Capítulo Único
-Ela não pára de olhar pra você.
-Quê? – perguntou Ron confuso.
-Shhh! – exclamou Harry.
Estavam os três no salão comunal, fazendo um complicado trabalho de DCAT. Cursavam o sétimo ano. Hogwarts – por decisão do Ministério da Magia – continuava aberta. Harry tinha fortes suspeitas de que talvez um dos grandes segredos sobre uma das Horcruxes estava no castelo. Se não fosse por esse motivo, os três amigos não estariam ali. Provavelmente, estariam viajando para um lugar distante, e não sentados em suas poltronas preferidas em frente a lareira tentando se concentrar em seus deveres no meio de toda a agitação dos grifinórios.
-Sobre o que você está falando? – insistiu Ron.
-Ela.
-Ela quem?
-Está sentada ao lado de Parvati totalmente alheia ao que a amiga está falando. Só fica te encarando. Parece que quer te engolir só com o olhar. – Hermione não sabia por que não conseguia falar o nome dela. Reconhecia que era uma atitude infantil, mas alimentava um incrível ódio por ela.
Ron, ainda atordoado, seguiu a direção do olhar de Hermione e se deparou com quem ele andava evitando desde que voltara a Hogwarts: Lavender Brown. A garota repentinamente ficou corada e interrompeu o monólogo de Parvati para cochichar algo, ainda assim, sem tirar os olhos de Ron.
-Ah... Ela. – Ron voltou sua atenção ao pergaminho.
-Dá pra vocês dois ficarem quietos? – reclamou Harry. – Se vocês não perceberam, o conteúdo do sétimo ano é absurdamente difícil. Estou tentando me concentrar!
-O que é isso? A doença de Hermione pega? – Disse Ron, sufocando risadinhas.
-Ah, muito engraçado Ronald. – Retrucou Hermione. – Eu não entendo porque você considera defeito eu gostar de estudar.
-Estudar não é defeito – Disse Ron. - Mas você estuda demais, Hermione. Às vezes você tem que dar um tempo. Se divertir um pouco.
-Eu acho divertido ler. Gosto. Mesmo.
-Por Merlin! Calem essa boca! – disse Harry se irritando.
Ultimamente Harry sempre estava assim: irritado. Ele levava muito a sério toda essa história de Horcruxes, e isso estava sendo uma imensa responsabilidade para ele. No verão, havia recebido uma carta de McGonagall pedindo para que fosse a Hogwarts. Era o retrato de Dumbledore que queria falar com ele. Pediu para que Harry entrasse na Penseira, pois ali havia deixado uma lembrança importantíssima antes de morrer. Na Penseira, Harry presenciou uma cena que o fez descobrir que talvez a taça de Helga Hufflepuff estivesse em Hogwarts. Depois de férias na Toca – onde foi realizado o casamento de Bill e Fleur – ele, Ron e Hermione voltaram para Hogwarts. Harry quis dedicar todo seu tempo à busca da Horcrux, mas McGonagall disse que se ele quisesse freqüentar a escola, teria que se portar como qualquer outro aluno. Isto é, estudar. Já não bastava o empenho de Harry com a Horcrux, o fato dele ter que se dedicar realmente aos estudos para conseguir boas notas, o que mais o importunava era nada mais nada menos, que Ginny Weasley.
Harry sentia um aperto no coração toda vez que via aquela cabeleira ruiva. Ele havia terminado com ela, e sabia que aquela era a decisão certa a tomar. Só não sabia que depois, quando tivesse que encarar a profundeza daqueles olhos castanhos, sentiria tanta, mas tanta saudade. Saudade de seu aroma floral. Saudade do toque macio de sua pele. Saudade de sua risada, que levantava o humor dele qual fosse a ocasião. Saudade dos belos momentos que passavam juntos na beira do lago. Saudade do pôr-do-sol. Saudade de seus beijos, dos mais doces e carinhosos, aos mais ardentes e apaixonados. Saudade de sua voz. Saudade de toda a segurança que ela o trazia. Saudade dos momentos em que se desligava do mundo e de seus problemas. Saudade de tudo. Dos sorrisos luminosos e encantadores dela. De seus abraços apertados. De todo o conforto, alegria e principalmente, amor que ela trazia a ele. Saudade de Ginny Weasley.
