O DEPARTAMENTO DE MISTÉRIOS



Harry envolveu sua mão fortemente na crina do Testrália mais próximo, apoiou um pé num toco que estava perto e subiu desajeitadamente nas sedosas costas do cavalo. Este não protestou, virou sua cabeça, com presas expostas, e tentou continuar a lamber suas vestes.

Harry descobriu que havia uma maneira de alojar seus joelhos por trás das juntas das asas que o fazia se sentir mais seguro, então olhou para os outros. Neville já havia quase subido nas costas do Testrália ao lado e agora tentava suspender uma pequena perna por trás das costas da criatura. Luna já estava montada, sentado numa sela feminina e arrumando as vestes, como se fizesse aquilo todo dia. Rony, Hermione e Gina, no entanto, continuavam imóveis no mesmo local, olhando para eles de boca aberta.

- Quê é? - disse ele.

- Como vamos subir - perguntou Rony debilmente - quando não podemos ver as coisas?

- Ah... é fácil! - disse Luna, deslizando amavelmente de seu Testrália e marchando em direção a ele, Hermione e Gina. - Venham cá...

Elas os empurrou na direção dos Testrálias restantes e os ajudou, um a um, a montar. Todos três pareciam extremamente nervosos enquanto ela envolvia suas mãos na crina dos cavalos e dizia para agarrarem fortemente antes que voltasse para seu próprio Testrália.

- Isso é loucura - murmurou Rony, movendo sua mão para cima e pra baixo no pescoço do cavalo. - Louco... Se ao menos eu pudesse vê-lo...

- É melhor torcer para continuar invisível - disse Harry sombriamente. - Todos prontos, então?

Todos concordaram com as cabeças e ele viu cinco pares de joelhos se apertarem por baixo de suas vestes.

- Ok...

Olhou para a brilhante costa da cabeça de seu Testrália e ordenou:

- Ministério da Magia, entrada de visitantes, Londres, então... - disse incerto. - Er... Se vocês souberem... onde é...

Por um momento o Testrália de Harry não fez nada; então, com um movimento majestoso que quase o derrubou de sua sela, as asas dos dois lados se estenderam; o cavalo se curvou lentamente, então saiu em disparada como um foguete, para cima, de forma tão rápida e íngreme que Harry teve que travar fortemente seus braços e suas pernas em volta do cavalo para evitar que escorregasse por seu ossudo traseiro. Fechou os olhos e afundou seu rosto na sedosa crina do cavalo enquanto arrancavam pelos galhos mais altos das árvores e se elevavam em um pôr-de-sol vermelho-sangue.

Harry achou que nunca havia se movido tão rápido, o Testrália saiu como um raio na direção do castelo, suas asas batendo fortemente; a brisa refrescante esbofeteava o rosto de Harry; os olhos apertados contra do vento cortante, olhou à sua volta e viu seus cinco companheiros também subindo atrás dele, todos se curvando o máximo possível no pescoço de seus Testrálias para se protegerem de suas rajadas.

Já estavam fora das terras de Hogwarts; haviam passado por Hogsmeade; Harry podia ver montanhas e gaivotas sob eles. Enquanto a luz do dia começava a desaparecer, Harry viu pequenas coleções de luzes enquanto passavam por mais vilarejos, então uma estrada serpeante, na qual um único carro seguia seu caminho para casa, através das colinas...

- Isso é bizarro! - Harry mal ouviu Rony gritar de algum lugar atrás dele, imaginou como devia estar se sentindo, voando cada vez mais rápido, àquela altura, sem nenhum suporte.

