Separação



Capítulo 11- Separação



A foto mostrava uma criança de pele clara, com o cabelo negro preso numa trança e um sorriso enorme no rosto.


-Dá pra acreditar que essa é a Lola? –perguntou Gina mais para si que para Harry.


O moreno esticou o pescoço e observou o retrato. A menina devia ter uns seis anos de idade na época, Hilde provavelmente era só um bebê.


-Não, não dá pra acreditar.


Gina ficou olhando para a foto com um sorriso nostálgico, mas ele não conseguia sorrir. Essa filha do retrato não existia mais, e parte disso era sua culpa. “Daqui uns anos pegarei uma foto de Gina e perceberei que a perdi também” pensou ele encarando a ruiva. Na verdade, a batalha contra Gina já havia sido perdida há muito tempo. Ela estava deixando-o.


-Eu andei pensando, Harry. –disse a ruiva desviando a atenção da foto- Acho que seria bom pras meninas passarem esses últimos dias na casa da minha mãe. Não está fazendo muito bem pra elas me verem empacotando caixas.


“Não é só pra ela que isso está fazendo mal” pensou ele novamente, ao desviar seu olhar do dela.


-Claro. Eu tenho mesmo achado Lola muito abatida.


-E n’A Toca ela vai ter um ambiente melhor pra estudar, porque aqui ela levanta o tempo todo para ver o que nós estamos fazendo.


-Ok.


Ele abriu mais uma caixa e viu o que continha, tentou não fazer seu coração disparar quando percebeu que eram presentes de casamento que nunca haviam sido usados.


-O que tem aí? –perguntou ela, ao ver a mudança na expressão dele.


-Presentes.


Ela franziu o cenho sem entender e se aproximou dele, dando um muxoxo quando viu o que continha na caixa.


-Presentes inúteis, você deveria ter respondido.


-Ora, Gina, são nossos presentes de casamento! –indignou-se ele- Por que eles nunca foram usados?


Ela repetiu o muxoxo e nem o encarou.


-Ah, faça-me o favor! Nós vivíamos como trouxas, porque usaríamos um “gnnomicida em forma de flor com agradável perfume” ou “porcelana chinesa de chá que se serve sozinha”? E mesmo como trouxas eu nunca soube fazer fondue, então de nada adiantaria essa panela de fondue. E por aí vai... Não, não! Essa caixas aí também são presentes, não precisa verificar!


Ele ficou parado frente a três caixas grandes olhando estático para ela.


-Nós possuíamos quatro caixas de presentes que nunca foram usados?


Ela pensou por um momento, e quando respondeu tinha um tom indiferente na voz.


-Na verdade só duas caixas de presentes não usados, as outras duas são presentes que foram pouco usados. –então ela diminuiu o tom de voz, como se a partir daquele momento só estivesse pensando alto- Eu acho que eu tinha separado isso pra dar pros outros...


Ele não conseguiu se mover por um momento, sentia-se meio tonto. A vida conjugal deles teria sido dada para os outros, isso se ela não tivesse esquecido da vida conjugal que tiveram. Estava em dúvida do que era pior.


-Algum problema, Harry? –perguntou ela com alguma preocupação, quando viu a expressão pálida e estranha dele.


Ele balançou a cabeça e passou para a próxima caixa.


-Não, Gina. Está tudo bem.

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Ela fechou o livro de Poções. Não estava adiantando nada ficar lendo e lendo. Sentia que quando mais passava os olhos por aquelas páginas, mais burra ficava.


Sua mãe não podia estar indo embora.


Cinco anos para o seu pai tomar uma atitude, e quando isso finalmente acontecia, ela ia para fora do país fazer um curso maldito! Sempre achara que sua mãe voltaria para o seu pai num piscar de olhos, assim que ele virasse gente de novo, mas... Não era assim que estava acontecendo. Ele tinha mudado, mas isso simplesmente não a afetara.


O beijo entre os dois, as memórias da penseira, o fim do namoro de Mark. Achava que tudo isso eram sinais de que ela pensava nele, mesmo que ela própria não soubesse que estava alimentando um amor sufocado. A verdade era bem essa, sempre achou Gina sufocava seu amor por Harry, mas agora percebia que não era isso. Não havia o que sufocar.


E muito mais que isso, sua mãe estava deixando-a!


