Bella Black
(1968-1970)
Com um estalo quase imperceptível, Voldemort sentiu o solo úmido da caverna cedendo alguns centímetros sob o peso de seu corpo envolto pelas toneladas de vestes negras que vestia, tentando se proteger do vento cortante que passava pelas rachaduras da rocha da caverna, produzindo assobios fantasmagóricos.
A brisa do mar acariciava seu rosto mais uma vez. Só agora ele entendia porque sua Amortentia tinha esse cheiro. De certa forma, ele era como o Oceano; profundo, gélido, enigmático, atraente, fascinante...
Sentia o medalhão pesando em seu pescoço, como se o lembrasse do que viera fazer ali de fato, e o mesmo peso que o machucava o impediu de dirigir um segundo olhar ao monte de terra aplainada que era o túmulo de Ann. Não havia nada por ali que sequer sugerisse que havia alguém enterrado poucos metros abaixo. Na verdade, ele ponderou, duvido que esse lugar pudesse ser mais estranho mesmo com uma população inteira enterrada sob o solo.
Voldemort ainda não compreendera totalmente o que havia de tão especial naquele lugar; de fato, não fosse o difícil acesso, pareceria apenas uma caverna comum. Mas mesmo o mais tolo dos trouxas era capaz de sentir as ondas de poder mágico que circundavam o local, como se em algum passado distante ele houvesse sido sagrado por algum motivo e nele houvessem persistido o poder dos rituais e cerimônias alguma vez executados...
Ele notou que havia algo de diferente, um pequeno detalhe que teria passado despercebido a qualquer olhar menos atento, mas não ao seu. A chuva da estação havia lavado um caminho pela rocha lisa e um pequeno riacho cristalino vazava de uma fenda na parede, como uma miniatura de cascata, serpenteando até encontrar uma outra fenda mais baixa na parede oposta e adentrando por um buraco mínimo, por onde mal passaria um dedo e então sumia, continuando a correr como se o caminho da água através do paredão de pedra estivesse totalmente desempedido. Voldemort calculou que se apenas uma parte da chuva que havia caído sobre a Ilha naqueles últimos meses estivesse gotejando daquela maneira, já deveria existir um lago lá dentro, ou pelo menos uma poça de tamanho e profundidade razoáveis.
Abaixou-se e encostou o ouvido da parede; ouvindo o barulho surdo e oco como o de uma concha vazia e o gorgolejar dos pingos de água caindo e correndo em direção a onde quer que eles se acumulassem.
Havia um enorme salão por trás daquilo, como ele imaginara. Sentiu o medalhão pesar novamente, e então, como se obedecendo às ordens do objeto, apontou a varinha para o paredão liso de rocha e invocou um antigo encantamento.
E então, como se uma faca partisse a rocha de dentro para fora, uma abertura surgiu, um arco brilhando intensamente, quase cegando-o com o brilho lácteo que emitiu, e pouco depois tornou-se visível um vasto salão na caverna, e no centro dominava um lago de tamanho razoável, tão grande que Voldemort não era capaz de enxergar a outra margem.
Se aproximou na beira do lago e tocou as águas tranqüilas – estranha e bizarramente tranqüilas. Do tipo de tranqüilidade que assustava, e não tranqüilizava, como o silêncio da noite que torna a escuridão ainda mais envolvente.
“Lumus!”
E parte da caverna se iluminou; apenas a parte imediatamente em frente a si. Quase trinta anos depois, e ele ainda achava que a escuridão daquela caverna era densa demais para ser apenas escuridão.
Apertou o frasco de poção verde no bolso interno de suas vestes.
Estava trabalhando naquilo havia tanto tempo que sequer lembrava de seu efeito exato. Só sabia que aquela poção impediria quem quer que fosse de pegar o medalhão da bacia recém-conjurada e que aquele que ousasse ir até o final, aquele que conseguisse... Só viveria tempo suficiente para que ele ficasse sabendo quem havia sido o tolo estúpido que descobrira a localização de sua Horcrux e tentara rouba-la, e o porquê.
Tocou novamente na água e levou a mão à boca; e não se surpreendeu ao constatar o seu gosto anormalmente amargo. Aquela água era puro veneno... Ainda assim, sentia que não era o suficiente...
Um barquinho surgiu da ponta de sua varinha e em seguida uma longa corrente esverdeada – tudo parecia verde naquele ambiente, mesmo a luz que deveria ser branca. Ele perguntou-se se Nagini, ou quem quer que a tivesse trazido para lá, teria algo a ver com isso.
Suprimiu um arrepio.
O barco deslizou pela superfície vítrea da água permitindo que Voldemort sentasse nele e com um toque da varinha, enfeitiçou os remos para que o levassem até a ilhota no meio do lago.
