Primeiros Passos



Nova Orleans SEXTA-FEIRA, 25 DE AGOSTO - 10 HORAS


Lester Torrance, um caixa do First Mercharits Bank de Nova Orleans,
orgulhava-se de duas coisas: suas proezas sexuais com as mulheres e sua
capacidade de avaliar os clientes. Lester era um homem que se aproximava dos 50
anos, magro, rosto pálido, um bigode de Tom Selleck, suiças compridas. Já fora
preterido duas vezes numa promoção; em represália, Lester usava o banco como um
serviço de encontros pessoais. Podia reconhecer vigaristas a quilometros de
distância e gostava de tentar persuadi-las a lhe conceder seus favores de graça.
As viúvas solitárias eram presas especialmente fáceis. Apresentavam-se em todos
os formatos, idades e estados de desespero, mais cedo ou mais tarde surgiam no
guinche de Lester. Se estavam temporariamente a descoberto, Lester se mostrava
compreensivo e retardava os cheques que chegavam pela compensação. Em troca, não
poderiam talvez ter um tranquilo jantar a sós?


Muitas de suas clientes lhe solicitavam ajuda e confidenciavam segredos
deliciosos: Precisavam de um empréstimo sem o conhecimento do marido... Queriam
manter confidenciais determinados cheques que haviam emitido... Estavam
cogitando de um divórcio; Lester não poderia ajudar a encerrar imediatamente a
conta conjunta?... Lester mostrava-se sempre ansioso em agradar. E em ser
agradado.


Lester compreendeu que tirara a sorte grande naquela manhã de sexta-feira em
particular. Viu a mulher no momento em que ela passou pela porta do banco. Era
absolutamente espetacular. Tinha cabelos pretos lustrosos caindo pelos ombros,
usava uma saia preta e uma suéter rosa justas que delineavam um corpo que faria
inveja a uma corista de Las Vegas.


Havia quatro caixas no banco e os olhos da jovem se deslocaram de um guinche
para outro, como se procurasse ajuda. Quando ela olhou para Lester, ele acenou
com a cabeça ansiosamente e presenteou-a com um sorriso encorajador. Ela se
aproximou de seu guinche, como Lester sabia que aconteceria.


- Bom dia - disse Lester, efusivamente. - Em que posso servi-la?


Ele podia ver os mamilos se comprimindo contra a suéter de cashmere e pensou:
Meu bem, quanta coisa eu gostaria de fazer por você!


- Receio estar com um problema - disse a mulher, suavemente.


Ela possuía o mais delicioso sotaque sulista que Lester já ouvira.


- É para isso que estou aqui - disse ele, exuberante. - Para resolver
problemas.


- Espero que sim. Infelizmente, fiz uma coisa horrível.


Lester ofereceu-lhe o seu melhor sorriso paternal, o sorriso pode-contar-
comigo.


- Não consigo acreditar que alguém tão adorável como você tenha feito alguma
coisa horrível.


- Mas eu fiz! - Os olhos verdes estavam arregalados pelo pânico. - Sou a
secretária de Joseph Romano. Ele me mandou providenciar um novo talão de cheques
de sua conta a uma semana e eu simplesmente esqueci. Os cheques agora acabaram e
não sei o que ele fará comigo quando descobrir que não providenciei outro talão.


A explicação saiu num ímpeto suave, aveludado. Lester conhecia muito bem o
nome de Joseph Romano. Era um importante cliente do banco, embora mantivesse
quantias relativamente reduzidas em sua conta. Todos sabiam que o seu verdadeiro
dinheiro era "lavado" em outros lugares.


Ele certamente tem um excelente gosto em matéria de secretárias, pensou
Lester, tornando a sorrir.


- Ora, isso não é tão sério assim, Sra....


- Senhorita Hartford... Lureen Hartford.


Senhorita! Era o seu dia de sorte. Lester pressentiu que tudo correria de
maneira esplêndida.


- Pedirei imediatamente um novo talão de cheques. Deverá o receber dentro de
duas ou três semanas e... Ela deixou escapar um pequeno gemido, um som que
pareceu a Lester conter uma promessa infinita.


- Oh, mas isso já seria tarde demais e o Sr. Romano anda muito zangado
comigo! Não consigo manter meus pensamentos concentrados no trabalho, entende?


Ela inclinou-se para a frente, os seios tocando o guinche, e acrescentou, num
sussurro:


- Se pudesse dar um jeito de apressar o talão, eu pagaria um preço extra.


Lester disse, pesaroso:


- Infelizmente, Lureen, seria impossível...


Ele parou de falar percebendo que ela estava à beira das lágrimas.


- Para dizer a verdade, isso pode custar meu emprego. Por favor... farei
qualquer coisa.


As palavras soaram como música nos ouvidos de Lester.


- Darei um jeito, Lureen. Pedirei um prazo especial e poderá receber na
segunda-feira. Está bom assim?


- Oh, você é maravilhoso!


A voz dela transbordava de gratidão.


- Mandarei para o escritório e...


- Seria melhor se eu viesse buscar pessoalmente. Não quero que o Sr. Romano
saiba como fui estúpida.


Lester sorriu, indulgentemente.


- Não tem nada de estúpida, Lureen. Todos esquecemos às vezes de algumas
coisas.


Ela murmurou:


- Nunca o esquecerei. Até segunda-feira.


- Estarei à sua espera.