“Eu só tenho 16 anos, ela não pode me deixar assim” pensava desesperada, enquanto balançava a pena freneticamente tentando acalmar sua angústia. Todos dias Lola levantava esperando ouvir sua mãe dizer que havia desistir de ir embora, que ela e Hilde estavam muito pequenas para ser abandonadas, mas... Ela não era pequena, muito menos Hilde. Hilde talvez fosse muito mais madura do que ela própria.


Jogou-se na cama e ficou olhando para o teto. Há muito se considerava órfã de pai, agora recuperava o pai para virar órfã de mãe. Isso não estava certo.


“E se ele nunca tivesse voltado?” perguntava-se. Se Harry não tivesse mudado e abandonado de vez o mundo trouxa, se ainda as ignorasse totalmente, será que sua mãe teria coragem de ir embora? E se essa resposta fosse sim, quem ela preferiria perder: o pai ou a mãe?


Harry foi o herói de sua infância, o pai perfeito, o cúmplice, o amigo. Mas sua mãe havia sido a guerreira da sua adolescência, a mulher forte, o espelho, uma pessoa a quem amava, admirava e queria seguir. Se pudesse escolher entre um e outro, qual ela escolheria?


Esses pensamentos estavam na sua cabeça há mais de uma semana, desde que a ruiva anunciara que iria embora. E isso sempre a levava na mesma questão: se seus pais tivesse disputado sua guarda no divórcio, com quem ela teria ido? Como teria sido sua vida? Olhou novamente para a maldita penseira.


Sua mãe já a havia emprestado desde que ela convidara a própria Lola a ver suas memórias, mas o que Gina queria que Lola conseguisse enxergar nunca aparecia diante dos olhos dela. O divórcio dos dois era uma lacuna impreenchível naquele quebra-cabeça. Por mais que mergulhasse na penseira, ela sempre via as mesmas cenas felizes e alegres. Nada de brigas, discussões, tristezas ou lágrimas. Por que não conseguia vê-los?


Ouviu o barulho novamente de caixas sendo arrastadas no andar de cima. Saiu do quarto pela milésima vez para ir ver o que eles estavam fazendo. Ficou parada à porta despercebidamente por uns instantes, antes de atrapalhá-los.


-Será que eu preciso comprar novas roupas de frio? –perguntou a ruiva para Harry.


-Eu não sei, Gina –respondeu ele em tom enfadonho.


Lola sorriu ao ver que seu pai estava tão triste quanto ela. Sabia que os dois não voltariam, mas vê-lo assim fazia suas esperanças permanecerem vivas.


“É só o que me resta” pensou ela.


-Precisam de ajuda? –perguntou Lola, tomando coragem para interromper os dois.


Gina a olhou e revirou os olhos, visivelmente aborrecida. Harry a olhou com uma cumplicidade antiga, agradecendo-a mentalmente por estar ali e tornar as coisas mais leves para ele.


-Não, Lola –respondeu, Gina- Pode voltar aos seus estudos.


-Decidi parar por hoje. Vocês fazem barulho demais, não me deixam concentrar o suficiente...


Antes que Gina abrisse a boca, Harry chamou a filha.


-Então venha aqui, Lola. Dê uma olhada nas coisas que estão naquela caixa ali.


Ela foi até o pai tentando não reparar o modo fatal como sua mãe a encarava.


-Qual caixa, papai?


-Aquela ali, à sua esquerda.


Ela abaixou-se e observou o que estava dentro: seu antigo planetário.


-Meu Deus... –ficou ela observando o objeto admirada. Mesmo depois de tanto tempo, aquele presente ainda era fantástico. A mágica que movia os planetas e satélites não havia se perdido.


-Por que ele não ficou no seu quarto durante esses anos? –perguntou ele, realmente curioso- Era uma bonita peça para decoração.


-Não sei –disse a garota tocando o vidro- Acho que porque o meu quarto teria pouco espaço se eu o colocasse lá...


Não, não era por isso. Nos primeiros dias depois da descoberta, olhar para aquele planetário lhe lembrava toda a verdade que tinham escondido dela e a mentira em que vivera. Mas agora isso parecia meio distante e achava novamente o presente dos seus tios uma coisa maravilhosa para se ter por perto.


