O suspiro antes do mergulho



16. O suspiro antes do mergulho

- Nymphadora, não insista. Você e o Lupin devem ficar do lado de fora – concluiu impacientemente Snape, jogado no sofá da sala no Largo Grimmauld. O relógio cuco na parede marcava quase duas horas da madrugada.

- Pela última vez, Snape, é Tonks! – disse, estafada – E não, não me conformo com isso! Mandar os dois sozinhos lá para dentro é simplesmente loucura demais...

- Ambos têm capacidade e coragem para tanto – continuou Snape em uma voz quase sussurrada, de tão cansada.

- Quem diria, Severo Snape defendendo grifinórios! – ela ironizou, mas Snape virou a cabeça para encará-la com cara de poucos amigos. Tonks deixou cair a cabeça e deu uma risadinha. Poucos naquele momento conseguiriam achar algo engraçado diante de todas as circunstâncias.

Já era tarde e ninguém ali conseguiria dormir tão cedo. A idéia do confronto com Voldemort – e, possivelmente, Comensais por todos os lados – invadia a mente de todos. Não sabiam se estavam agindo corretamente, se estavam sendo precipitados, mas o fato é que Luna estava capturada e não podiam esperar o pior. E isso era tudo o que poderia vir de Lord Voldemort a qualquer momento.

- Tonks?

Ela e Snape olharam para a porta quando Lupin a chamou. Com um sorriso sem mostrar os dentes, ela se despediu da figura de negro à sua frente e subiu com o namorado.




Snape não conseguiria dormir, isso era fato. Já tinha ido à cozinha sete vezes, em uma tentativa em vão de preparar um chá. Sempre desistia. Não tinha fome, sede, nada. Só tentava espairecer, se é que seria possível.

Apoiou as mãos contra a mesa da cozinha e colocou o rosto entre os braços. Seus cabelos caíram sobre seus ombros e seus dedos se pressionaram tão forte contra a madeira que ela pareceu mole por um momento. Estava cansado. Não suportava mais essa guerra e tudo o que estava sendo necessário fazer. Até quando agüentaria? Aonde chegaria? Suspirou profundamente e levantou os olhos, vendo uma figura pálida de cabelos vermelhos parada à porta.

- Er... Prof. Snape? – disse Gina, tentando disfarçar o momento extremamente vulnerável que havia presenciado. Snape somente a encarou com seus olhos vermelhos de insônia, esperando o motivo da interferência. Não havia iluminação na cozinha, exceto pela vela crepidante que vinha do armário onde Monstro dormia.

Gina respirou e, serrando os lábios, disse com extrema preocupação:

- Harry está passando mal. Eu pensei que o senhor talvez... pudesse...

- O que ele tem desta vez? – interrompeu rispidamente Snape, como se quisesse recuperar sua autoridade diante do que acabara de demonstrar sem querer.

- Bom, ele... ele está delirando – respondeu angustiada e com lágrima nos olhos - Eu tenho medo que seja Voldemort – sua voz saiu como um soluço antes do choro, mas as lágrimas não vieram. Snape fez uma careta ao ouvir o nome pronunciado por Gina, não por ter medo – obviamente – mas por vê-la seguindo os mesmos passos de Harry Potter e, com isso, resultar em um comportamento tolo. Segundo ele. Em poucos segundos, os dois estavam no quarto onde Harry e Rony dormiam. Este se levantou quando os dois entraram.

- Prof. Snape, o Harry, ele…

- Silêncio, Weasley – disse o professor, ajoelhando-se preocupado ao lado da cama de Harry e colocando a mão sobre sua testa. Separou as pálpebras dos olhos de Harry com os dedos e o observava atentamente, enquanto os dois irmãos olhavam ansiosos – Está ardendo em febre – disse, por fim.

Harry dizia frases desconexas o tempo todo, mas todas relacionadas a Voldemort. Não como um comentário, mas em primeira pessoa.

- Vou preparar algo – disse Snape, ajustando a capa enquanto se levantava – Fiquem atentos.

Ron sequer pensou em desobedecer. Em alguns minutos Snape voltara com uma poção fumegante, em um tom esverdeado que lembrava musgo da floresta. Passou sobre a testa de Harry e a enrolou com um pano limpo. Quase que imediatamente, Harry adormeceu.

- Ele vai melhorar até amanhã – disse, como se estivesse falando consigo mesmo. E, com passos silenciosos, deixou o quarto onde os dois ficaram.