A ilhota era estranhamente plana e regular, e seu formato era o de um círculo perfeito. Certamente a Natureza jamais seria capaz de criar uma circunferência tão perfeita apenas por coincidência. Ainda era capaz de sentir as vibrações do local que sacudiam sua própria aura, invadindo-a, perfurando... Voldemort sentiu que não era bem-vindo ali; a caverna não estava gostando nem um pouco de ter seu sono milenar perturbado.
Mas ignorou os apelos de sua intuição para que fosse embora dali, embora ainda sentisse que estava invadindo um espaço sagrado. Seu medo misturava-se com ansiedade e um tanto de orgulho por ter descoberto aquele local, e então, tendo atingido o centro da ilhota (sentiu vontade de correr, mas qualquer agitação extra e ele sentia que a caverna poderia criar vida e o engolir vivo), enquanto andava o mais silenciosamente possível, depositou a bacia numa espécie de banco de rocha que parecia ter sido escavado diretamente do chão, erguendo-se como um pequeno obelisco, que ele pôde reparar, era gravado com minúsculas runas.
Abriu o frasco de poção verde-fluorescente, que caiu delicadamente em seu contêiner e girou como pensamentos em uma penseira, e então pareceu multiplicar-se, ocupando todo o volume da bacia. Voldemort não deu atenção a esse comportamento estranho da poção; seus olhos estavam ocupados analisando as runas inscritas na pedra. Tocou-as; eram frias como a rocha, mas pareciam gravadas a fogo, escuras, negras como carvão, contrastando com o cinzento sujo da pedra. Formavam frases distintas e ele pôde perceber que era um texto, algum tipo de invocação ou oração bastante grande e complexa que circundava toda a superfície.
Voldemort havia tomado aulas de runas antigas em Hogwarts, mas era difícil traduzi-las após tanto tempo sem praticar. Formavam uma espiral que começava no topo e desciam em sentido horário, dando voltas e mais voltas, dançando sob a luz bruxuleante do reflexo da luz de sua varinha... Passou os dedos descendo pela coluna e leu em voz alta o que tinha inscrito:
“Vinde vós, espíritos que sabem escutar os pensamentos mortais, preenchei-me, da cabeça aos pés, com a mais medonha crueldade até haver ela de mim tomado conta. Que o meu sangue fique mais grosso, que se obstrua o acesso, a passagem, para o remorso, que nenhuma visitação compungida da natureza venha perturbar meu feroz objetivo ou estabelecer mediação entre este meu objetivo e seu efeito. Vinde vós, espíritos servis e assassinos, seja onde for que, em vossa invisível matéria atendeis às vis turbulências da natureza. Vem, noite espessa, e veste a mortalha dos mais pardacentos vapores do inferno, que é para minha fina faca afiada não ver a ferida que faz...*”
Voldemort piscou assustado. Não sabia o que aquelas palavras significavam, mas algo lhe dizia que não era boa coisa...
E então, pela segunda vez em que pisava naquela caverna, ele foi tomado pelo estranho transe que apagou qualquer pensamento consciente de sua mente e o levou a muitos anos no passado; um passado infinitamente longínquo, muitos anos antes de Slytherin ou da fundação de Hogwarts, ele diria. Porque o ambiente lhe parecia por demais... primitivo. Havia aquele aroma selvagem indefinido que paira sobre o momento em que uma vida está prestes a ser arrancada de um corpo; isso ele conhecia demais...
Ainda era a sua caverna, a velha caverna, rodeada pelas águas escuras do lago.
Mas Voldemort não estava mais sozinho. Haviam outras pessoas com ele. Pessoas vestidas de modo ainda mais primitivo, usando tão somente vestes cerimoniais brancas para os homens, e negras para as mulheres.
E então, como se já esperasse por algo assim, viu dois homens vestidos de negro levando nos braços o corpo nu de uma jovem desacordada e que sibilava coisas ininteligíveis. Estava totalmente despida, a não ser por uma coroa na cabeça, uma coroa dourada em cuja fronte, apertando dolorosamente a testa da moça, havia uma círculo perfeito e de cada lado, uma meia-lua, em seu período crescente e minguante. Como chifres ornando a lua cheia, brilhando no ouro em todo seu esplendor.
A jovem foi deitada no chão ao centro da plataforma e as estranhas pessoas ao redor deram as mãos, entoando um cântico primitivo, e suas vozes ritmadas pareciam compassos de um tambor, embora pensando bem, ele não tivesse visto nenhum instrumento musical por ali. Voldemort se aproximou mais, sabendo que estava invisível. Seu peito ardia de curiosidade e expectativa, porque no fundo ele sabia, ele tinha um pressentimento...