-Antes da minha festa de aniversário começar –revelou ela ao pai- eu fiquei muito tempo observando esse planetário. Tinha chegado a conclusão de que os planetas e satélites eram movidos por campos de força... –ela sufocou um riso- Estava me preparando mentalmente para começar a estudar isso, só para entender o funcionamento do planetário...


Harry soltou o riso que ela havia sufocado, dando uma sonora gargalhada. Gina havia parado por uns instantes e observou os dois.


-Eu que fui criado como trouxa nunca sequer soube que isso existia. Você era mesmo uma criança muito precoce, Lola.


Ela sorriu como se o pai lhe tivesse feito um grande elogio.


-Ainda é –disse ele a olhando com carinho.


-Ainda sou uma criança precoce? Posso concordar com o precoce, mas...


-Sim, você ainda é uma criança precoce.


Gina tentou ignorar a pontada no seu coração. Os dois voltavam a se dar bem justo no momento em que ela teria que partir. “Melhor assim” pensou ela.

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O resto da semana passou num piscar de olhos. Lola vira o tempo escorrer por suas mãos sem que pudesse fazer nada, via sua mãe preparando para partir sem que pudesse impedi-la.
A morena olhou o pai se despedir e passar pela porta, indo embora. Ela agora estava ao lado de Hilde, e sua mãe estava em frente as duas. Mas aquele não seria um jantar como outro qualquer.


Hilde conversou bastante enquanto comiam, mas nem de longe parecia a mesma de sempre. Estava falando pelos cotovelos, mas como se fosse uma obrigação para não deixar que a cozinha ficasse em silêncio.


-Está quieta, Lola. Algo errado? –perguntou Gina ainda no meio da refeição.


A morena não respondeu nada, só encarou a mãe. Seu olhar foi a maior ironia que poderia ter usado, e a ruiva entendera bem o recado. Virou o rosto e voltou a dar atenção para Hilde.


-Eu mesma fiz a sobremesa! –disse Gina animada, dirigindo-se para a geladeira. Tirou de lá um enorme e suculento pavê de chocolate, que só de olhar já engordava dois quilos.


“Sim... Era disso que eu precisava!” pensou Lola olhando o pavê “Nada como um bom e calórico chocolate para aliviar a tensão”.


Deu a primeira colherada e soltou um suspiro de satisfação. Bom, agora talvez a noite não estivesse tão ruim.


-Gostou? –perguntou Gina ansiosa.


-O quê? Você ainda pergunta? –ela abriu a boca para falar mais alguma coisa, mas não encontrou as palavras então somente comeu outra colherada e soltou mais um suspiro, arrancando sorrisos de sua mãe.


-Achei que tinha que fazer algo especial hoje... –disse Gina de modo contente.


Mas a frase não provocou uma reação contente nas duas garotas. Lola fechou seu sorriso e Hilde passou a encarar seu pavê com uma expressão muito séria.


-Ok, não dá pra fugir desse assunto –disse Gina se ajeitando em seu lugar- Bom, amanhã vocês duas irão para Hogwarts, e eu irei para a Finlândia. Chegarei com dois dias de atraso, mas achei mais importante levar vocês duas à estação do que começar o curso na data certa.


Hilde brincava com bagos de arroz que haviam se espalhado na mesa, enquanto Lola apertava o copo fortemente, tentando se controlar.


-Eu escrevei toda semana para as duas, mas quero que vocês obedeçam ao seu pai. Aliás, é com eles que vocês vão ficar durante os feriados e recessos. Estamos combinadas?


Lola apertou tanto o copo que este se espatifou, voando alguns cacos e sujando a mesa de sangue. Gina olhou para a filha com uma expressão preocupada, mas a morena simplesmente saiu do campo de alcance da mãe.


-Eu não acredito que você está falando sério! –esbravejou Lola, levantando da sua cadeira e gesticulando forte.


-E eu não acredito que você pense que eu estou brincando –disse a ruiva com a voz controlada.


Gina levantou e segurou com força o braço da filha, fechando o sangramento com um feitiço, depois limpando a cozinha.


-Eu achei que isso já estivesse mais do que decidido, Lola.


A morena lhe deu um olhar ameaçador, mas ficou calada. As duas se encararam por um segundo, então Lola saiu correndo para o seu quarto. Gina olhou para Hilde e deu um suspiro de cansaço. Tentou não olhar para a porta por onde a filha tinha fugido.


-Estamos combinadas, Hilde? –perguntou ela, tentando forçar um tom calmo.


