Noites mal dormidas
Noites mal dormidas
Harry apalpou o espaço ao seu lado na cama. A sensação apenas do lençol o acordou com uma rusga de contrariedade. Olhou a porta do banheiro. Nenhuma luz. Buscou os óculos no criado-mudo ao lado da cama e num movimento contínuo levantou-se. Nenhuma luz também no corredor. A contrariedade começou a dar lugar a uma leve preocupação. Desceu as escadas em direção à sala e já estava nos últimos degraus quando a divisou parada, os braços cruzados na frente do corpo, voltada para a enorme janela que dava para os jardins, iluminada pelo luar.
- O que houve? – Perguntou escorando se no batente da escada.
Ela não respondeu. Parecia estar muito longe.
- Gi ... – ele ergueu um pouco a voz – está tudo bem?
Gina se virou devagar, como que tentando focá-lo.
- Ah! Sim... está tudo bem sim, amor – ela deu um sorrisinho. – O que você está fazendo fora da cama há essa hora?
Ele caminhou até onde ela estava e a abraçou.
- O que VOCÊ está fazendo fora da cama, mocinha? Sabe que eu detesto acordar sem você do lado.
Ela riu, brincando com os dedos nos cabelos revoltos dele.
- Não seja tão controlador Sr. Potter, sua esposa pode ter insônia de vez em quando e é melhor procurar o sono aqui do que ficar girando na cama.
- Sabe que eu conheço métodos infalíveis de procurar o sono... na cama? - Ele deu um sorriso zombeteiro.
-Sei... conheço os seus métodos – ela acompanhou o sorriso e lhe deu um beijinho que ele se apressou em aprofundar.
- Então, Sr.ª Potter não quer voltar para cama e experimentar os métodos soníferos do seu marido?
Ela sorriu de novo, fazendo um carinho no rosto dele. E foi algo nesse sorriso que fez ele se afastar. Às vezes precisava de um passo de distância de Gina para poder pensar claramente.
- Só que nós não vamos subir até você me dizer o que está acontecendo – e fechou a cara. – Não ouse dizer que não é nada. É a terceira noite seguida, Gi. Eu te conheço. Tem algo incomodando e muito. Isso não pode ser insônia da gravidez. Li todo o livro que a Mione nos emprestou e ali diz que nos primeiros meses vocês grávidas têm muito sono e não ficam vagando por dentro de casa como morcegos.
- Nem todas as grávidas reagem do mesmo jeito, Harry. Não é nada. Vem... - Ela pegou a sua mão. – Vamos voltar para a cama.
Harry não se mexeu.
- Você sabe que eu tenho meios de arrancar respostas de você, não sabe, ruiva?
Gina virou-se para ele, encarando-o com o ar de troça.
- Veritasserum ou maldição Impérius?
- Reunião da família Weasley.
- Ah, não...Por favor, não, piedade! – Gina ria sem parar.
Harry puxou-a de novo para os seus braços. Céus, como ele a amava. Às vezes tinha vontade de se beliscar para garantir-se de que não estava sonhando e sim vivendo o que sempre sonhou. Tinha Gina. Tinha os Weasley, que eram mais do que nunca a sua família. Tinha uma casa em que ele amava ficar. Tinha Rony, Hermione e Sirius sempre por perto. Tudo era perfeito. Voldemort era apenas uma memória. Ruim. Incômoda. Triste. Mas era passado. Ele vencera. Ele merecia cada segundo de paz que possuía. E, agora, para completar, viria o bebê... Que felicidade poderia ser maior? Olhou para Gina. Como sempre ela parecia estar lendo o rosto dele. Comunicavam-se sem palavras desde a primeira vez que namoraram. Por isso ele sabia que algo a estava fazendo perder o sono, assim como sabia que ela estava escondendo dele o que a incomodava.
- Gina... - começou.
- Amor, amanhã a gente conversa, tá bom? Sério. Juro que não vou fugir. Mas não quero falar nisso agora. Não de noite – ela fez uma pequena pausa – Algumas coisas parecem maiores e mais... – buscou a palavra exata, mas não achou – algumas coisas devem ser faladas à luz do dia, ok? Amanhã, depois da sua festa de aniversário a gente senta e conversa. É provável que seja tudo uma grande bobagem, mas eu não quero que você se preocupe agora.
