Apenas Sorria Também



Era uma sala escura, não havia luz, nem a mínima claridade entrava naquele lugar, não havia sequer uma janela, parecia ser uma masmorra. Harry não conseguia enxergar nada, estava preso. “Lumus” ele berrava, mas não adiantava, pois a sala continuava tão escura quanto antes. Ele tentou tatear pelas paredes para tentar achar a saída. As paredes eram feitas de pedra que estavam muito frias e cobertas de musgo. Mesmo se Harry passasse a mão pela porta, ele dificilmente conseguiria distingui-la das paredes, então desistiu. Harry tentou aparatar, mas teve tanto sucesso quanto com o feitiço. Estava começando a enlouquecer, quando escutou uma voz que ele conhecia tanto quanto odiava:

- Harry Potter, finalmente nos reencontramos. – disse a voz.

- VOCÊ... SEU DESGRAÇADO! EU VOU ACABAR COM VOCÊ! ESTUPEFAÇA! – berrou Harry

O feitiço parecia não ter tido efeito novamente, e a voz continuava:

- Então, ainda não consegue fazer feitiços não verbais. Dumbledore não deveria ter me deixado dar aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas, porque percebo que não fui tão bem como pensava, ou, você é burro demais. – debochava Snape

- COMO OUSA FALAR O NOME DELE? – berrou Harry novamente.

- Eu falo o nome dele como falo o de qualquer um. Eu até poderia lhe explicar, mas você não entenderia

- NÃO! CALA BOCA! TRAIDOR! COVARDE!

- NUNCA ME CHAME DE COVARDE! – Snape ficou brabo de uma hora para a outra, tão brabo que nem conseguiu não-verbalizar o feitiço – IMPEDIMENTA!

Harry ficou sem movimentos, não conseguia entender, porque ele não poderia usar feitiços, mas Snape podia.

- É melhor assim... Talvez você não atrapalhe o que eu tenho a lhe dizer...

Snape fora interrompido por uma luz que entrou no lugar, Harry olhou para o lado. A claridade entrava por uma porta que estava se abrindo. Harry viu quem era, mas não podia acreditar, não podia ser...

- Harry! Acorda cara!

Harry abriu os olhos, Rony estava ao seu lado, mas não só ele, todos os meninos do dormitório estavam ao lado de sua cama. Harry logo percebeu que estivera sonhando.

- Que aconteceu? – perguntou Harry.

- Eu é que pergunto. O que aconteceu? Você estava chamando...

- Dumbledore?

- É... Você berrava o nome dele. – explicava Rony assustado.

- Deve ser por causa de tudo que aconteceu. – dizia Neville – Afinal, você era muito ligado a ele.

- É... Deve ser. Mas agora todos já podem ir dormir, eu já estou bem. – falou Harry

Todos voltaram a suas camas, menos Rony.

- Me conta realmente o que aconteceu. Tenho certeza que foi mais um daqueles sonhos que parecem realidade. – sussurrava Rony para Harry.

- Deixa pra depois, quando a Hermione estiver conosco.

Rony consentiu, e foi para cama dormir também. Harry não conseguia, na verdade não queria, porque se Voldemort estivesse manipulando seus sonhos, ele não iria ceder tão fácil. Não, ele não poderia cair na mesma armadilha. Então, esperou um pouco até ter certeza que todos estavam dormindo e saiu do dormitório, sentou em um daqueles sofás bem aconchegantes, e esperou que mais alguém acordasse. Harry olhou pela janela e viu que já estava amanhecendo. Não demoraria até Rony e Hermione descerem do dormitório. Ele esperou meia hora e como nenhum dos dois desceu, foi para o Salão Principal tomar café da manhã. Era o último dia em Hogwarts. Hoje voltariam para a casa dos Dursley, tanto Harry quanto Hermione e Rony que disseram que iriam com ele. Provavelmente os três ficariam lá apenas um, talvez dois dias e depois iriam para A Toca celebrar o casamento de Gui e Fleur. Era isso que Harry pensava enquanto comia, e quando a primeira pessoa, depois dele, entrou no Salão, ele parecia ter se animado um pouco. Era Gina. A garota veio em direção a ele.

- Harry, eu sei que nós não deveríamos estar conversando. Quer dizer, eu sei que você quer que nós não conversemos, mas eu preciso lhe dizer algo. Algo que eu estou querendo lhe dizer desde ontem, após aquela nossa conversa.

- Tudo bem, pode falar.

