A GRANDE INQUISIDORA DE HOGWAR



Eles esperavam procurar cuidadosamente no Profeta Diário de Hermione na manhã seguinte para encontrar o artigo que Percy havia mencionado em sua carta. A coruja de entrega planou pelo teto e posou junto à jarra de leite, entretanto Hermione se engasgou e abriu o jornal, que mostrava uma grande figura de Dolores Umbridge com um enorme sorriso e piscando levemente para eles sob a manchete:

"MINISTÉRIO VISA REFORMA EDUCACIONAL

DOLORES UMBRIDGE APROVADA COMO GRANDE INVESTIGADORA"

- Umbridge, grande Investigadora? - disse Harry sombriamente, a torrada comida pela metade escorregando entre seus dedos.

- O que isso significa?

Hermione continuou a ler:

"Num movimento surpreendente na noite passada o Ministério da Magia aprovou nova legislação dando a si um nível de controle sem precedentes sobre a Escola de Magia e Bruxaria Hogwarts.

'O Ministério está ficando preocupado com o que vem acontecendo em Hogwarts', disse o Assistente Junior do Ministro, Percy Weasley. 'Ele está agora respondendo à inquietação proclamada por pais ansiosos, que sentem que a escola esteja indo em uma direção que eles não aprovam'.

Essa não é a primeira vez nas últimas semanas que o Ministro, Cornélio Fudge, tem usado novas leis para executar melhoras na escola de Magia. Em 30 de agosto o Decreto Educacional número 22 foi aprovado para assegurar que, caso o atual diretor não possa colocar um candidato para o posto de professor, o Ministério deve selecionar uma pessoa apropriada. 'Foi assim que Dolores Umbridge foi apontada para o corpo de professores de Hogwarts', disse Weasley na noite passada. 'Dumbledore não conseguiu encontrar alguém então o Ministério colocou Umbridge e, lógico, ela está sendo um sucesso imediato.'"

- Ela está sendo O QUÊ??? - disse Harry alto.

- Espere, há mais - disse Hermione.

"Revolucionou totalmente o ensino de Defesa contra Artes das Trevas e providencia ao Ministério um relatório completo sobre o que realmente acontece em Hogwarts.

'É a última função que o Ministro formalizou com a aprovação do Decreto Educacional número 23, que cria a nova posição de Grande Investigador de Hogwarts.'

'É uma excitante nova fase no plano do Ministro para identificar o que alguns chamam de decaimento moral em Hogwarts', disse Weasley. 'O Investigador terá poderes para investigar seus companheiros educadores e ter certeza ele correrá riscos. Foi oferecida essa posição a professora Umbridge em adição ao seu posto de educadora e estamos felizes de saber que ela aceitou.'

As últimas cartadas do Ministério receberam apoio entusiástico de pais de estudantes de Hogwarts

'Eu estou mais tranqüilo agora que eu sei que Dumbledore está sendo sujeito a uma avaliação justa e objetiva', disse Lúcio Malfoy, de sua mansão Wiltshire na noite passada. 'Muitos de nós, visando o melhor interesse de nossas crianças, estamos a par de algumas decisões excêntricas de Dumbledore nos últimos anos e estamos satisfeitos de saber que o Ministério está sendo mais vigilante.'

Junto a decisões excêntricas está sem dúvida alguma a indicação controversa de alguns professores previamente descritas nesse jornal, que inclui o emprego do lobisomem Remo Lupin, do meio-gigante Rúbeo Hagrid e do ex-Auror 'Olho-Tonto' Moody.

Rumores dizem, é claro, que Alvo Dumbledore, anteriormente Bruxo Chefe Cacique Supremo, Confederação Internacional de Bruxos, não é mais apto para dirigir a prestigiada escola de Hogwarts.

'Eu acho que a indicação do Investigador é o primeiro passo para assegurar que Hogwarts tenha um diretor em que possamos confiar'disse o Ministro noite passada.'

Membros da Confederação Internacional de Bruxos, Griselda Marchbanks e Tibério Ogden renunciaram em protesto à introdução do posto de Investigador em Hogwarts.

'Hogwarts é uma escola, não um posto avançado do escritório de Cornélio Fudge', disse Madame Marchbanks. 'Isso é um absurdo, nojenta maneira de desacreditar Alvo Dumbledore.' (Para uma versão completa sobre a alegação de Madame Marchbanks sobre a subversão de grupos de duendes veja a página 17)"

Hermione acabou de ler e olhou através da mesa para Harry e Rony.

- Agora nós sabemos por que aturamos Umbridge! Fudge aprovou esse "Decreto Educacional" e a forçou para nós! E agora ela tem o poder de inspecionar os outros professores! - Hermione respirava rapidamente e seus olhos brilhavam. - Eu não acredito nisso, é ultrajante...

- Eu sei que é - disse Harry. Ele olhou para a sua mão direita, pousada sobre o tampo da mesa, e viu nela esboçado as palavras que Umbridge tinha forçado a cortar sua pele.

Mas um sorriso se formou na face de Rony.

- Que foi? - disseram Harry e Hermione juntos, encarando-o.

- Mal posso esperar para ver McGonagall inspecionada - disse com alegria. - Umbridge nunca saberá o que lhe atingiu.

- Bem, vamos lá - disse Hermione, saltando da cadeira -, melhor nos apressarmos, se ela inspecionar a aula de Binns não queremos nos atrasar.