-Você não vai embora, mamãe –disse Hilde. A garota estava vermelha, em sinal de nervosismo, e tinha falado com tanta ânsia que sua resposta mais parecera uma afirmação que uma tentativa de negar a verdade.


-Vou sim, Hilde. E você obedecerá ao seu pai e aos seus avós. Eu lhe escreverei toda semana e você me responderá. Será tudo como se você estivesse simplesmente em Hogwarts, nós nos veremos nas férias de julho. Estamos combinadas?


A menina olhava a mãe fixamente sem mover um músculo, com os olhos cheios d’água. Uma lágrima escorreu pelo rosto dela, mas ela nada disse. Gina ficou encarando a filha mais nova com o coração partido, mas tinha que ser forte.


-Você não vai –repetiu a ruivinha antes de se levantar e ir direto para o seu quarto.


-Hilde! –chamou Gina- Olhe para mim.


A menina parou d andar e continuou de costas para a mãe.


-Estou falando com você, Hilde. Olhe para mim.


Ela encarou a mãe com o rosto ainda mais vermelho e com os olhos banhados de lágrimas.


-Isso é importante para mim, minha filha. Esse curso é tudo o que eu podia esperar, e mais um pouco ainda. Essa é uma chance única que eu não posso desperdiçar. Além disso, eu não estou morrendo, o curso só dura três anos. Depois disso eu volto.


A ruiva se calou e ficou esperando a resposta da filha, que demorou alguns segundos para vir.


-Importantes, mamãe, são as coisas. O meu relicário é importante, a sua pérola rara colhida por acaso no por do sol é importante, colar de Lola é importante...


-Colar de Lola?


-...o piano louco que o vovô enfeitiçou é importante, a velha penteadeira que a vovó não troca por nada é importante. Objetos que têm valor sentimental para nós é que são importantes. As pessoas são imprescindíveis.


Gina parou de segurar suas lágrimas e ficou encarando a filha, as duas num choro silencioso.


-Você é imprescindível, mamãe. E é por isso que você não pode ir embora. Por isso que você não vai.


Antes que ela dissesse qualquer coisa, Hilde novamente lhe deu as costas e foi para o seu quarto. Pela primeira vez estava vendo Hilde ser infantil. “Ela tem esse direito” pensou Gina, limpando suas lágrimas. Mas tinha certeza que Hilde ficaria bem. A menina se adaptava bem às mudanças, e ela aceitava o consolo dos outros com maior facilidade. Ia superar.


Estava preocupada mesmo era com Lola.


Secou totalmente as lágrimas e dirigiu-se ao quarto da filha mais velha. Deu dois toques na porta e chamou pela filha.


-Lola?


A garota nada respondeu, Gina então abriu a porta. Lola estava deitada de bruços na cama, abraçada com o travesseiro e de costas para ela. A ruiva puxou a cadeira da escrivaninha e sentou-se de frente para a filha.


-Está na hora de nós deixarmos certas coisas claras, Lola.


A garota continuou de costas para ela, abraçada com o travesseiro. “Bom, ela não tentou tapar os ouvidos, isso deve ser um bom sinal”. Mas não era o suficiente.


-Lola, vire para mim e vamos conversar –disse ela num tom de impaciência.


A garota se moveu num gesto brusco e violento, encarando a mãe com raiva no olhar.


-Conversar? Você não veio conversar! Veio impor uma viagem estúpida e me fazer parecer ridícula por não aceitá-la!


-E você acha que você tem o direito de não aceitar? –perguntou Gina com naturalidade. Na verdade, a calma com que Gina falou foi tão grande que foi como um soco na boca do estômago de Lola. – Você realmente acha que tem esse direito?


A menina não respondeu nada, ficou respirando ofegante, sentindo-se acuada.


-Você fez o seu pai criar um concurso só para que você pudesse participar desse curso de Poções. Passou a barreira do ético e do certo...


-Hey! Eu vou ganhar honestamente! Eu sou a melhor!


-É a melhor, mas não tem idade nem a qualificação exigida para tal curso. Portanto você não pode fazê-lo. E mesmo assim você fez o seu pai criar um jeito de contornar isso só para satisfazer o seu desejo.


-Não é um desejo supérfluo! –esbravejou ela.