Seria preciso estar com as duas pernas quebradas e trancafiado em um
manicômio para que ele não viesse trabalhar na segunda. Ela presenteou-o com um
sorriso deslumbrante e saiu do banco, andando devagar, oferecendo um espetáculo
inesquecível. Lester sorria ao se inclinar sobre um arquivo, verificando o
número da conta de Joseph Romano e telefonando para pedir outro talão de
cheques.


____________________________________________


O hotel na Carmen Street não se distinguia de uma centena de outros hotéis em
Nova Orleans e fora justamente por isso que Hermione o escolhera. Ela ocupava um
quarto pequeno, com uma decoração ordinária, há uma semana. Em comparação com a
cela na penitenciária, era um palácio para ela.


Ao voltar do encontro com Lester, Hermione pegou a nova varinha dentro da
bolsa e desfez o feitiço de trasformação que usara como disfarce. Sentou na
única cadeira no quarto e respirou fundo. Tudo estava correndo bem. Fora fácil
descobrir onde Joe Romano tinha a sua conta bancária. Hermione verificara o
cheque cancelado do espólio de sua mãe, emitido por Joe Romano.


Joe Romano? Você não pode tocar nele, dissera Ernestine.


Pois Ernestine estava enganada. Joe Romano era apenas o primeiro. Os outros
se seguiriam. Um a um.


Ela fechou os olhos e reconstituiu o milagre que a levara até ali...


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Ela sentiu as águas frias e escuras fechando-se sobre a sua cabeça. Estava se
afogando, dominada pelo terror. Mergulhou e suas mãos encontraram a criança,
agarrando-a e puxando-a para a superfície. Amy debateu-se em pânico cego para se
desenvencilhar, tornando a arrastar as duas para o fundo, sacudindo braços e
pernas freneticamente. Os pulmões de Hermione pareciam prestes a estourar. Ela
lutou para emergir daquele túmulo de água, agarrando a menina firmemente. Sentiu
que suas forças se desvaneciam. Não vamos conseguir, pensou ela. Estamos
perdidas. Vozes chamavam e ela sentiu o corpo de Amy escapar de seus braços. E
gritou:


- Oh, Deus, não!


Mãos fortes seguravam a cintura de Hermione e uma voz disse:


- Está tudo bem agora. Fique calma. Já acabou.


Hermione olhou ao redor, desesperada, à procura de Amy. Descobriu a menina sã
e salva nos braços de um homem. E momentos depois as duas foram retiradas da
água profunda e cruel...


O incidente não teria merecido mais que um parágrafo numa página interna dos
jornais da manhã se não fosse pelo fato de uma prisioneira que não sabia nadar
ter arriscado a vida para salvar a filha do diretor. Da noite para o dia, os
jornais e as emissoras de televisão transformaram Hermione numa heroina. O
próprio Governador Haber foi ao hospital da prisão junto com o diretor Brannigan
para visita-la .


- Foi um ato de extrema coragem de sua parte - disse o diretor. - A Sra.
Brannigan e eu queremos que saiba que, somos profundamente gratos.


A voz dele estava embargada de emoção. Hermione ainda se sentia fraca e
abalada da emoção.


- Como está Amy?


- Ela ficará boa.


Hermione fechou os olhos. Eu não poderia suportar se alguma coisa acontecesse
com a menina, pensou ela. Lembrou-se de sua frieza, quando tudo o que a menina
queria era amor. E sentiu-se envergonhada. O incidente lhe custara a chance de
escapar, mas sabia que, nas mesmas circunstâncias, faria tudo de novo.


Houve um inquérito sumário sobre o acidente.


- A culpa foi minha - disse Amy ao pai. - Estávamos jogando bola. Hermi
correu atrás da bola e me disse para esperar. Mas eu subi no muro para poder ver
melhor, acabei caindo na água. Mas Hermi me salvou, papai.- o tom da garota era
de orgulho pela proeza de sua heroina.


Mantiveram Hermione em observação no hospital naquela noite. Ela foi
conduzida ao gabinete do diretor Brannigan na manhã seguinte. Os meios de
comunicação a aguardavam. Sabiam reconhecer uma história de interesse humano
quando a encontravam e lá estavam correspondentes da UPI e Associated Press. A
emissora de televisão local mandara uma equipe.


A notícia do heroísmo de Hermione se espalhou naquela tarde. O relato do seu
ato de salvação foi divulgado pela televisão nacional e transformou-se numa
autêntica bola de neve. Time, Newsweek, People e centenas de jornais de todo o
país publicaram a história. À medida que a cobertura da imprensa continuava,
cartas e telegramas se despejaram sobre a penitenciária, exigindo o perdão de
Hermione Granger.


O Governador Haber discutiu o assunto com o diretor Brannigan.


- Hermione Granger está aqui por crimes graves - comentou o diretor.


O governador ficou pensativo.


- Mas ela não tinha antecedentes, não é mesmo, George?


- Não, senhor, não tinha.


- Não me importo de lhe contar: estou sofrendo uma tremenda pressão para
fazer alguma coisa por ela.


- Eu também, governador.


- É claro que não podemos deixar o público nos dizer como devemos dirigir
nossas prisões, não é mesmo?


- Claro que não.


- Por outro lado, a garota Granger certamente demonstrou uma coragem
extraordinária. E se tornou uma heroina.


- Não resta a menor dúvida.