Mas a professora Umbridge não estava inspecionando a aula de História da Magia, que foi tão chata quanto a da última segunda-feira, nem estava na masmorra de Snape quando chegaram para a aula dupla de Poções, onde a redação de Harry sobre a pedra-da-lua lhe foi devolvida com um grande e negro "H", marcado no canto superior.

- Eu lhes dei as notas que vocês teriam recebido se tivessem apresentado esse trabalho em seus N.O.M.s - disse Snape enquanto caminhava entre eles, devolvendo suas tarefas. - Isso deve dar a vocês uma idéia realista do que esperar em seus exames.

Snape chegou na frente da classe e se virou para encarar a turma.

- O rendimento geral dessa tarefa foi horroroso. A maioria de vocês teria falhado se isso fosse seu exame. Espero que haja um maior esforço para a redação dessa semana sobre a grande variedade de antídotos contra venenos, ou eu terei que começar a dar detenções para os idiotas que tiraram H.

Ele sorriu enquanto Malfoy ria e disse num sussurro.

- Alguém tirou H? Ha!

Harry percebeu que Hermione estava olhando de lado para ver que nota ele recebera; escorregou sua redação para dentro de sua mochila o mais rápido possível, sentido que manteria aquela informação para si.

Determinado a não dar desculpa para Snape prejudicá-lo, Harry leu e releu cada linha das instruções no quadro-negro pelo menos três vezes antes de seguí-las. Sua Poção de Força não estava precisamente como o claro turquesa sombra de Hermione, mas ao menos estava azul e não rosa, como a de Neville, e levou um frasco para a mesa de Snape no fim da aula sentindo uma mistura de provocação e alívio.

- Bem, não foi tão mal como na última semana, foi? - disse Hermione enquanto subiam as escadas pra fora das masmorras e caminhavam para o Salão Principal para o almoço. - E o dever de casa não foi tão ruim também, foi?

Quando nem Rony nem Harry responderam Hermione continuou.

- Quer dizer, tudo bem, eu não esperava a maior nota, não se ele corrigiu como corrigiria os N.O.M.s, mas isso nos incentiva a essas alturas, vocês não acham?

Harry fez um som de discordância com sua garganta.

- Lógico, muita coisa pode acontecer entre agora e o exame, temos muito tempo para melhorar, mas essas notas que nós conseguimos são meio que uma base, não acham? Algo que podemos trabalhar...

Eles se sentaram na mesa da Grifinória.

- Mas com certeza eu ficaria surpresa se tirasse um "I"...

- Hermione - disse Rony bruscamente -, se você quiser saber que notas tiramos, pergunte.

- Eu não... Eu não disse... Bem se vocês quiserem me dizer...

- Eu tirei "P" - disse Rony, colocando sopa em sua tigela. - Está feliz agora?

- Bem, não é nada para se envergonhar - disse Fred, que tinha acabado de chegar à mesa com George e Lino Jordan e se sentou à direta de Harry. - Não há nada de errado com um belo "P".

- Mas... - disse Hermione. - "P não significa...

- "Pobre", isso mesmo - disse Lino Jordan. - Ainda assim, melhor que H, não é? "Horrível"?

Harry sentiu seu rosto corar e fingiu um pequeno acesso de tosse. Quando ele acabou, ficou infeliz ao saber que Hermione ainda queria falar das notas dos N.O.M.s.

- Então, a nota "I" é o mesmo que "impressionante" - disse ela. - E depois há a nota "A"...

- Não, é "E" - Jorge a corrigiu. - "E" corresponde à "Excede Expectativas". E eu sempre achei que Fred e eu deveríamos receber "E" em tudo, pois nós excedemos expectativas apenas por aparecer nos exames.

Todos riram, menos Hermione, que continuou.

- Então, depois de "E" vem "A", que significa "aceitável", e essa é a última nota para passar, não é?

- É sim - disse Fred, pegando uma boa porção de sopa, colocando na boca e engolindo.

- Depois vem "P" para "pobre" - Rony levantou seus braços, celebrando - e "H" de "horrível".

- Ainda tem o "T" - Jorge o lembrou.

- "T"? - perguntou Hermione, parecendo chocada. - Há nota menor que "H"? O que significa esse "T"?

- "Trasgo" - disse Jorge prontamente.

Harry riu novamente, apesar de não estar certo se Jorge estava brincando ou não. Ele se imaginou tentando esconder de Hermione que tinha recebido "T" em todos os seus N.O.M.s e imediatamente resolveu trabalhar mais duro dali em diante.

- Vocês já tiveram alguma aula inspecionada? - Fred perguntou.

- Não - disse Hermione rapidamente. - Vocês já?

- Há pouco tempo, antes do almoço - disse Jorge. - Feitiços.

- Como foi? - Harry e Hermione perguntaram juntos.

Fred encolheu os ombros.

- Nada mal. Umbridge apenas ficou num canto tomando notas em um bloco. Vocês sabem como é Flitwick, ele a tratou como convidada, não pareceu perturbado com ela. Ela não disse muita coisa. Perguntou à Alicia algumas coisas sobre como as aulas são lecionadas, Alicia lhe disse que eram muito boas e foi isso.

- Não consigo ver o velho Flitwick sendo prejudicado - disse Jorge -, ele usualmente faz com que todos passem em seus exames tranqüilamente.

- Quem será sua próxima aula? - Fred perguntou Harry.

- Trelawney...

- Um "T", como se eu sempre visse um...

- E Umbridge depois.

