Escuta atrás da porta
Harry estava perdido. Tudo o que acontecera no ano anterior dava voltas à sua cabeça, dava a volta ao seu estômago. Dumbledore morto, os Horcruxes, Snape... Nem conseguia mais pensar naquilo. Tudo iria mudar agora. Tinha Ron e Hermione consigo, mas nunca se sentira tão sozinho. Ele era aquele de quem a profecia falava. Ele não podia viver enquanto Voldemort sobrevivesse.
- Harry? - Hermione vinha acordá-lo.
Levantou-se imediatamente. Agora passava as noites em branco, com medo de ser de novo assaltado por sonhos horríveis que o envolviam a ele e aos que mais amava numa chacina levada a cabo por Voldemort e os seus fiéis Devoradores da Morte.
- Harry, estás bem? - preocupada, Hermione nunca deixava de repetir esta questão, à qual Harry respondia sempre:
- Sim, não te preocupes Hermione.
Depois de ter saído da casa dos Dursleys (sempre tão afáveis como sempre) para a casa de Ron, Harry sentia-se muito melhor. A semana que passara sozinho fora horrível, sempre com o medo de encontrar Voldemort numa rua e saber que não tinha estado com Ginny uma última vez. Agora, havia três dias que estava n' A Toca. Todos estavam muito atarefados com o casamento de Bill e Fleur.
Ginny, apesar de tudo o que se tinha passado entre os dois, agia o mais naturalmente possível. Harry chegava mesmo a pensar se não teria sido apenas um sonho muito bom, os dias que passara com ela, aquele beijo na sala comum, todos a olhar, mas para ele não existia mais ninguém. Agora Ginny estava demasiado... distante. Não tinha falado direito com Harry uma única vez desde que este chegara à Toca. Apenas um sorriso afável e um olá na sua chegada. Harry perguntava-se se Molly e Arthur sabiam do pequeno romance que tivera com ela.
- O casamento é amanhã... - disse Hermione. - Quando tencionas partir para Godric’s Hollow?
- O mais rápido possível. - disse Harry. - Se possível, ainda amanhã, no fim do casamento, quando todos estiverem demasiado ocupados com as arrumações para dar pela nossa falta.
Hermione olhou para ele com uma certa tristeza. Como Harry tinha mudado! Sempre tão sério, quase não o tinha visto sorrir desde o dia do funeral de Dumbledore. Mas sabia que o seguiria sempre até ao fim. Ela e Ron. E iriam com ele onde ele fosse e ajudá-lo sempre que fosse necessário.
- Devíamos fazer as malas então? - perguntou.
- Só o essencial. Não devemos ir muito pesados com muita roupa nem livros! - ao dizer aquilo olhou para Hermione com um brilho o olhar. Sabia como ela adorava ler.
- Talvez só um ou dois pequenos? - perguntou Hermione esperançosa.
- Não! Devemos levar mantimentos! Ninguém sabe as dificuldades que nos esperam. Podemos passar vários dias fora da civilização. O melhor é fazer uma mala apenas com as nossas roupas e outra com comida. Podemos surripiar alguma do casamento. Depois pegamos nas nossas vassouras, no manto de invisibilidade e desaparecemos, sem ninguém dar por nada.
- Tens a certeza que é isto que queres fazer Harry? Estamos no início de Junho e ainda nem sabemos se Hogwarts vai de facto fechar! Isto pode mudar todas as nossas vidas!
- Hermione, tu e o Ron não têm que vir comigo! Já o disse inúmeras vezes! Vocês deviam ficar e ir para Hogwarts como os outros, é mais seguro.
- Não, lugar nenhum é mais seguro agora que Dumbledore...- parecia ter dificuldade em afirmar que Dumbledore tinha morrido, ainda não tinha assimilado tudo o que tinha acontecido apenas dias antes. - Não, vamos contigo onde fores, até ao fim. Somos amigos, lembras-te? Isto é o que os amigos fazem, ficam juntos! Nos bons e maus momentos. E é o que eu e o Ron vamos fazer.
Harry sentia-se grato por este apoio. Tinha uma longa jornada pela frente. Saber-lhe-ia bem a companhia das duas pessoas que mais gostava. Mas... a pessoa que amava...
Ginny ia estar longe, talvez Voldemort pudesse descobrir aquilo que a tinha unido a Harry semanas antes e fazer algo, para chegar até ele. Só a ideia aterrorizava-o, mas não podia fazer nada, não podia levar Ginny consigo, seria mais perigoso ainda, e também não a podia trancar numa torre. Restava-lhe o sentimento agonizante de viver cada dia em angústia profunda, sem saber se ela estava viva ou morta.
- Ok, mas teremos que ser organizados, fazer tudo bem pensado. O Voldemort não é parvo nenhum, ele vai tentar encontrar-nos, descobrir o que andamos a fazer, matar-nos. Não podemos falhar. O mundo depende de nós, quer feiticeiros quer muggles. Devemos destruir todos os Horcruxes e depois.... Apanhar o Voldemort. Temos três por destruir. Talvez quatro, se R.A.B. não tiver destruído aquele atrás do qual eu e Dumbledore fomos.
Hermione não falou. Acenou afirmativamente a cabeça, num gesto de compreensão e saiu do quarto. Harry vestiu umas calças e uma t-shirt, calçou uns ténis que estavam debaixo da cama e desceu para o pequeno-almoço. O que ele não sabia era que Ginny tinha estado atrás da porta a ouvir a sua conversa com Hermione e se tinha escondido no armário à saída do seu quarto quando ouviu Hermione a abrir a porta.
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