O final e o recomeço de tudo
Quase um ano trancafiada e a vida dela já começava a dar sinais de fraqueza com pouco menos de três meses. Sim, ela estava definhando pouco a pouco. Seus cabelos já não tinham a mesma cor intensa, sua pele não tinha o mesmo tom de perola e seus olhos eram cercados por olheiras, diziam que ela parecia uma “noiva cadáver”, mas nem assim ela deixava de ser bela.
Ele se aproximou dela com passos leves e tocou-lhe os ombros com suas mãos frias. Ela pareceu se encolher, era uma reação esperada. Inclinou o rosto para beijar o pescoço dela, que por sua vez tentou se desvencilhar. Essas reações de esquiva o irritavam profundamente. Desceu suas mãos pelos braços dela, às vezes era surpreendente a frieza que ela tinha.
- Quando você vai deixar de ter medo de mim?- ele sussurrou ao pe do ouvido dela.
- Talvez quando eu me esquecer do monstro que você é. - melancolia era tudo o que ela mostrava em sua voz.
- Você tem que admitir que estou me esforçando para desfazer essa imagem.-ele soltou um suspiro contrariado pela resposta dela.- Por que não tenta enxergar o que eu tenho feito?
- O que você tem feito, Tom? Matado trouxas, torturado bruxos inocentes, seqüestrado mais adolescentes para por na sua coleção?- ele contorceu o rosto em desagrado as palavras dela.
- Primeiro, não tenho interesse em outras adolescentes. Segundo, os trouxas e bruxos que eu caço são parte do meu “trabalho”. Terceiro, você deveria ser grata por eu ter poupado a sua família e a sua amiga Sangue-Ruim, por que eu fiz isso para você e ninguém mais.- ela encolheu os ombros ao ouvir o tom frio dele.- Por que não mostra sua gratidão sendo um pouco mais gentil e carinhosa comigo?
- Nunca, seu assassino. Você é o ser mais repugnante da face da terra. – a voz soava exaltada agora- Você matou o meu noivo! O único homem que eu amei.- caiu de joelhos chorando.
- Ou eu ou ele, Virginia. Você sabia que esse era um risco que eu e Potter corríamos, você ouviu a profecia. Eu não tinha como prever que após a morte dele você estaria aqui comigo.- ele era frio em cada palavra, não havia conforto nele, só crueldade.
- Não foi após a morte dele. Você me jogou aqui meses antes, você me privou de tudo o que eu amo e ainda tirou a única esperança que eu tinha de sair daqui, nem morre você me permite.- ela se encolhia contra a parede olhando para os pés dele. Ele a forçou a ficar de pé novamente, enquanto encarava os olhos encharcados dela.
- Eu queria que você se lembrasse de coisas mais alegres com relação a minha pessoas. Lembra, eu fui seu único amigo numa época em que Potter te via como um grande nada. Você costumava confiar em mim, dizer que eu era seu amigo.- ele disse calmo, abraçando-a por trás.
- Eu até poderia me lembrar, se você não tivesse tentado me matar na mesma época e se não tivesse cometido tantas atrocidades em nome de um ideal preconceituoso e perverso, se esquecendo de que é tão sangue-ruim quanto todos aqueles que você matou.- ele a segurou com força pelos braços e forçou-a a olhar para ele diretamente. Ela viu nos olhos cinzentos o ódio queimando. Havia falado de mais, agora ela pagaria.
- Nunca mais repita isso, sua vagabunda!- ele bradou enérgico, pontuando a frase com um tapa no rosto delicado de Gina. Lentamente a expressão do rosto dele suavizou e ele acariciou o local do tapa com seus dedos longos.- Eu não poderia ter outra, se não você. Essa sua coragem ingênua e estúpida, seu olhar destemido, mesmo quando treme de medo só de me olhar, essa sua fibra, que não lhe permite a entrega, tudo isso me fascina. Você foi o maior desafio que eu já enfrentei e vai ser o premio mais valioso quando finalmente se render ao seu destino.- ele beijou suavemente o pescoço dela.
- Por que eu, Tom? Pra que esse fingimento todo? Você não ama e nunca vai amar nada alem de você mesmo, então por que fingir que se importa comigo ou que quer os meus sentimentos.- e voz dela se assemelhava a um gemido de dor, enquanto as lagrimas corriam soltas pelos seus olhos.
- Por que não você, Virginia? O que te torna imune a mim ou o que me torna imune a você? Pare de ter tanta convicção nas palavras de Dumbledore, eu posso ter sentimentos como qualquer um, o que me difere e a capacidade de ser menos vulnerável a eles, mas não indiferente. Preocupo-me com você e quero você por inteiro. Pare de dar tanto credito as teorias furadas que Potter e aquele velho maluco teciam sobre mim, porque nenhum deles esta aqui para poder confirma-las agora.- a voz dele soou definitiva junto ao ouvido dela.
