Me concede essa dança?
Admito que cometi o meu maior erro e que cheguei em um ponto sem volta, mas quem disse que eu quero voltar. Ninguém se importa muito com aquilo que eu faço, mas parece que dessa vez fiz algo extravagante o suficiente para ser digna de atenção. Tarde de mais, minhas correntes são dele agora.
Era sempre assim, todas as noites as mãos frias sobre mim. Não reclamo, era o que eu queria. Sei que não sou exatamente amada, e nunca serei, mas se eu quisesse amor teria ficado com Harry. Também não é pelo poder e fama, Harry também teria me dado isso. O que eu sempre quis foi atenção e alguém que cuidasse de mim e surpreendentemente o único que fez isso foi Tom.
Eu choraria se fosse outro me tocando, me sentiria suja, mas com ele não tinha problema. Ele não queria meus sentimentos e nem eu os dele, o que ele queria era companhia e isso eu poderia dar. Horas de conversas e vez ou outra risadas. Ele me pedia para tocar piano, mas eu não sabia tocar então enfeitiçava o instrumento e ele tocava sozinho. Muitas vezes Tom adormeceu ao som de piano encantado em meu colo.
Então é isso, um caminho sem volta.
Você me tem em suas mãos
Pra que tentar voltar a trás
Eu já decidi
Daqui pra frente não há arrependimentos
Só eu, você e seus medos.
Ele não usava mais a forma de Voldemort, era exatamente o mesmo Tom Riddle que eu conheci nos meus onze anos de idade. Ele era furioso com todos, mas comigo ele era o mais próximo do “carinhoso” possível. Tratando-me sempre como uma boneca, a final era isso o que eu era para ele.
Riddle fazia de mim o que ele queria. Se ele queria uma mulher carinhosa e compreensiva, uma amante insaciável, uma mãe preocupada, ou até mesmo uma amiga, de mim ele sempre teria. O que Tom quer, Tom consegue, não adiantava eu tentar fugir ou me esconder, ele sempre me achava e me mostrava que eu não era mais livre, eu era propriedade dele. Depois de um tempo parei de tentar.
Pra que chorar se tem que ser assim
Apenas faça o que tem que ser feito
Não vamos pensar no que poderia ter sido
Vamos apenas seguir a musica
Eu, você e nada mais.
Eu vendi minha alma ao diabo e ao que parece ele não aceitava o dinheiro de volta. Sim, eu refiz o diário por vontade própria, derramei meu sangue para que ele voltasse, para ter meu amigo de novo. Consegui, mas ele não me queria como amiga apenas, ele queria tudo aquilo que eu podia dar, queria tudo de mim e sem esforço ele teve.
Eu voltei para ele por vontade própria e ele aceitou. Tornei-me uma Comensal, matei e morreria por ele, não pela causa. Fugi de todo meu passado, minha família, meu noivo, meus amigos, tudo que me enojava e me tornava o que todos queriam que eu fosse. A doce Gina Weasley, que se casaria com Harry Potter e não teria outra obrigação nessa vida alem de cuidar da casa e dar a ele uma penca de filhos. Com Tom eu não tinha essas obrigações.
Eu acordava todas as manhas ao lado dele. Estava sempre bem alimentada e bem vestida. Tom me fazia companhia todos os dias, ficava ao meu lado conversando ou ouvindo um pouco de musica quando não estava planejando um ataque ou punindo ninguém. Acho que ele é tão carente de atenção quanto eu. Talvez fosse apenas nosso destino, obter carinho um do outro.
Nas noites frias ele me procurava. Nessas ocasiões eu tinha medo dele. Ele me caçava, me jogava contra as paredes e pilastras do quarto, me machucava, rasgava minhas roupas e puxava meus cabelos, me pendia na cama e fazia o que queria com o meu corpo. Alias o corpo não era mais meu, e ele sempre deixava isso bem claro. No começo eu chorava e pedia para ele parar, depois de um tempo me acostumei e tudo o que eu sentia era indiferença.
Eu não tinha prazer com ele, eu não estava lá para isso. Depois de entender o que eu havia feito, percebi que o meu propósito ali era o mesmo de quando eu o conheci: servi-lo. E eu fazia sem reclamar, até o dia em que ele quis que eu apreciasse aqueles ritos noturnos, assim como ele fazia.
Realmente fiquei chocada com aquilo. Ele passou a me beijar mais e eu descobri que era bom. Passou a tocar em lugares que me faziam estremecer ou suspirar, era calmo e paciente, cada movimento era preciso e bem calculado, executado sem pressa. Com o tempo eu me rendi e passei a gostar e todas as noites nós repetíamos o ritual que se assemelhava a um tango.