- Não é nada com o bebê, não é? – A pergunta saiu mais ansiosa do que ele planejara.
- Não, seu bobo, não é nada com o potterzinho – ela levou a mão na barriga ainda inexistente. – Ele ainda é muito pequeno para começar a incomodar. Juro que te conto amanhã. Vou pedir para o Rony e a Mione ficarem conosco e aí vocês três vão poder dizer que a Gininha está vendo dragões espirrando água por aí. – Harry fez menção de falar, mas ela não deixou. – Por favor, amanhã.
Ele concordou com a cabeça. Passou o braço pelos ombros dela enquanto atravessavam a sala inundada pela luz da esplêndida lua cheia que fazia lá fora e subiam as escadas. Mas Harry teve muita dificuldade de voltar a dormir naquela noite. A vozinha na sua cabeça teve de repetir várias vezes que as apreensões de Gina eram fruto de seu estado interessante. Rony lhe contara todas as atribulações de Mione de quando ela estava grávida do pequeno Sirius. Era só isso. Coisa de grávida. Mas, alguma coisa lhe dizia que não era.
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- Mioooneee!!! Peloamordemerlin, mulher! Vamos chegar atrasados! Garanto que já está todo mundo lá e não podemos aparatar com o bebê.
Rony entrara na sala absolutamente carregado. Uma bolsa cheia de coisas de bebê pendia de um dos ombros, no outro braço ele carregava a caixa grande com o presente do Harry, em frente ao corpo, num canguru, o pequeno Sírius chupava com grande afinco uma das mangas do macacãozinho que vestia. Ele encarou a esposa com grande desagrado, pois Hermione estava, aparentemente descendo todos os livros de uma das inúmeras estantes cobertas de volumes que tinham no apartamento.
- Você não vai começar a estudar nada agora, não é?
- Claro que não, Ron. Estou só selecionando alguns que quero levar. – Retorquiu ela ainda concentrada nos livros.
- LEVAR!!!! Ah, por favor! Levar como? E porque você precisa deles lá. Não vai passar o dia lendo! É uma festa Mi...
- Eu sei que é. Não se preocupe isso é para depois. – Ela pegou uma braçada dos livros e se encaminhou para ele, onde parou para engrolar carinhos para o filho. – Vamos dormir lá hoje. – Disse voltando-se novamente para Rony, agora com um sorriso.
- Isso significa mais bagagem. – Falou ele com um suspiro cansado.
- Não se preocupe, dou um jeito nisso rapidinho. Vou enviar a bagagem antes. Se quiser ir indo, pode ir e pode deixar as coisas que eu mando tudo junto. – Ela já se encaminhava para o interior do apartamento.
Rony largou as coisas que segurava e caminhou atrás dela. – Por que esse monte de livros afinal?
- Nada... a Gina quer consultar umas coisas. Nada de mais.
Rony assentiu. E se encaminhou para a lareira com o bebê firmemente preso nos braços. Contudo, a sensação de que algo estava errado o acompanhou. Conhecia Hermione a muito tempo e bem demais e definitivamente tinha gato na tuba. Ele a tinha surpreendido na noite anterior, altas horas da madrugada, conversando com Gina pela lareira e, definitivamente, não tinha gostado do tom delas, por mais que elas tivessem tentado disfarçar. Mione garantira que não havia nada de errado com a gravidez da irmã, mas ainda sim algo estava decididamente preocupando as duas e ele ia dar um jeito de descobrir o que era. Sirius espirrou por causa da fuligem da lareira. Rony sorriu. A idéia do nome tinha sido dele, mas no fim todos gostaram, afinal, fazia sentido que Harry fosse padrinho do filho dos melhores amigos, tanto quanto era legal que esse afilhado tivesse o nome do seu padrinho. Jogou o pó Flu e disse com clareza.
- Casa de Harry e Gina!
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Obrigado para quem leu. Aguardo comentários! Beijos
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