Apaixonadamente arrependido

Apaixonadamente arrependido



Vontades
XIII. Apaixonadamente arrependido

Não sei se consigo levar isso adiante, porém creio que vocês, leitores, têm o direito de saber como essa história termina.
Após ler a trajetória de Loraine Lestrange, escrita por ela mesma, caio na realidade e percebo o quão fui cafajeste. Sim, fui um cafajeste.
Nunca percebi como a amava até perdê-la. Sentir seu corpo amolecer-se em meus braços e finalmente entender que aquele fora seu último suspiro, fez um Malfoy chorar.
Eu nunca chorei. Nunca entendi a verdadeira importância das lágrimas. Nunca consegui sentir seu poder reconfortante que servem de escapatória para o meu sofrimento.
Ela me amou, desde o primeiro momento em que estivemos juntos. Sofreu, chorou e matou por mim. Arruinei sua vida e, conseqüentemente, a minha!
Maldita ambição.
Maldito medo.
Eu, Lúcio Malfoy, me pergunto: Por que eu não segui MINHA vontade desde sempre? Amei e ainda amo Loraine! Quero estar junto dela, quero poder sentir sua pele e seu cheiro. Ouvir sua voz, poder dizer que a amo. Coisa que nunca disse e, infelizmente, ela nunca saberá.
Arrependimento é tão fatal quanto a morte, talvez pior. Arrependimento machuca e nos acompanha pelo resto da vida.
Não diga, leitor, que quem vos escreve não sou eu. Sim, sou. Lúcio Malfoy. Um apaixonado arrependido. Um apaixonado egoísta. Um apaixonado que perdeu seu grande e único amor.
Um apaixonado que já não tem vergonha de dizer que ama. Eu amo. Amo, amo intensamente. Amo dolorosa e tolamente.
Aprendi a dizer que amo e já não consigo dizer outra coisa: amo Loraine Lestrange!
Meu amor é tão violento e intenso que lhes peço, por favor, que me batam, chutem e xinguem. Sou um tolo obsoleto. Um tolo cego.
Um Malfoy nunca deixará transparecer seus sentimentos: agirá calculista e insensivelmente. Eu sofro por ser um Malfoy. Sofro por ter abafado meus sentimentos por tanto tempo e sofro por hoje pedir, encarecidamente, ar. Meu ar tem nome, sobrenome e me amava.
Por quanto tempo suportarei?
Por quanto tempo agüentarei nessa cela que chamo de corpo? Sem ar, sem água, sem comida e sem luz?
Tentarei conter as lágrimas de uma vida e descrever-lhes o último suspiro de Loraine.
Estava em meu escritório trancado. Sentindo uma angústia crescente.
Meu Mestre acabara de perder seu poder e eu não tinha idéia de quanto tempo duraria essa angústia. Eu tinha um álibi; poderia provar que não fazia parte dos ataques e que não era um Comensal. Naquela noite de Dia das Bruxas eu estava em casa aguardando ordens.
Assustei-me quando vi Loraine arrombar a porta do meu escritório e cruzar o portal com o rosto muito vermelho, uma mochila nas costas e varinha em punho. Seu corpo termia por inteiro e seus olhos estavam vermelhos.
- Lúcio, me ajude! – gritou esganiçada se atirando em meu pescoço.
- Loraine, o que faz aqui?
- L-lúcio chegaram em meu nome e sabem que sou uma Comensal! – disse desesperada. – Não tenho álibi! Sabem que eu estava na casa dos Longbottom.
- Eu não tenho como te ajudar, Loraine. – disse sem emoção.
- Diga que eu estava com você, por favor. Me levarão para Azkaban!
- Isso pode me comprometer. – disse, virando-me de costas para ela.
Tentei manter o tom mais impaciente possível.
- LÚCIO! POR FAVOR! – gritou em meio a lágrimas.
- Eu não posso fazer nada, Loraine! – bradei. – E se você puder se retirar agora eu agradeceria.
- Por favor. – sussurrou. – Só você pode me ajudar.
- Não, eu não posso. Se te encontrarem em minha casa, nesse estado, podem me incriminar também.
- Seu egoísta! – gritou histérica. – Eu faria tudo e mais um pouco por você!
Seu olhar, mareado de lágrimas, era de decepção. Cortante e massacrante.
- Eu vou embora. – disse finalmente. – Tudo que eu mais quero nessa vida é não te comprometer. - Ela virou as costas pronta para sair da sala. – E caso eu sobreviva, não me procure mais.
- Não, Loraine. – vencido pelos seus olhos, eu a segurei pelo braço. – Fique aqui eu farei o possível para te livrar dessa.
- Eu não quero mais sua ajuda. – murmurou. E deu um passo a frente.
Eu a puxei com força para perto de mim, seu rosto e blusa estavam úmidos. Seu olhar era um misto de raiva e angústia. Sua respiração, acelerada.