- Bem, seja um bom garoto e não se indisponha com Umbridge hoje - disse Jorge. - Angelina vai enlouquecer se você perder mais um treino de quadribol.

Mas Harry não teve que esperar até a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas para se encontrar com Umbridge. Estava tirando seu Diário dos Sonhos no fundo da sombria sala de Adivinhação quando Rony cutucou suas costelas. Harry se viro e viu a professora Umbridge emergindo através da escada. A classe, que vinha falando alto, de repente se calou. A queda abrupta do nível sonoro fez a professora Trelawney, que vinha distribuindo cópias de O Oráculo dos Sonhos, olhasse.

- Boa tarde professora Trelawney - disse a professora Umbridge com seu largo sorriso. - Você recebeu meu aviso, eu suponho? Dando-lhe a data e a hora de sua inspeção?

A professora Trelawney concordou rapidamente e, parecendo muito desgostosa, deu às costas à professora Umbridge e continuou a distribuir livros. Ainda sorrindo, Umbridge pegou a poltrona mais próxima e a colocou em frente à classe. para que ficasse poucos centímetros atrás da professora Trelawney. Ela se sentou, tirou seu bloco de notas da sua bolsa florida e olhou com expectativa, esperando a aula começar.

Professora Trelawney apertou suas vestes contra o corpo, as mãos ligeiramente trêmulas, e inspecionou a classe com seus olhos aumentando imensamente por trás das lentes.

- Hoje nós continuaremos a estudar os sonhos proféticos - disse numa brava tentativa com seu usual tom místico, apesar de sua voz ter tremido levemente. - Dividam-se em pares, por favor, e interpretem as últimas visões de cada um com a ajuda do livro.

Ela pensou em voltar ao seu assento mas, vendo a professora Umbridge sentada logo ao lado dele, imediatamente virou à esquerda, ficando ao lado de Parvati e Lilá, que já estavam discutindo profundamente sobre o sonho recente de Parvati.

Harry abriu sua cópia de "O Oráculo dos Sonhos", olhando Umbridge avidamente. Ela já estava tomando notas em seu bloco. Depois de alguns minutos se levantou e começou a rondar a sala na cola de Trelawney, ouvindo suas conversas com os alunos e perguntando aqui e ali.

Harry colocou sua cabeça acima do livro.

- Pense num sonho, rápido - disse ele a Rony -, no caso daquele sapo velho vir aqui.

- Eu fiz isso da última vez - protestou Rony. - É a sua vez, me diga um.

- Não sei... - disse Harry desesperado, pois não se lembrava de ter sonhado algo nos últimos dias. - Vamos ver. Eu sonhei que estava... Afogando Snape no meu caldeirão. Isso mesmo...

Rony riu enquanto abria seu "Oráculo dos Sonhos".

- Ok, nós precisamos adicionar sua idade à data em que você teve o sonho, o número de letras no caso... Seria "afogando" ou "caldeirão" ou "Snape"?

- Não importa, pegue qualquer uma - disse Harry, arriscando um olhar atrás dele. A professora Umbridge estava nos calcanhares da professora Trelawney, tomando notas enquanto a professora de Adivinhação questionava Neville sobre o seu diário dos sonhos.

- Que noite você sonhou isso de novo? - disse Rony, imerso em cálculos.

- Não sei, noite passada, coloca aí qualquer coisa - disse Harry, tentando escutar o que Umbridge estava dizendo a Trelawney. Estavam apenas a uma mesa de distância dos dois garotos. Umbridge estava fazendo outra nota no seu bloco e a professora Trelawney pareceu muito fora de si.

- Agora - disse Umbridge, olhando Trelawney -, há quanto tempo você ocupa esse posto, exatamente?

Trelawney franziu a testa, os braços cruzados e os ombros encurvados, talvez desejando se proteger o máximo possível da indigna inspeção. Depois de uma pequena pausa, em que parecia decidir se a pergunta não era tão ofensiva que poderia com razão ignorar, finalmente disse numa voz muito ressentida.

- Quase dezesseis anos.

- Já é um bom tempo - disse a Professora Umbridge, tomando nota em seu bloco. - Foi o professor Dumbledore quem indicou você?

- Isso mesmo - respondeu rapidamente.

Umbridge fez outra anotação.

- E você é tataraneta da famosa vidente Cassandra Trelawney?

- Sim - disse a Professora Trelawney, com sua cabeça posta mais alta.

Outra anotação no bloco.

- Mas eu acho, Corrija-me se estiver errada, que você é a primeira na sua família desde Cassandra a possuir Visão Interior?

- Essas coisas costumam pular... Er... Três gerações.

O sorriso de Umbridge, que era igual a de um sapo, aumentou.

- Claro - disse ela docemente, fazendo mais uma anotação. - Bem, gostaria de saber se você pode predizer alguma coisa para mim, sim? - ela olhou maliciosamente, ainda sorrindo.

Sibila enrijeceu como se não pudesse acreditar no que ouvira.

- Eu não entendi - disse ela, apertando convulsivamente seu xale ao redor do seu fino pescoço.

- Gostaria que você fizesse uma previsão para mim - disse umbridge claramente.

Harry e Rony agora não eram os únicos que olhavam e ouviam atentamente atrás de seus livros. A maioria da classe estava encarando fixamente a professora Trelawney, enquanto ela se levantava completamente, suas contas e colares tilintando.

- O Olho Interior não vê sob pressão! - disse ela em tom escandalizado.