O crepúsculo chegou: o céu agora se transformava numa malha púrpura, leve e sombria com pequeninas estrelas prateadas, logo somente a luz das cidades trouxas deu a eles a idéia de o quão rápido estavam viajando. Os braços de Harry estavam enroscados firmemente no pescoço de seu cavalo enquanto desejava que fosse ainda mais rápido. Quanto tempo teria passado desde de que vira Sirius deitado no chão do Departamento de Mistérios? Quanto tempo Sirius seria capaz de resistir a Voldemort? Tudo que Harry tinha certeza era que seu padrinho não havia nem feito o que Voldemort queria nem morrido, pois tinha certeza que qualquer dos dois acontecimentos teriam feito o jubilação ou fúria de Voldemort viajar por seu próprio corpo, fazendo sua cicatriz queimar tão dolorosamente quanto no dia em que Sr. Weasley fora atacado.

Nisso, continuaram a voar pela escuridão que crescia; o rosto de Harry estava dolorido e frio, suas pernas adormecidas de tanto forçá-las ao redor do Testrália mas ele se atreveu a mudar de posição para não escorregar... Estava surdo por causa da barulhada que o vento forte fazia em seus ouvidos e sua boca estava seca e congelada por causa do vento frio. Mão fazia idéia de quanto já haviam voado; toda sua fé estava depositada na fera sob ele que, propositadamente, voava na velocidade de um raio pela noite, mal batendo suas asas enquanto acelerava mais ainda, avante.

Se fosse tarde demais...

"Ele ainda está vivo, ainda está lutando, posso sentir isso..."

Se Voldemort percebesse que Sirius não ia se submeter...

"Eu saberia..."

O estômago de Harry afundou; a cabeça Testrália de repente estava apontando para o chão, sentiu que havia escorregado um pouco pra frente também. Finalmente estavam descendo... Ouviu um gritinho atrás dele e virou perigosamente pra trás mas não viu sinal de corpo caído...presumidamente todos receberam o mesmo choque que ele com a mudança de direção.

Agora luzes laranjas brilhantes estavam crescendo cada vez mais e cada vez mais a volta; podiam ver o topo dos prédios, raios de luz dos faróis como olhos de insetos luminosos, nos quadrados de cerca amarela haviam janelas. Do nada, estavam descendo em direção a calçada; Harry agarrou seu Testrália com toda força que ainda tinha em seu corpo, reforçado para um próximo impacto mas o Testrália tocou o chão negro tão suavemente como uma sombra e Harry escorregou de suas costas, olhando para a rua onde o container transbordante continuava um pouco afastado da cabine telefônica vandalisada, ambos consumindo a luz laranja, forte de deslumbrante, dos postes.

Rony desceu logo depois e caiu de seu Testrália no pavimento.

- Nunca mais - disse ele, pondo-se de pé. Parecia querer sair o mais rápido possível de perto de seu Testrália mas, sem poder vê-lo, colidiu com seus quartos e quase caiu de novo. - Nunca mais, nunca mais mesmo... Essa foi a pior...

Hermione e Gina pousaram nos dois lados dele: todas desceram de seus cavalos mais graciosamente que ele mas com a mesma expressão de alívio por estar em chão firme; Neville desceu, tremendo; Luna desmontou suavemente.

- Pra onde vamos agora? - ela perguntou a Harry numa voz educadamente interessada, como se aquilo fosse um interessante passeio do dia a dia.

- Por aqui - disse ele. Deu a seu Testrália um leve tapinha em agradecimento então seguiu rápido, em direção à cabine telefônica e abriu a porta. - Vam'bora! - apressou os outros enquanto hesitavam.

Rony e Gina marcharam para dentro, obedientemente; Hermione, Neville e Luna se apertaram depois deles; Harry lançou um último olhar aos Testrálias, agora farejando restos de comida no container, então se forçou para dentro da cabine também.

- Quem quer que esteja perto do telefone, disca, 62442! - disse ele.

Rony fez isso, seu braço inclinando bizarramente para alcançar o discador; enquanto isso zumbiu de volta ao seu lugar, a voz feminina fria soou dentro da cabine:

- Bem-vindos ao Ministério da Magia. Por favor diga seu nome e o que quer.