-Ei, Harry! Você está me ouvindo? – perguntava Hermione preocupada.
-Hum? – exclamou Harry acordando de seu devaneio.
-Credo, Harry! Já chamei você umas três vezes, e você ficou aí... Quer dizer... Nem parece que você estava aqui. Ou melhor, você estava. Mas sua cabeça certamente não. No que estava pensando? – perguntou Hermione toda confusa.
-Nada.
-Como assim nada? – foi a vez de Ron falar. – Você ficou aí, com o olhar fixo. Pensando sabe-se lá em quê.
-Já disse, não era nada. – respondeu Harry irritado novamente. Ginny havia acabado de entrar no salão comunal e foi se sentar com um grupo de meninas. Novamente Harry mergulhou em devaneios ao ver o balanço suave daquelas mechas cor de fogo. Por que havia terminado com ela? Por quê? Se ele deixara Ron e Hermione – a quem ele considera família – se arriscarem, por que se separar de Ginny? Em Hogwarts ela corria perigo como qualquer outro aluno. Em vez de ficar sofrendo, poderia estar junto dela...
-Não é nada com Voldemort, é Harry? – Hermione o questionou. Aquele nome fez Harry despertar de novo.
-Voldemort?
-É... Você não está pensando nele, está? – Perguntou Hermione cautelosamente. Ultimamente, Harry estava uma pilha de nervos. Parecia que ia explodir a qualquer momento. Não era seguro tocar no assunto “Voldemort” com ele. Hermione perguntou o mais casualmente que pôde. Fingindo ser pouco caso, fingindo não estar preocupada.
-Não. Não tem nada a ver com Voldemort. Agora pare de me interromper! Quero terminar isso ainda hoje! – disse Harry bufando.
Hermione resolveu não insistir no assunto. Sabia que algo estava preocupando Harry. Não era algo à toa. Ela o conhecia muito bem, e estava preocupada. Pra ela, era como se Harry fosse um irmão. Uma pessoa muito próxima a quem ela queria proteger. Sabia que Harry era meio imprudente em suas atitudes e que normalmente ela é que era sua voz da razão. Ela que lhe falava o que era sensato ou não fazer. Embora Harry muitas vezes não a escutasse, ela gostava de saber dos sentimentos e aflições dele e gostava de poder ajudá-lo. Mas mesmo assim, naquele momento, ela resolveu não insistir no assunto. Não com Harry naquele estado. E tanto que, ela tinha uma redação a terminar. Molhou a pena no tinteiro e continuou a trabalhar.
Nem oito linhas havia conseguindo completar, quando novamente foi interrompida por Ron:
-Hermione?
-Que foi? – disse ela ainda escrevendo.
-Por que... Ah... Bem... Sabe... Por que você me disse... Que ela estava me olhando? – disse Ron meio encabulado.
-Quem? – perguntou Hermione ainda atenta em seu pergaminho.
-Lavender.
Hermione ergueu a cabeça numa rapidez surpreendente e um tanto afobada. Em meio a seu gesto, sua mão esbarrou no tinteiro, e todo o seu trabalho ficou encharcado em tinta preta.
-Droga! – exclamou Hermione, retirando sua varinha da mochila e começando a sugar toda aquela tinta.
-Então? – perguntou Ron depois de um silêncio.
-Então o quê? – disse Hermione tentando desviar o assunto. Por mais que limpar seu pergaminho desse uma tremenda trabalheira, no fundo ela agradecia por ter uma mão tão desastrada. Ela não queria responder a pergunta de Ron. Nem ela sabia por que havia falado aquilo. Estava sentada de frente para Lavender e achou inadmissível o modo como a garota olhava para Ron. Ela não podia olhar para Ron daquele jeito. Estava odiando Lavender com todas as suas forças, quando sem querer, aquele comentário estúpido escapou de sua boca. Ela não pôde evitar. Lavender olhava para Ron como se fosse a coisa que mais desejava no mundo, e como nenhuma palavra que saía da boca de Parvati entrava no ouvido dela, certamente devia estar imersa em pensamentos. Talvez estivesse se lembrando dos beijos quentes e ardorosos que dava em Ron ano passado. A imagem de Ron engolindo a cara de Lavender depois do jogo de quadribol fez a raiva de Hermione subir a tal ponto, que ela mal percebeu quando aquela frase idiota saiu de sua boca.