As vozes cessaram e uma mulher velha, trajando vestes douradas e coroada com uma coroa com as fases da lua ainda maior e mais brilhante, combinando formidavelmente com o dourado brilhante de sua túnica, se aproximou. Ela era vários centímetros mais baixa que Voldemort, no entanto, quando ela se aproximou, ele a viu crescer e imediatamente passou a transbordar respeito e admiração por aquela figura, que erguia-se imponente apesar da idade e das formas pouco apropriadas. A velha puxou de trás das costas um punhal retorcido de prata de aspecto letal e afiado.
A mulher se aproximou mais ainda, ficando cara a cara com a jovem que se remexia inconsciente, aparentemente muito drogada para perceber o que acontecia ao seu redor, e então a velha bruxa ergueu a arma e a baixou sobre o peito da moça... Voldemort quase fechou os olhos, mas a curiosidade e a ansiedade, e um certo gosto por sangue o mantiveram despertos. Nos milésimos de segundo que antecederam a pancada, a garota despertou e gritou, um grito agudo, alto e lancinante. E abriu os olhos, arregalou-os quase a ponto de os fazerem saltar das órbitas. E os olhos eram verdes, de um verde vivo tão intenso e diferente que Voldemort teve a certeza de que jamais iria esquece-los...
Antes que tivesse tempo de sentir o sangue morno esguichando e banhando seu corpo, em sua mente tornaram a vir redemoinhos confusos de cores e formas, levando-o de volta ao presente.
A caverna lhe parecia mais hostil do que nunca. Jogou o medalhão-horcrux na bacia com a poção que tornou a girar até cobrir toda a relíquia. Sorriu satisfeito, embora ainda um pouco confuso. Voltaria lá, voltaria...
[...]
Aparatou novamente em cima do penhasco, atento aos barulhos da noite que o vento trazia aos seus ouvidos. Gostava de caminhar por ali, por isso, não foi direto para casa.
Precisava de um tempo consigo mesmo para organizar os pensamentos, raciocinar a respeito do ocorrido na caverna. Porém por mais que tentasse encaixar, nada fazia sentido...
Desistiu de tentar achar um sentido naquele par de olhos assustadoramente verdes e se pôs a observar tranqüilamente a lua cheia que parecia ainda maior e mais brilhante dali de cima. Do outro lado, eram visíveis as casinhas pobres do povoado e suas luzinhas piscando como estrelas em meio à escuridão do abismo que descia pelo penhasco.
A brisa marinha acariciou seu corpo e ele deitou-se de costas contra a pedra, tentando reconhecer as constelações. Serpens brilhava mais do que nunca e a exuberante lua cheia era contornada por um arco alaranjado, quase combinando com o brilho vermelho de Marte.
Sentiu uma sensação de dèja vu. Fazia tanto tempo desde que o céu se alinhara daquela mesma maneira,
com Bellatrix brilhando intensamente formando um arco com a estrela de seu signo, a mais brilhante da constelação de Capricórnio.
Ele meditou a respeito do significado daquilo, e desistiu novamente depois de alguns minutos. Sempre fora bom em Astronomia, mas aquela parecia ser uma noite de perguntas, não de respostas...
Então, quando se levantou, percebeu que os pingos de chuva haviam se transformado em flocos de neve, os primeiros daquele dezembro gélido, e apertando a capa mais junto a si, desaparatou.
[...]
Voldemort, sentado em sua poltrona em frente à lareira, massageava preocupadamente as têmporas com a ponta dos dedos finos, equanto Nagini sibiliava qualquer coisa em seu ouvido. Estava começando a se arrepender amargamente daquela idéia. Quem disse que o Lorde das Trevas sabia preparar festas de Halloween?
No entanto já podia sentir o cheiro de abóboras sendo assadas, um cheiro que abriria o apetite de qualquer um, menos de Voldemort, que imaginava se Malfoy havia posto alguma coisa em sua bebida para que acatasse aquela sugestão. O cheiro serpenteava a partir da cozinha nos fundos, onde três elfos domésticos trabalhavam arduamente nos preparativos para a festa daquela noite; parecia zombar da austeridade da casa.
“Qual é o seu problema com festas?” – Sibilou Nagini ao pé do ouvido. Aquela cobra as vezes parecia mais humana do que ele mesmo e Voldemort estava começando a ficar preocupado com isso.
“Festas são inúteis. Um bando de gente se empanturrando de comida, bebendo, fazendo barulho e se divertindo idiotamente.”