Gina não tirava os olhos de Harry e fazia carinho em suas costas. Não sairia dali por nada.

- Você não precisa ficar aqui – disse a Rony, que observava apreensivo – Eu cuido dele. Hermione, caso não saiba, está sozinha.

Rony olhou com uma expressão de nojo misturada com surpresa para a irmã, que virou os olhos, tentando descobrir o motivo pelo qual os meninos demoram a amadurecer mais do que as meninas.




Os livros já não estavam sendo o suficiente para Hermione Granger, no quarto que ficava no final do corredor. Às vésperas da viagem, ela sentia-se mais do que nunca despreparada. Havia pilhas de livros antigos e pergaminhos sobre sua cama, que ela encontrou no antigo porão dos Black. Havia dezenas de livros sobre as artes das trevas, mas nada realmente significativo na prática. Dormir estava fora de cogitação.

Rony, por sua vez, levantou-se da cama onde estava sentado e fechou a porta do quarto com cuidado. O corredor estava vazio. Ele pôde ouvir a voz de Tonks e Lupin vindo de um dos quartos em frente e se perguntou porque não usaram um feitiço abafador nas paredes.

Caminhou lentamente, fitando a porta do quarto de Hermione. Deveria realmente fazer isso?

TOC-TOC.

Batidas na porta. Hermione se assustou, depois se perguntou se estava distraída e ouviu coisas. Mas a maçaneta girou e a cabeça ruiva de Rony apareceu na fresta, apertando um dos olhos, com cara de quem sabia estar interrompendo alguma coisa.

- Posso entrar? – ele disse.

- Sim – e voltou sua atenção aos livros, enquanto o garoto abria espaço e se sentava ao seu lado.

- Descobriu alguma coisa útil? – perguntou.

- Realmente não – respondeu desanimada – Só que cobras enfeitiçadas não podem ser mortas por magia ou que gostam de sapos de chocolate quando estão de bom humor.

Rony deu uma risada, enquanto Hermione tentou forçar um sorriso para responder descontraída. Estava tensa, obviamente.

- Onde está Gina?

- Com o Harry – disse, colocando uma das pernas por baixo da outra, se ajeitando – Ele passou mal.

- Harry passou mal? Mas o que aconteceu? – ela perguntou realmente assustada.

- Febre, só isso. Snape preparou um negócio verde gosmento e colocou na sua testa. Ele já está melhor.

- Ungüento de dragão – disse Hermione convicta – Li sobre o assunto no quinto ano.

- Onde você leu isso? – perguntou Rony surpreso.

- Na sala do Dumbledore. Ele me deixou ler o excelente tratado que ele escreveu sobre os Doze Usos do Sangue de Dragão.

- Legal.

Mas a resposta parecia incompleta a Hermione que, depois de alguns segundos de silêncio, voltou a perguntar:

- Mas e a Gina? Ela não vem dormir?

- Acho que não – Rony respondeu – Ela me disse pra vir ficar com você.

Hermione olhou agradavelmente surpresa para Rony, que de repente percebera o que tinha acabado de dizer, ficando quase tão vermelho quanto seus cabelos. Ambos descontraíram com uma risada tímida enquanto olhavam para um chão que no momento parecia bastante interessante. Ao menos, era mais fácil olhar para ele que para o lado.

Depois do que pareceu ser uma eternidade, ele começou a empilhar os livros sobre o chão ao lado da cama, sem dizer uma só palavra. Hermione olhou sem entender.

- O que você está fazendo? – perguntou.

- Arrumando esses livros – respondeu normalmente – Você não vai mais usá-los hoje, não? Está tarde, chega.

Os dois riram.

- É verdade – ela disse, com um suave sorriso no rosto enquanto Rony colocava o último livro sobre a pilha e se sentava ao seu lado, encostado na parede – Dá pra acreditar no que estamos prestes a fazer? Quer dizer... Agora estamos realmente falando de Voldemort e... Destruir aquela maldita cobra... Um verdadeiro horcrux... Você acha que vamos conseguir?

- Eu não conseguiria sem você – ele respondeu olhando profundamente nos olhos dela, fazendo-a corar. Era impressão ou de repente o ar no quarto ficara realmente quente?

- Mas, sabe – ela continuou – É muito perigoso. Não sabemos o que vai acontecer quando matarmos Nagini. Provavelmente ela estará protegida por feitiços que farão algo a quem tentar atingi-la e...