- Harry Potter, Rony Weasley, Hermione Granger - disse Harry muito rápido -, Gina Weasley, Neville Longbottom, Luna Lovegood... Estamos aqui pra salvar alguém a não ser que o seu Ministério possa fazer isso primeiro!!

- Obrigado - disse a voz fria. - Visitantes, por favor peguem os crachás e os ponham na frente de suas vestes.

Meia dezena de crachás voou da calha de metal de onde, normalmente, saíam moedas retornadas. Hermione os agarrou e os passou, calada, para Harry, por cima da cabeça de Gina; ele olhou para o primeiro, Harry Potter, Missão de Resgate.

- Visitantes, vocês serão inspecionados e suas varinhas deve ser apresentadas para registro no balcão de segurança, localizado ao final do Átrio.

- Tá!! - disse Harry alto enquanto sua cicatriz dava outra fisgada. - Agora será que dá pra gente de mover!?

O chão da cabine estremeceu e o pavimento começou a subir por suas janelas de vidro; os Testrália estavam sumindo de vista; a escuridão tomou conta de tudo e com um estranho rangido afundaram paras as profundezas do Ministério da Magia.

Um fino raio de luz dourada iluminou seus pés e, crescendo, subiu para seus corpos, Harry se ajoelhou com varinha em punho, o máximo que podia em tal ocasião, enquanto checava pelo vidro se havia alguém esperando por eles no Átrio mas parecia estar completamente vazio. A luz estava mais fraca do que quando era de dia; não havia fogo a queimar abaixo das chaminés mas enquanto subiam na cabine, lentamente, ele pôde ver que os símbolos dourados, brilhantes, continuavam a se mover, mudando de posição, no teto azul escuro.

- O Ministério lhes deseja uma noite agradável - disse a voz da mulher.

A porta da cabine se abriu; Harry marchou para fora dela seguido por Neville e Luna. O único barulho no Átrio era da água da fonte dourada, onde jatos de águas saíam das pontas das varinhas do bruxo e da bruxa, da ponta da flecha do centauro, da ponta do chapéu do duende e das orelhas do elfo para a fonte à volta deles.

- Vamos - disse Harry baixinho e os seis atravessaram o Hall, Harry à frente, passaram a fonte, indo em direção à mesa onde o bruxo pesou a varinha de Harry, a qual estava deserta agora.

Harry sentiu que deveria haver alguém da segurança ali, tinha certeza que sua ausência não era bom sinal e seus sentimentos de agouro começaram a crescer enquanto passavam pelos portões que levavam para os elevadores. Apertou o botão "pra baixo" mais próximo e um elevador apareceu quase que imediatamente, as grades douradas se abriram com uma grande "click", ecoou, então entraram. Harry pressionou o botão nove; as grades fecharam com um "bang" e o elevador começou a descer, devagar e rangendo. Harry não havia percebido o quão barulhentos eram os elevadores quando havia ido lá com Sr. Weasley; tinha certeza que a barulheira atrairia alguém da parte da segurança mas quando o elevador parou a fria voz feminina disse:

- Departamento dos Mistérios - as grades se abriram. Saíram, em direção ao corredor onde nada se movia, a não ser o fogo das tochas com a rajada de ar do elevador.

Harry virou em direção à porta preta. Depois de meses e meses sonham com ela, ali estava, finalmente.

- Vam'bora - suspirou e seguiu caminho pelo corredor, Luna logo atrás dele, olhando à volta com sua boca meio aberta.

- Ok, escutem - parou Harry de novo, a uns metros da porta. - Talvez... Talvez alguns de nós devessem ficar aqui como... Para cobertura, e...

- E como vamos lhe avisar que algo está vindo? - perguntou Gina, a sobrancelha erguida. - Você poderia estar a milhas.

- Vamos com você, Harry - disse Neville.

- Vamos andar com isso - disse Rony firmemente.

