Sonhos e pesadelos
A casa situada no número 12 do Largo Grimmauld estava cheia agora. Todos aparataram e entraram rapidamente. Gina tinha subido com Hermione e Ron para o quarto, ansiosos, aguardando a chegada de Harry e Dumbledore, enquanto Luna, Neville e os gêmeos foram para a cozinha preparar um pouco de chá enquanto conversavam. Aparentemente, os gêmeos iam onde quer que Luna fosse, e Neville os seguia por falta de opção mesmo, já que o trio subiu apressado as escadas sem ao menos chamá-lo.
- Eu sabia! – disse Gina, dando um soco na porta, enquanto entrava – Eu sabia que ele ficaria com Dumbledore!
Ela sentou-se de qualquer jeito na cama, olhando para todos os lados, aguardando Harry a qualquer momento. Hermione e Ron jogaram-se no chão, olhando um para o outro apreensivos.
- O que você acha que pode ter acontecido? – perguntou Rony a Hermione – Quer dizer, por que eles não voltaram ainda?
- Não sei, Rony – disse Hermione – Mas eu começo a ficar chateada também com essa mania deles de querer nos proteger de tudo! Sabe, chega! Olha a situação em que estamos! Todos podemos ajudar, não consigo entender...
BAQUE!
- O que foi isso? – disse Gina, quando todos silenciaram.
- Veio lá de baixo – disse Rony – Venham, vamos ver!
Os três desceram as escadas correndo para ver o que tinha acontecido, e deram de cara com uma enorme confusão no hall.
- Mas que diabos...
Ron não teve a oportunidade de completar a frase. Ao chegar ao último degrau, junto com Hermione e Gina logo atrás, viu uma das piores cenas de sua vida: havia sangue por todo o lado e um corpo sem vida pairava no ar, sustentando por feitiços.
- Arthur, me ajude aqui! – gritou Moody, suando e em desespero.
- Mas o que aconteceu! Pelo amor de Deus, Moody, conte-nos...
- Calma, Molly, calma! Vamos por aqui, depois contamos tudo!
O corpo de Quim Shacklebolt flutuava em direção à sala, onde Tonks e Lupin estavam arrumando o sofá. Estavam igualmente machucados, porém vivos. Lentamente, eles pousaram o corpo do auror morto sobre os panos velhos, fechando-lhe os olhos. Molly estava atormentada, chorando muito.
- Ah não, começou! – gritava – Mais um morreu! Mais um! Quem será o próximo? Quando esta guerra irá terminar? Ah meu Deus!
- Calma, Molly, por favor! – gritou Moody, desta vez impaciente – Já não basta tudo isto aqui? Calma!
Um barulho na porta. Alguém tinha chegado.
- Mas o quê...
- Rony, abra a porta! – ordenou Lupin – Ou melhor, deixe seu pai abrir. Me desculpe.
Ron fez um sinal de que estava tudo bem e voltou para o lado da irmã e de Hermione, observando o corpo coberto na sala e aguardando com expectativa a entrada dos visitantes. Viu que Tonks estava com um ferimento no rosto e as vestes cheias de sangue, enquanto Lupin e Moody apresentavam arranhões sérios por todo o corpo. O que quer que tenha acontecido, tinha sido bastante grave.
- Ah, Dumbledore... – disse Arthur, visivelmente perturbado, porém contente com a chegada do diretor - Por favor, entre!
Ron olhou para a porta e viu Dumbledore entrando, seguido de Harry. Ambos estavam intactos, como se tivessem ido a um passeio e não enfrentado dezenas de Comensais. Antes que pudessem dizer qualquer coisa sobre o acontecido, foram guiados por Moody, que mostrava a Dumbledore o que tinha acabado de acontecer.
- Não...
O diretor pareceu chocado por um momento, mas em seguida uma profunda melancolia marcou os seus olhos. Ele olhava atentamente para o corpo de Quim Shacklebolt sem vida no sofá e, colocando a mão sobre o ombro de Lupin, pediu-lhe silenciosamente:
- Vamos providenciar um enterro decente para a próxima manhã. Era um grande homem e merece algo à altura. Conte, Alastor, como aconteceu?
- Venha, vamos explicar tudo – disse o auror, chamando todos para a cozinha.
Harry não estava entendendo nada. Há poucos minutos, eles estavam enfrentando os Comensais. O que tinha acontecido com os aurores da Ordem? Onde eles estavam? Estava ansioso para saber.