O governador fez uma pausa para acender um charuto.


- Qual é a sua opinião, George?


George Brannigan escolheu suas palavras com todo cuidado.


- Deve saber, governador, que tenho um interesse muito especial neste caso.
Mas, mesmo pondo isso de lado, não creio que Hermione Granger seja do tipo
criminoso. Não posso acreditar que ela constituísse uma ameaça à sociedade, se
estivesse solta no mundo. Minha recomendação é que lhe conceda o perdão.


O governador, que estava prestes a anunciar sua candidatura a um novo
mandato, sabia reconhecer uma boa idéia quando a ouvia.


- Vamos esperar mais um pouco.


Em política, a escolha do momento certo era tudo.


Depois de conversar sobre o assunto com o marido, Sue Ellen disse a Hermione:


- O diretor Brannigan e eu gostaríamos muito que viesse morar no chalé. Temos
um quarto vago nos fundos. Você pode tomar conta de Amy em tempo integral.


- Obrigada - disse Hermione , sinceramente agradecida. - Nada poderia me dar
mais prazer.


Tudo corria à perfeição. Não apenas Hermione não precisava mais passar a
noite trancafiada numa cela, mas também o seu relacionamento com Amy mudara
completamente. Amy adorava Hermione e ela retribuía. Gostava da companhia
daquela garota inteligente e amorosa. Divertiam-se com brincadeiras antigas,
assistiam a filmes de Disney pela televisão, liam juntas. Era quase como ser
parte da família.


Mas sempre que tinha de fazer alguma coisa nas celas, Hermione
invariavelmente esbarrava em Big Bertha.


- Você é uma sacana de sorte - resmungava Big Bertha. - Mas um dia, muito em
breve, voltará para cá, junto das presas comuns. Estou trabalhando para isso,
littbam.


Três semanas depois da salvação de Amy, Hermione brincava com a menina no
jardim da frente quando Sue Ellen Brannigan saiu apressadamente da casa. Parou
por um momento, observando-as, antes de dizer:


- Hermione , o diretor acaba de telefonar. Gostaria de lhe falar
imediatamente em seu gabinete.


Hermione foi invadida por um medo repentino. Aquilo significava que seria
transferida de volta à prisão? Big Bertha usara a sua influência para conseguir
isso? Ou a Sra. Brannigan chegara à conclusão de que Amy e ela estavam se
tornando chegadas demais?


- Está bem, Sra. Brannigan.


O diretor esperava na porta de sua sala quando Hermione chegou, devidamente
escoltada.


- É melhor você sentar - disse ele.


Hermione tentou descobrir uma indicação do seu destino pelo tom de voz de
Brannigan.


- Tenho notícias para você. - Ele fez uma pausa, dominado por uma emoção que
a prisioneira não podia compreender. - Acabei de receber uma ordem do governador
da Louisiana, concedendo-lhe o perdão, a entrar em vigor imediatamente.


Santo Deus, ele disse mesmo o que julgo ter ouvido? Hermione ficou com medo
de falar.


- Quero que saiba que isso não está sendo feito porque foi a minha filha que
você salvou - continuou o diretor. - Você agiu instintivamente, como qualquer
cidadão decente teria feito. Não há a menor possibilidade de eu acreditar que
você seria uma ameaça à sociedade.


Ele fez uma pausa, sorrindo, antes de, acrescentar:


- Amy sentirá muita saudade de você. E nós também.


Hermione não tinha palavras. Se o diretor soubesse a verdade... que seus
homens a estariam caçando como uma fugitiva, se o acidente não tivesse
ocorrido...


- Será libertada depois de amanhã.


Hermione ainda não era capaz de absorver.


- Eu... eu não sei o que dizer...


- Não precisa dizer nada. Todos aqui sentem muito orgulho de você. A Sra.
Brannigan e eu esperamos que faça grandes coisas lá fora.


Então era verdade: Ela estava livre. Hermione sentia-se tão fraca que teve de
se apoiar na mesa do diretor. Mas sua voz era segura quando finalmente falou:


- Há muitas coisas que eu quero fazer, diretor Brannigan.


No seu último dia na prisão, Hermione foi procurada por uma companheira do
seu antigo bloco.


- Então você vai sair.


- É verdade.


A mulher, Betty Franciscus, tinha quarenta e poucos anos, ainda era atraente,
com uma aura de orgulho.


- Se precisar de ajuda lá fora, há um homem em Nova York que deve procurar. O
nome dele é Cornélio Fudge - Ela entregou um papel a Hermione. - Ele se empenha
na reforma criminal. E gosta de ajudar as pessoas que já passaram pela prisão.


Santo Deus! Mas era o ex-ministro da magia!! Será que aquela mulher era
bruxa? Será que há outras por aqui?


- Obrigada, mas só por perguntar, qual o significado da palavra trouxa para
você?


- Uma pessoa imbecil! Por que? A cara da mulher era desconfiada.


- Nada, nada mesmo. Obrigado de novo, mas acho que não precisarei...


- Nunca se sabe. Guarde o endereço.


Duas horas depois Hermione passava andando pelos portões da penitenciária,
diante das câmaras de televisão. Ela não falaria com os repórteres. Mas quando
Amy se desenvencilhou da mãe e correu para se jogar em seus braços, as câmaras
enlouqueceram.


Foi a imagem que apareceu em todos os serviços noticiosos daquela noite.