- Eu entendi - disse a professora Umbridge, já tomando outra nota.

- Eu... Mas-mas... Espere! - disse a professora Trelawney de repente, tentando manter sua voz etérea, apesar do efeito místico estar arruinado, pois estava tremendo de raiva. - Eu.. Eu acho que estou vendo algo... Algo a seu respeito.. Sinto algo... Algo obscuro... Algo grave...

Sibila apontou um dedo trêmulo para Umbridge, que continuava a sorrir brandamente, suas sobrancelhas erguidas.

- Acho que... Acho que você corre grande perigo! - finalizou Sibila dramaticamente.

Houve uma pausa. A professora Umbridge encarava a professora Trelawney.

- Certo - ela disse levemente, escrevendo em seu bloco mais uma vez. - Bem se é o melhor que pode fazer...

Ela se virou, deixando Sibila em seu canto, respirando pesadamente. Os olhos de Harry encontraram os de Rony, notou que o amigo pensando a mesma coisa que ele: os dois sabiam que Sibila era uma velha fraude mas, por outro lado, odiavam tanto Umbridge que sentiram muita pena da professora Trelawney - até ela vir à mesa deles segundos depois.

- Bem? - disse, estalando seus longos dedos em frente de Harry, incomumente elétrica. - Deixe-me ver como você começou o seu diário dos sonhos, sim?

E enquanto ela interpretava os sonhos de Harry (todos eles, mesmo aqueles que envolviam comer mingau de aveia, aparentemente sempre acabavam em mortes terríveis), ele sentiu bem menos simpatia para com ela. Para completar, a professora Umbridge ficava um passo atrás, tomando notas em seu bloco. Quando a sineta tocou, ela desceu a escadaria de prata primeiro e já esperava pelos alunos da Grifinória quando alcançaram a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas dez minutos depois.

Umbridge estava murmurando e sorrindo consigo mesma quando todos entraram na sala. Harry e Rony contaram para Hermione, que estava na aula de Aritmancia, exatamente o que havia acontecido na aula de Adivinhação enquanto tiravam seus exemplares de "Teoria da Defesa Mágica", mas antes que ela pudesse perguntar alguma coisa a professora Umbridge pediu ordem à classe e todos fizeram silêncio.

- Guardem as varinhas - instruiu ela a todos com um sorriso e aqueles que pensaram que poderiam tirar as varinhas tristemente as colocaram de volta às mochilas. - Como acabamos com a última lição do Capítulo 1 gostaria que todos fossem à página 19 e começassem o Capítulo 2, Teorias de Defesa Comum e Suas Derivações. Não há necessidade de conversa.

Ainda com um sorriso largo no rosto ela se sentou em sua cadeira. A classe deu um suspiro audível enquanto virava folha por folha até a página 19. Harry se perguntou bobamente se haviam capítulos suficientes no livro para continuar lendo durante todas as lições do ano e estava a ponto de checar o conteúdo da página quando notou que Hermione tinha sua mão levantada novamente.

A professora Umbridge notou isso também, e havia mais, parecia que havia trabalhado em uma estratégia para essa eventualidade. Ao invés de tentar fingir que não tinha notado Hermione ela se levantou e andou ao redor das cadeiras da frente até ficarem face a face. Depois se agachou e sussurrou para o resto da sala não poder ouvir.

- O que foi agora, Srta. Granger?

- Eu já li o Capítulo 2 - disse Hermione.

- Bom, então proceda ao Capítulo 3.

- Já o li também. Aliás, já li o livro inteiro.

A professora Umbridge piscou mas logo recuperou sua pose.

- Muito bem. Então você é capaz de me dizer o que Slinkhard diz sobre contra-azarações no capítulo 15.

- Ele diz que contra-azarações são impropriamente nomeadas - disse Hermione prontamente. - Que contra-azaração é só um nome que as pessoas dão para suas azarações quando querem fazer com que soem mais aceitáveis.

Umbridge levantou suas sobrancelhas e Harry sabia que ela estava impressionada, mesmo contra sua vontade.

- Mas eu discordo - continuou Hermione.

Umbridge levantou ainda mais as sobrancelhas e seu olhar se tornou mais frio.

- Você discorda? - repetiu

- Sim, eu discordo - disse Hermione que, ao contrário de Umbridge, não sussurrava, mas dizia em voz alta, que agora atraía atenção de toda a sala. - O Sr. Slinkhard não gosta de azarações, não é? Mas eu acho que elas podem ser bem úteis quando usadas defensivamente.

- Ah, você acha, não é? - disse a professora, esquecendo de sussurrar e se levantando. - Mas eu acho que a opinião do Sr. Slinkhard, e não a sua, é a que conta para a classe, Srta. Granger.

- Mas... começou Hermione.

- Já chega - disse a professora. Ela voltou para a frente da sala e ficou de frente para todos, toda a alegria que mostrava no início da aula desapareceu. - Srta. Granger, eu vou tirar cinco pontos da Grifinória.

Houve um início de vários murmúrios.

- Por quê? - disse Harry com raiva.

- Não se envolva! - cochichou Hermione com urgência.

- Por perturbar minha aula com interrupções bobas - disse a professora suavemente. - Estou aqui para ensinar vocês usando um método aprovado pelo Ministério que não inclui convidar os alunos para darem suas opiniões em assuntos que entendem pouco. Seus últimos professores nessa matéria podem ter sido mais displicentes mas nenhum deles, com a possível exceção do Professor Quirrell, que ao menos aparentava restringir as lições devido à idade, teria passado por uma inspeção ministerial...