- Como ele morreu? – perguntou Harry a Ron e Hermione, quando estavam sentando.
- Não sabemos, também estamos surpresos – disse Rony – Nós estávamos lá em cima te esperando e de repente...
- Ouvimos um barulho – interrompeu Hermione – E, quando descemos, ele estava morto. Provavelmente vieram de algum lugar, alguma missão da Ordem. E aqueles Comensais? Como vocês...
- Meninos! – interrompeu a sra. Weasley – Por favor, por favor... – Ela fez um sinal para que ficassem quietos com a aproximação dos outros membros da Ordem. Dumbledore liderava o cortejo, seguido por Lupin, Moody e Tonks. Arthur estava na sala terminando de limpar o sangue pelo chão e pelas paredes.
Todos se sentaram, embora Moody e Lupin preferissem ficar de pé. Harry notou como as olheiras de Lupin estavam profundas, mas evitou fazer qualquer tipo de comentário. Ele olhou para o seu rosto, e tudo o que fez foi levantar uma das sobrancelhas em sinal de cansaço. Era nítida sua necessidade de pelo menos algumas poucas horas de sono.
- Outro ataque, Alastor? – Dumbledore perguntou – Onde?
- Alvo, os meninos...
- Molly – interrompeu Dumbledore calmamente – Os meninos já estão suficientemente crescidos para ouvirem qualquer coisa que possamos falar. É importante que saibam de tudo o que aconteceu.
A sra. Weasley mordeu os lábios e se sentou, suspirando profundamente. Alguns segundos depois, Moody começou a falar.
- Voldemort sabe dos nossos planos. Mandou Comensais atrás de nós quando estávamos no meio do caminho. Não eram muitos, mas nos pegaram de surpresa. Quim e Tonks estavam dormindo enquanto eu e Lupin fazíamos a vigília.
- Quase não tivemos chance de nos defender – disse Lupin, e todos perceberam que a pausa feita tornou sua voz mais angustiante – Eles levaram... Greyback, Dumbledore.
Fenrir Greyback era o mais sanguinário lobisomem que trabalhava à serviço de Voldemort. Todos ali sabiam que ele também era o responsável por Lupin sofrer daquele mal todos os meses.
- Quem mais estava? – perguntou Dumbledore, com a mesma voz calma e serena de sempre.
- Lúcio. MacNair. E...
Tonks engoliu seco. Moody tossiu bastante alto. Lupin respirou fundo até que, por fim, completou:
- Snape – disse, pegando a xícara de chá e levando aos lábios - Ele estava com eles, Alvo.
Harry imediatamente olhou de Lupin para o diretor, percebendo que todos na mesa fizeram o mesmo. Um assombroso silêncio tomou conta da mesa, quebrado apenas por Dumbledore.
- Entendo – ele disse, levantando-se – Bem, precisamos providenciar um enterro adequado para Quim amanhã de manhã. Molly, poderia mandar uma coruja à sua família? Acredito que eles gostariam...
- Ãhn, Dumbledore? – disse Lupin, se precipitando para perto do diretor – O que há? Digo, com Snape?
Dumbledore virou-se calmamente para Lupin e o olhou sobre os óculos meia-lua que lhe eram tão peculiares e, como se tivesse lido seus pensamentos, Lupin silenciou, fazendo um sinal com as mãos, dando a entender que o compreendia. Harry continuava sem entender, mas a sra. Weasley mandou todos subirem no mesmo instante. Os jovens obedeceram prontamente. Por cima do ombro, Harry pôde ver Tonks perguntando a Lupin do que se tratava e viu quando ele a beijou os cabelos cor-de-rosa, dizendo para não se preocupar.
Já eram quase duas horas da manhã quando Harry levantou, outra vez sem sono. Todos já estavam dormindo, depois da extensa conversa sobre os recentes acontecimentos. Reparou que Luna estava deitada no chão, no colo de Jorge, ambos dormindo. Ao seu lado, Fred segurava seus pés, também dormindo. Não pôde deixar de rir com a cena, pois já tinha reparado anteriormente que os dois estavam obviamente disputando a atenção de Luna, e ela parecia estar achando tudo muito engraçado, por dar igual atenção aos dois. Teve a nítida impressão que, se tinha alguém tão perfeito para Luna neste mundo, esse alguém seriam aqueles dois Weasley.