-Não entra em questão se é supérfluo ou não. A verdade é que você não poderia fazer isso... Mas você vai. Por que é importante para você.


Ela desviou do olhar da mãe, olhando para o chão e depois fechando os olhos, num longo suspiro. A batalha estava perdida.


-Você já me entendeu, não é mesmo?


Ela balançou a cabeça com muito custo. Gina então sorriu fracamente e se levantou para dar um beijo em sua testa.


-Eu vou levar vocês duas na estação amanhã. Tente dormir bem.


Ela ficou imóvel até que a mãe saísse do quarto. Essa noite seria um inferno.

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No outro dia todos acordaram cedo, com cara de quem não havia dormido direito. Lola não havia dito uma só palavra desde que acordara, já Hilde não sorrira nem fez nenhum comentário sobre Hogwarts.


A campainha tocou. “Até que enfim” pensou Gina indo atender a porta. Harry estava parado com as chaves do carro na mão.


-Todas prontas?


-Não. Entre.


Ele olhou as malas das meninas em um canto e as malas e caixas de Gina em outro. Então percebeu a expressão abatida da ex-mulher.


-Como estão as coisas?


-Pior do que o esperado –disse Gina num suspiro- Tente conversar com as duas, animá-las. Mas não toque no assunto da minha partida. –ela parou e pensou um pouco- Faça Hilde ficar novamente animada por ela estar indo para Hogwarts.


-Eu posso tentar... –disse ele passando a mão pelos cabelos.


Ele entrou sozinho na cozinha e as duas terminavam de tomar o café-da-manhã sum silêncio total.


-Que clima de velório, hein? –gracejou ele.


Lola nem sequer se deu ao trabalho de olhá-lo, enquanto Hilde o encarou com um ar irônico. Ele não se abalou, esperava essa reação. Sentou entre as duas e se serviu também do café.


-Ora, vamos! Isso não é tão ruim assim...


-Não? –perguntou Loa com voz estupefata- O que você consideraria pior, papai?


-Eu considero muito pior, Lola, não ter tido pais. A sua mãe está indo viajar, mas lembre-se de que eu sequer tive uma mãe.


A morena abaixou a cabeça envergonhada, odiava quando os outros estavam certos. Mas isso também não era o suficiente para aplacar a dor dela.


-Vocês duas estão estragando um momento que deveria ser importante para Gina e estragando um momento especial de vocês também. –voltou ele a dizer, olhando então para Hilde- Principalmente para você. Não deixem que esta viagem abale vocês duas. Vocês estariam longe dela de qualquer forma, pois hoje vão para Hogwarts, e lá nem teriam tanto tempo assim para sentir saudades da mãe de vocês que ficaria sozinha aqui nessa casa. Pelo menos agora ela estará feliz lá, fazendo o que ela gosta de fazer.


Hilde olhou para a irmã, como se dissesse que o pai poderia ter razão. Mas Lola desviou o olhar da irmã, olhando para o pai.


-Muito bonito tudo o que você fala, papai. Mas você só diz isso porque também não tem um jeito de prendê-la aqui.


Harry deu uma gargalhada e passou a mão na cabeça da filha.


-Um dia você vai aprender que não se prende um amor. Deixa-se livre. O que é seu volta para você...


A morena abriu a boca para retrucar, mas ele a cortou antes disso.


-...e como ela não voltou para mim, simplesmente não me pertence. Gina tem o direito de ir para onde quiser, e nós todos devemos entender e respeitar isso. Pela nossa felicidade e pela dela.


Finalmente o ar de guerra contra todos fugiu do olhar de Lola, dando lugar a um desamparo total. Os olhos da menina se encheram de lágrimas, e Harry a abraçou, dando um beijo na testa da filha.


-É só uma viagem...


Ele fez sinal para Hilde e a pequena também se aconchegou no pai. Ficaram assim por um tempo, até que ele separou o abraço.


-Agora terminem com isso. Vocês têm um trem para pegar.


As duas obedeceram e ele levantou-se, ia já colocar as malas no carro. Passou por Gina quando saía do apartamento, ela lhe deu um sorriso de piedade, ao qual ele respondeu com um beijo na testa dela.


-Obrigada –disse ela.


Ele lhe deu outro beijo e continuou descendo as escadas. Assim que todas as malas estavam devidamente ajeitadas no carro as três desceram, Gina lhe entregou as chaves do apartamento.