A liberdade para Hermione não era mais simplesmente uma palavra abstrata. Era
uma coisa concreta, uma condição física a ser desfrutada e saboreada.
Significava respirar ar fresco, privacidade, não entrar em fila para comer, não
ouvir campainhas.


Significava banhos quentes e sabonetes perfumados, lingerie macia, bonitos
vestidos, sapatos de saltos altos. Significava ter um nome ao invés de um
número. Liberdade significava escapar de Big Bertha e bandos de estupradoras, da
terrível monotonia da rotina da prisão.


A liberdade recém-descoberta de Hermione exigiu que ela se habituasse aos
poucos. Andando por uma rua, ela tomava cuidado para não esbarrar em ninguém. Na
penitenciária, esbarrar em outra presa podia ser a faísca que desencadearia um
incêndio. O mais difícil para ela era se ajustar à ausência de ameaça constante.
Ninguém a ameaçava.


Ela estava livre para executar seus planos.


Em Filadélfia, Ronald Weasley abriu seu Profeta Diário e viu a foto de uma
garotinha que corria do abraço da mãe para Hermione. (a noticia de sua saída da
prisão, foi amplamente divulgada no mundo bruxo). Ela ainda é linda, pensou ele.
Observando-a, pareceu-lhe impossível que ela tivesse cometido os crimes pelos
quais fora condenada. Ele olhou para sua esposa exemplar, sentada placidamente
do outro lado da mesa, tomando seu café calmamente. Será que cometi um erro?


Dudley Dursley viu Hermione no serviço noticioso da televisão em seu
apartamento em Nova York. Manteve-se totalmente indiferente ao fato dela sair da
prisão. Desligou o aparelho e voltou a se concentrar no arquivo em que
trabalhava.


Joe Romano soltou uma risada quando assistiu à notícia da televisão. A garota
Granger tinha muita sorte. Aposto que a prisão foi uma boa coisa para ela. Deve
estar com o maior tesão a esta altura. Talvez um dia desses tornemos a nos
encontrar.


Romano estava muito satisfeito consigo mesmo. Já entregara a um receptador o
Renoir, que fora comprado por um colecionador particular de Zurique. Meio milhão
de dólares da seguradora, outros 250 mil do receptador. Naturalmente, Romano
dividira o dinheiro com Anthony Orsatti. Era muito meticuloso em suas transações
com Orsatti, pois já testemunhara o que acontecia com as pessoas que não eram
corretas em seus negócios com o chefão de Nova Orleans.
____________________________________________ A primeira coisa que Hermione fez
quando saiu da prisão, depois de tomar um demorado banho, foi pesquisar todas as
noticias que sairam em jornais (tanto trouxas ou bruxos) sobre sua prisão e
soltura.


"... A bruxa de 25 anos, Hermione Granger foi presa no dia de hoje condenada
por assalto à mão armada e tentativa de homícidio, contra o trouxa Joseph
Romano. O ministério da Magia teve que interferir no lamentavel ocorrido, já que
a acusada usara magia no trouxa. Na verdade, ela usou um simples feitiço de
corte na vitíma, mas o Tribunal Bruxo resolveu acolher a acusação de tentativa
de assssinato, já que ela portava uma arma de fogo trouxa. Assim que os Aurores
Parkinson e Crabbe, chegaram a casa da vitima, em Nova Orleans, constataram que
a acusada fugiu.


Os aurores receberam ordem direta do então Chefe do Departamento de Execução
em Leis da Magia, Severo Snape, para providenciar que a cena fosse armada para
parecer não-magica.


Eles alteraram a memoria do trouxa e implataram a historia do tiro de
revolver. Depois avisaram a policia trouxa do ocorrido.


O Tribunal Bruxo, condenou a srta. Granger a cumprir a pena trouxa de 15 anos
de prisão, na Penitenciaria Meridional da Louisiania para Mulheres. A srta.
Granger ficou presa numa delegacia da cidade e o representante do ministério
Thomas Hart, quebrará sua varinha amanhã."


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Na segunda-feira, ao meio-dia, apresentando-se como Lureen Hartford, Hermione
voltou ao First Merchants Bank de Nova Orleans, àquela hora, apinhado de
clientes. Diversas pessoas formavam uma fila diante do guinche de Lester
Torrance. Hermione entrou na fila. Quando a viu, Lester ficou radiante e acenou
com a cabeça. Ela era ainda mais fina do que ele se lembrara. E quando ela
chegou finalmente ao guinche, Lester disse, exultante:


- Não foi fácil, Lureen, mas fiz isso por você.


Um sorriso ardente iluminou o rosto de Lureen.


- Você é maravilhoso.


- Está aqui mesmo. - Lester abriu uma gaveta, retirou o talão de cheques que
guardara cuidadosamente e entregou a ela. - Aqui estão. São quatrocentos
cheques. Será suficiente?


- Oh, mais do que suficiente, a menos que o Sr. Romano resolva fazer uma
orgia de preenchimento de cheques. - Ela fitou Lester nos olhos e suspirou. -
Salvou-me a vida.


Lester sentiu uma agradável comichão na virilha.


- Acredito que as pessoas devem ser prestativas com as outras. Não concorda,
Lureen?


- Tem toda a razão, Lester.


- Você também deveria abrir uma conta aqui, Lureen. Eu cuidaria bem de você.
Muito bem mesmo.