Desceu lentamente as escadas, a fim de pegar um pedaço de pão na cozinha. De repente ele se lembrou que quase não comera na ceia de Natal da noite anterior, quando prestava atenção na explicação de Dumbledore. A casa estava silenciosa e escura, exceto por um rastro de luz que entrava pela janela da sala principal – a mesma sala onde Quim Shacklebolt havia sido colocado morto quando os aurores chegaram. Sentiu um aperto no coração ao lembrar-se da foto que Moody lhe mostrara há três anos, com a Ordem da Fênix original. Tantos morreram... Inclusive seus pais. Quantos morreriam agora? Quem morreria?
Gina não, ele pensou, mas imediatamente lhe veio à cabeça a simples idéia de que qualquer um deles poderia morrer naquela guerra. Voldemort não pouparia ninguém, não importa se eram seus amigos ou não.
Tentou deixar os pensamentos de lado ao chegar na cozinha, procurando silenciosamente por um pedaço de pão apenas. Ah, mas que besteira, pensou e, pegando a varinha, disse:
- Accio pão!
Imediatamente um enorme pedaço de pão foi parar em suas mãos. Deu uma mordida com vontade, imaginando o que o Ministério iria fazer caso fosse registrado um feitiço para conjurar um pão, se ele fosse menor de idade. Por um momento, o fato de já ter mais de 17 anos lhe deu uma certa sensação de liberdade. Ele poderia usar magia fora da escola agora. Não que isso realmente importasse, pensou, porque, com tudo o que estava acontecendo, ele praticaria de qualquer jeito, sendo maior de idade ou não, caso fosse necessário. Terminou de comer o pedaço de pão e voltou para o hall, em direção à escada. Ao chegar perto, porém, ouviu vozes.
Mas o quê...
Não precisou pensar muito para reconhecer as duas vozes que vinham da sala que, agora, era de sua casa. Aproximou-se lentamente do batente da porta, tentando observar o que estava acontecendo. A cena que viu o tomou de surpresa, fazendo seu coração dar um salto e engolir em seco tão alto que achou estranho ninguém ter percebido.
Dumbledore estava sentado na poltrona da sala, confortavelmente, olhando para Snape, que estava sentado no sofá, quase de frente para o mesmo. De onde ele veio?. De onde estava, ficava praticamente de costas para Harry, mas ele pôde ver Fawkes derramando suas lágrimas sobre o braço esquerdo do ex-professor, provavelmente curando-lhe algum machucado. Dumbledore observava todo o processo calmamente. Então Fawkes realmente veio a ele, pensou. Que estranho...
- Ele não acreditou em mim – disse Snape, friamente.
- Severo, convenhamos... – Harry achou que Dumbledore estava quase sorrindo, mas seus nervos estavam se chacoalhando como em um baile de carnaval enquanto escutava a conversa, então fez esforço para escutar com atenção.
- Se não fosse pela srta. Granger... – disse Snape, olhando para Fawkes e passando a mão direita sobre suas penas – Sabe-se lá o que aqueles moleques fariam. Igualzinho ao pai, aquele Potter...
- Severo...
- Salvei sua vida mais uma vez e outra... E é isso o que ele faz, não é mesmo? Eu deveria lhe dar uma lição, finalmente...
Harry teve a nítida impressão de que Snape sussurrava como se estivesse falando sozinho, enquanto Dumbledore observava seu rancor indo embora aos poucos, enquanto reclamava baixinho de tudo o que havia acontecido. Provavelmente, antes estavam conversando sobre muitos outros assuntos e agora, Harry lamentou, já deveriam estar no final da conversa.
A fênix deixou Snape e, com um suave carinho do professor em seu rosto, ela se juntou novamente à Dumbledore. Snape agora chacoalhava suas vestes, como se estivessem sujas de terra ou coisa parecida. O que ele estava fazendo?
- Alvo, não temos mais tempo – Snape disse friamente – Potter precisa estar pronto. Ele sabe.
Harry percebeu que as feições de Dumbledore se alteraram levemente. Parecia estudar cada movimento de Snape cuidadosamente, procurando respostas em suas reações. Mas, como sempre, parecia não haver nenhuma. Tudo o que conseguiu dizer foi um simples:
- Como?
- Me deu uma prova suficiente esta noite – disse – Eu fui obrigado... O senhor...
- Não se preocupe comigo, Severo.
Snape olhou para o professor como se estivessem trocando idéias para o próximo ano letivo em um bar qualquer. Como sempre, ele parecia inabalável, frio, misterioso... O que poderia estar pensando?