- Olha... Conhecendo você como eu conheço, eu sei que não vai adiantar falar nada, porque você não vai mudar essa sua idéia, um tanto quanto besta, de me proteger. Então, eu só queria lhe dizer que, eu estarei te esperando, não importa quanto tempo você demorar. Vou sentir saudades? Com certeza. Mas mesmo assim, mesmo sabendo que você pode se machucar, você tem o meu apoio para o que der e vier.

- Obrigado. Gina... Senta aqui, preciso te dizer algo também. – disse Harry encarando a menina. – Olha... Eu posso demorar anos para voltar, então quando eu for, segue em frente e não desanima, fique feliz quando tiver noticias minhas, apenas saiba que, eu estarei pensando em você e sorrindo, eu não irei me machucar, então não sofra, apenas sorria também.

Gina ficou encarando ele por algum tempo, os olhos dela derramavam algumas lágrimas, mas ela não piscava. Harry sabia que se ficasse ali, encarando a garota, provavelmente ele desistiria de sua jornada, então, levantou-se e foi embora. Foi em direção aos jardins do castelo, e começou a correr para fora, como se essa fosse à solução, correu até cair no gramado. Tinha corrido tão rápido ao sair do castelo, que nem percebeu que Rony e Hermione viam descendo a escada, os dois seguiram ele e quando chegaram onde Harry estava perceberam que ele batia no chão com a mão direita, murmurando algo como “é injusto!”.

- Harry! O que é injusto? – perguntou Hermione.

- Tudo! Tudo é injusto. – respondeu ele.

- Mas porque você está “assim”? – perguntou ela.

- Por nada! Na verdade... Eu estou “assim” só por causa de um lunático assassino que está querendo me matar. Só porque toda a esperança de acabar com ele está depositada em nós, três bruxos de dezessete anos.

- Harry, na verdade você tem dezesseis ainda...

- Cala boca, Rony! Não é hora pra brincadeiras – berrou Hermione

Rony entendeu a idéia e nem respondeu para ela, sentou na grama e tentou acalmar o amigo. Hermione continuou:

- Tem a ver com a Gina, não tem? – perguntou Hermione.

- Como é que você sabe? – respondeu Harry, como uma nova pergunta.

- Ela também não estava cem por cento ontem, depois daquela sua conversa com ela. Ela estava um pouco triste, mas acho que ela acabou entendendo a idéia geral da coisa. Mas ela disse que viria falar com você, e pelo seu estado ela provavelmente veio. – explicou Hermione.


- Bem que eu disse para ela ontem. “Garota esperta essa Hermione”. – disse Harry mais calmo, e até quase sorrindo. – Sim. Ela veio.

- E o que vocês decidiram?

- Ficamos na mesma. Não vamos ficar próximos até toda essa história acabar. Não a quero se machucando por mim, afinal ele já a atacou uma vez e nós nem nos conhecíamos direito naquela época, imagina o que ele poderia fazer agora sabendo que eu ela namoramos.

- Você tem certeza que essa é a melhor coisa?

- Sim. E isso é um ponto final... Pelo menos por enquanto.

Harry acabou levantando, e os três voltaram ao castelo. Entraram no Salão Principal, e Harry percorreu todo o Salão com os olhos.

- Não se preocupe Harry. Ela não está aqui. – disse Hermione

Harry olhou para ela, sabia que não tinha aprovado completamente a idéia de ele separar-se da Gina, mas ele tinha certeza de que aquela era a melhor opção. Foram em direção à mesa da Grifinória para tomar café da manhã.

- Então Harry, Rony me contou sobre o seu sonho. – disse Hermione. – O que realmente aconteceu?

Harry contou exatamente o que sonhou. Contou em um tom muito baixo, mas nem precisava tanto porque não havia muita gente no Salão.

- Mas Harry, isso não pode ser verdade. Porque se Dumbledore estivesse vivo, não haveria um quadro dele na sala dos diretores de Hogwarts. – explicou Hermione

- É Harry... Faz sentido. Afinal, você estava presente quando... Quando tudo aconteceu. E pelo o que você contou, pareceu ter sido real. – concordou Rony.

- Eu sei que não faz sentido. Eu também acho que ele... Que ele se foi. Só estou contando o que sonhei.

- Pode ter sido uma armação de Voldemort, você não acha?

- Claro que eu pensei nisso. Por isso que não acho bom ficar pensando sobre isso, então vamos terminar nosso café e arrumar as malas porque nós temos que ir embora hoje.