-Não se esqueça de tomar conta daqui também, e de pagar o salário de Zilk, a menos que você mesmo queira limpar o apartamento.


-Ah claro! –sorriu ele- Sempre pensei em ser zelador...


Ela sorriu e todos entraram no carro. A viagem foi menos tensa do que ela estava esperando. Harry estava agindo naturalmente e isso fez com que Hilde se sentisse mais solta também. Aos poucos o gelo que havia no carro estava praticamente todo quebrado.


Quando desceram a estação estava fervilhando de gente. Hilde finalmente parecera se dar conta de que estava finalmente indo para Hogwarts, olhava para os cantos extremamente agitada, fazendo comentários nem sempre oportunos.


-Lola! –a morena ouviu alguém a chamar. Olhou para trás e Meíssa vinha em sua direção- Como sempre atrasada, não?


-É um mal da minha família... –respondeu ela, abraçando a amiga.


-Animada, Hilde? –perguntou Meíssa, sem deixar de rir da pequena.


-Sim, sim!


-É, percebe-se... –riu ela novamente, então se voltou para Harry e Gina- Olá, Sr. Potter. Olá, Sra. Weasley.


-Olá, Meíssa.


A garota se aproximou um pouco mais da amiga então perguntou:


-É verdade que os dois reataram?


-Não –disse Lola num sorriso triste- E eu tenho péssimas notícias a respeito disso... Mas lá dentro a gente conversa.


Meíssa assentiu e ajudou a amiga a levar seu malão e o de Hilde para dentro do trem, mas deixou as duas despedirem à sós da mãe.


Gina ficou encarando as filhas, tentando encontrar palavras que pudessem explicar o que ela sentia, mas não conseguiu. Abraçou as duas muito forte e deu um beijo em cada uma.


-Eu vou voltar em breve. Vocês nem vão reparar a minha falta.


Hilde abraçou novamente a mãe, e Lola seguiu o exemplo da irmã. O apito do trem soou e elas tiveram que entrar. Ficaram na janela observando a imagem da mãe diminuir a medida que o trem se afastava, até que ela desapareceu de vez numa curva. Então as duas se encararam.


-Então... –disse Lola.


-Pois é...


Lola deu um sorriso amarelo e passou o braço pelo ombro da irmã.


-Vamos logo para a cabine. Você não vai querer ficar dando mole por aí...


-Por que não? –perguntou Hilde curiosa.


-Porque...


-POTTER! –cortou uma voz. As duas olharam para trás e Lola empalideceu um pouco- Achei que eu nunca veria o seu pai... Não é que ele existe mesmo?


-Deixe o meu pai fora dessa história, Lew. Ou você não sabe o que irá te acontecer...


O garoto tinha um jeito despojado, meio malandro. Olhou para Hilde com um olhar simpático e então sorriu para Lola.


-Essa é a pequena Hilde! Da família também... Dá cá um abraço, cunhadinha! –sorriu ele abraçando a ruivinha.


Lola puxou a irmã de supetão.


-Ela não é sua cunhadinha, você não é da família e pare de nos atormentar! –rugiu ela puxando a irmã pelo braço- Vamos, Hilde!


Ele parou na frente dela, impedindo a passagem.


-Ah, não, Potter. Voe já vai assim?


Ela tentou se desvencilhar e acabou por rebentar o seu cordão, que caiu no chão. Ele a olhou extremamente sem-graça e pegou o colar do chão.


-Desculpe, eu não tive a intenção... Olhe, está bom agora –disse ele consertando o objeto.


-Muito obrigada –disse ela com ironia- Agora com licença.


Lola saiu batendo o pé e a pequena seguiu a irmã ainda confusa. Então parou de andar de repente e olhou para Lola.


-Mas ele não é o menino que você gosta?


Lola ficou vermelha como um pimentão, então deu um beliscão em Hilde.


-Nunca mais repita isso, ouviu?


-Mas...


-Mas nada! Cale a boca e pronto!


As duas entraram na cabine e essa estava vazia. Meíssa devia ter ido cumprimentar alguém. Lola sentou e viu um livro grosso ao lado do seu malão.


-Ah sim, esqueci que tinha emprestado esse livro para Meíssa... –disse ela mais pra si mesma. Hilde pareceu meio assustada quando viu o livro, mas a morena não notou.