- Sei que cuidaria - respondeu Hermione, suavemente.


- Por que nós dois não conversamos a esse respeito durante um jantar
sossegado em algum lugar?


- Eu adoraria.


- Onde posso encontrá-la, Lureen?


- Eu telefonarei para você, Lester.


Ela se afastou.


- Espere um...


O cliente seguinte já se adiantara, entregando ao frustrado Lester um saco
com moedas de um centavo.


No meio do banco havia quatro mesas, em que se encontravam fichas de
depósitos em branco. Todas as mesas se achavam ocupadas por pessoas empenhadas
em preencher as fichas. Hermione afastou-se para um ponto em que Lester não
poderia vê-la. Assim que um cliente abriu vaga numa mesa, ela ocupou o seu
lugar. Lester lhe entregara oito talões de cheques. Mas não era nos cheques que
Hermione estava interessada e sim nas fichas de depósitos, no fundo dos talões.


Ela separou cuidadosamente as fichas de depósitos dos cheques; em menos de
três minutos tinha 80 fichas de depósitos na mão. Certificando-se de que não era
observada, Hermione colocou 20 fichas de depósitos na estante de metal sobre a
mesa.


Deslocando-se para a mesa seguinte, ela deixou ali outras 20 fichas de
depósitos. Em poucos minutos distribuíra todas pelas diversas mesas. As fichas
de depósitos estavam em branco, mas cada uma continha um código magnetizado na
base; o computador creditaria automaticamente cada depósito na conta de Joe
Romano. Pela sua experiência trabalhando num banco, Hermione sabia que em dois
dias todas as fichas de depósitos magnetizadas teriam sido usadas e que
transcorreriam pelo menos cinco dias antes que a confusão fosse descoberta. Isso
lhe proporcionaria tempo mais do que suficiente para o que planejava fazer.


Voltando para o hotel, Hermione largou os cheques em branco numa cesta de
lixo. O Sr. Joe Romano não precisaria deles.


Sua próxima parada foi na Agência de Viagens Holiday de Nova Orleans. A moça
por trás do balcão perguntou-lhe:


- O que deseja?


- Sou a secretária de Joseph Romano. O Sr. Romano quer fazer uma reserva para
o Rio de Janeiro. Tenciona viajar nesta sexta-feira.


- Só uma passagem?


- Isso mesmo. Primeira classe. Uma poltrona no corredor. E na seção de
fumantes, por favor.


- Passagem de ida e volta?


- Só de ida.


A moça virou-se para o terminal de computador. E informou alguns segundos
depois:


- Está tudo acertado. Uma poltrona em primeira classe no Voo 728 da Pan
American, partindo às 6 e 35 da tarde de sexta-feira, com uma rápida escala em
Miami.


- Ele ficará muito satisfeito - assegurou Hermione .


- São 1.929 dólares. Pagamento à vista ou faturado?


- O Sr. Romano sempre paga à vista. Na entrega. Pode fazer o favor de enviar
a passagem a seu escritório na quinta-feira?


- Podemos entregar amanhã, se quiser.


- O Sr. Romano não estará no escritório amanhã. Pode deixar para as onze
horas de quinta-feira?


- Claro. Qual é o endereço?


- Sr. Joseph Romano, Poydras Street, 217, Suíte 408.


A mulher anotou.


- Está certo. Providenciarei para que a passagem seja entregue na manhã de
quinta-feira.


- às onze horas em ponto - disse Hermione . - Obrigada.


A meio quarteirão de distância ficava a Loja de Malas Acme. Hermione observou
a vitrine antes de entrar.


Um vendedor aproximou-se.


- Bom dia. Em que posso servi-la?


- Quero comprar uma mala para meu marido.


- Pois veio ao lugar certo. Estamos fazendo uma liquidação. Temos algumas
malas ótimas e baratas...


- Não, obrigada.


Hermione encaminhou-se para um mostruário de malas Vuitton, encostado numa
parede.


- Isto é mais o que estou procurando. Vamos fazer uma viagem.


- Estou certo que ele ficará satisfeito com uma destas. Temos três tamanhos
diferentes. Qual deles...


- Levarei uma mala de cada tamanho.


- Ahn... "timo. Pagamento à vista ou a prazo?


- Contra entrega. O nome é Joseph Romano. Poderia entregar no escritório de
meu marido na manhã de quinta-feira?


- Claro, Sra. Romano.


- às onze horas?


- Providenciarei tudo pessoalmente.


Como só agora se lembrasse disso, Hermione acrescentou:


- Ah, sim.... poderia pôr as iniciais de meu marido nas malas... em ouro? J.
R.


- Claro. Será um prazer, Sra. Romano.


Hermione sorriu e deu o endereço do escritório.


Numa agência telegráfica próxima da Westem Union, Hermione mandou um
telegrama para o Rio Othon. Palace, na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro:


QUERO RESERVAR SUÍTE, MAIS CARA A PARTIR DESTA SEXTA-FEIRA POR DOIS MESES.
CONFIRMEM POR FAVOR EM TELEGRAMA A COBRAR. JOSEPH ROMANO, POYDRAS STREET, 217,
SUÍTE, 408, NOVA ORLEANS, LOUISIANA, EUA.