-Ah... Você sabe... Por que me disse aquilo? – insistiu Ron.
-Ah, Ron! Nem me lembro do que estávamos falando. Essa maldita tinta encharcou meu trabalho... Eu me distraí. – respondeu ela, se fazendo de boba, o que não combinava nem um pouco com sua personalidade.
-Ele perguntou por que você disse que Lavender estava olhando pra ele – desta vez quem falou foi Harry. – Nossa, Hermione! Depois sou eu quem fica aéreo nas conversas...
-É você, sim! – Disse Hermione defendendo-se. – Você fica todo pensativo e nem nos ouve! Eu só me distraí pelo simples motivo de meu trabalho ter sido inundado em tinta!!
-Claro... Depois Ron repete a pergunta e mesmo assim você não se toca. Até eu que estou tentando me concentrar nesse maldito trabalho entendi o que Ron quis dizer. – retrucou Harry.
-Como assim o que Ron quis dizer? O Ron quis dizer alguma coisa?
Desta vez foi Harry quem não entendeu nada.
-Hunft! – Hermione bufou. – Se vocês me dão licença, eu quero fazer esse trabalho, ok? Silêncio por favor!
-É isso o que eu estou falando desde o começo. – resmungou Harry.
Os dois voltaram a atenção aos seus pergaminhos, mas Ron não continuou a trabalhar. Simplesmente ficou olhando para Hermione. Ela ainda não havia o respondido. Ou será que ela não queria responder? Merlin, que milagre! Hermione Granger fugindo de uma pergunta? Mas... Por que ela não iria querer responder? Ron resolveu perguntar para ela mais tarde. Agora ela parecia realmente estressada e perigosa.
-Hermione, você está com seu livro de DCAT? – Perguntou Ron após uns 20 minutos de raro silêncio. – Eu precisava ver uma coisa do capítulo 12 que eu não entendi direito...
-Não, Ron. Está lá em cima, no dormitório. – respondeu Hermione cansada.
-Se você quiser, eu posso emprestar o meu pra você. – Disse uma voz que fez o sangue acelerar nas veias de Hermione. Aquela era a voz que ela mais detestava na vida. Uma voz que era quase que um sussurro, na tentativa de ser sexy. Uma voz típica de garota fútil que Hermione odiava.
Ron ergueu a cabeça assustado. Era Lavender Brown. O que ela queria com ele? Será que ele já não tinha deixado bem claro que não queria nada com ela? Ron abriu a boca para falar, mas foi interrompido por Hermione:
-Ele não precisa do seu livro.
Simples e direta. Mas como ela não queria ter dito isso! Por que essas palavras idiotas lhe escaparam a boca? Por que, Merlin? Por quê? Por que ela não deixou Ron responder já que Lavender se dirigiu a ele? Será que ela tinha medo da resposta de Ron? E se ele aceitasse e Lavender lhe emprestasse o livro e quisesse sentar ali, junto dele? E se em meio de conversas eles resolvessem lembrar dos velhos tempos? Oh, não! Hermione não queria se meter na vida dele, (ou talvez quisesse...) mas ela tinha que impedir que eles voltassem! Pelo bem de Ron, quer dizer. Lavender não era a garota ideal para ele.
-Como disse, Granger? – desafiou Lavender.
-Ron não precisa do seu livro. – repetiu Hermione decidindo aceitar o confronto.
-Isso é ele quem decide, não é? – disse a loira cruzando os braços.
-Pois eu conheço o Ron muito bem e sei que ele não quer seu livro. – retrucou Hermione olhando para cima, já que Lavender estava em pé e ela sentada.
