Poções caseiras na palma da mã
Parte I – Junho de 1992
Nota da Autora: Para localizar-se na história, lembre-se de que Harry Potter nasceu em 1980, portanto em Junho de 1992 estaria terminando seu primeiro ano letivo em Hogwarts.
Capítulo Um: Poções caseiras na palma da mão
- Jorge Renato Weasley! O que você pensa que está fazendo?
Percy acabara de encontrar seu irmão, Jorge, e a artilheira do time de quadribol, Alícia Spinnet, se beijando em um corredor que eles provavelmente pensaram não ser muito freqüentado.
- Eu... estou beijando a Alícia – respondeu Jorge largando a mão da menina, com cara de culpado.
- Vocês dois deveriam estar em aula! Vou relatar isso à professora McGonnagall e tirar dez pontos da Grifinória por cada um!
- É claro – disse Jorge irônico – Agora é proibido beijar, não é mesmo?
- Vocês têm só treze anos – disse Percy com ar de importante – Agora, é melhor voltarem para a aula antes que eu lhes dê uma detenção.
Alícia puxou o braço de Jorge, mas este não se moveu.
- E o que é que você está fazendo fora da aula, Percy?
- Se faz questão de saber, o prof. Flitwick está doente e minha aula de Feitiços foi suspensa. Agora, saiam da minha frente. É bom que eu não fique sabendo que você andou matando mais aulas para namorar, Jorge, ou vou escrever para a mamãe.
Jorge agarrou a mão de Alícia e saiu decidido do corredor, tomando o cuidado de falar bastante alto:
- Sabe, Alícia, o Percy tem inveja de nós. Ele tem quinze anos e não tem uma namorada!
Percy se afastou, indo para o lado oposto do corredor, irritado, fingindo não ouvir as palavras de Jorge.
Mas isso era quase impossível, pois acabara de ouvir a pura realidade: seu irmão de treze anos tinha uma namorada e ele não. Percy nunca sequer beijara uma garota. Não que ele não quisesse, lógico. No ano anterior tentara se aproximar de uma colega sua, mas ela se afastou impiedosamente. Depois disso, ele proibiu a si mesmo de se apaixonar. “Afinal, eu não preciso de uma garota” ele tentou se convencer, enquanto entrava na biblioteca “tenho mais é que me dedicar aos estudos”.
Assim, Percy sentou-se mais uma vez na biblioteca, acompanhado apenas por livros didáticos: que não desprezavam e não magoavam. Afinal, eram apenas livros.
Penelope Clearwater era uma estudiosa quartanista da Corvinal. Ela estava na aula de Aritmancia tentando resolver os exercícios passados pela professora, mas sem muito sucesso, pois as suas amigas não permitiam que ela se concentrasse.
- Você tem que falar com o Patrick hoje, Mariana!
- Ou vai perder pontos com ele!
- Vocês é que vão perder pontos se não fizerem a tarefa – avisou Penelope, sem tirar os olhos do pergaminho.
- Não diga besteiras, Penelope, Patrick não liga para isso. Aliás, ele nem estuda Aritmancia!
Penelope não disse mais nada. Sabia da empolgação de suas amigas Rebecca e Stephanie, perante o fato de que o paquera de Mariana parecia estar interessado nela. E Penelope também estava feliz por sua amiga, que encontrara alguém de quem gostasse.
Afinal, ela não tinha ninguém. Em longos catorze anos, Penelope nunca conseguira um namorado. Não por falta de pretendentes, é claro. Mas ela nunca encontrara o menino certo. Queria alguém que a amasse, que a respeitasse, a fizesse feliz. E estava um tanto difícil encontrar alguém assim em Hogwarts.
A sineta tocou anunciando a hora do almoço. Mariana, Rebecca e Stephanie já estavam com o material guardado, pois nem sequer haviam retirado-o das mochilas. Elas saíram apressadas da sala sem esperar por Penelope, que gritou um “Boa sorte” para Mariana, sem certeza de ter sido ouvida.
Ela foi a última a sair da sala, andando devagar e pensativa.
Lembrava das conversas que tinha com a sua mãe nas férias de verão. Você precisa de um homem inteligente, ela dizia. Um homem inteligente, com boas idéias. Ah, quem é que ligava para as notas de um garoto? O importante para Penelope era o modo como ele a trataria, somente isto.
Como não quisesse ir ao Salão Principal e comer sozinha (pois sabia que suas amigas estariam falando com o tal Patrick), dirigiu-se à biblioteca, o professor Snape tinha passado uma redação de revisão particularmente difícil sobre poções de emagrecimento.
- Com licença – disse ela direcionando-se à Madame Pince – A senhora sabe me dizer onde eu posso encontrar algo sobre poções de emagrecimento? É para uma redação – acrescentou depressa quando a mulher lançou-lhe um olhar desconfiado.
- Poções Caseiras na Palma da Mão – respondeu a bruxa com voz tediosa – estante número quarenta e três.
Penelope agradeceu e dirigiu-se à estante. Foi correndo os olhos pelos livros de todas as prateleiras. Envenenando o Cachorro de seu Vizinho, Manual de Poções da Primeira Série... Nada de poções caseiras. Em nenhuma das estantes. Talvez estivesse lá, mas os pensamentos sobre sua mãe e sobre Mariana e Patrick estivessem distraindo-na.
Apoiou as costas na estante e deixou escapar um longo suspiro. Foi então que ela viu que havia mais alguém ali. Um garoto com cabelos ruivos e muitas sardas estava sentado sozinho à uma mesa, com a cabeça apoiada em uma das mãos, e corria o olhar por um livrão mofado. Parecia não ter notado que ela estava ali – as pilhas de livros à sua volta haviam bloqueado-lhe a visão. E sob uma dessas grandes pilhas disformes estava um minúsculo livrinho azul marinho intitulado Poções Caseiras na Palma da Mão. Penelope pigarreou para chamar a atenção do menino.
- Quê? – perguntou ele olhando para os lados espantado.
- Desculpe o incômodo... Você vai precisar desse livro? Não tem outro.
O garoto levantou a montanha de livros e ofereceu o que Penelope queria.
- Pode pegar, não vou usar agora.
- Ah, muito obrigada! Só vou redigir uma redação, amanhã eu devolvo.
Penelope foi embora e o ruivo voltou a se concentrar em seus livros.
Tinha sido um dia cansativo para Percy, que passara todos os intervalos entre as aulas estudando na biblioteca. E ainda tivera que ralhar com duas alunas do segundo ano que andavam perambulando pelo corredor proibido do terceiro andar.
Ele entrou exausto na sala comunal da Grifinória e viu os gêmeos sentados comportadamente em um sofá, conversando com Rony, Harry e Hermione. Percy lançou um olhar desconfiado aos dois, que podiam estar tentando convencer os primeiranistas a quebrar alguma regra.
As palavras de Jorge ainda ecoavam claramente na sua cabeça quando ele atirou-se em sua cama, no dormitório quase vazio: “... ele tem inveja de nós. Ele tem quinze anos e não tem uma namorada”. Como é que seu irmão podia fazer uma coisa dessas?
Percy não entendia por que aquilo lhe incomodava tanto. Era verdade, ele não tinha uma namorada, e que mal havia nisso? “Amanhã eu preciso pegar o livro de poções de volta com aquela garota...” pensou involuntariamente.
Ele ficou tentando concentrar sua mente nos estudos até adormecer.
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