- Ah, claro, Quirrell era um excelente professor - disse harry em voz alta - mas ele tinha o problema de ter Lord Voldemort grudado na parte de trás da cabeça!

Esse pronunciamento foi seguido por um dos silêncios mais audíveis que Harry já escutou. Então...

- Acho que mais uma semana de detenção fará bem pra você, Sr. Potter - disse Umbridge suavemente.

*

O corte na palma da mão de Harry mal havia se curado e, pela manhã seguinte, estava sangrando de novo. Ele não reclamou durante suas detenções à noite; estava determinado a não dar à Umbridge satisfação; várias e várias vezes escreveu "Eu não devo mentir" e nenhum som escapou de seus lábios, apesar do corte aumentar a cada letra.

A pior parte dessa segunda semana de detenções foi o que Jorge havia previsto, a reação de Angelina. Ela o pegou assim que chegou para tomar café na mesa da Grifinória na terça e gritou tão alto que a professora McGonagall veio separar os dois da mesa.

- Srta. Johnson, como se atreve a fazer esse escândalo no Salão Principal? Cinco pontos a menos para a Grifinória!

- Mas professora, ele pegou detenção de novo...

- O que é isso, Potter? - disse McGonagall bruscamente, se virando para Harry. - Detenção? De quem?

- Da professora Umbridge - murmurou Harry, não encarando os olhos furiosos da professora McGonagall.

- Você está me dizendo - disse ela, baixando a voz para que um grupo curioso da Corvinal que estava atrás deles não ouvisse - que mesmo depois do aviso que lhe dei na última segunda você perdeu a calma na aula da professora Umbridge de novo?

- Sim - murmurou Harry, falando para o chão.

- Potter, você deve se controlar! Você está se metendo em sérios problemas! Outros cinco pontos da Grifinória.

- Mas... O quê? Professora, não! - disse Harry, furioso com a injustiça. - Eu já estou sendo punido por ela, por que a senhora ainda tem que me tirar pontos?

- Porque parece que as detenções não causam efeito em você! - disse azedamente a Professora McGonagall. - Não, nem mais uma queixa, Potter! E quanto a você, Srta. Johnson, você vai guardar seus gritos para o campo de quadribol ou vai perder o posto de capitã!

A professora saiu de volta para sua mesa. Angelina lançou um olhar extremamente feio a Harry e saiu. Depois Harry se sentou ao lado de Rony, fumegando.

- Ela tirou pontos da Grifinória porque minha mão vem sendo cortada toda noite! Isso é justo?

- Eu sei, cara - disse Rony simpaticamente, colocando bacon no prato de Harry. - Ela está ficando fora de si.

Mas Hermione meramente passou os olhos pelas páginas do Profeta Diário e não disse nada.

- Você acha que McGonagall está certa, não acha? - disse Harry com raiva para a figura de Cornélio Fudge tampando a cara de Hermione.

- Gostaria que ela não tivesse tirado pontos de você, mas acho que ela está certa em advertir você para não perder a paciência com Umbridge - disse a voz de Hermione enquanto Fudge gesticulava com força na primeira página, claramente fazendo um discurso.

Harry não falou com Hermione durante a aula de Feitiços, mas quando entraram na aula de Transfiguração ele esqueceu que estava de mal com ela. A professora Umbridge estava junto de seu bloco, sentada num canto e a imagem dela reavivou a memória de Harry sobre o que aconteceu no café da manhã.

- Excelente - sussurrou Rony, enquanto se sentavam no lugar de sempre. - Umbridge vai ter o que merece.

A professora Minerva marchou para dentro da sala sem ao menos dar sinais de que tinha notado Umbridge.

- Isso vai servir - disse ela e o silêncio se fez imediatamente. - Sr. Finningan, venha cá e devolva os deveres de casa. Srta. Brown, por favor pegue aquela caixa de ratos. Não seja boba, menina, eles não vão lhe morder. E dê um para cada estudante...

- Hum, hum - disse a Profa Umbridge, usando a mesma tossida idiota que usou para interromper Dumbledore na primeira noite. A professora McGonagall a ignorou. Simas devolveu o dever de Harry, que o pegou sem olhar o garoto e viu, para seu alívio, que tinha tirado um "A".

- Muito bem, escutem todos com atenção. Dino Thomas, se você fizer isso com esse rato de novo vou colocá-lo em detenção. A maioria de vocês já fez desaparecer com sucesso seus caracóis e mesmo aqueles que deixaram um pouco da concha visível pegaram o jeito. Hoje, nós devemos...

- Hum, hum - disse Umbridge.

- Sim? - disse a professora Minerva, virando-se. Suas sobrancelhas estavam tão juntas que pareciam formar uma única e severa linha.

- Eu estava imaginando, professora, se você recebeu minha nota dizendo a data e a hora de sua inspeç...

- Obviamente eu recebi ou teria perguntado o que a senhora está fazendo aqui - disse a McGonagall, virando firmemente as costas para Umbridge. Muitos estudantes trocaram olhares de satisfação. - Como eu dizia, hoje nós praticaremos um desaparecimento mais difícil, o de ratos. Agora, o Feitiço do Desaparecimento...

- Hum, hum.

- Eu estava pensando - disse Minerva com uma fúria gelada, virando-se para a professora Umbridge - como a senhora espera ter uma idéia da meu método de ensino usual se continua a me interromper? Você vê, eu geralmente não permito que as pessoas falem enquanto eu falo.

