Lembranças amargas.
A sala da Toca estava repleta de caixas no chão, pelo tamanho da desorganização parecia que iria ter uma mudança ali. O tempo que se mostrava por detrás da janela era nublado, os vidros embaçados com o frio que fazia lá fora.
Era a época do ano que ele mais gostava, era tempo de reunir família e amigos, trocarem presentes, se divertirem juntos... O natal sempre foi assim, uma alegria constante. Porém nesse ano não seria igual, não seria tão divertido como nas vezes em que ela estava presente.
Enquanto ele pensava nela, via sua irmãzinha, que não era mais aquela menininha tímida e indefesa, agora com 19 anos, tirando os enfeites de natal das caixas que estavam no chão, e colocando sobre a árvore que a pouco tinha sido arrumada por ele no canto da sala.
- Rony, o que está fazendo? Vai ficar só olhando aí? Mamãe saiu pra fazer as compras e deixou-nos para arrumar a árvore. Vamos, venha ajudar também! - Gina pegou a mão do irmão para fazê-lo levantar.
- Me deixa em paz, Gina! - ele se levantou, e rumou para a porta, irritado.
A sua irritação nada tinha a ver com Gina, ele sabia que ela só tinha chamado para ajudar pra que ele não ficasse mais triste e cabisbaixo pelos cantos. Só que ele não podia evitar o que sentia no momento, era uma mistura de uma irritação e infelicidade, toda vez que pensava no verão deste ano, toda vez que pensava nela...
Com a proximidade do Natal ele via o tanto que ela fazia falta, aquela época lhe fazia mergulhar em memórias de momentos felizes deles dois.
Ele já imaginara mais de uma vez como seria se ele tivesse agido de outra forma, se ele tivesse ao invés de criticado, incentivado, encorajado ela. Mas tudo já tinha acontecido, está no passado e ele não podia fazer nada pra mudar o que foi feito, ele tinha que superar e seguir a vida, assim como ela deve ter feito.
No mesmo momento, uma menina de cabelos volumosos e castanhos, estava sentada no sofá lendo um livro que ele nem sabia do que se tratava, pois estava tão absorta nos seus pensamentos que nem prestara atenção no que lia.
Ela agora morava sozinha, um apartamento que ela tinha imaginado compartilhar com ele, afinal, depois de tanto tempo que se conheciam e pelo tanto que eles se gostavam, ela o queria ali, junto dela. O porquê do fim, ela não sabia direito. Foi uma besteira, pensou ela.
Há, aproximadamente, seis meses antes. Ela estava na Toca, junto com Gina, Harry e ele. Os quatro estavam aproveitando o verão, eles juntos era a melhor diversão que poderia ter nas férias.
- Ah, vamos Rony! A água está boa, venha nadar um pouco! - Hermione gritou pra ele, no rio, que estava junto com Gina nadando.
-Harry! Chega mais perto aqui, quero falar de alguma coisa muitíssimo séria. - Gina olhou para Harry séria, talvez séria de mais para alguém que estava se divertindo na água.
- Não pense que vai me enganar de novo, Gina. Eu já aprendi a lição, quando você me jogou na água, com esse mesmo papo furado, no verão passado! - Harry olhava pra ela rindo da cara de zangada dela.
- Ahh, assim não vale! - Gina falou incrédula. - Você nunca esquece né?!
- Bom, vamos entrar em casa, Harry? - Rony virou-se pra Harry, que estava observando Gina na água por um instante.
- Está certo. Nos vemos depois Gina, divirtam-se! - Harry saiu, vendo que gina tinha feito um bico, mas logo depois tinha começado uma conversa com Hermione.
- Nossa, hoje eu realmente cansei. Não preciso nem do Sr. Binns falando sobre História da Magia pra pegar no sono!
- Pois é, mas qual é Rony, vai dizer que você não sente saudades das aulas dele? - Harry riu pro amigo, pensando no tempo em que ainda estudavam em Hogwarts.
Rony riu junto e falou, observando o sol se pondo lá fora. - O pior é que é verdade não é? Quando estávamos lá, por pior que poderia ser a gente se divertia. Sinto saudades daquele tempo...
- É, e acho que a gente poderia ter aproveitado mais... O último ano, as garotas... - Harry e Rony se olharam, e riram. Era a maior verdade isso, Rony só tinha tomado a coragem de pedir Hermione em namoro depois que a grande guerra acabou, quando Voldemort sumira de vez. Essa guerra que os tirou de Hogwarts antes do tempo e que os uniu para lutar. O incrível foi que através da tristeza e violência da guerra saiu uma coisa boa, o amor. Ele se viu de frente a morte, e a sensação de deixar o mundo daquela forma sem falar nada do que sentia para ela era sufocante.
Assim, quando acabou a guerra Rony viu-se obrigado a falar tudo à Hermione, que logo o aceitou e falou que sentia o mesmo, para sua felicidade. A partir dali sua vida foi só alegrias.