Hermione telefonou para o banco três dias depois e pediu para falar com
Lester Torrance. Ao ouvir a voz dele, ela disse suavemente:


- Provavelmente não se lembra de mim, Lester, mas aqui é Lureen Hartford, a
secretária do Sr. Romano...


Não se lembrava dela? A voz de Lester soou extremamente ansiosa:


- Mas é claro que me lembro de você, Lureen! Eu...


- Lembra mesmo? Ora, eu me sinto lisonjeada. Deve conhecer uma porção de
pessoas.


- Mas não como você. Não esqueceu o nosso compromisso para o jantar, não é
mesmo?


- Não pode imaginar como estou ansiosa por essa oportunidade. Poderia ser na
próxima terça-feira, Lester?


- Claro!


- Então está combinado. Oh, mas que idiota que eu sou! Você me deixou tão
excitada que quase esquecia o motivo para o telefonema. O Sr. Romano pediu- me
para conferir seu saldo. Podia me dizer a cifra?


- Não há problema.


Normalmente, Lester Torrance teria pedido a data de nascimento ou alguma
forma de identificação da interlocutora. Mas, naquele caso, isso não era
necessário. De jeito nenhum.


- Espere um instante, Lureen.


Ele foi até o arquivo e puxou a ficha de Joseph Romano. Teve uma surpresa.
Houvera diversos depósitos na conta de Romano durante os últimos dias. Romano
nunca mantivera tanto dinheiro em sua conta antes. Lester Torrance se perguntou
o que estaria acontecendo. Obviamente, alguma transação em larga escala.
Arrancaria toda a história quando jantasse com Lureen Hartford. Uma pequena
informação confidencial nunca fazia mal. Ele voltou ao telefone.


- Seu patrão vem nos mantendo bastante ocupados. Ele tem pouco mais de
trezentos mil dólares em sua conta.


- Isso é ótimo. Confere com os meus cálculos.


- Ele não gostaria que transferíssemos uma parte para uma conta de
investimentos? Não haverá juros como está e eu poderia...


- Não. Ele quer deixar o dinheiro assim mesmo.


- Muito bem.


- Obrigada, Lester. Você é maravilhoso.


- Ei, espere um momento! Devo telefonar para o seu escritório a fim de
acertar o jantar na terça-feira?


- Eu telefonarei para você.


A ligação foi cortada.


O moderno prédio do escritório pertencente a Anthony Orsatti ficava na
Poydras Street entre a beira do rio e o gigantesco Louisiana Superdome. Os
escritórios da Pacific Import-Export Company situavam-se no quarto andar. Numa
extremidade ficava a sala de Orsatti e na outra a de Joe Romano. O espaço entre
as duas era ocupado por quatro jovens recepcionistas, sempre disponíveis à noite
para divertir os amigos e os associados de negócios de Anthony Orsatti. Na
frente da suíte de Orsatti sentavam-se dois homens enormes, cujas vidas eram
devotadas a guardar o chefe. Também serviam como motoristas, massagistas e
mensageiros do capo.


Orsatti estava em sua sala naquela manhã de quinta-feira, conferindo as
receitas do dia anterior do jogo dos números, apostas em cavalos, prostituição e
uma dúzia de outras atividades lucrativas controladas pela Pacific Import-Export
Company.


Anthony Orsatti se achava próximo dos 70 anos. Era um homem de estranha
constituição, com um tronco enorme e largo, pernas curtas e finas, que pareciam
ter sido projetadas para um homem menor. De pé, ele parecia um sapo sentado.
Tinha o rosto coberto por uma teia irregular de cicatrizes que poderia ter sido
feita por uma aranha embriagada, uma boca descomunal, olhos pretos e
empapuçados. Era totalmente calvo desde a idade de 15 anos, depois de um ataque
de alopecia, usava uma peruca preta desde então. Não se ajustava a ele, ficava
inteiramente deslocado, mas durante todos aqueles anos ninguém se atrevera a
fazer qualquer comentário, na sua frente.


Os olhos frios de Orsatti eram os de um jogador, nada deixando transparecer;
o rosto, a não ser quando em companhia das cinco filhas, às quais adorava com
paixão, era inexpressivo. A única pista para as emoções de Orsatti estava na
voz. Tinha a voz rouca e dissonante, resultado de um fio que fora apertado em
seu pescoço quando contava 21 anos e o deram por morto. Os dois homens que
cometeram esse erro apareceram no necrotério na semana seguinte,


Quando Orsatti ficava realmente furioso, sua voz baixava para um sussurro
estrangulado que mal podia ser ouvido.


Anthony Orsatti era um rei que comandava seus domínios com subornos, armas de
fogo e chantagem. Controlava Nova Orleans e a cidade lhe prestava homenagem sob
a forma de riquezas incalculáveis. Os capos das outras famílias do país
respeitavam-no e constantemente, solicitavam os seus conselhos.


