guardou o anel...


- Com a sua ficha...


Lá estava, às claras. Com a sua ficha...


- Terei de pedir-lhe que faça o favor de esperar no escritório da segurança
até a chegada da polícia.


Hermione sentiu o rosto corar.


- Está bem, senhor.


Ela foi acompanhada até à sala por um dos agentes de segurança, teve a
sensação de que estava de volta à prisão. Lera sobre ex-condenados que eram
perseguidos porque tinham passado pela prisão, mas nunca lhe ocorrera que isso
pudesse acontecer com ela. Haviam-lhe posto um rótulo e esperavam que ela
vivesse de acordo. Ou em desacordo, pensou Hermione, amargurada.


Meia hora depois o gerente-assistente entrou na sala e disse, sorrindo:


- A Senhorita Marlowe encontrou seu anel. No final das contas, ela esquecera
onde o guardara. Foi apenas um pequeno equívoco.


- Maravilhoso - murmurou Hermione.


Ela deixou o hotel e seguiu diretamente para Jewelry Store Fudge.


- É ridiculamente simples - Fudge estava dizendo. - Uma cliente minha, Lois


Bellamy, acaba de viajar para a Europa. Sua casa é em Sea Cliff, Long Island.
Os empregados tiram folga nos fins de semana e não há ninguém por lá. Uma
patrulha particular efetua uma inspeção a cada quatro horas. Você pode entrar e
sair da casa em poucos minutos.


Eles estavam sentados no escritório de Fudge.


- Conheço o sistema de alarme e tenho a combinação do cofre. Tudo o que você
tem de fazer, minha cara, é entrar, pegar as jóias e sair. Traga-me as jóias, eu
tiro as pedras dos engastes, torno a lapidar as maiores e as vendo.


- Se é tão simples assim, por que você não faz tudo pessoalmente? - indagou


Hermione, bruscamente.


Os olhos azuis dele faiscaram.


- Porque estou saindo da cidade a negócios. Sempre que um desses pequenos
incidentes ocorre", eu me encontro invariavelmente fora da cidade a negócios.


- Entendo...


- Se está com escrúpulos sobre a possibilidade de o roubo afetar a Sra.
Bellamy, pode esquecer. Ela é uma mulher horrível, que tem casas por todo o
mundo, cheias das coisas mais caras. Além disso, segurou as jóias pelo dobro do
valor real. Naturalmente, eu fiz todas as avaliações. Hermione olhava fixamente
para Cornélio Fudge, pensando: Devo ter ficado louca. Aqui estou a discutir
calmamente um roubo de jóias com este homem.


- Não quero voltar à prisão, Sr. Fudge.


- Não há qualquer perigo. Nenhuma das pessoas que trabalhou para mim foi
apanhada. Pelo menos não enquanto trabalhavam para mim. E então... o que me


diz?


A resposta era óbvia. Ela diria que não. Toda a idéia era insana.


- Você disse vinte e cinco mil dólares?


- Pagamento contra entrega.


Era uma fortuna, o suficiente para sustentá-la até poder definir o que fazer
com sua vida. Hermione pensou no apartamento sinistro em que vivia, nos berros
dos inquilinos. Lembrou-se da mulher a gritar:


- Não quero uma assassina me servindo.


E lembrou-se das palavras do gerente-assistente do hotel:


- Teremos de chamar a polícia para investigar.


Mas Hermione ainda não tinha condições de dizer sim.


- Eu sugeriria esta noite de sábado - acrescentou Fudge. - Os empregados saem
ao meio-dia de sábado. Você gostaria de fazer do modo trouxa ou usar seus
próprio métodos?


- Acho... acho que trouxa... eu não sei.


- Providenciarei uma carteira de motorista para você, sob um nome falso.
Alugará um carro aqui em Manhattan e seguirá para Long Island, lá chegando às
onze horas. Pegará as jóias, voltará a Nova York e devolverá o carro... Sabe
guiar, não é mesmo?


- Sei, sim.


- Excelente. Há um trem partindo para St. Louis às 7 e 45. Reservarei um
compartimento para você. Irei encontrá-la na estação em St. Louis e você me
entregará as jóias. Eu lhe darei então os vinte e cinco mil dólares.


Ele fazia com que tudo parecesse muito simples.


Aquele era o momento de dizer não, levantar e ir embora... ir embora para
onde?


- Precisarei de uma roupa nova - Hermione viu-se murmurando.


Depois que Hermione se retirou, Fudge permaneceu sentado em seu escritório,
no escuro, pensando nela. Uma fina mulher. Muito fina. Era uma pena. Talvez
devesse tê-la avisado que não estava realmente tão familiarizado assim com
aquele sistema de alarme contra ladrões em particular.



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