A professora Umbridge parecia que tinha levado um tapa na cara. Ela não falou mas estreitou o pergaminho do seu bloco e começou a escrever furiosamente.

Parecendo muito desinteressada, a professora McGonagall dirigiu-se à classe mais uma vez.

- Como eu dizia, o feitiço do desaparecimento fica muito mais difícil devido à complexidade do animal a se fazer desaparecer. O caracol, que é um invertebrado, não apresenta muita dificuldade; o rato, que é um mamífero, oferece mais desafio. Mas isso não é uma mágica que você pode executar com seus pensamentos no jantar. Então, vocês sabem o encantamento, deixem-me ver do que são capazes...

- Como ela pode me dar sermão sobre não perder a paciência com Umbridge! - Harry murmurou para Rony, mas ele estava sorrindo, sua raiva com a professora Minerva se evaporou quase completamente.

Umbridge não seguiu Minerva ao redor da sala como seguiu a professora Sibila; talvez tenha notado que McGonagall não permitiria. Mas tomou mais notas enquanto estava sentado no canto e quando Minerva disse que podiam sair mostrou uma expressão sorridente no rosto.

- Bem, é um começo - disse Rony, segurando um longo rabo de rato e jogando na caixa que Lilá estava segurando.

Enquanto saíam da sala de aula Harry viu Umbridge se aproximar da mesa de McGonagall; cutucou Rony, que cutucou Hermione e os três deliberadamente foram espreitar.

- Há quanto tempo você ensina em Hogwarts? - perguntou Umbridge.

- Fará trinta e nove anos em dezembro - disse a professora Minerva bruscamente, fechando sua bolsa.

Umbridge fez uma anotação.

- Muito bem. Você receberá os resultados de sua inspeção em dez dias.

- Mal posso esperar - disse a professora Minerva, numa voz fria e indiferente, e saiu em direção à porta. - Apressem-se vocês três - adicionou, alcançando Harry, Rony e Hermione.

Harry não pôde deixar de dar um sorriso e podia jurar que recebeu um de volta.

Pensou que a próxima vez que veria Umbridge seria na sua detenção à noite, mas estava errado. Quando caminhavam em direção à floresta, para Trato de Criaturas Mágicas, encontraram-na com seu bloco esperando ao lado da professora Grubbly-Plank.

- Você não costuma dar essa aula, não é? - Harry a ouviu perguntando quando eles chegaram próximos a um grupo de Tronquilhos encarapitados em um tronco como muitos galhos vivos.

- Correto - disse Grubbly-Plank, as mãos nas costas batendo ligeiramente os pés*. - Eu sou a professora substituta. Estou no lugar do professor Hagrid.

Harry trocou olhares inseguros com Rony e Hermione. Malfoy estava cochichando com Crabbe e Goyle; com certeza adoraria essa oportunidade para mentir sobre Hagrid para um membro do Ministério.

- Hmmm - disse umbridge, baixando a voz, apesar de Harry poder continuar ouvindo-a. - Eu estava pensando... O diretor parece extremamente relutante de me dar alguma informação a respeito. Você poderia me contar o que está causando a longa ausência do professor Hagrid?

Harry viu Malfoy levantar a cabeça ansiosamente e olhar de perto Umbridge e Grubbly-Plank.

- Acho que não - disse rapidamente a professora Grubbly-Plank. - Não sei de nada além do que a senhora sabe. Recebi uma coruja de Dumbledore perguntando se eu gostaria de ensinar aqui por algumas semanas. Aceitei. É isso que eu sei. Bom... Posso começar a aula agora?

- Sim, por favor - disse a professora Umbridge, escrevendo em seu bloco.

Umbridge agiu diferente nessa inspeção e circulou através dos estudantes, questionando-os sobre criaturas mágicas. A maioria foi capaz de responder bem e o espírito de Harry se animou; ao menos a sala não estava deixando Hagrid na mão.

- No geral - disse a professora Umbridge, retornando à professora Grubbly-Plank depois de interrogar Dino Thomas -, como é que você, como um membro temporário do corpo docente, uma pessoa de fora, eu suponho que você possa dizer, o que você acha de Hogwarts? Você acha que recebe apoio suficiente da direção?

- Ah, sim, Dumbledore é excelente - disse Grubbly-Plank de coração. - Sim, eu estou muito feliz como as coisas vêm sendo guiadas, por assim dizer.

Mostrando-se educadamente incrédula, Umbridge fez uma pequena nota no seu bloco e continuou.

- E você está planejando assumir essa matéria este ano, pretendendo, é claro, que o professor Hagrid não retorne?

- Oh, eu vou mostrar no decorrer do ano criaturas que costumam ser cobradas nos N.O.M.s. Não há muito a fazer, eles já estudaram unicórnios e pelúcios, eu pensei em mostrar-lhes pocotós e amassos, ter certeza que podem reconhecer crupes e ouriços, você sabe...

- Bem, VOCÊ parece saber o que está fazendo - disse Umbridge, fazendo um anotação muito óbvia no seu bloco. Harry não gostou na ênfase que ela colocou no "você" e gostou ainda menos quando fez a próxima pergunta para Goyle. - Agora, eu ouvi dizer que houveram ferimentos nessa aula?

Goyle deu um estúpido sorriso. Malfoy se apressou para responder a pergunta.