Harry ainda não queria levar todos com ele mas parecia não ter escolha. Virou e encarou a porta, então andou em sua direção... Assim como fez nos sonhos, ela abriu e ele marchou por ela, os outros em seu calcanhar.

Estavam numa grande sala circular. Tudo era preto, incluindo a porta e o teto; portas idênticas, sem maçanetas e pretas estavam postas em intervalos iguais na parede negra, intercaladas por velas cujo fogo era azul; suas luzes frias e brilhantes eram refletidas no chão, fazendo parecer que havia água negra no piso.

- Alguém feche a porta - murmurou Harry.

Ele se arrependeu por dar essa ordem no momento em que Neville a obedeceu. Sem o longo feixe de luz que vinha do corredor atrás deles o lugar ficou tão escuro que por um momento as únicas coisas visíveis eram as pontas das velas nas paredes e seus fantasmagóricos reflexos no chão.

No seu sonho, Harry sempre andava propositadamente pela sala para porta exatamente oposta à da entrada e entrava nela. Mas havia uma dezena de portas ali. No momento em que começou a pensar e ir em direção à porta oposta a ele, tentando decidir ainda qual era a certa, houve um ronco estranho e as velas começaram a se mover. A parede circular estava se movendo. Hermione agarrou o braço de Harry, como se estivesse com medo de o chão se mover também mas este não se moveu. Por alguns segundos as velas deixavam linhas de néon, enquanto a parede se movia; então, quase tão de repente quanto havia começado, o ronco parou e tudo voltou a ficar parado.

Os olhos de Harry tinham linhas azuis; era tudo que podia ver.

- Que foi isso? - pergunto Rony, com medo.

- Acho que é pra gente não saber por qual porta entramos - disse Gina numa voz apressada.

Harry percebeu de cara que ela estava certa: tão cedo não ia identificar que porta entraram, era como procurar uma agulha naquele chão negro; a porta que precisavam entrar poderia ser qualquer uma daquelas.

- Como vamos sair de volta?? - perguntou Neville estranhamente.

- Bem, isso não importa agora - disse Harry forçadamente, piscando o máximo para tentar apagar as linhas azuis de sua visão, segurando sua varinha com mais força que nunca. - Não vamos sair até acharmos Sirius...

- Também não vá sair chamando por ele hein! - disse Hermione urgentemente mas Harry nunca havia precisado menos de um conselho dela; seu instinto era para se manter o mais quieto possível.

- Para onde vamos então Harry? - perguntou Rony.

- Eu não... - Harry começou. Engoliu seco. - Nos meus sonhos eu passo pela porta no fim do corredor, logo depois que saio do elevador e entro numa sala. Essa aqui. E então eu entro por outra porta e a outra sala é meio... Reluzente. Devíamos tentar algumas portas - disse apressado. - Vamos!

Ele marchou direto para a porta que estava à sua frente, os outros o seguiram bem de perto, encostou sua mão em sua superfície gelada e brilhante, levantou a varinha pronto para atacar no momento em que ela se abrisse e empurrou. Abriu facilmente.

Depois da escuridão da primeira sala as lâmpadas iluminando as correntes douradas penduradas do teto davam a impressão de que essa sala era muito mais iluminada mas não havia nada reluzente, nenhuma luz reluzente, como Harry havia visto em seus sonhos. O lugar estava bem vazio, exceto por algumas mesas e, bem no meio, um enorme tanque de vidro repleto de um líquido verde escuro, grande o suficiente para todos nadarem nele; um número de objetos branco-perolados estavam flutuando dentro dele.

- O que são aquelas coisas?! - suspirou Rony.

- Não sei - disse Harry.

- São peixes? - respirou Gina.

- Aquavirius Maggots! - disse Luna excitadamente. - Papai disse que o Ministério estava criando...

- Não - disse Hermione. Soou estranha. Aa andou em direção ao tanque e olhou melhor, de lado. - São cérebros.