No momento, Anthony Orsatti achava-se num Animo benevolente. Tomara o café da
manhã com sua amante, a quem mantinha num prédio de apartamentos que possuía em
Lake Vista. Visitava-a três vezes por semana e a visita daquela manhã fora
particularmente satisfatória. Ela fazia-lhe coisas na cama que nenhuma outra
mulher jamais sonhara. Orsatti acreditava sinceramente que isso acontecia porque
ela o amava muito. Sua organização funcionava com perfeição. Não havia qualquer
problema, porque Anthony Orsatti sabia como resolver as dificuldades antes que
se transformassem em problemas. Ele explicara um dia sua filosofia a Joe Romano:


- Nunca permita que um pequeno problema se transforme num grande problema,
Joe, ou crescerá como a porra de uma bola de neve descendo a ladeira. Tem um
capitão de delegacia que acha que deve receber uma grana maior... pois acabe com
ele, entende? Nada de bola de neve. Tem algum cara de Chicago que pede permissão
para abrir uma pequena operação sua aqui em Nova Orleans? Sabe que muito em
breve essa "pequena" operação vai se tornar uma grande operação e começar a
reduzir seus lucros. Pois diga que sim e quando ele chegar aqui acabe com o
filho da puta. Nada de bola de neve. Entende a coisa?


Joe Romano entendia.


Anthony Orsatti amava Romano. Era como um filho para ele. Orsatti o recolhera
quando Romano era um delinquente juvenil, roubando bêbados nos becos.


Treinara Romano pessoalmente e agora o garoto podia se igualar aos melhores.
Era rápido, esperto e honesto. Em dez anos Romano subira ao posto de
lugar-tenente de Anthony Orsatti. Supervisionava todas as operações da Família e
se reportava somente a Orsatti.


Lucy, a secretária particular de Orsatti, bateu na porta e entrou na sala.
Ela tinha 24 anos, diploma universitário, com um rosto e um corpo que haviam
ganhado concursos de beleza locais. Orsatti gostava de ter finas mulheres ao seu
redor.


Ele olhou para o relógio em sua mesa. Eram 10 e 45. Dissera a Lucy que não
queria interrupções antes do meio-dia. Orsatti franziu o rosto.


- O que é?


- Desculpe incomodá-lo, Sr. Orsatti. Uma tal de Senhorita Gigi Dupres está ao
telefone. Ela parece histérica, mas não quer me dizer o que deseja. Insiste em
lhe falar pessoalmente. Achei que poderia ser importante.


Orsatti ficou imóvel por um momento, passando o nome pelo computador em seu
cérebro. Gigi Dupres? Não podia se lembrar e orgulhava-se de possuir uma mente
que não esquecia coisa alguma. Por curiosidade, Orsatti pegou o telefone e
acenou com a mão, dispensando Lucy.


- Quem está falando?


- É o Sr. Anthony Orsatti?


Ela tinha um sotaque francês.


- E daí?


- Oh, graças a Deus que consegui lhe falar, Sr. Orsatti! Lucy tinha razão. A
mulher era histérica. Anthony Orsatti perdeu o interesse pela mulher. Ele já ia
desligar quando a voz acrescentou:


- Tem de impedi-lo, por favor!


- Dona, não tenho a menor idéia de quem você está falando e estou ocupado...


- Meu Joe,... Joe Romano. Ele prometeu que me levaria junto, comprenez- vous?


- Se tem alguma coisa a acertar com Joe, fale com ele diretamente. Não sou
babá de Joe.


- Ele mentiu para mim! Acabei de descobrir que Joe vai viajar sozinho para o
Brasil. E metade daqueles trezentos mil dólares me pertence.


Anthony Orsatti descobriu subitamente que, no final das contas, o caso
interessava.


- Que dólares são esses de que está falando?


- O dinheiro que Joe está escondendo em sua conta no banco. O dinheiro que
ele... como é mesmo que se diz?... desviou.


Anthony Orsatti estava muito interessado.


- Por favor, diga a Joe que deve me levar também para o Brasil. Por favor!
Pode fazer isso para mim?


- Claro - prometeu Anthony Orsatti. - Pode deixar que cuidarei de tudo.


A sala de Joe Romano era moderna, toda branca e cromada, feita por um dos
decoradores mais em voga em Nova Orleans. Os únicos toques de cores eram os três
quadros valiosos de impressionistas franceses nas paredes. Romano orgulhava-se
de seu bom gosto. Lutara muito para subir dos cortiços de Nova Orleans, e no
processo se instruíra. Possuía bom olho para quadros e um ótimo ouvido para
música. Quando jantava num restaurante, sustentava conversas longas e
conhecedoras com o sommelier sobre vinhos. Isso mesmo, Joe Romano tinha todos os
motivos para sentir-se orgulhoso. Enquanto seus contemporâneos sobreviveram pelo
uso dos punhos, ele usara o cérebro. Se era verdade que Anthony Orsatti possuía
Nova Orleans, também era verdade que Joe Romano controlava a cidade para ele.
Sua secretária entrou na sala.


- Sr. Romano, há um mensageiro aqui com sua passagem de avião para o Rio de
Janeiro. Devo fazer um cheque. É pagamento contra entrega.


- Rio de Janeiro? - Romano sacudiu a cabeça. - Diga a ele que houve algum
engano.


O mensageiro uniformizado estava na porta.


- Mandaram entregar a Joseph Romano, neste endereço.


- Pois então mandaram errado. Que história é, hen? Uma idéia de promoção de
alguma nova empresa de aviação?


- Não, senhor. Eu...


- Deixe-me ver isso. - Romano arrancou a passagem da mão do mensageiro e deu
uma olhada. - Sexta-feira... Por que eu haveria de viajar para o Rio na
sexta-feira?


É uma boa pergunta - disse Anthony Orsatti, parado por trás do mensageiro. -
Por que faria isso, Joe?