- Fui eu - disse ele. - Fui atacado por um hipogrifo.

- Um hipogrifo? - disse umbridge, escrevendo freneticamente.

- Apenas porque ele foi idiota de não ouvir o que Hagrid havia dito! - disse Harry raivoso.

Rony e Hermione gemeram. Umbridge virou sua cabeça devagar na direção de Harry.

- Mais noites de detenção, eu suponho - disse ela calmamente. - Bem, muito obrigada professora Grubbly-Plank, eu acho que já vi tudo aqui. Você receberá os resultados de sua inspeção em dez dias.

- Tudo bem - disse Grubbly-Plank e Umbridge saiu em direção ao castelo.

*

Era quase meia-noite quando Harry deixou o escritório de Umbridge naquela noite. Sua mão sangrava tanto que estava manchando o lenço que havia amarrado nela. Esperava que o salão comunal estivesse vazio quando retornasse, mas Rony e Hermione haviam se sentado e esperado por ele. Estava feliz em vê-los, especialmente quando Hermione estava disposta a ser mais simpática do que crítica.

- Aqui - disse ela ansiosamente, empurrando um pequeno recipiente cheio de líquido amarelo para perto dele. - Mergulhe sua mão nisso, é uma solução de tentáculos de murtisco amassados e picados, deve ajudar.

Harry colocou a mão sangrenta e dolorida dentro do recipiente e experimentou um enorme sentimento de alívio. Bichento passava entre suas pernas, ronronando alto, depois subiu nas suas pernas e se deitou.

- Obrigado - disse Harry grato, coçando as orelhas de Bichento com sua mão esquerda.

- Ainda acho que você deveria reclamar sobre isso - disse Rony em voz baixa.

- Não - respondeu prontamente.

- McGonagall iria à loucura se soubesse...

- É, ela provavelmente iria - disse Harry. - E quanto tempo você acha que levará para Umbridge passar outro decreto dizendo que qualquer um que reclame da Grande Investigadora é retaliado imediatamente?

Rony abriu a boca para retorquir mas nada saiu e, depois de algum tempo, ele a fechou, sentindo-se derrotado.

- Ela é uma mulher terrível - disse Hermione em voz baixo. - Terrível. Você sabe, eu estava justamente dizendo isso para o Rony quando você chegou... Nós temos que fazer algo em relação a ela.

- Eu sugiro envenenamento - disse Rony sorrindo.

- Não... Eu digo algo sobre como ela é uma professora horrorosa e que nós não vamos aprender nada sobre Defesa Contra as Artes das Trevas com ela.

- Bem, o que podemos fazer? - disse Rony, bocejando. - Tá muito tarde, né? Ela pegou o emprego e vai ficar. Além do mais, Fudge vai mantê-la.

- Bem - disse Hermione hesitante. - Você sabe, eu estive hoje pensando... - ela lançou um olhar meio nervoso a Harry e depois continuou. - Eu estive pensando que... Talvez tenha chegado a hora onde nós simplesmente devíamos... Devíamos tomar a iniciativa.



- Tomar a iniciativa pra quê? - disse Harry, sua mão ainda boiando na poção.

- Bem... Aprender Defesa Contra as Artes das Trevas por nós mesmos.

- Sem chance! - gemeu Rony. - Você quer trabalho extra pra nós? Não vê que Harry e eu estamos entupidos de dever de casa e é apenas a segunda semana?

- Mas há coisa mais importante do que nossos deveres de casa!

Harry e Rony arregalaram os olhos.

- Eu não sabia que havia coisa mais importante no universo que dever de casa! - disse Rony.

- Não seja ridículo, é claro que há - Harry viu, com um sentimento penoso, que a garota tinha a face iluminada com o mesmo fervor que o F.A.L.E lhe inspirava. - E tipo nos prepararmos bem para, como disse o Harry na primeira aula da Umbridge, o que nos espera lá fora. É ter certeza de que nós podemos nos defender bem. Se nós não aprendermos nada durante o ano inteiro...

- Não podemos fazer muito por nós mesmo - disse rony numa voz derrotada. - Quer dizer, tudo bem, nós podemos ir e ver azarações na biblioteca e tentar praticar, eu acho...

- Não, eu concordo, nós já passamos da fase de aprender algo apenas dos livros. Precisamos de um professor apropriado, que possa nos mostrar como usar os feitiços e nos corrigir quando estivermos errados.

- Se você estiver falando de Lupin.. - Harry começou.

- Não, não estou falando de Lupin. Ele está muito ocupado com a Ordem, além do mais só poderíamos vê-lo durante as visitas a Hogsmeade e isso não é uma boa freqüência.

- Quem, então? - disse Harry, franzindo as sobrancelhas.

Hermione deu um grande e longo suspiro.

- Não é óbvio? Estou falando de você, Harry.

Houve um momento de silêncio. Uma brisa noturna sacudiu a vidraça atrás de Rony.

- De mim o quê?

- Estou falando de você nos ensinar Defesa Contra as Artes das Trevas.

Harry encarou Hermione. Depois se virou para Rony, pronto para trocar os olhares exasperados que sempre aconteciam quando Hermione tinha idéias malucas como a do F.A.L.E. Mas, para sua frustração, Rony não parecia exasperado.

Franziu um pouco a testa, aparentemente pensando. Depois disse:

- É uma boa idéia.

- Como assim uma boa idéia? - disse Harry.

- Você nos ensinar - disse Rony.

- Mas...