- Hermione, não se preocupe – ele disse, chegando mais perto – Eu estarei com você.

E, como se nem tivesse percebido que a garota abrira a boca para retomar o assunto, ele segurou delicadamente o seu queixo e a beijou. Ela hesitou por um momento, mas em seguida já tinha se entregue totalmente. Um beijo que demorou tanto para acontecer, porém não poderia ser mais mágico do que naquele momento. Eles ficariam horas se beijando, pois aquilo era o ápice da história e, ao mesmo tempo, ela estava apenas começando para os dois. Estavam finalmente juntos.

Logo, viram-se deitados sobre o monte de pergaminhos que Dumbledore emprestara a Hermione na manhã anterior – ela sequer tinha percebido. Sua respiração estava ofegante e ela podia sentir o corpo de Rony contra o seu, enquanto se beijavam. Estavam tão felizes e compenetrados um no outro que, por incrível que pareça, até dos livros ela tinha se esquecido. Já tinham dezessete anos e eram maiores de idade – poderiam fazer o que quiserem. E, com a eminência da morte no dia seguinte, nada pareceu tão certo.

- Ãhn... peraí – disse Rony, levantando de repente – Lembrei de uma coisa importante.

- O que foi?

E, empunhando sua varinha, o rosto rubro pela excitação do momento, apontou para a parede da porta e sussurrou:

- Abaffiato.




O dia amanheceu alvo no Largo Grimmauld, como puderam constatar assim que saíram da mansão. Estava nublado, conseqüência de uma forte chuva que tomara a madrugada, e agora só as ruas molhadas indicavam o mau tempo da noite anterior.

Dumbledore, que chegara há pouco para buscá-los, fez um sinal com o dedo para Harry, chamando-o em um canto. O garoto obedeceu, se desvencilhando gentilmente do braço de Gina, que não saíra de seu lado desde que adormeceu anteriormente.

Ao chegar perto de Dumbledore, tentou esboçar um sorriso que não saiu. Sequer o diretor de Hogwarts conseguira tal feito naquelas circunstâncias.

- Harry – ele disse, pousando a mão sobre seu ombro – Como você está?

- Não é um dos melhores dias – ele respondeu, apontando para o pano na testa.

- Severo me contou – disse Dumbledore, olhando para as ataduras do rapaz – Quero lhe dizer, Harry, que é de vital importância que você volte a ter aulas de Oclumência com o Prof. Snape quando todos retornarem da missão.

- Eu... sei, senhor.

- E deve me prometer que não deixará a sede da Ordem da Fênix por nada enquanto estiverem todos fora.

Harry suspirou.

- Sim, senhor.

- Entende porque estou lhe dizendo isso, não é, Harry? – perguntou o diretor, vendo o quão impotente o rapaz se sentia naquela posição.

- Sim, eu entendo – ele respondeu – É difícil, mas eu entendo. É o que podemos fazer, não é verdade?

- Fico feliz que compreenda – disse Dumbledore, finalmente sorrindo, ainda que timidamente – Devemos ir agora. Até muito em breve, Harry.

O rapaz levantou a mão para acenar sem ânimo para Dumbledore e os outros membros da Ordem, que em seguida aparataram. Harry pôde ver Snape aparatando por último e achou engraçado vê-lo dando a tradicional voltinha necessária para aparatar corretamente.

- Vamos, Harry, Gina – disse Molly abraçando a filha, e eles entraram. Gina olhou para Harry com o mesmo pesar que o garoto tinha no olhar.




A viagem era longa até Little Hangleton e Dumbledore achou prudente que não fossem através de magia durante todo o percurso, para não levantar suspeitas. Se tudo desse certo, eles estariam no esconderijo do Lorde das Trevas antes do anoitecer do dia seguinte.

Horas depois de saírem de Londres, eles se viram cansados demais para continuar. Enfeitiçaram uma residência abandonada e ali passaram a noite. Ron e Hermione ficaram sentados do lado de fora da casa conversando com Tonks e Lupin antes de se deitarem. Fred e Jorge dormiram cedo – não tinham feito sequer uma brincadeira desde que saíram da sede da Ordem. Estavam preocupados demais com Luna para pensar em qualquer outro assunto que não fosse salvá-la.