Lola abriu seu malão e tirou a penseira de lá, deixando-a no banco enquanto ajeitava o livro. Hilde olhou com interrogação para o objeto.


-A penseira da mamãe? Por que trouxe isso?


-Ela me deu. Disse que é pra eu usar quando ficar estressada por conta do curso...


Hilde deu um sorriso maroto.


-E que tipo de recordações será que a mamãe guardava aí?


Lola ficou séria olhando para a penseira.


-Um tipo de recordações que eu não consigo ver...


A menina a olhou confusa, mas Lola não se deu o trabalho de explicar.


-Posso tentar? –disse Hilde.


-Como quiser... –disse Lola com indiferença, ainda ajeitando suas coisas.


A pequena mergulho na penseira e Lola a observou. Será que a menina só veria as coisas felizes, assim como ela? Bom, já estava cansada de ver aquelas mesmas memórias, mas de repente sentiu vontade de acompanhar a irmã. Mergulhou na penseira também.


Mas o cenário ali estava muito diferente.

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Harry parou o carro novamente e acompanhou a ruiva até o portão de embarque. Os dois se encaram profundamente e de repente ele não sabia aonde colocar as mãos ou o que fazer.


-Então é isso, Harry –disse ela exibindo um sorriso sem-graça e dando um abraço pouco caloroso nele.


-B-boa viagem –disse ele com a voz trêmula.


Ela abriu a bolsa e tirou um pequeno pedaço de papel.


-Aí tem um telefone pelo qual você pode me encontrar. Eu não sei como eles fazem isso, mas há certos aparelhos que eles próprios construíram experimentalmente que resistem à magia. –então ela deu um sorriso irônico- Bom, devem estar encantados também...


Ele pegou o papel e viu que não havia somente um número, mas também um endereço.


-E aí está o endereço de onde eu vou estar. Me escreva se algo acontecer.


Ele não respondeu nada, apenas a encarou e deu um meio sorriso. Seu estômago estava se remexendo todo. A mulher da sua vida estava indo embora e ele não estava fazendo nada.


Ela ficou parada ainda mais um tempo encarando-o, como esperando a reação final dele. Harry não faria nem um escândalo? Nenhuma última tentativa antes dela partir? Não faria declarações de amor tentando impedir que ela fosse embora? Quando percebeu que nada disso ia acontecer, simplesmente sorriu novamente e passou pelo portão, encaminhando-se para a lareira internacional, que oferecia menos riscos a viagens longas, embora fosse menos confortável.


Ela ficou em uma das filas como o coração na mão. Olhava sua passagem carimbada e não conseguia crer que estava abandonando uma vida inteira para ficar três anos afastada de todas as pessoas que amava.


“Vai passar num pulo” pensou ela, tentando se controlar “Quando eu mal perceber já estarei de volta”.


Desejava que isso fosse verdade.


Faltava só duas pessoas para que ela fosse também quando ouviu o grito.


-GINA! GINAAAAAAA!


Ela olhou para trás com o coração saindo pela boca. Ele realmente ia fazer um escândalo. Harry vinha correndo e driblando todos os seguranças, até que parou em frente a ela e a segurou bem firme pelos dois braços.


-Você... não pode ir. Não pode. Eu já te perdi uma vez por mentir, te perdi outra vez por me omitir. Não posso te perder agora que resolvi parar de me esconder!


Os guardas se aproximaram, mas ele conjurou um escudo protetor, sem parar de encará-la.


-Quando você me deixou o meu mundo caiu. N-não parecia real que você pudesse ter ido embora. –ele dizia tudo freneticamente, deixando-a mesmo um pouco tonta. O corpo dele tremia da cabeça aos pés, e ela estava sentindo suas pernas bambearem também- Então eu pensei em ir atrás de você e te forçar a ficar comigo, mas aí eu pensei “o que é seu volta pra você”. E aí eu te soltei. Deixei você livre, não te procurei nem procurei as meninas. Mas você não voltou. Aliás, voltou com um pedido de divórcio.


Ele estava chorando publicamente. Harry Potter, aquele que sempre se recusara a expor sua vida amorosa estava chorando por amor no meio de todos.