Harry e Ron assistiam as faíscas voarem dos olhos das duas. A algumas poltronas de distância, Parvati esbugalhava os olhos para a cena. Aparentemente não conseguia ouvir a conversa por causa do barulho no salão comunal.
-Você acha que conhece o Ron, Granger. Particularmente, posso dizer que o conheço melhor. O conheço mais profundamente, se é que me entende.
-Escuta aqui, Brown: Volte a sentar com Parvati e fiquem fofocando. É só o que vocês sabem fazer, não? – Hermione estava perdendo a paciência.
-Eu não estou aqui por causa de você, Granger. Estou aqui por causa do Ron. Se ele não quiser minha companhia ele que fale.
Hermione virou sua cabeça na direção de Ron. Parecia querer obriga-lo a tirar aquela garota de lá só com o olhar. Lavender também olhava para Ron, esperando que ele a defendesse.
-Saia daqui, Lavender. – Disse Ron sem encará-la.
Lavender se encheu de ar e parecia que ia explodir. Mas, simplesmente virou as costas e voltou a sentar com Parvati. Juntas começaram a tagarelar, provavelmente falando horrores de Hermione.
-Ron, você expulsou-a daqui! – Hermione não conseguiu se conter e abriu um enorme sorriso.
-Foi você quem a expulsou. – Disse Ron que estava estranhamente emburrado.
-Não, foi você! – ela não havia notado o tom de Ron. – Você disse “Sai daqui, Lavender” – Falou Hermione imitando a voz de Ron e caindo na gargalhada.
-Você a expulsou daqui, Hermione. – Disse Ron sério.
-Bem, pelo menos ela foi embora. – Hermione ainda ria.
-E quem disse que era pra ela ir embora?
-E não era? Não era isso que você queria?
-Como você sabe o que eu quero e o que não quero?
-Ora, Ron. Eu te conheço. – disse Hermione cessando os risos.
-O que te faz acreditar tanto que me conhece?
-Ron! Você não queria a presença dela. Eu sei disso.
-Não sabe não.
-Vai me dizer que queria aquela loira falsificada?
-E se eu quisesse?
-Ron! – disse Hermione abismada. – Você quer voltar com Lavender Brown? – E sem perceber, colocou as mãos sobre a boca.
-E se eu voltasse? Qual é o problema?
-Não posso acreditar nisso!
-Por que não? Não é você quem diz que me conhece e tudo o mais?
-Pare de falar besteiras, Ron. – Disse Hermione olhando para seu pergaminho. Não queria encarar os olhos de Ron. Não aqueles olhos azuis que lhe tiravam o fôlego. Não queria acreditar em Ron. Sabia que ele estava mentindo. Ele tinha que estar mentindo. – Você não ama ela.
-Como você sabe quem eu amo ou deixo de amar?
-Isso eu não posso responder, Ron. Só sei que eu sei. Eu vejo isso. Eu sinto.
Ron não esperava uma resposta dessas. Ele não amava Lavender. Sabia disso. Na verdade, sabia quem amava. Quem ele amava desde a primeira vez que a viu, no Expresso de Hogwarts. Mas nunca ia admitir para ela. Nem para ninguém. Nem para ele mesmo queria admitir. Não queria insistir na idéia de amá-la. Não ela sendo a garota brilhante que era e ele sendo só mais um Weasley...
Houve um silêncio entre eles. Não maior que cinco minutos. A cabeça de Hermione estava cheia de dúvidas. Ele não podia estar falando a verdade!
-Ron... – Disse ela, ainda sem encará-lo. – Se você não ama Lavender, por que está defendendo ela?
-Eu não estou defendendo-a.
-Então... Por que está falando essas coisas?
-Eu só não quero que você se meta na minha vida, Hermione.
Essa resposta foi cruel. Doeu em Hermione. Doeu mesmo.
-Poxa, Ron. Mas eu sou sua amiga...
Esse era o problema. Ambos queriam mais que amizade. Mesmo que nenhum quisesse admitir.
-Hermione, e quando você escreve pro Krum? Você me deixa ler suas cartas?
-Não – Disse Hermione se defendendo. – Mas esse é um caso diferente.