- Fui eu – disse finalmente, enquanto Dumbledore inclinava-se mais uma vez em sua direção – Fui eu, Alvo, quem matou Quim Shacklebolt esta noite.
Harry levou a mão à boca para evitar que ouvissem o seu gemido. Suas entranhas se retorceram quando Dumbledore olhou novamente em sua direção. Parecia querer que Harry ouvisse aquela conversa. Devo entrar?, pensou, mas chegou à conclusão de que o sentimento por tê-lo presente vinha apenas por parte do diretor.
- É claro que já venho desconfiando desde quando colocou aquele inútil em meu encalço – disse Snape suavemente, referindo-se à Rabicho – O Voto Perpétuo foi o fim, Dumbledore, e ele tem cada vez mais suspeitas da minha presença e também de minhas freqüentes ausências.
- Ele disse alguma coisa? – perguntou o diretor, escutando atentamente – Fez alguma pergunta relacionada ao período em que esteve fora?
- Não – Snape respondeu – Mas eu sei, Alvo, que ele sabe. É questão de tempo. E, até lá, estarei morto.
Harry percebeu o impacto das últimas palavras de Snape no diretor. Ele mesmo estava começando a não desconfiar mais de seu ex-professor de Poções – pelo menos depois de tudo o que ele e Dumbledore lhe disseram. Será, pensou, que ele é realmente tão confiável?
- Severo, você tem plena capacidade de continuar o seu trabalho. Não será descoberto. Você assim o fez durante muitos anos. Ele não desconfia de você mais do que desconfia de qualquer um que não seja a si mesmo.
- É claro – respondeu Snape, e Harry sentiu a frieza muito mais acentuada em sua voz – Que é importante para o senhor que eu continue o meu papel de espião. Mesmo que isso resulte em minha morte.
- Não estamos falando das minhas vontades, Severo – respondeu Dumbledore – Você sabe a importância de cada ato seu, meu, de cada um aqui dentro. Preciso de você, severo, Harry precisa.
- Não creio que a minha ajuda seja muito apreciada pelo sr. Harry Potter – respondeu, desta vez um pouco mais ríspido – Assim como não significa muito para qualquer outro dentro da Ordem.
Harry não estava entendendo. Snape parecia... ressentido.
- Toda ajuda será bem-vinda, Severo – disse Dumbledore, indo em direção à janela encantada – Todos estamos sofrendo com esta guerra, mas quando ela terminar...
- Quando ela terminar?! – disse Snape, elevando o tom de sua voz e indo em direção ao diretor – E quando será? Daqui a um mês? Seis meses? Um ano?
- Severo...
- O Lorde das Trevas está matando aos poucos, Alvo! – ele disse, e Harry notou o desespero em suas palavras – E ele continuará matando, um por um, até que o Potter esteja sozinho. Ele irá atacar como sempre fez, pelo... lado fraco das pessoas!
Snape largou-se aleatoriamente na poltrona, prendendo sem querer algumas penas de Fawkes sob seu ombro. A ave deu um piado irritado e bicou sua cabeça. Mesmo a cena sendo engraçada, Harry não teve vontade de rir - pela primeira vez, estava entendendo completamente o que Snape estava querendo dizer, e não sentia nenhum ódio dele por estar dizendo tudo aquilo.
- Severo... – Dumbledore sentou-se ao lado de Snape, colocando a mão sobre seu joelho. Agora que estava de frente para ele, Harry pôde ver o quão acabado o ex-professor estava. Parecia estar sem dormir há séculos. Se afastou do batente para não ser visto e ouviu apenas Dumbledore continuar falando.
“Tudo o que podemos fazer é esperar que ele ataque primeiro mas, enquanto isso, não podemos colocar ninguém em risco. Eu sei que esta noite foi um erro, um erro tolo que cometemos. Mas eu precisava ter certeza do paradeiro de Voldemort e sei que você não é o fiel do segredo, e agora eu tenho certeza de onde ele está.”
Harry sentiu uma pontada de esperança em seu coração. Dumbledore sabe onde está Voldemort.
“No entanto”, ele continuou, “Harry precisa destruir os outros horcruxes. Precisamos voltar à Hogwarts o mais rápido possível e procurar o ninho dos unicórnios – tenho certeza que Hagrid nos ajudará quanto a isso. Nesse meio tempo, gostaria que você voltasse a ensinar Oclumência para o Harry.”
O quê?, Harry pensou, indignado.
- O quê? – disse Snape, com igual sentimento – Potter foi um fracasso, Alvo, ele não consegue dominar suas...