Harry estava sorrindo agora; tinha certeza que os dois estavam tirando sarro.

- Mas eu não sou professor, eu não...

- Harry, você foi o melhor do ano em Defesa Contra as Artes das Trevas! - disse Hermione.

- Eu? - disse Harry, o sorriso ainda maior no rosto. - Não, eu não sou, você me bateu em todos os testes...

- Acho que não - disse Hermione friamente. - Você me derrotou no terceiro ano, o único ano onde nós dois fizemos o teste juntos e tivemos um professor que realmente sabia da matéria. Mas eu não estou falando de resultados de testes, Harry. Pense no que você já fez...

- O que você quer dizer?

- Quer saber, eu não estou certo se quero alguém tão burro assim me ensinado - disse Rony para Hermione, rindo discretamente. Ele se virou para Harry. - Vamos ver - disse, fazendo uma careta com se fosse Goyle se concentrando. - Hum... Primeiro ano. Você salvou a Pedra Filosofal de Você-Sabe-Quem.

- Mas isso foi sorte - disse Harry. - Eu não era habili...

- Segundo ano - interrompeu Rony. - Você matou o basilisco e destruiu Riddle.

- Certo, mas se Fawkes não tivesse aparecido, eu...

- Terceiro ano - disse Rony, mais alto. - Você lutou com mais de cem dementadores de uma vez.

- Você sabe que isso foi sorte, se o vira-tempo não...

- Último ano! - disse Rony quase gritando. - Você lutou com Você-Sabe-Quem de novo...

- Me escutem! - disse Harry, quase com raiva, porque Rony e Hermione estavam dando risadinhas.

- Simplesmente me ouçam, tá bom? Pode parecer incrível quando vocês falam assim mas tudo aquilo foi sorte. Na maioria das vezes eu não sabia o que eu estava fazendo, eu apenas fiz o que me deu na cabeça e muitas vezes tive ajuda...

Rony e Hermione ainda davam risadinhas e Harry sentiu o sangue subir à cabeça; nem ao menos estava certo por que estava com tanta raiva.

- Vocês ficam aí sentados como se soubessem melhor do que eu. Eu estava lá, não estava? - disse furioso. - Eu sei de tudo o que aconteceu, certo? E eu não passei por tudo isso porque eu era brilhante em Defesa Contra as Artes das Trevas, eu passei por tudo isso porque... Porque a ajuda veio em tempo, ou porque eu adivinhei certo. Mas eu fiz besteira demais nisso tudo, eu não tinha idéia do que eu estava fazendo... PAREM DE RIR!!!

O recipiente com a essência de murtisco caiu no chão e quebrou. Harry logo notou que estava de pé, apesar de não se lembrar com se levantou. Bichento se escondeu debaixo do sofá. Os sorrisos de Rony e Hermione sumiram.

- Vocês não sabem como é!!! Vocês... Nenhum de vocês... Nunca teve que enfrentá-lo, não é? Acham que é só aprender um bando de feitiços e jogar nele, como se estivessem na sala de aula? A toda hora você tem certeza que não há nada entre você e a morte exceto o seu... O seu próprio cérebro ou coragem ou sei lá, como se você pudesse pensar direito quando se está a um nanosegundo de ser morto ou torturado, ou vendo seus amigos morrerem... Eles nunca ensinaram isso em nossas aulas... E vocês dois sentados aí como se eu fosse um garotinho esperto por estar aqui, vivo, como Diggory foi idiota, como ele se acabou... Vocês não entendem, como poderia ter sido eu fácil, fácil, seria se Voldemort não precisasse de mim...

- Nós não dissemos nada disso, cara - disse Rony, que parecia espantado. - Nós não queríamos falar sobre Diggory, nós não... Você pensou errado, você...

Ele olhou desesperadamente para Hermione, cuja face estava paralisada.

- Harry - disse ela timidamente - Você não vê? Isso... Isso é exatamente por que precisamos de você... Precisamos saber como r-realmente é... Enfrentá-lo... Enfrentar V-Voldemort.

Era a primeira vez que ela havia dito o nome de Voldemort e foi isso, mais que qualquer outra coisa, que acalmou Harry. Ainda respirando fundo, afundou em sua cadeira, ficando alerta agora que sua mão doía demais. Desejou não ter quebrado o recipiente com a essência.

- Bem... Pense sobre isso - disse Hermione tranqüilamente. - Por favor.

Harry não conseguia pensar em nada para dizer. Sentia-se envergonhado de seu acesso de raiva. Concordou, embora pouco atento ao que acabava de concordar.

Hermione se levantou.

- Bem, eu vou dormir - disse ela, numa voz mais natural possível. - Er... Boa noite.

Rony se levantou também.

- Vai dormir? - disse cautelosamente para Harry.

- Sim - disse Harry. - Vou... Vou num minuto. Só vou limpar isso...

Ele indicou o recipiente quebrado. Rony concordou e saiu.

- Reparo - murmurou Harry, apontando sua varinha para as peças quebradas. Elas se juntaram, como se fosse novas, mas não havia como colocar a essência de volta.

De repente se sentiu tão cansado que ficou tentando a se deitar na poltrona e dormir ali mesmo, mas ao invés disso forçou a si mesmo a ficar em pé e seguiu Rony para o quarto. Sua noite mal-dormida foi seguida mais uma vez por sonhos com longos corredores e portas trancadas e acordou no dia seguinte com sua cicatriz doendo novamente.


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