Cartas e conselhos



Às vésperas de completar 16 anos, há muitas coisas que um jovem poderia estar fazendo. Assistindo televisão, namorando em cantos escondidos, ou observando revistas pouco discretas ao som de Nirvana ou Black Sabbath. Harry Potter não é um desses jovens.


Deitado em sua cama de atravessado, cabeça pendendo e olhos fitando uma parede vazia, o jovem não tinha em sua mente nada parecido com canais de música da televisão. Se observarmos seu quarto mais de perto, veremos objetos curiosos em seus cantos. Uma vassoura, livros grossos, jogados por todas as partes com títulos que variavam de "O mundo em uma bola de cristal" a "Seres Fantásticos e onde Habitam", papéis de chocolate, cartões de figurinhas muito diferentes, capas, caldeirão, e provavelmente algumas baratas e outros seres pouco afáveis. No momento não era isso que importava para o jovem estirado na cama, mas sim os acontecimentos de seus últimos anos.


Ele havia descoberto um padrinho, ganhado algo como uma família e descoberto a verdade sobre a morte de seus pais. Tinha feito amigos interessantes, aprendido coisas além de sua imaginação e feito conquistas memoráveis.
Também havia visto a volta do maior medo que assombrava a realidade de seu mundo, e vira a poucos passos de distância a queda de alguém que exercia um papel mais que importante em sua vida.


A morte de seu padrinho ainda não havia desocupado sua cabeça. Durante os dias, nos momentos em que algo não recordava momentos de sua vida, a cena de sua luta com Bellatrix Lestrange, e a queda pelo véu lhe voltavam, à noite, os mesmos sonhos vinham assombra-lo.


Já passava de meia noite, e uma brisa suave entrava pela janela, balançando as cortinas de seu quarto e criando vultos nas paredes. Uma coruja branca entrou pela janela, trazendo uma carta em seu bico.


"Edwiges!" sussurrou. "Que tem aí?" Harry levantou-se para acender a luz, com a carta já nas mãos. Afagou a cabeça da coruja e pôs-se a ler.


TOC TOC


"Está aí moleque?! Responda" - Tio Valter grunhiu por detrás da porta. Depois da conversa com Moody na estação King's Cross os Dursleys estavam de muito mais boa vontade com Harry, e já fazia mais de três semanas que voltara para a cosa dos tios.



"Estou, tio Valter." - respondeu em um tom monótono. - "O que quer?"


"Duda não está se sentindo muito bem. Devia haver algo errado com os bolos daquela padaria. Amanhã mesmo vou leva-los a processo!" - replicou furiosamente. Não é que os bolos tivessem algum problema, Harry tivera a chance de experimentar um pedaço esquecido por Duda na geladeira; mas quando se come uma meia dúzia de bolos de sabores diferentes, com chantilly extra, um distúrbio estomacal era algo esperado.


"Que tenho a ver com isso? Não acha que por acaso EU envenenei os bolos de Duda? Eu não estava com vocês quando foram compra-los além do mais -"


" Não é isso, não é isso!" tio Valter interrompeu, com pressa. "Petúnia e eu vamos levar Duda ao médico. Deus sabe o que esses padeiros podem ter colocado nesses bolos."


"E...?"


"Bom, você... não é pra você sair dessa quarto entendeu?!" disse energicamente. "Isso é, pode ser perigoso sair por aí com esse Lord Voldicoisinha arás de você. Aquelas.. pessoas...Seus amigos mesmo disseram isso..."


Harry sorriu com escárnio atrás da porta. É claro que seus tios só tinham o melhor em mente para ele.


"Certo, tio Valter. Tentarei me conter caso me venha um desejo insaciável de sair na rua no meio da madrugada." Respondeu com desdém.


Sem dizer mais nada, os Dursley saíram, o som de seus passos morrendo conforme se afastaram. Sem ninguém mais para lhe importunar, Harry sentou-se na cama e abriu o envelope. Era uma carta de Dumbledore.


"Harry, meu caro menino,


Como em passado? Espero que seus tios o estejam tratando bem, como também espero que já tenha saído desse enclaustro de seu quarto e enfrentado a vida novamente.


Será possível que o diretor sabia absolutamente tudo sobre tudo? Harry passou os olhos surpreso pelas primeiras linhas


"A morte de alguém querido sempre nos faz sofrer, meu jovem, e é bom derramar algumas lágrimas quando nos sentimos tristes e sós. Sei que deve estar se sentindo culpado, ou mesmo injustiçado no momento, Harry, mas não há nada que se possa fazer. Há aquelas ocasiões em que não podemos só sumir da vista de todos, conforme nossa vontade, o mundo precisa de você, seus amigos se preocupam com você".


"Sim, sei que a morte de Sirius o deixou abalado, e não o culpo por estar bravo. Sirius era um pai e um irmão mais velho para você. Mas a vida continua, Harry, não podemos nos prender a esses fatos tristes da vida. Você está vivo, e o sacrifício do seu padrinho terá sido em vão se você nunca mais voltar a olhar o destino nos olhos e dizer 'Eu posso com você'.


Harry deixou uma lágrima cair no papel, borrando algumas letras. Enxugou bruscamente os olhos e tornou a ler.


"Eu nunca quis que você passasse por isso, Harry e, por um tempo, achei mesmo que tínhamos conseguido virar esse jogo, passado por cima de um destino e uma profecia que foram escritos mesmo antes que você existisse. Achei que pudéssemos evitar a sorte, que, embaixo das minhas asas você estaria sempre seguro. Eu estava enganado, Harry.Não há como escapar à sua sorte, mas podemos enfrenta-la com outras armas. Antes de entender o destino, precisamos aprender como sobrevive-lo.


Estamos posicionados em um grande jogo de xadrez. A batalha está prestes a começar. E você, meu menino, é uma das peças principais.


"Logo você estará retornando ao nosso mundo Harry, e verá as coisas como mudaram. Creio que você deve estar acompanhando tudo pelo profeta Diário?


Harry passou os olhos pelos cantos do quarto, livros, roupas e jornais amassados jogados por todos os lados.


"Tudo é caos, você verá quando chegar. Não se sabe mais em quem confiar, para que lado seguir. Voldemort parece ter voltado com toda a força que tinha em sua primeira revolta.


"Caso esteja se perguntando, sim, você ainda está sendo vigiado por alguns membros da ordem, em turno. A proteção da casa de seus tios, pelos angue de sua mãe é forte, mas não podemos ser pouco precavidos. Remo Lupin procurará você em breve, ele é um dos que se ofereceu para montar guarda na vizinhança. Qualquer problema, não hesite em chamá-los, o sinal é um lenço, ou um pedaço de pano vermelho na janela, e eles irão aparatar imediatamente na casa.


"Logo nos veremos novamente, e, até lá, cabeça para cima, meu jovem!


Sinceramente,


Albus Dumbledore"


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