Com um gesto desastrado, mas consertado rapidamente por Hermione, Tonks acendera uma fogueira e ali ficaram conversando até ela cair no sono. Estava sentada na frente de Lupin, com as pernas dele entrelaçadas em seu corpo. Ele mesmo estava bocejando de cinco em cinco minutos, e quando Tonks adormeceu ele finalmente se levantou e a levou para dentro.

Ron encostou sua cabeça no ombro de Hermione e segurou sua mão. Não estavam com frio, pois a fogueira era suficiente para aquecê-los durante um bom tempo. Tampouco chovia e, mesmo que chovesse, eles não veriam. Hermione criara um escudo sobre eles encantado da mesma forma que o teto de Hogwarts, para mostrar um céu estrelado.

- Como você está? – Rony perguntou, colocando sua outra mão sobre a de Hermione.

- Não poderia estar melhor – ela disse baixinho – E você?

- Completamente apaixonado – ele respondeu, e ambos sorriram. Um brilho diferentes exalava de seus corpos. Em poucos instantes, no entanto, o silêncio voltara, e eles sabiam porquê. Correriam um grande risco na noite seguinte, entrando no esconderijo de Voldemort. E seriam eles os responsáveis pela morte de Nagini. Teriam que fazer tudo muito rápido enquanto Minerva distraísse Voldemort e os outros entrassem para resgatar Luna. Já parecia difícil por si só, mas ainda existia o detalhe de que eles não sabiam onde poderia estar a cobra. Luna provavelmente estaria no mesmo lugar em que Snape fora preso – ou Voldemort quis agir diferente? Toda a situação era arriscada e parecia insanidade entrar na toca do Lorde das Trevas, mas ao mesmo tempo não havia outra solução. E eles sabiam que seria possível ou impossível somente a partir deles. E, para todos, era possível. Eles teriam que tornar possível. A outra opção era morrer e ela estava fora de cogitação.

- Hermione? – sussurrou Rony, depois de um tempo.

- Hm?

- Eu...

- O quê? – ela perguntou baixinho.

- É que... eu... queria dizer que...

- Você me ama? – ela se apressou a dizer, sorrindo.

- É, bem, sim – ele disse - Eu te amo.

Hermione levantou o rosto dele com seus dedos finos e olhou bem dentro dos seus olhos azuis, parecendo muito séria. Por um instante, Rony achou que ela fosse brigar com ele.

- Achei que você nunca fosse me dizer isso! – ela disse, relaxando-o – Ah, Rony, eu também te amo!

E então eles se beijaram, felizes, deitando logo em seguida e dormindo ali mesmo, com a fogueira estalando como sinos em seus ouvidos.




O dia seguinte mal amanheceu e eles já tinham partido rumo ao seu destino. Durante quase todo o percurso permaneceram calados, como se estivessem caminhando em um velório. Tonks ia com Lupin logo à frente, seguidos pelos jovens e Snape acompanhando Dumbledore atrás de todos, escoltando a tropa.

- Minha nossa! – exclamou Neville Longbottom de repente.

A Profa. Minerva tinha acabado de se transformar em Harry na frente de todos, causando espanto geral pela incrível capacidade de transfiguração que a professora possuía.

- Achei que seria melhor ir desde já desta forma – ela disse, batendo palminhas nas roupas para tirar a poeira, e virou-se para continuar caminhando. Aquilo dera um novo ânimo à equipe e todos comentavam empolgados que agora poderiam ter alguma chance com Voldemort, que seria enganado direitinho. Somente Snape e Dumbledore não comentavam uma só palavra sobre o que estavam prestes a fazer – apenas trocaram olhares de preocupação. Apesar de serem quem eles eram, a situação era perigosa demais. Estavam expondo jovens a um grave perigo e não poderiam falhar de maneira alguma.

A lua não despontava no céu quando escurecia, pois estava em sua fase Nova. Os bruxos conheciam os dias que antecediam a Lua Nova como “a Lua Negra”, quando esta não depende da luz do Sol e mostra sua verdadeira face. E foi dentro desse contexto que, cansados, chegaram à colina que separava as cidades. Chegaram em Little Hangleton.

- Todo cuidado agora é pouco – disse Dumbledore, olhando a vila de cima da montanha, o vento jogando sua barba contra o corpo – Vocês conhecem o plano, então vamos.

Cautelosamente, eles desceram a colina em direção à cidade, que já estava praticamente deserta. Ficara bem claro que, ao anoitecer, coisas estranhas aconteciam, pois quando o último raio de sol se escondeu, não havia uma só alma viva na rua, exceto pelo grupo de bruxos que caminhava em direção ao outro extremo da cidade.