- Cérebros?!

- É... Mas o que estariam fazendo aqui?

Harry se juntou a ela. Com certeza não havia dúvidas agoras que podia vê-los melhor. Lampejando assustadoramente, afundavam e subiam no líquido verde, parecendo couves-flores viscosas.

- Vamos sair daqui - disse Harry. - Não é essa, temos que tentar outra porta.

- Há mais portas aqui também - disse Rony, apontando para a parede a volta deles. O estômago de Harry afundou; qual era o tamanho daquele lugar?!

- No meu sonho eu saio da sala escura para a reluzente, então acho melhor tentarmos de novo de lá.

Então se apressaram, de volta para a escura sala circular; as formas fantasmagóricas dos cérebros estavam agora nadando em frente aos olhos de Harry, ao invés das linhas azuis das velas.

- Esperem! - disse Hermione bruscamente, quando Luna ia fechar a porta da sala dos cérebros. - Flagrate!

Ela gritou com sua varinha no ar e um "X" flamejante apareceu na porta. A porta mal havia se fechado quando houve um grande ronco e, de novo, a parede começou a se mover rápido mas agora havia um borrão vermelho-dourado entre as luzes azuis e, quando tudo ficou quieto de novo, o "X" flamejante ainda queimava, mostrando a porta na qual já haviam passado.

- Bem pensado - disse Harry. - Ok, vamos tentar essa...

De novo, caminhou diretamente para a porta à sua frente e a empurrou, sua varinha ainda em punho, os outros em seus calcanhares.

A sala era maior que a outra, fracamente iluminada e retangular, sua entrada era "afundada", formando algo como uma arena de uns vinte pés de profundidade. Estavam na parte mais alta do que pareciam ser assentos de pedra por todo canto, que desciam, como num teatro ou o tribunal no qual Harry fora interrogado pela Confederação Internacional de Bruxos. No entanto, ao invés de uma cadeira com correntes havia uma plataforma no centro da arena, onde havia uma passagem em arco, parecia tão velha, rachada e desmoronando que Harry ficou impressionado em ver que a coisa ainda estava de pé. Sem apoio nenhum, a passagem em arco estava coberta por uma cortina ou véu negro o qual, num lugar onde não havia sinal de qualquer brisa, estava balançando levemente, como se alguém tivesse acabado de tocá-lo.

- Quem está aí? - disse Harry, pulando para o assento abaixo. Ninguém respondeu mas o véu continuou a se mexer.

- Cuidado! - suspirou Hermione.

Harry foi descendo pelos assentos, um a um, até que alcançou o fundo da arena. Seus passos ecoaram alto enquanto andava lentamente em direção à plataforma. De onde estava agora a passagem parecia muito maior, mais alta do que quando a observara lá de cima. O véu ainda balançava gentilmente, como se alguém tivesse acabado de atravessá-lo.

- Sirius? - Harry falou de novo mas mais baixo, agora que estava mais perto.

Ele tinha a estranha sensação de que havia alguém ali bem atrás do véu, do outro lado da passagem. Agarrando sua varinha com bastante força, rodeou a plataforma mas não havia ninguém ali; tudo que era visível era a parte de trás véu negro.

- Vam'bora! - chamou Hermione do meio do caminho. - Não é esta, Harry, vamos, vam'bora!

Ela parecia assustada, muito mais assustada do que estava na sala dos cérebros mas ainda sim Harry pensou que a passagem tinha um tipo de beleza, por mais velha que fosse. O movimento gentil do véu o estava intrigando; estava com uma vontade louca de subir na plataforma e atravessá-lo.

- Harry! Vam'bora, vamos? - disse Hermione com mais força.

- Aham - disse mas não se moveu. Ele havia ouvido algo. Haviam suspiros, murmúrios vindo do outro lado do véu.

- O que você está dizendo? - disse ele, muito alto, e suas palavras ecoaram pelos assentos de pedra.