-Por que é diferente?
-É pessoal, Ron!
-O que você não quer, é que eu me meta na sua vida. Então eu tenho todo o direito de não querer você na minha.
-Você não me quer na sua vida? – Perguntou Hermione num tom triste. A única pessoa a quem ela havia admitido a quem amava, era Ginny. Ela contava tudo a Ginny. E Ginny contava tudo a ela. Eram confidentes. Hermione se lembrava de uns anos atrás, uma tarde em que ela e Ginny estavam no dormitório. E elas começaram a sonhar alto. E riam do que diziam. Ginny sonhava com seu casamento com Harry, e inventava nomes para seus filhinhos. Hermione fazia o mesmo com Ron, e as duas riam dos seus sonhos que duvidavam que algum dia aconteceria. Hermione imaginou passar a vida inteira ao lado de Ron. E agora, Ron estava dizendo que não a queria em sua vida.
Essa lembrança foi um tanto dolorosa para Hermione que sentiu uma ardência nos olhos, e interiormente ficou se chamando de boba, enquanto juntava suas coisas e atirava-as na mochila. Hermione ficou em pé e foi subir pro dormitório.
Estava a poucos passos da escada quando sentiu uma lágrima teimosa escapar-lhe do olho. Por que tinha que ser tão boba? Chorar por um motivo tão besta? Simplesmente um dia ela teve um assunto infantil com sua melhor amiga. Por que as palavras de Ron a feriram tanto? Quando quase chegou a escada, ouviu uma voz...
-Que vai fazer? Escrever pro Vitinho? – Gritava Ron de pé em frente a sua poltrona.
Merlin! Por que ele tinha que ser assim? Falar coisas estúpidas? Falar a coisa errada, na hora errada?
Hermione tirou a mochila do ombro e a largou no pé da escada. Limpou aquela lágrima ridícula, embora tivesse receio que seus olhos estivessem vermelhos. Virou seu corpo e encarou Ron, que estava no meio do salão comunal. Como ele havia berrado, ela não foi a única a ouvi-lo e metade das pessoas presentes os observavam.
Então, ela caminhou a passos rápidos, firmes, duros e diretos na direção do ruivo. Enfiou o dedo no meio do peito dele e disse:
-O que eu faço ou deixo de fazer não é da sua conta, não é mesmo? Não se meta na minha vida!
O salão comunal estava em silêncio. Hermione sabia que embora sua frase tivesse sido dura, sua voz havia saído meio falhada. Ela tinha um nó na garganta. O mesmo nó que se alojava ali toda vez que brigava com Ron. Ela tinha raiva e queria feri-lo e machucá-lo. Mas aquele nó parecia estar ali para mostrar o quanto ela estava frágil e fraca por dentro. Ela teve ódio daquele maldito nó. Sua voz soava como voz de choro! Hermione tinha plena certeza de que não fora a única a perceber. Ron a olhava assustado. Viu que ela estava prestes a chorar.
-Por que não posso me meter se você se mete na minha? – Ron deixou de lado a impressão que Hermione ia chorar. Ela estava brigando com ele e ele não ia deixar assim. Pouco se importava se ela estava ferida. Ela havia gritado com ele e enfiado o dedo em seu peito. E o pior, havia defendido Krum!
-Eu não me meto na sua!
-Se mete sim! Quem expulsou ela daqui?
-Você!
-Não! Foi você! E você sabe disso.
-Francamente! Eu não vou discutir isso, Ronald. Você sabe que se eu não tivesse feito, você teria. O que eu acho ridículo é você querer se meter entre Vítor e eu!
-Entre Krum e você? Então vocês estão juntos? – O tom de voz de Ron aumentava em cada frase. Tanto ele, quanto Hermione estavam gritando, e todos os grifinórios assistiam a mais uma das famosas brigas daqueles dois.
-E se estivermos? O que você tem a ver com isso?
Ron abria e fechava a boca sem saber o que falar. Ele acusara Hermione de se meter em seus assuntos. Não podia se meter nos dela!