Abracei-a com força, com a fútil idéia de fundir seu corpo ao meu e protegê-la para sempre. Sempre fora baixa e de aspecto delicado, frágil e indefeso. A impressão que passava era de que precisava de proteção e olhar atento contínuo.
Para mim, que sempre fui um machista, era uma peça indispensável. Com ela eu poderia demonstrar o quanto sou persuasivo e que sem mim ela nada seria. Nunca tive a consciência de que era uma peça importante na minha vida. Não para eu exibi-la, não para usá-la. Mas sua companhia era necessária para mim, eu precisava tê-la comigo.
- Calma, Lore. – disse-lhe. – Vai dar tudo certo. Inventaremos alguma história para que você não seja presa.
- Lúcio, eu preciso de você. – sussurrou. – Não vou conseguir ficar presa sem poder te ver. – ela me abraçou com mais força.
- Que gritaria foi essa aqui? – Narcisa entrou batendo a porta contra a parede. – O que essa vagabunda está fazendo aqui?
- Vá para o nosso quarto, Narcisa. Depois conversamos. – disse irritado.
- Depois conversamos? – gritou indignada. – Você acha que eu sou o quê? Lúcio Malfoy, eu não admito que traga suas putas para dentro da minha casa!
Loraine soltou um muxoxo cansado.
- Saia daqui. Estamos passando por tempos difíceis e você me vem com esse ciúme bobo?
- CIÚME BOBO? – gritou ela sacando a varinha. – Tire-a daqui, Lúcio.
- Não.
- Tire-a!
- Saia você do meu escritório!
- Essa também é MINHA casa! – gritou indignada. – Sou mãe de SEU filho!
- Narcisa, abaixe essa varinha.
- Se você não respeita sua mulher, respeite seu filho!
- Saia daqui e me deixe conversar com ela.
- Conversar... Conversar. Eu tenho cara de idiota? Enquanto eu estiver aqui, Lúcio, você não vai ficar no mesmo aposento que essa mulher!
- Eu vou embora – falou Loraine, eu a segurei.
- Não vai.
- Quer saber? – gritou Narcisa indignada. – Se ela não sair, saio eu! Direi tudo ao Ministério, Lúcio! TUDO!
- Vá! Incrimine-se também.
Narcisa gritou, gritou mais do que qualquer ouvido poderia agüentar. Estava descontrolada; os olhos saltados e o rosto muito vermelho.
- Avada Kedavra! - gritou em direção a mim e a Loraine.
Um jato verde de luz bateu nela e nós dois fomos ao chão. Bati a cabeça com força no chão e demorei alguns instantes para perceber o que havia acontecido.
Estava morta. Em meus braços.
Senti minhas pernas amolecerem e se eu estivesse em pé, com certeza teria caído.
Não levantei e não faço idéia de para onde Narcisa foi. Fiquei parado sem dizer nada, sem respirar, sem ouvir. Só podia ver aqueles olhos castanhos assustados e seus lábios entreabertos. Em poucos segundo a cor foi extinguindo-se de seu rosto e sua pele esfriando.
Tentei, desesperadamente, convalescê-la com todos os feitiços que pude me lembrar. Nem um suspiro, nem um pestanejo. Nada! Ela havia morrido, me deixado para sempre sem que eu pudesse dizer que a amava.
Quando li esse memorial caí em mim de verdade; percebi o quanto fui egoísta. Me chame de cínico, mas por incrível que possa parecer eu sempre achei que ela gostava dessa nossa relação de umazinha de vez em quando,
Partido em vários pedaços, aparatei até a sua casa e a encontrei toda remexida. Papéis, jornais, vidros quebrados. Tudo revirado.
Subi até o quarto, com a fútil idéia de ficar mais próximo dela. Pensando em cada momento nosso, cada beijo.
Encontrei debaixo da cama, jogado de qualquer jeito, um livro de capa vermelha e grossa. Dentro, numa letra pequena e apertada, toda essa história que você acabou de ler.
Em certos momentos, páginas manchadas como essa. Talvez lágrimas ou até água. Não sei.
Concluo, pois, com um aviso para vocês, leitores.
Não temam em amar, nunca. Não desperdicem o tempo, não se machuquem, não o machuque. Um amor verdadeiro deve suportar todas as barreiras impostas. TODAS.
Acreditem, aliás, não há dúvidas depois desse memorial de Loraine: cada segundo desperdiçado é muito tempo. O tempo não é algo que possa voltar para trás. E nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar. (N/A= Dois últimos períodos extraídas de William Shakespeare).
Não sei o que será de mim daqui para frente. Loraine morta, Mestre foragido, Comensais presos, aurores no meu encalço, um filho de uma mulher que não amo e, esta mesma mulher, insuportavelmente histérica morando dentro de minha casa.
Talvez eu enlouqueça de vez, ou, quem sabe, me livre de tudo e de todos e vá procurar Loraine onde quer que ela esteja.




Fim.

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