Terminaram de comer e subiram para arrumar as malas. Quando chegaram à Sala Comunal, Gina estava lá e ao ver que eles chegaram ela correu ao dormitório das meninas. Hermione deu uma última olhada para Harry e correu atrás dela. Enquanto isso, Harry e Rony foram ao dormitório dos meninos, e arrumaram seus malões. Desceram pouco tempo depois, e Hermione já estava lá esperando eles.

- Como ela está? – perguntou Rony – Ela chorou muito?

- Nunca vi alguém tão forte como ela. Não estava chorando, estava apenas triste. – respondeu Hermione

- Mas então por que ela correu daquele jeito?

- Ela correu porque não queria desapontar o Harry. Afinal, ele não quer falar com ela, então ela achou melhor não complicar ainda mais a vida dele.

Os dois olharam para Harry, que ficou em silêncio. Pegou o malão e foi em direção aos jardins do castelo. Hermione e Rony o seguiram. Chegaram perto de um coche, colocaram os malões lá dentro e olharam para o castelo.

- Essa talvez seja a última vez que nós vemos Hogwarts. – comentou Rony.

- Não... Acho que não. Nós iremos vir aqui mais vezes. Afinal, eu vou querer visitar a escola quando for mais velha. – disse Hermione.

- Ou talvez nós venhamos aqui para conseguir alguma informação, porque mesmo tendo uma biblioteca ambulante, ela não sabe todos os livros de cor. Que eu saiba ela conhece apenas noventa por cento dos livros que tem na biblioteca – disse Harry sarcasticamente olhando para Hermione e sorrindo.

Os três entraram no coche e foram em direção ao trem. Quando chegaram, procuraram alguma cabine vazia, assim poderiam planejar mais ou menos o que iriam fazer quando chegassem. Acharam uma. Os três se acomodaram e fecharam à porta.

- Nós precisamos ter um plano. Nem que seja um plano vago, mas alguma coisa nós precisamos fazer quanto a isso. – aconselhou Hermione.

- Mione, eu não acredito que o que nós estamos prestes a fazer requer muito planejamento. Não tem como planejar algo que nós não temos a mínima idéia de como irá ser. Tudo acontecerá como elemento surpresa. – disse Rony.

- Acho que o Rony tem razão. A única coisa que nós podemos saber é que iremos à casa dos Dursley, depois para A Toca e depois seguiremos para Godric’s Hollow. – falou Harry.

- Pelo menos já é um começo. – comentou Hermione

- Quantos dias ficaremos na casa dos Dursley, Harry?

- Talvez uns dois. Não pretendo ficar lá mais que isso. Afinal, Dumbledore queria que eu só passasse um tempo lá, só para a proteção continuar até eu fazer dezessete. Falando nisso temos um problema. A comida. Não acredito que os Dursley serão hospitaleiros e nos darão comida, sabe, se eles quase nem davam a mim.

- Mas então o que iremos fazer? – perguntou Hermione

A bruxa com o carrinho de doces estava passando.

- Que tal doces? – aconselhou Rony

- Como assim?

- Nós vamos ficar poucos dias, podíamos comer doces.

- Eu faço esse sacrifício. – disse Harry rindo.

- Olha, não seria muito saudável, na verdade, seria nada agradável. – disse Hermione. Harry e Rony olharam para ela com a expressão “Não temos outra escolha” – Tudo bem... Eu topo.

Harry chamou a bruxa e acabou comprando todo o carrinho, mas todo mesmo. Milhares de sapos de chocolates, bolos, balas de goma e muitas outras coisas. Colocaram tudo dentro do caldeirão de Harry, que ficou cheio até a boca. Rony comeu alguns doces alegando “Eles iam cair do caldeirão”. Colocaram os sucos de abóbora que compraram em garrafas de plástico conjuradas por Hermione. Depois guardaram tudo no malão e continuaram a conversar.
Passaram à viagem inteira tentando imaginar o que poderia acontecer. Receberam algumas visitas: Neville e Luna. Os dois deram uma passada rápida e logo se despediram. Diferente do que costumavam fazer, pois sempre sentavam e conversavam muito com eles. Provavelmente perceberam que o clima não estava para conversas sobre “O Pasquim”. Horas mais tarde o trem parou na estação, os três desceram. Quando Rony viu os Weasley ali, lembrou que tinha esquecido de avisar sua mãe, não tinha falado pra ninguém que iria com Harry. A Sra. Wealey, como sempre, abraçou todos, dessa vez com um pouco mais forte do que o costume, talvez pensasse que eles ainda não tivessem se recuperado da tragédia, afinal, ninguém realmente tinha. Lupin e Tonks que vieram juntos no trem, para cuidar da segurança, tinham acabado de descer e se juntar a eles. Moody também estava presente. E depois de todos os cumprimentos e abraços.