Depois de um tempo viajando em suas lembranças, Rony falou - Muitos dos que estudavam com a gente não vi mais... Nem sei o que estão fazendo no momento, a não ser Neville, que trabalha no ST. Mungus, ajudando no setor de "Envenenamento por poções ou plantas".
- É mesmo, eu vi Simas ano passado, parece que agora ele está trabalhando na Floreios e Borrões... - Harry disse pensativo.
- Luna que se deu bem! Ela está trabalhando como pai dela no Pasquim, parece que está dando certo, e era o que ela sempre gostou de fazer! - Gina apareceu no meio da conversa chegando junto com Hermione de fora, fazendo com que eles olhassem para ela sobressaltados.
- Ah sim, ela está fazendo uma coluna sobre a mistérios e curiosidades por trás da magia. É uma boa oportunidade de ela abordar os assuntos que ela sempre se interessou - Disse Hermione, logo após - Tinham que ver a última coluna dela, era sobre "a conspiração dos Leprechauns e o poder de suas moedas", foi hilária!
Uma coisa não se tinha dúvida, as colunas da Luna, ao menos, deveriam ser muito bizarras e cômicas.
-Mione, desde quando você lê O Pasquim? - Falou Rony, de repente, com um certo sarcasmo.
- Ah... Eu só dou uma olhada as vezes. Sabe, nem de todo é ruim, na verdade o jornal melhorou bastante desde tempos atrás. - Olhou desconcertada para todos, que estavam quase rindo da situação.
- Falando em cargos, Hermione, eu ainda não tive a oportunidade de parabenizar você por ter conseguido um! - Harry falou sorrindo para a amiga. - Você mereceu!
Hermione corou por um momento - Obrigada, Harry.
Rony, deslocado, perguntou - Que cargo, mione?
- Ah, Rony, eu ia te contar... - Ela parecia ter ficado confusa de uma hora pra outra agora.
- Contar o QUÊ? - Rony respondeu já um pouco alterado.
- Bem... Eu consegui um cargo no Ministério, sou encarregada do departamento de cooperação internacional em magia, foi feito um teste e eu passei! É um cargo bom, tem um bom pagamento, acho que vou conseguir dinheiro pra comprar um apartamento, sabe... - Hermione, falava que nem uma metralhadora, jogando as palavras no ar rapidamente - vou precisar de um, porque o trabalho não é bem perto daqui... - falou baixinho por fim, olhando para o chão. Ela sabia que ele não iria aceitar...
- É incrível isso! Primeiro, faz teste e nem me conta. Depois não fala que passou e que vai ir pra longe daqui. Por acaso eu sou o que para você Hermione? Até o Harry sabia, garanto que Gina também! - Olhou irritado para Hermione. Naquele momento ele sentia uma raiva e uma energia que não sabia da onde tinha surgido.
- Rony, não é o que está pensando! Eu só não contei do teste pra você antes porque não sabia se iria passar! Eu não queria que você me visse como uma perdedora, se ao caso de eu não ter ganhado... - Ela se abaixou, parecendo acanhada por um momento, parecendo estar prestes a entrar em prantos - Só não contei pra você antes porque você é a única pessoa com que me preocupo, sua opinião vale muito para mim! - Hermione falou com lágrimas nos olhos.
Rony a observava sem falar nada, por mais que ela lhe explicasse, nada iria mudar, ela contou a todos, menos pra mim!, pensou ele.
A pior coisa além de ela não ter lhe contado, era o fato que ela iria ficar longe dele.
- Rony! Não fique assim, você ouviu o que a Hermione falou... Dê um desconto para ela. Ela estava pensando em ti! - Gina falou para o irmão.
- Gina, não se meta nisso! - grosseiramente, falou Rony para Gina, que ficou ofendida com a resposta dele.
- Vamos Gina, é melhor deixar eles a sós. - finalmente falou Harry.
Gina e Harry saíram, deixando os dois na sala, num silêncio que permaneceu por um bom tempo, o que parecia para Hermione ter demorado um século.
- Você por acaso iria me contar isso? - por fim, falou Rony, com uma voz mais baixa, mas firme, como se todo aquele assunto tivesse sugado o seu ânimo.
- Mas é claro que eu ia Ron! Você acha que eu deixaria de falar uma coisa tão importante assim? - Falou Hermione parecendo ofendida pela pergunta. - Pelo amor de Merlim!
- Eu duvido... Você só quer saber de si mesma e de sua ridícula profissão! Não ta nem aí se vai ir pra longe, até deve ficar animada porque finalmente vai poder se livrar de mim! - Rony com raiva, fitando Hermione que agora já estava chorando.
- Você não sabe de nada Ronald, nada mesmo... - disse com uma voz chorosa.
- É bom, acho que estou me acostumando com isso! - Disse Rony, encarando ela.
E aquelas, foram as últimas palavras que trocaram desde então.
A esperança de que algum dia fosse tudo aquilo esquecido, era impossível por um tempo, mas quem sabe com o tempo, tudo se ajeitará da melhor forma, era o que ela desejava.
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