- Ele terá que conseguir desta vez, Severo – interrompeu Dumbledore calmamente – Sua vida depende disso agora. Todas as nossas vidas dependem.
- Mas...
Harry não queria ouvir mais. Era o suficiente. Subiu devagar as escadas com a certeza de que aquele foi um recado de Dumbledore a ele, sobre a importância de se dedicar à arte de fechar a mente. Voldemort era o maior legilimente do mundo e, ao que tudo indicava, se enfrentariam em breve. Ele precisava aprender, precisava se esforçar. E, com esse pensamento, ele voltou à sua cama digerindo a conversa entre os dois e dormiu.
Seu sonho fora perturbado por estranhas imagens formando-se em sua cabeça. Luzes verdes se intercalavam com gritos de pessoas sendo torturadas. Nada fazia sentido, mas ele continuou observando. Viu a si mesmo dentro de um caldeirão – o mesmo caldeirão que trouxe Voldemort à vida, três anos atrás. No entanto, ele não gritava, nem se desesperava... De fato, parecia estar atento à situação, como se ele fosse o próprio Voldemort...
E então vieram os Comensais... Não eram muitos – deu pela falta de alguns, mas contara direito e sabia cada um que estava lá e quem havia sido-lhe fiel. Uma macabra gargalhada saía de sua garganta, e sentia prazer por ver os olhos amedrontados daqueles que voltaram para lhe servir.
Percebeu que agora foi parar em outro lugar, não muito distante. Estava tudo escuro, parecia madrugada e muitos corpos jaziam no chão, todos mortos pela mesma varinha, pela mesma pessoa... O ar estava intragável, porém nada lhe importava... Respirava com dificuldade, mas continuava caminhando lentamente em direção ao seu objetivo... Ele sabia qual era esse objetivo...
Viu, à sua frente, ofuscado pela fumaça, o corpo de um velho caído no chão, enfraquecido, mas ainda com vida. Caminhava em sua direção, impetuoso, a varinha apontada para o seu rosto. Era Dumbledore, aparentemente ferido, mas Harry não tinha vontade de ajudá-lo... Não, ele sabia muito bem o que deveria ser feito...
- Vamos, Harry – ouviou a voz gélida sussurrar ao seu lado – Você consegue...
Olhou para o lado e viu o rosto deformado de Lord Voldemort lhe sorrindo, indicando o que deveria ser feito. Tentou se concentrar. Olhou para Dumbledore e viu não medo, mas decepção e apreensão em seu olhar. Era isso: ele mataria Dumbledore. Não sentia nenhum remorso – pelo contrário, sentia prazer em estar fazendo aquilo. Levantou a varinha, apontada para o peito do diretor, e a sensação de ódio que veio em seu coração e em sua mente eram o suficiente para que fizesse o que tinha que ser feito. Mentalizou a frase que estava prestes a dizer... Ela veio com ímpeto total, subindo pela sua garganta...
- Vamos, Harry... – disse a voz fria novamente – Rápido...
Harry sentiu um puxão no umbigo semelhante ao que sentia enquanto estava aparatando. De repente, viu-se na sala de sua casa no Largo Grimmauld, suando, sentindo muito frio e uma dor de cabeça fortíssima. Sua cicatriz devia estar sangrando, pois via todo o cenário com tonalidades de vermelho.
- Potter, acorde!
A voz de Severo Snape ecoou pela sua mente enquanto este o chacoalhava fortemente, esperando que acordasse. Estava dormindo?
Olhou para o lado e viu, da mesma forma em que estava há poucos momentos, o prof. Dumbledore deitado, olhando-o com o mesmo olhar que tinha visto no sonho. Snape continuava chacolhando-o... Sentia náuseas, sabia que iria desmaiar...
- Potter! – disse Snape desesperadamente – O que diabos você estava fazendo?
Harry estava com os olhos abertos, mas não estava totalmente acordado... Tudo o que sabia é que tinha sonhado com tudo aquilo, não foi real... Ou foi? Sua varinha caiu de suas mãos, sentia sua cicatriz latejar, o sangue escorrendo pelo seu rosto outra vez... Ele estava ao lado de Voldemort, ia matar Dumbledore, e agora estava ali, ao seu lado, na mesma situação... Foi real, pensou...
Sua respiração ficou presa por alguns segundos e, então, seus olhos se fecharam, dando espaço para que a escuridão entrasse novamente em sua alma.
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