- Mãe, eu não vou voltar pra casa, pelo menos não agora.

- Como assim Rony? Não seja bobo, você não tem outro lugar para ir. – exclamou a Sra. Weasley ainda limpando as lágrimas dos olhos.

- Eu preciso ir com o Harry... Para casa dos Dursley e depois nós iremos para A Toca. – respondeu Rony tentando se manter tranqüilo.

Percebendo que a Sra. Weasley não iria concordar com a idéia. Hermione tentou ajudar:

- Eu também irei. Mandei uma coruja pros meus pais avisando que eles não precisariam vir me pegar, porque eu iria à casa de um amigo. Nós precisamos fazer isso, pois o Harry terá um caminho difícil daqui em diante, e nós temos que estar junto com ele para ajudá-lo, afinal, ninguém pode andar sozinho por aí nos dias de hoje.

- Mas se é para protegê-lo, que mandem alguém da Ordem.

- Não estamos fazendo isso porque somos obrigados, estamos fazendo porque queremos. Passamos tantos anos juntos com o Harry, tantas confusões e perigos, que seria difícil ficarmos esperando notícias enquanto ele está lutando por todos nós.

- E tem outra, eu já sou maior de idade. Eu nem precisaria estar aqui pedindo para ir, mas mesmo assim eu o fiz. Eu fiz porque não quero que a gente termine brigados como o que aconteceu com o Percy. Você precisa levar isso em consideração, mãe. – argumentou Rony rezando para conseguir convence-la.

- Ele tem razão, Molly. E com certeza não podemos ser egoístas a ponto de privá-lo de algo que ele quer fazer, algo que ele pode fazer, afinal ele estará ajudando Harry a salvar todos nós. – disse Sr. Weasley sério.

- Molly, o que os três têm que fazer, nós não sabemos. Mas com certeza é algo que salvará o mundo bruxo. Algo que Dumbledore queria que eles fizessem. Então, deixe-os ir, qualquer coisa poderão contar com a nossa ajuda. – disse Moody.

Lupin e Tonks olharam para a Sra. Weasley e consentiram com a cabeça, como se dissessem “Pode contar conosco”.

- Eu não vejo alternativa senão aceitar. Mas por favor, vocês terão de mandar notícias regularmente.

- Não se preocupe, nós iremos ficar apenas alguns dias nos Dursley, depois seguiremos para A Toca, para o casamento de Gui e Fleur. Só depois começaremos a nossa verdadeira jornada. – disse Rony cheio de si.

Harry estava tão concentrado na conversa que nem viu que Gina descera do trem e estava logo atrás dos Weasley, escutando tudo. Ela desviou o olhar, Harry também. Todos decidiram que essa era a hora de irem, então se despediram. Não demorou muito até que todos já estavam passando pela passagem para a estação dos trouxas. Despediram-se de novo, até que só sobraram Harry, Rony e Hermione.

- Harry, onde estão seus tios? – perguntou Hermione tentando localiza-los sem sucesso.

- Acho que eles não entenderam muito bem aquela conversa de eu estar me tornando adulto. Pensaram que eu poderia ir “pra casa” sozinho. Olhando a nossa situação, o único jeito é aparatar.

- Mas Harry, você e o Rony não podem e eu nunca fui à casa dos seus tios. Seria difícil eu conseguir.

- Eu levei Dumbledore de volta a Hogsmeade aparatando, não seria difícil levar você junto comigo. E você Rony, não sentiríamos tanta falta se você apenas perdesse meia sobrancelha.

- É arriscado Harry. – disse Hermione angustiada

- Claro, porque enfrentar os Comensais da Morte será totalmente seguro. – brincou Rony. Ele e Harry riram, mas Hermione não pareceu gostar muito dá piada.

- E o Ministério?

- Hermione... Primeiro que eles têm muitas outras coisas com que se preocupar, segundo que o Rufo Scrimgeour virá atrás de mim de qualquer jeito e, terceiro, você não está com medo disso, está? Porque se estiver, como enfrentará o que vem pela frente? – dizia Harry em um tom calmo.

- Não, claro que não... Tudo bem, vamos!

- Rony, é para ir para o meu quarto.

- Certo.

- Um... Dois... Três... Agora! – ordenou Harry

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