- Ninguém está falando Harry! - disse Hermione, agora indo em sua direção.

- Alguém está sussurrando lá atrás - disse ele, fugindo do alcance dela e franzindo a testa para o véu. - É você, Rony?

- Eu tô bem aqui, cara - disse Rony, aparecendo ao lado da passagem.

- Ninguém mais consegue ouvir?! - demandou Harry, pois os sussurros e murmúrios estavam ficando mais altos; sem a menor intenção de fazer isso, ele se achou em cima da plataforma.

- Posso ouvi-los também! - respirou Luna, juntando-se aos outros, próxima à passagem e olhando intrigada para o véu. - Tem gente aí dentro!

- O que você quer dizer com, "aí dentro"? - demandou Hermione, descendo e parecendo muita mais revoltada do que antes. - Não há ninguém, aí dentro, é apenas uma passagem! Não há nenhuma sala para ter alguém dentro! Harry, pára, sai de perto!

Ela agarrou o braço dele e puxou mas ele resistiu.

- Harry, estamos aqui para achar o Sirius! - disse ela numa voz aguda e alto.

- Sirius - Harry repetiu, ainda olhando fixamente para o véu, hipnotizado. - É...

Algo finalmente voltou ao lugar em seu cérebro; Sirius, capturado, atado, torturado, e ele olhando praquela passagem...

Harry deu vários passos para trás, para longe do véu, e arrancou seus olhos dele.

- Vam'bora - disse ele.

- Isso é o que eu estou tentando... Bem, vamos logo então! - disse Hermione e seguiram caminho para fora da plataforma.

Do outro lado, Gina e Neville estavam olhando para o véu também. Sem falar, Hermione agarrou o braço de Gina, Rony agarrou o de Neville e os levaram de volta para os assentos de pedra, subiram de volta para a porta.

- O que você acha que era aquele arco? - Harry perguntou a Hermione enquanto voltavam para a sala circular.

- Não sei, mas o que quer que fosse era perigoso! - disse Hermione firmemente, marcando de novo o "X" na porta.

De novo a parede girou e depois parou. Harry se aproximou de novo da porta mais próxima e a empurrou. Ela não se moveu.

- O que foi? - perguntou Hermione.

- Está... Trancada... - disse Harry, jogando seu peso contra a porta mas ela não abriu.

- É isso né? - disse Rony excitado, juntando-se a Harry na tentativa de forçar a porta a abrir. - Tinha que estar trancada!

- Sai do caminho! - disse Hermione bruscamente. Ela apontou a varinha para onde a maçaneta estaria, numa porta comum, e disse: - Alorromora!

Nada aconteceu.

- O canivete de Sirius! - disse Harry. Puxou isso de dentro de suas vestes e enfiou na fresta entre a porta e a parede. Todos observaram ansiosamente enquanto corria a lâmina bela borda da porta e depois jogava seu corpo contra a porta novamente. Continuava tão firme quanto antes. E ainda por cima quando Harry olhou para a faca viu que sua lâmina havia derretido.

- Bem, deixamos esse pra lá - disse Hermione decisivamente.

- Mas e se essa for a certa? - disse Rony, olhando para a porta com um olhar ao mesmo tempo, apreensivo e desejoso.

- Não pode ser, Harry podia passar por todas as portas no sonho - disse Hermione, marcando a porta com um "X" enquanto Harry guardava o, agora inútil, cabo do canivete de Sirius no bolso.

- Sabe o que podia ter lá dentro? - perguntou Luna, ansiosa, enquanto a parede rodava de novo.

- Algo ácido, sem dúvida! - disse Hermione, baixinho, e Neville deu um pequeno risinho nervoso.

A parede parou e Harry, com o sentimento de desespero crescendo, abriu a próxima porta.

- É AQUI!