O silêncio reinou entre eles e em todo o salão comunal. Todos viam Hermione esperar uma resposta de Ron, mas nenhum sabia que ela pouco se importava com o que Ron ia dizer. Nenhum sabia que ela já não estava no salão. Ela, agora estava afogada num oceano azul. O oceano azul dos olhos de Ron...
Seu coração acelerou, e suas mãos ficaram suadas. Ela nunca estivera tão perto assim de Ron. Nunca encarara aqueles olhos azuis daquele jeito. Hermione já não sentia suas pernas, e temia que a qualquer momento despencasse no chão. Não ouvia mais nada. Não sentia mais nada, a não ser as reações esquisitas do seu corpo. Ela esqueceu de tudo. Esqueceu que se encontrava no meio do salão comunal. Esqueceu que dezenas de olhinhos a observavam. Esqueceu que havia brigado com Ron. Esqueceu das palavras duras que ouviu. Esqueceu das palavras duras que disse pra ele. Esqueceu que era Hermione Granger, a garota certinha e sensata. Sensata, ela? Não. Não quando estava encarando a profundeza daqueles olhos azuis. Aqueles olhos que lhe chamaram a atenção desde a primeira vez que os viu no Expresso de Hogwarts. Aqueles olhos, que na época, pareciam tão inocentes em meio aquela pele branca e fofa. Em meio a bochechas rosadas. Aqueles olhos, que anos depois, continuavam a lhe encantar mais e mais. Aqueles olhos, que contrastavam violentamente com mechas ruivas que escoriam pela testa. Aqueles olhos que tinham uma cor única e especial. Um azul que ela nunca viu igual. Um azul tão, mas tão profundo, que tinha o poder de lhe tirar do sério. Hermione estava imersa naquele mar azul. Por mais que ela fosse a mais inteligente do ano, era incrível como ela não conseguia raciocinar. Ela não havia percebido que todos no salão prenderam a respiração. Ela não havia percebido que o azul luminoso a atraía tanto, que ela havia – se isso era possível – se aproximado mais ainda de Ron. Ela queria se entregar àqueles olhos. Ela queria mergulhar naquele azul.
Hermione baixou os olhos e encarou a boca de Ron (que era exatamente na altura dos olhos dela, devido a altura dele). Ela ia beijá-lo... Mas, no momento em que desviou a atenção daquele azul, ela caiu na real. Foi como se tijolos tivessem despencado em seu estômago. Corando furiosamente, ela percebeu o que estava prestes a fazer. E corando mais ainda, percebeu que todos a olhavam. A expressão de Ron era indecifrável, mas, de qualquer jeito, Hermione não percebia isso. Estava encarando seus pés, sentindo que nunca havia ficado tão vermelha na vida. O que havia acabado de acontecer? Parecia que havia ficado uns 15 minutos encarando aquele azul. O que todos iam pensar? O que Ron estava pensando? Hermione quase o beijara! A garota sentiu que se não saísse dali iria fazer papel de mais idiota ainda. Respirou fundo, e sem ter coragem de encarar a profundeza daqueles olhos azuis novamente, se virou na direção da escada.
Mas, antes de ter tempo de dar um único passo, sentiu uma mão segurar seu braço com firmeza. Era uma mão grande, suave, quente e macia. Hermione sentiu um arrepio passar por todo seu corpo. Sentiu o quanto aquela mão era confortável e acolhedora. E então, numa incrível rapidez que ela nem viu o que estava acontecendo, a mão de Ron a puxou, e ela, com o impulso, se virou e se chocou com o corpo dele.