-Eu aceitei o divórcio porque pensei “ela não vai resistir muito tempo sem mim”. Mas você resistiu. Não pedi a guarda das meninas porque pensava que você não daria conta delas sozinha, e viria pedir a minha ajuda, pedir pra voltar pra mim. Mas você sempre foi muito mais forte do que todos supunham... –ele abaixou a cabeça e limpou o rosto, voltando a encará-la sério- Eu arranjei outras namoradas porque pensei “ela vai ter ciúmes”. Mas você não tinha. Eu sumi porque pensei “ela vai sentir falta”. Mas você não sentia. Eu deixei a minha vida toda passar porque pensava que a sua também não teria sentido sem mim. Mas tinha. Você aprendeu a viver sem mim, mas eu nunca aprendi a viver sem você.


Ela só não caiu porque ele a segurava muito forte, de modo mesmo que acabava por machucar seus braços, embora ela não estivesse reclamando. Ele a encarava profundamente, aguardando uma reposta, com um olhar muito ansioso.


-Gina...


-Harry...


Ele parou de falar e sentiu o peito doer de tão forte que o seu coração batia. Ela então deu um sorriso amarelo.


-Me ligue ou me escreva se algo acontecer –disse ela se soltando dele.


Gina ainda deu outro sorriso amarelo, como se pedisse desculpas, então olhou morrendo de vergonha para todos que observavam tudo extremamente estupefatos e tomou coragem. Ajeitou sua bolsa e embarcou. A Finlândia a esperava.

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N/A: Ê capítulo grande! Meo Deos...rs Eu tive que me virar muito pra atualizar dessa vez, mas... Valeu a pena! Bom, pelo menos pra mim valeu! Rsrs Espero que pra vocês também. E voltando a minha velha campanha, se vc leu e gostou, deixe uma resenha e faça parte da campanha ‘Eu faço uma autora feliz’!rsrs Depois de todo o esforço eu acho que mereço...rsrs Bjusss

Tonks & Lupin: Ah, espero q esse cap esteja a altura do anterior!rsrs Até pq dessa vez eu cumpri o combinado e naum demorei tanto... Bjusss

Leticia Brito: Ah, q legal! rsrs Vc me add no orkut!!!rsrs Mas se vc tava com pena do Harry no cap anterior, rsrsr q dirá nesse!rsrs Um dia ele supera... eu acho!rs Bjusss

Ju de Paris: rsrsr Bom, não só o Mark foi embora, rsrs Agora a Gina foi também! rsrsr *sim, eu acho q isso foi meio cruel...rs*. Mas quem sabe um dia eles num se ajeitam? Bjusss

Igor Lestrange: Ah, muito obrigada mesmo pelos elogios, rs eu realmente me esforço pra essa fic dar certo. Me deixa feliz saber q vc está gostando!rs Bom, e na verdade eu tb quero saber o q vai ser da Gina e do Harry d agora pra frente...rsrs Brincadeira! Vou guardar o jogo... Bjusss

Renata Nakazato: Ah q lindo, vc leu outras fics minhas e gostou!!!!rsrs Ô, d boa, fikei feliz demais!rsrs Espero q vc contineu gostando da fic, ela ainda promete!rsrs Bjusss

MarciaM: Sim, a Gina realmente foi pra Finlândia e até mesmo eu estou com pena do Harry, mas o q se pode fazer...rsrs Ele devia ter tomado inicitavida antes!rsrs Mas eles ainda têm jeito...rs Continua lendo e aguarde...rs Bjusss

julinha: Sim, sim! Aí está o novo cap, e nem demorou tanto assim!rs Espero que goste! Bjussss

Doug Potter: É, dessa vez eu cumpri o combinado, não demorei muito pra postar! Espero que tenha gostado! Bjusss

carol potter: Bom, a intenção no inicío da fic era juntar os dois no final...rsrs Mas vai q ela conhece um finlandês lindo, maravilhoso e cheiroso q a faça muito mais feliz?rsrs Vamos ver...rs Bjusss

Brita: Desejo atendido, tá aí a novo atualização! Espero que goste... Bjusss

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Comentários (1)

  • Natalie Mayer Black

     COMO ASSIM FINLANDIA A ESPERAVA?? O LINDO DO HARRY, QUE ELA AMA ACABOU DE FALAR TUUUUUUUUUUDO E ELA VAI MESMO EMBORA???? Desculpe o desabafo kkk imagino a reação da Lola e da Hilde vendo isso :S continue assim   Natalie Mayer Black Weasley

    2012-01-30
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