Ele sabia de cara por sua lindas e dançantes luzes cor de diamante. Quando os olhos de Harry se acostumaram com a luz forte viu relógios brilhando em cada superfície, grandes e pequenos, antepassados e de porte, entre estantes ou em cima das mesas que enchiam a sala, fazendo com que vários "tic-tacs" enchesse o lugar, como milhares de pezinhos marchando. A fonte da luz forte era uma jarra de cristal comprida, no final da sala.

- POR AQUI!

O coração de Harry estava pulando freneticamente agora que sabia que estavam no lugar certo; saiu andando por entre as mesas, avante, como havia feito no seu sonho, em direção à fonte da luz, a jarra de cristal tão alta quanto ele estava em cima de uma mesa e parecia estar cheia de um vento crescente e brilhante.

- Ah, olhe! - disse Gina enquanto chegavam mais próximos, apontando bem para o coração do recipiente.

Mergulhando na corrente brilhante do recipiente havia um pequeno ovinho. Conforme subia pelo recipiente o ovo abria e um pintinho saia dele, subia até o topo da jarra mas na medida que afundava de novo o corpo do pássaro ia regredindo e quando chegava ao fundo já havia se transformado num ovinho novamente.

- Continuem andando! - disse Harry bruscamente, porque Gina mostrou sinais de querer parar e ficar olhando a transformação do ovo em pássaro.

- Você perdeu um bom tempo lá naquela passagem! - disse ela em resposta mas o seguiu quando passou pela jarra, em direção a porta atrás.

- É aqui - disse Harry de novo e seu coração estava batendo tão forte agora que achou que melhor interromper o discurso. - Por aqui...

Ele olhou para todos; todos tinham sua varinhas em punho e pareciam, de repente, sérios e ansiosos. Olhou para a porta e a empurrou. Abriu.

Lá estavam eles, havia encontrado o lugar: alto como uma igreja e cheio de nada mais que prateleiras altas cobertas por poeira e pequenas orbes de vidro. Brilhavam fracamente, iluminadas pelas luz de velas posta entre as prateleiras. Como aquelas na sala circular, suas chamas eram azuis. A sala era muito fria.

Harry andou devagar e fitou um beco escuro entre duas fileiras de prateleiras. Não ouviu nada nem viu o menor sinal de movimento.

- Disse que era no "beco" noventa e sete - sussurrou Hermione.

- É - respirou Harry, olhando para o final do "beco" mais próximo. Abaixo das velas havia uma figura prateada com os números cinqüenta e três.

- Acho que temo que ir para a direita - sussurrou Hermione, espiando o próximo "beco". - É... Aquele é o cinqüenta e quatro...

- Mantenham suas varinhas prontas - disse Harry suavemente.

Seguiram em frente, lançando olhares por cima dos ombros a todo o tempo enquanto passavam pelos longos corredores de prateleiras, em direção à cada vez mais crescente escuridão. Pequenas etiquetas douradas haviam sido postas entre as orbes nas prateleiras; algumas tinham um estranho brilho enquanto outras eram escuras e negras.

Passaram pelo "beco" oitenta e quatro... Oitenta e cinco... Harry estava apreensivo para qualquer sinal de movimento mas Sirius deveria estar amordaçado ou até mesmo inconsciente... Ou, disse uma voz estranha na sua cabeça, ela pode estar morto...

"Eu teria sentido", disse para si mesmo, seu coração agora pressionado contra seu pomo de Adão, "eu saberia...".

- Noventa e sete! - sussurrou Hermione.

Ele ficaram ali, agrupados, olhando para o final do "beco". Não havia ninguém lá.

- Ele está bem no final - disse Harry, cuja boca havia se tornado seca de repente. - Não dá pra ver daqui.

E então ele os levou para o "beco" entre as altas prateleiras com as bolas de vidro, algumas brilharam suavemente enquanto passaram.

- Ele devia estar por aqui - sussurrou Harry, convencido, a cada passo, que veria a qualquer momento a forma de Sirius, amordaçado, no chão escuro. - Por aqui... Perto...