A investida dele, a minha fuga. A insistências da mão dele puxando o meu braço e eu ainda tentando escapar. O braço dele ao redor da minha cintura o fim da resistência. Um rodopio suave e a boca dele procurando a minha, mas elas nunca se encontravam assim tão rápido. Uma tortura para que ele pudesse me conduzir para onde quisesse. Ai eram beijos, laços e apertos lascivos, pernas enroscadas, mãos errantes sobre a pele um do outro, olhares incandescentes e satisfação misturada ao vinho no final.
Preste atenção no ritmo
Pegue-me pela mão e me prenda ao seu corpo
Enlace minha cintura e faça com que eu continue
Não deixe que eu me arrependa
Deixe que nossas pernas se misturem e se confundam
Não há mais no que pensar
Apenas siga a melodia
Um tango todas as noites. Sim, com Tom só podia ser tango, o ritmo dos amantes. Quente e insensível, prazeroso e contagiante, secreto e escancarado, inconstante e intenso, apaixonado e fogoso.
Com Harry nunca foi tango. Com ele era valsa, o ritmo dos amados. Gentil de mais, cuidadoso e puritano, inocente e insípido, cada toque era quase pecaminoso e imperdoável, nada de paixão ou fogo, nada de cumplicidade. Sempre previsível e sempre com o mesmo gosto enjoativo de declarações de amor açucaradas.
Com Tom cada noite era sucedida por uma manhã com rosas vermelhas e vinho tinto ao lado da cama, na mesinha de cabeceira. Com Harry eram rosas brancas e uma xícara de chá, quando queria ser ousado dizendo que queria mais, era café.
Será sempre assim
Eu, você e os meus recuos.
Mostre-me a melodia contagiante
Seduza-me e faça o que bem entender
Sou sua boneca
Apenas mantenha a taça cheia de vinho
Para que eu não me lembre de nada mais tarde
O cinzento dos olhos de Tom sempre me calavam em uma discussão silenciosa na qual eu acabava nos braços dele, pedindo por mais carinho e ele por uma eternidade.
Eternidade era uma palavra constante no vocabulário vasto dele. Com o tempo se percebe que ele tem medo da morte e mais ainda de ser esquecido. Varias vezes eu o ouvi sussurrando no meu ouvido que queria uma eternidade de tudo aquilo: poder, posse, paixão e Gina. Eu costumava adorar quando ele citava o meu nome no final de sua confissão e ainda adoro.
Para que arrependimentos quando se tem um homem como ele por perto? Com ele eu estava satisfeita em todo e qualquer emprego da palavra. Com Tom era como estar em um inferno com o gosto do paraíso, era mergulhar em alto mar sem se preocupar com a profundidade, dançar sem musica sob o luar, a tontura leve depois de um copo de vinho ingerido depressa de mais.
Nada de medos ao lado dele, já que ele era o próprio. Fim de historia. Eu nasci para ser dele, para ser a boneca que ele controlava como um mestre de fantoches. Nasci para estar ao lado dele, para segurar sua mão quando ele estivesse no topo do mundo, para ajuda-lo a subir e para permanecer por toda a vida sendo dele ou como ele dizia: “Você nasceu para ser a minha Lady”.Nunca duvidei disso.
Um dia tudo acaba
Mas nossos momentos serão eternos
Se enrosque mais em mim
Um tango tem que ter calor
Faça-me ser sua companheira
Nessa dança incansável
Se um dia ele caísse, então seriamos os dois no chão. Se ele morresse que fizessem um caixão maior para eu poder caber junto com ele e se Harry entrasse em nosso caminho então duvido muito que ele continuaria sendo o menino-que-sobreviveu, já que seriam duas Avada Kedavra contra ele. Eu iria ate o fim do mundo para estar junto de Tom e não havia ninguém capaz de me impedir.
Chega um ponto em nossas vidas em que não conseguimos imagina-la sem certas coisas. Aquele era o ponto em que eu não conseguia me imaginar sem ele, sem nossas conversas demoradas, sem a musica e os cochilos dele no meu colo. Eu não saberia viver mais sem os nossos tangos e se possível eu queria viver para sempre, para compartilhar da eternidade com ele dançando.
Era assim que eu queria que nossos filhos se lembrassem de nós.(sim, eu tive filhos dele, alguns pequenos descuidos, dois para ser exata). Queria que pensassem em nós como um casal de dançarinos no eterno jogo de sedução do tango, pois era essa a cena que eu imaginava. Eu, sozinha olhando para o chão e ele se aproximando com sua mão estendida me perguntando: “Me concede essa dança?”
Sim, um dia tudo acaba.
Mas quando não houver mais musica
Apenas se lembre
Das noites insaciáveis
Dos acordes destorcidos
E de quando você me perguntava:
“Concede-me esse ultimo tango?”
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