Toda noite a mesma coisa. Por que era tão difícil convencer uma mulher como ela. “Talvez porque ela não seja para mim, a final ela era a noiva do mocinho da historia”.Ele não podia negar essa afirmação. Virginia seria algo quase intocável as mãos de qualquer um só pelo fato de ter sido a eleita de Harry Potter. Pois bem, o infeliz estava morto e agora Gina estava nas mãos dele, mas ainda sim ela se recusava terminantemente a se render.
O que tornava ela tão especial? Nada alem das memórias que ele tinha da gentileza dela quando se conheceram. A amiga que o aceitara como ele era, que lhe oferecera conforto e de certa forma compreensão, a única pessoa que permaneceu em suas lembranças durante tanto tempo como um sonho bom.
O que a dava a ele o direito de rapta-la, de toca-la de maneira erótica quando ela não queria a proximidade dele, de beija-la a contra gosto, de roubar tudo de bom que havia nela? Nada daria a Tom Riddle esse direito, mas sua obsessão por ela chegara a tal ponto que ele se esquecera até mesmo de respeitar os limites daquilo que um dia foi uma amizade e ele arrependia-se amargamente disso. Não que estivesse amolecendo com o tempo, mas os atos inconseqüentes dele estavam acabando com tudo o que havia de encantador em Gina e matando-a aos poucos.
Faltava vida nela, faltava consolo, carinho, calor. Ela estava árida, seca, fria e a culpa era dele. Tom era realmente um maldito, que matava tudo o que lhe dava alegria. Foi assim com Hogwarts, com sua sede de poder, seus sentimentos infantis e agora Gina. Ela não merecia passar por tudo aquilo, mas ele também achava que não merecia uma vida privada de sentimentos, amigos e amor.
Palavra odiosa, “amor”. Sempre se julgou incapaz de ter tal sentimento, grande erro. Podia dizer que amava Gina, mas até que ponto aquilo era amor? Era mais, muito mais. Era paixão, era desejo, era vontade e obsessão. Ela era tudo o que havia sobrado de humano nele, ela era o pedaço que restava de sua alma mortal. Se alguma coisa podia ainda salvar Tom dele mesmo, era Gina.
“Então não há salvação”.Ele pensava assim e tinha razão, a final o que ele havia feito se não transforma-la em um ser quase tão estéril e infeliz quanto ele. A menina que o cativara dentro de uma câmara imunda e fria agora estava morrendo, não fisicamente, mas a garotinha por quem ele se apaixonou estava a um passo do fim.
Lembrava-se do rosto meigo e grato dela em seus onze anos de idade com perfeição. A voz suave e os olhos cor de chocolate, a face salpicada de sardas e o cabelo vermelho como o por do sol. Tudo tão lindo, tão único, tão Gina. Gostava de recordar as palavras que ela costumava dizer a ele nessa época com uma saudade incalculável, na época em que ela confiava nele e o chamava de “meu melhor amigo”. E o que sobrou daqueles tempos áureos? Nada alem de pesar, amargura, medo e saudade. Agora era tarde de mais para devolver tudo o que ele tirou dela, um caminho sem volta.
A guerra não havia acabado, mas a Ordem não conseguia ter a mesma força de antes depois das mortes de Dumbledore e Potter e os aurores do Ministério não conseguiam lutar contra tantos Comensais que agora tinham o incentivo de tantas vitórias consecutivas. Parecia uma batalha ganha e talvez até fosse, se não pelo fato de que nada daquilo agrada a ele. Chegou no topo, realizou seus sonhos de vingança e poder, e descobriu que não queria nada daquilo, queria voltar atrás e ser um bruxo normal, para poder desfrutar de algo que até então desconhecia. Aquele amor tão falado por seus inimigos, a satisfação de ter tal sentimento, negado a ele durante tantos anos.
Sentia-se o adolescente que nunca foi de fato, apaixonado pela garota popular e adorada por todos, que jamais daria bola pra ele. Então ele resolveu construir um mundo novo, onde ele era o que havia de melhor, um mundo para ele e sua garota, mas descobriu que ela não queria nem poder nem popularidade e que teve mais chances com ela quando era alguém comum. Queria suas chances e sua alma de volta e quem sabe assim conseguiria dar a Virginia a felicidade que ele lhe roubara, mas a cada dia que passava ele estava mais distante disso.
A tristeza dela havia se tornado nos últimos dias um fardo maior. Ele sabia o que estava causando isso e mais uma vez era culpa dele. Ela estava grávida, esperando um filho que seria sempre tachado de “herdeiro das trevas”, “filho da morte”, “futuro senhor do medo” e coisas piores. Virginia fora condenada por ele a dar continuidade a linhagem de Slytherin, dar a luz a uma criança de alguém que ela abominava.