- É algum erro estúpido, Tony. - Romano devolveu a passagem ao mensageiro. -
Leve isso de volta ao lugar de onde veio e...


- Não tão depressa. - Anthony Orsatti pegou a passagem e examinou-a. - Aqui
diz que é primeira classe, poltrona no corredor, seção de fumantes, para o Rio
de Janeiro, na sexta-feira. Passagem só de ida.


Joe Romano soltou uma risada.


- Alguém cometeu um engano. - Ele virou-se para sua secretária. - Madge,
telefone para a agência de viagens e diga que deram uma mancada. Algum idiota
vai perder a sua passagem de avião.


Joleen, a outra secretária, entrou na sala.


- Com licença, Sr. Romano. As malas acabaram de chegar. Quer que eu assine o
recibo?


Joe Romano fitou-a aturdido.


- Que malas? Não encomendei mala nenhuma.


- Mande trazê-las para cá - ordenou Anthony Orsatti.


- Santo Deus! - exclamou Joe Romano. - Será que todo mundo enlouqueceu?


Um mensageiro entrou na sala com as três malas Vuitton.


- Mas o que é isso? Não encomendei essas malas.


O mensageiro conferiu a fatura de entrega.


- Diz aqui Sr. Joseph Romano, Poydras Street, 217. Esta não é a Suíte 408?


Joe Romano começava a perder o controle.


- Não me interessa a porra que diz aí. Não encomendei coisa nenhuma. E agora
leve essas malas daqui.


Anthony Orsatti agora examinava as malas.


- Elas têm as suas iniciais, Joe.


- Como? Ei, espere, um instante! Provavelmente são um presente de alguém.


- É seu aniversário?


- Não. Mas sabe como são as mulheres, Tony. Estão sempre dando presentes.


- Tem alguma coisa acontecendo no Brasil? - perguntou Anthony Orsatti.


- Brasil? - Joe Romano riu. - Deve ser a idéia de brincadeira de alguém,
Tony.


Orsatti sorriu gentilmente, depois virou-se para as secretárias e os dois
mensageiros.


- Saiam.


Depois que eles saíram e a porta foi fechada, Anthony Orsatti acrescentou
para Romano:


- Quanto dinheiro tem na sua conta bancária, Joe?


Joe Romano ficou perplexo.


- Acho que mil e quinhentos dólares, talvez dois mil, Tony. Por quê?


- Apenas por curiosidade, por que não liga para o seu banco e confere?


- Para quê? Eu...


- Verifique, Joe.


- Está certo, se isso o deixará feliz. - Romano chamou a secretária pelo
intertelfone. - Ligue-me para a tesoureira no First Mercharits.


Um minuto depois ela estava na linha.


- Olá, meu bem. Aqui é Joseph Romano. Poderia me dar o saldo atual da minha
conta? Minha data de nascimento é catorze de outubro.


Anthony Orsatti pegou a extensão do telefone. A tesoureira voltou à linha um
momento depois.


- Desculpe mantê-lo à espera, Sr. Romano. Nesta manhã, o saldo em sua conta é
de 310.905 dólares e 35 cents,


Romano pôde sentir o sangue se esvair de seu rosto.


- Quanto?


- O saldo é de 310.905 dólares e...


- Sua puta estúpida! - berrou Romano. - Não tenho todo esse dinheiro na minha
conta. Está cometendo um erro. Quero falar com...


Ele sentiu o telefone ser retirado de sua mão. Anthony Orsatti repôs o
telfone, no gancho.


- De onde saiu esse dinheiro, Joe?


O rosto de Joe Romano tornou-se muito pálido.


- Juro por Deus, Tony, que não sei de nada a respeito desse dinheiro.


- Não?


- Ei, você tem de acreditar em mim! Sabe o que está acontecendo? Alguém quer
me meter numa encrenca!


- Pois então deve ser alguém que gosta muito de você. E lhe dá um presente de
310 mil dólares.


Orsatti arriou pesadamente na poltrona Scalamander forrada com seda e ficou
olhando para Joe Romano por um longo tempo, antes de acrescentar, suavemente:


- Tudo foi planejado, hem? Uma passagem só de ida para o Rio, malas novas...
Parece até que você estava preparando para si mesmo toda uma vida nova.


- Não! - Havia pânico na voz de Joe Romano. - Por Deus, Tony, você me
conhece. Sempre fui honesto com você. É como um pai para mim.


Ele estava suando agora. Houve uma batida na porta e Madge meteu a cabeça.
Tinha um envelope na mão.


- Desculpe, interromper, Sr. Romano. Acaba de chegar um telegrama, mas o
senhor tem de assinar o recibo.


Com o instinto de um animal acuado, Joe Romano respondeu:


- Não agora. Estou ocupado.


- Pode deixar que eu recebo - disse Anthony Orsatti. Ele se levantou antes
que a secretária tivesse tempo de fechar a porta. Levou algum tempo a ler o
telegrama e depois olhou atentamente para Joe Romano. E numa voz tão baixa que
Romano mal conseguiu ouvir, Anthony Orsatti disse:


- Lerei o telegrama para você, Joe. "Confirmo sua reserva para nossa suíte
presidencial por dois meses a partir desta sexta-feira, primeiro de setembro. S.
Montalband, gerente, Rio Othon Palace, Praia de Copacabana, Rio de Janeiro. É
sua reserva, Joe. Mas não vai precisar, não é mesmo?



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