- Alvo – disse Minerva, em uma esquisita e absolutamente brilhante versão de Harry Potter – Não seria melhor você partir agora? Estamos muito perto.

Snape assentiu com a cabeça para Dumbledore, que concordou. Com poucos gestos, ele se transformara em uma fênix invisível e voou para longe. Não poderia ser visto por Voldemort e sua presença provavelmente seria mais facilmente percebida que a dos outros. Perdendo, somente, para Harry, pelo vínculo com sua cicatriz. Mas o que aconteceria se aquele não fosse o Harry verdadeiro? Voldemort perceberia? Dumbledore deixava o vento entrar pelas suas narinas enquanto voava e desejava com todas as forças que aquilo não acontecesse. O grupo, cada vez menor e mais distante abaixo dele, continuava avançando.

A casa dos Gaunt apareceu no campo de visão de todos à medida que avançavam. O grupo se separou, seguindo o plano de Dumbledore. Minerva atrairia Voldemort. Tonks e Lupin ficariam escondidos do lado de fora, protegendo Minerva de qualquer ataque, caso ele percebesse a farsa. Fred, Jorge e Neville entrariam pelo alçapão do jardim para capturar Luna. Ron e Hermione iriam antes pelo mesmo lugar, para encontrar a cobra Nagini e matá-la. Rony carregava consigo um machado para completar a missão, pois a cobra não poderia ser morta por magia.

- Vão, vão – disse uma Minerva apreensiva, com corpo de Harry Potter – Se escondam. Boa sorte a todos nós.

E, virando-se, caminhou lentamente em direção à casa, atravessando o jardim. A noite estava suficientemente escura para fazer com que ela visse somente alguns metros a partir de onde estava. Seus olhos de gato, no entanto, foram se acostumando à escuridão e logo ela pôde enxergar quase tão bem quanto se fosse de dia. Olhou para o lado e viu Neville entrando pelo alçapão. Todos já deveriam estar lá dentro.

Apreensiva e muito nervosa, fixou seu olhar na cobra talhada na porta da casa e seguiu em frente. Teria que dar certo, pensou. Não existia outro jeito...

Não ventava, não fazia frio. O tempo parecia ter parado. Havia uma sensação muito esquisita no ar quando ela parou a poucos metros da porta de entrada do esconderijo de Lord Voldemort.

E, reunindo toda a coragem que existia dentro de si, usando todo o seu poder de concentração, ela gritou:

- Eu exijo ver Voldemort!

Sua voz igual à de Harry Potter ecoou por todo o vale e foi seguida pelo silêncio sepulcral no lugar. Alguma coisa parecia estar muito, muito errada...

Olhou para atrás e viu Tonks no lugar onde estava escondida com Lupin. Pareciam apreensivos demais. Talvez tenham sido todos muito prepotentes achando que conseguiriam enganar Voldemort. Ele pressentiria a presença de Harry ali, caso fosse realmente o rapaz. E, agora, o silêncio. Ele descobriria a farsa e toda a missão seria em vão...

Mais uma vez, ela resolveu tentar. Fechou os olhos e, depois de respirar profundamente, gritou com mais ímpeto:

- Eu exijo ver Voldemort!

Então, como se estivesse à espreita, somente esperando a tensão se acumular no ar, surgiu pela porta um vulto negro cujos olhos vermelhos fitaram a figura do rapaz à sua frente, com tamanho ódio no olhar quanto havia de cinismo em sua voz. Lord Voldemort.

Os olhos verdes de Harry Potter, que na verdade pertenciam à Profa. McGonagall, desviaram o foco do olhar para baixo, a fim de evitar que Voldemort descobrisse a verdade através de legilimência. Nem mesmo Minerva era tão boa em oclumência assim. Não conseguia imaginar como o Prof. Snape resistira durante tanto tempo.

Voldemort permaneceu parado durante alguns segundos, aparentemente analisando a situação. E, sem dar um passo sequer a partir de onde estava, ele levantou suavemente o braço esquerdo, como se estivesse oferecendo uma visita acolhedora.

Levantou seu queixo em direção ao pouco vento que agora assobiava, fitando com intensidade o rapaz à sua frente. Sussurrou com o máximo de simplicidade e, por isso mesmo, ironia, que pôde colocar em sua voz gélida de cobra:

- Então você veio, Harry Potter, o menino que sobreviveu.

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