Varias vezes ele a observara acariciar a barriga proeminente de quase nove meses. Julgava que aquilo era um ato involuntário dela, pensava também que ela se negaria a ver o filho quando o mesmo nascesse. Mesmo que essa criança fosse renegada por ela, ele seria o pai que queria ter tido quando menor, seria tudo aquilo que ele não teve. Não queria cometer os mesmos erros de seus progenitores e não o faria.
Quando pensava em tudo o que cometera contra ela, não conseguia culpa-la por sua crueza para com ele e a criança me seu ventre. Lembrava-se perfeitamente da primeira noite em que a violara. Sim, ele era um ser tão repulsivo que chegou a ponto de violentar a mulher que amava sucessivas vezes.
Recordava com nitidez as lagrimas dela, o medo nos olhos, a dor e as marcas espalhadas pelo corpo dela. Lembrava-se também do sangue entre as pernas dela. Potter nunca havia tocado nela, alegando que queria esperar o fim da guerra, para que ela não sofresse carregando um filho em momentos conturbados caso algo acontecesse. Ela não dormiu naquela noite, ficou olhando para um ponto qualquer na parede com os olhos perdidos, vazios e encharcados enquanto Tom limpava o liquido vermelhos entre as penas dela com uma toalha úmida. Foram as horas mais dolorosas da vida dele. Pela primeira vez na vida sentiu nojo de si e remorso por seus atos, mas aquelas noites continuaram por meses a fio até chegar aquele ponto.
Pensava em como aquela seria uma ocasião abençoada se Gina estivesse de comum acordo, se fosse da vontade dela também, mas Tom fora insensível o suficiente para ignorar o que ela sentia. Ele era o ser mais egoísta que existia na face da terra. Concluindo esses pensamentos ele deixou o quarto.
Na noite seguinte os gritos dela encheram o castelo em que um dia funcionara uma escola de magia, a velha Drumstrang. Virginia entrara em trabalho de parto e agora Bellatrix e Narcisa a ajudavam na tarefa de botar aquela criança no mundo. Tom caminhava de um lado pro outro dentro do quarto, observando o rosto de Virginia se contorcendo em dor. Após cinco horas em trabalho de parto o choro da criança foi ouvido naquela noite fria e chuvosa.
Gina tombou a cabeça pro lado quando tudo acabou, estava exausta. Tom tomou o filho nos braços enquanto era saudado por Narcisa, Bella e Lúcius. O menino era forte e muito saudável, tinha cabelos negros como os do pai, de fato parecia-se muito com ele. Após embala-lo por alguns minutos Riddle se dirigiu a Bellatrix com voz objetiva.
- Bella me arranje uma ama de leite para ele. Quero que ela esteja aqui pela manha.- terminou com voz definitiva e virou-se para a voz fraca que agora vinha da grande cama de dóceis.
- Pra que uma ama de leite? Você vai me tirar ate a alegria de amamentar meu filho?- Bellatrix e os outros saíram do quarto ao perceber que aquela era uma conversa particular. Tom ficara meio chocado com as palavras da ruiva.
- Pensei em te poupar do sofrimento de conviver com uma criança que só lhe trouxe dor.- falou com simplicidade incomum.
- O que me traz dor é você, Tom. Você não vai levar ele de mim, é meu filho.- ela falou com voz exausta e ainda sim firme.
- Pensei que fosse renega-lo e caso não se lembre ele é meu filho também.- ele falou virando-se de costas para ela.
- Não sou como os seus pais. Sua mãe pode ter se entregado a morte e seu pai o abandonado, mas eu não farei o mesmo com essa criança que não tem culpa do pai ser um monstro. Acredite, vou criar essa criança com todo o amor que houver dentro de mim e vou lutar todos os dias para matar cada traço maldoso seu que houver dentro dele.- ela falou acentuando cada palavra com uma crueldade da qual Tom não se lembrava.
- Creio que terá bastante trabalho se a personalidade dele for parecida com a minha tanto quanto a aparência.- ele disse com um tom levemente divertido.
- Não me importo com o trabalho.- ela deu de ombros -Mas acredito que meu objetivo só será alcançado dentro de um lar de verdade. Eu te odeio mais do que qualquer coisa Tom, mas pelo meu filho eu seria capaz até mesmo de fingir que te amo. Vamos fazer de conta que somos um casal apaixonado pelo menos para que ele não seja um descrente da vida como você.
- Então é isso o que você quer. Fingir me amar, sabendo que eu daria tudo para que essa mentira fosse verdade. Vai dar ao nosso filho uma mentira, para que ela cresça “feliz”. Você é cruel tanto comigo quanto com ele, Virginia!- a voz dele saiu mais alta do que o normal, fazendo o bebe acordar. Gina estendeu os braços para pegá-lo e dar de mamar.