- Harry? - disse Hermione tentativamente mas ele não queria responder. Sua boca estava muito seca.

- Algum... Lugar... Por... Aqui... - disse ele.

Eles haviam chegado ao final do "beco" onde havia mais velas e não havia ninguém ali. Só um silêncio ecoante.

- Ele deve estar... - Harry sussurrou roucamente, fitando o próximo "beco". - Ou talvez... - apressando-se a olhar para o outro depois desse.

- Harry? - disse Hermione de novo.

- Quê? - rosnou Harry.

- Eu... Eu acho que o Sirius não está aqui.

Ninguém falou nada. Harry não queria olhar pra nenhum deles. Sentiu-se mal. Ele não entendia por que Sirius não estava ali. Ele tinha que estar ali. Era ali onde ele, Harry, o tinha visto...

Ele correu pelos "becos", olhando para cada um deles. Vazio atrás de vazio. Correu para o outro lado, passando pelos companheiros. Não havia nenhum sinal de Sirius nem nenhum sinal de luta em lugar nenhum.

- Harry? - chamou Rony.

- Quê?

Ele não queria ouvir o que Rony tinha a dizer; não queria ouvir Rony dizer que havia sido idiota ou sugerir que deveriam voltar para Hogwarts mas estava ficando cada vez mais irritado e tinha vontade de afundar naquele chão e ficar por ali um bom tempo até poder sair para a claridade do Átrio e encarar os olhares acusadores dos outros...

- Você viu isso? - disse Rony.

- Quê? - disse Harry, ansioso desta vez, tinha que ser um sinal de que Sirius esteve ali, uma pista. Voltou para onde estavam mas não achou nada a não ser Rony olhando para uma das orbes empoeiradas na prateleira. - Quê? - repetiu num resmungo.

- Tem... Tem seu nome aqui - disse Rony.

Harry se aproximou mais. Rony estava apontando para umas das pequenas orbes, que brilhava com uma luz estranha, mesmo estando um tanto empoeirada e parecia não ser tocada por muito anos.

- Meu nome?! - disse Harry, branco.

Andou na direção dele. Sem ser tão alto quanto Rony teve que esticar o pescoço para ler a etiqueta dourada fixada na prateleira, bem abaixo da orbe empoeirada. Numa letra muito comprida e fina estava escrita a data de uns dezesseis anos atrás e logo abaixo:

S.T.P para A.P.W.B.D.

Lord das Trevas

e (?) Harry Potter

Harry ficou olhando aquilo.

- O que é isso? - perguntou Rony, soando nervoso. - Q´que seu nome ta fazendo aí?

Ele olhou para as outras etiquetas coladas na prateleira.

- Eu não estou aqui - disse ele soando perplexo. - Nenhum de nós está aqui.

- Harry, acho que você não deveria tocar isso - disse Hermione bruscamente quando ele esticou a mão para tocar a orbe.

- Por que não?! Tem algo haver comigo, não tem?

- Não Harry! - disse Neville de repente. Ele olhou para a cara redonda de Neville, que estava brilhando em suor. Parecia que não podia agüentar mais tanto suspense.

- Tem meu nome aqui!

Se sentindo um tanto imprudente, fechou os dedos em volta da superfície da orbe. Pensou que fosse fria mas não era. Ao contrário, parecia ter sido exposta ao sol por horas, como se o pouquinho de luz de dentro a estivesse esquentando. Esperando, e até desejando, que algo dramático acontecesse, algo excitante que fizesse toda aquela viagem valer a pena, Harry levantou a bola de vidro e a tirou da prateleira. Ficou olhando para ela.

Nada aconteceu. Os outros se aproximaram, olhando para a orbe enquanto limpava a poeira.

E então, logo atrás deles, uma voz arrastada soou:

- Muito bem, Potter. Agora vire-se, devagar e dê isso pra mim.

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