Hermione teve uma fração de segundo para admirar aqueles olhos azuis – agora mais perto que nunca – antes que ela os visse se fechando e ela fizesse a mesma coisa. Sentiu os lábios suaves de Ron roçarem nos seus. Hermione conseguia sentir o coração acelerado de Ron batendo em seu próprio peito. As pernas dela estavam moles, e se Ron não a estivesse segurando na cintura, ela já estaria no chão. Nunca o salão comunal estivera tão quieto. Todos os observavam. Todos. Mas nem Ron, nem Hermione se importavam. Talvez, eles nem tivessem consciência de onde estavam. Aquele era um momento único. Um momento mágico. Eles não sabiam o que ia acontecer depois. O que importava era o presente. Era agora. Eles pressionaram seus lábios um tanto cautelosamente. Não importava se aquilo demorasse. Enquanto mais durasse aquele momento, melhor. Então, enchendo-se de súbita coragem, abriram seus lábios e suas línguas se encontraram. Ambos ansiaram muito por aquele momento. Muito mesmo. E tinham medo de fazer algo errado. Medo de estragar tudo. O beijo deles foi doce e suave. Um beijo carinhoso e cheio de ternura. Um beijo meigo e hesitante. O beijo deles poderia ser só assim, e seria o beijo perfeito. Mas, o amor que eles tinham um pelo outro era cultivado há anos...
Era um amor reprimido. Aquele era o momento. Era a chance. Talvez, aquilo nunca mais voltasse a acontecer. Hermione levou seus dedos trêmulos à face de Ron. Ele tinha uma pele lisa e macia, como um bebê. Seus dedos acariciaram suas bochechas e ela deu um distancia do rosto do ruivo. Ela não sabia por que, mas precisava olhar para aquele azul novamente. Sabia que toda a verdade estava escondida em seu olhar. Ainda com os narizes roçando, Ron encarou Hermione. E ela viu. Ela viu que no meio daquele mar azul tinha uma ilhazinha com as palavras “Eu Te Amo”. Bastou ela olhar no fundo dos olhos dele para ter toda a certeza do mundo de que ele a amava. Uma felicidade incrível, tão grande que nem Hermione sabia se conseguiria agüentar, se alojou em seu peito. Um sentimento triunfante tomou conta de cada molécula da garota.
Ela atirou seus braços em volta do pescoço de Ron, e se pendurou no garoto. Ele era muito mais alto que ela, e ela tinha que ficar na ponta dos pés. Ron a segurou com mais firmeza na cintura, os dois se aproximaram e deram o beijo com que sempre sonharam. O amor reprimido por tantos e tantos anos parecia se esvair por suas bocas. Todo o amor de Ron se alojou em Hermione, e todo o amor da garota se transportou para o ruivo. Foi um beijo quente e ardoroso. Hermione segurava com uma das mãos o cabelo de Ron fazendo-os ficar despenteados. Ron puxava Hermione para mais perto de si, embora isso parecesse cada vez mais impossível. Aquele beijo foi diferente e único para os dois, porque foi um beijo de amor. O primeiro beijo de amor que haviam recebido na vida. Hermione sentiu que sua temperatura subia e aprofundava cada vez mais o beijo. Ron tinha um sabor diferente. Algo que ela nunca havia provado e que sentia imensa necessidade de conhecer. Quanto tempo eles ficaram assim, ela não sabia. Nem ele. Mas ambos sabiam que se amavam e que aquele seria o primeiro de seus muitos beijos de amor.
N/A: Mmm, eu tinha uma N/A bem idiota aqui, que só falava besteira. Então resolvi tirar e parar de tagarelar tanto. Oh, sim, é que eu revisei a fic todinha arrumando coisinhas que me passaram despercebidas há uns tempos atrás.
Essa foi a primeira fic que eu escrevi e por mais que eu não ache que seja a minha melhor, eu tenho um carinho especial por ela.
Quero, acima de tudo, agradecer a Gi, por ser uma amiga tão querida, estar comigo sempre e me incentivar a escrever essa fanfic. Valeu, chuchu!
E é claro, agradeço de coração a todos que comentaram, porque é raro ver uma shortfic com quase 100 coments!
Valeu mesmo, todos vocês!
E, please, entrem na comunidade que minhas fics ganharam:
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=17192807
PS: Só pra esclarecer, os olhos do Ron são azuis sim.
"MA: Qual é a cor dos olhos do Ron?
JKR: Os olhos do Ron são azuis. Eu nunca havia mencionado isso? [JKR tapa os olhos]
MA: Eles estavam ansiosos para que perguntássemos isso.
JKR: Azuis. Os do Harry são verdes, os do Ron azuis e os da Hermione castanhos."
=D
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