- Aprendi com você. Acredite, não vai parecer uma mentira.- ela falou dando pouca importância ao rosto chocado de Tom.
- Já pensou em um nome para ele?- ele falou apontando para o embrulho nos braços dela.
- Já, mas acho que não vai gostar. Tinha pensado em Harry.- o homem de cabelos negros torceu o nariz.
- NUNCA!- ela já espera essa resposta.
- Já esperava que dissesse isso, então pensei em Miguel.- ele pareceu gostar do nome.
- É um bom nome. Miguel Riddle.- agradou.
- Não, Miguel Weasley.- ela falou em correção.
- Então será Miguel Weasley Riddle.- ele disse definitivo.
- Não somos casados para colocar nele um nome desses.- ela protestou.
- Como ele também não tem apenas uma mãe, ou apenas um pai. Ele terá os dois e se você quer fingir que temos um lar esse é um bom começo.- aquele era o fim da discussão, Tom caminhou em direção a porta e antes de sair virou-se mais uma vez para a “esposa”.- Vou mandar Bella providenciar um berço para colocar aqui. Acredito que ficara mais fácil para amamenta-lo, alem de você poder aproveitar bem a companhia do NOSSO filho.- saiu batendo a porta.
Gina não mentira quando dissera que faria de tudo para que o filho fosse feliz. Ela se empenhava todos os dias na educação moral do pequeno e mais ainda em se mostrar uma esposa amorosa. Fazia isso tão bem que até mesmo Tom passou a acreditar que talvez alguém lá em cima começara a ouvir suas suplicas, mas ele sabia que no fundo o ódio que ela sentia por ele só aumentava a cada dia.
Ela lutou tudo o que pode, amou o filho a cima de tudo, deu a ele uma família e um lar. Era uma guerreira notável e ele se perguntava se um dia ele seria digno de alguém como ela. A verdade é que nunca foi digno de ama-la ou de ser correspondido com o mesmo sentimento.
Ela era seu bem mais caro e também o seu maior pecado, seria sempre assim. Nada de sonhos românticos na vida daquele casal fracassado, apenas a realidade nua e crua, foi assim até o filho completar dezessete anos e ela falecer. Virginia morreu de tristeza acumulada durante todos aqueles anos, mas com a certeza de que cumpriu a sua missão. Miguel era um rapaz de caráter inquestionável e bondade infinita, isso já era mais que o suficiente para ela ter paz de espírito, mas ela também mostrou a Tom que o amor que ele tanto odiava tinha suas recompensas mesmo quando não era mutuo. Riddle adorava o filho, mesmo que esse não fosse o herdeiro de seu império, já que ninguém o seria.
Tom construiu um mundo perfeito na visão dele, um mundo para ele e Gina, feito para que os dois fossem felizes. Nem uma coisa nem outra. Ele não conseguiu dar a ela a felicidade plena, mas deu-lhe o filho que ela tanto amara e de certa forma ele se sentia satisfeito em saber que fizera parte desse amor. E foi em nome de Virginia que ele jurou não dar continuidade aquele mundo novo, tudo aquilo morreria com ele.
A morte dela foi à facada final no peito dele. Sentia que não duraria muito mais tempo e realmente não durou. Tom Servolo Riddle morreu de causas naturais aparentando ter apenas trinta e quatro anos e foi enterrado ao lado do tumulo de Virginia Molly Weasley.
A vida nunca foi muito justa com os dois, mas de certa forma os ensinou muito. Nuca houve um romance ardente, ou uma grande estória de amor entre os dois. A vida de Tom Riddle e Virginia Weasley foi apenas real, nada de ilusões nem falsas promessas, cumplicidade ou carinho, eles apenas viveram e tentaram ter a minúscula parcela de felicidade que cabia a cada um. Não viveram o bastante para ver Hogwarts reconstruída, ou o nascimento de seus netos, também não viram o mundo mágico voltar a ser o que eles conheceram, mas se não fosse esse casal tão inesperado e incompleto o mundo não saberia o significado da palavra milagre, pois foi isso o que eles geraram de seu relacionamento seco. O milagre da esperança e do renascimento.
Eles não foram o fim, mas sim o recomeço. Não há fim para uma historia que nunca começou, mas há sempre uma segunda chance para o amor e o choro daquelas duas crianças que chegaram ao mundo cinqüenta anos depois naquela mesma noite chuvosa era o sinal de que Gina e Tom poderiam ter uma historia a escrever e quem sabe dessa vez ela tivesse um final feliz.
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Obrigada a todos que tem lido as minhas fics, em especial para a Juju_ka que é a unica que tem comentado elas e para agradece-la fiz essa aqui um pouco maior que o normal. Espero que gostem.
Bjux da Gabriela.
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