“Oh, não, festas são incrivelmente úteis, mylord. Imagine o que esses estúpidos não estarão aptos a aceitar depois de um banquete incrível; quando estarão tão intorpecidos de bebida, tão cansados de agitarem os corpos estupidamente, que sequer pararão para pensar antes de dizer: Sim, senhor, agora traga-me mais um pouco daquele vinho...”
“Ora, Nagini, minha cara, você está se saindo uma estrategista muito melhor do que eu! O fato é que a idéia de Malfoy não é de toda ruim. Imagine toda uma legião de seguidores unidos soba Marca Negra, compartilhando do infinito poder e generosidade de Lord Voldemort...”
“Agora você entende quando lhe digo para pensar um pouco como os outros? O mundo é feito de tolos; temos de nos adaptar a eles, e não ele a nós. Mas uma coisa é se desdobrar em mil para se encaixar do espaço exíguo a que temos direito sob o sol, outra é forçar um pouquinho de cada vez, lentamente, as bordas da massa dura em que fomos jogados. Ela não se quebrará, mas cederá, e você terá seu espaço, e mais, se quiser se expandir ainda...”
“Nagini, a Sábia Criatura.” – Debochou sutilmente, mas sem perder o tom de admiração. – “Tem certeza que não foi você quem tentou Eva ao Fruto Proibido?”
“Não fui eu, mas talvez um parente distante...”
“Sabem o que dizem, Nagini? Vou lhe contar uma história antiga, muito antiga, que eu ouvi quando ainda era criança.” – Voldemort parou por alguns minutos, encarando as chamas dançantes da lareira, vasculhando rapidamente a memória em busca da história. - “Era uma vez os anjos de Deus, e certa vez eles foram transformados em seres fracos e sem poder, subjugados pelos demônios inferiores.O rei dos anjos foi procurar o Criador para solucionar o problema. Ele lhes falou que o único modo para que os anjos se recuperassem, era que eles adquirissem o néctar da imortalidade e o bebessem, mas que para isso primeiro teriam de fazer as pazes com o Rei dos Demônios e então, dividiriam o néctar da imortalidade entre eles, que deveria ser obtido agitando o Oceano, e que o Rei das Serpentes, Nagini, deveria dar-lhes licença para isso, enrolando-se na montanha. Quando eles finalmente conseguiram, os Demônios roubaram o néctar da imortalidade, e houve uma guerra, e claro, os anjos venceram – com a interferência de Deus; e os demônios voltaram para o inferno, e a glória dos anjos de Deus foi reestabelecida. Moral da história: Se os demônios não tivessem, para começo de conversa, topado aquele trato com os anjos, nenhum dos dois conseguiria a imortalidade; porém, os anjos continuariam subjugados e fracos, dominados. E porque Deus tende sempre a favorecer o lado da luz, se tudo no Universo é uma mistura dos dois? É isso que eu quero dizer; porque não buscar o néctar da imortalidade sozinho? Porque não remexer o Oceano sozinho, com Nagini enrolada na montanha a me observar?”
“Eu não diria que Deus favorece a Luz, meu caro. Eu diria é que as histórias é que não são contadas direito. Porque se os feitos de um homem bom duram cem anos, os de um homem mau duram mil...”
E então, interrompendo o diálogo de que Voldemort e Nagini usufruiam imensamente, uma série de estalos de aparatação começou a vir do lado de fora da casa. Um, dois, três; catorze, quinze pessoas aparataram. Dezesseis; um último retardatário aparatou com um estalo alto de alguém inexperiente.
Desgraçadamente, e contra sua inteira vontade, Voldemort percebeu que alguém (aquele elfo desgraçado haveria de lhe pagar caro por aquilo...), sabe-se Merlin como, havia ligado um som em algum lugar da casa e a música tomou conta de cada metro quadrado do salão de festas subterrâneo (que era um ambiente um tanto quanto lúgubre para uma comemoração de qualquer tipo), feito de pedras cinzentas que davam um aspecto rústico e ao mesmo tempo sofisticado ao local.
Velas flutuavam metros acima de sua cabeça, que no momento era a única a ocupar aquele espaço, e que já começava a doer ante os solos de guitarra frenéticos e as batidas da música que penetravam seus tímpanos.
Deu ordens para que Hunter mandasse seus convidados entrarem, e o elfo assim o fez. Minutos depois, um sem-número de Comensais da Morte adentrava ruidosamente, elogiando falsamente o bom-gosto e a generosidade de seu Mestre.
“...absolutamente fantástico, estou honrado em conhcer o senhor...” – ofegou um velho bruxo fazendo uma reverência diante de Voldemort.
Voldemort ergueu uma sobrancelha. O homem pareceu imensamente desconsertado e começou a dar explicações:
“Sou Cygnus Black, um admirador e entusiasta da Nobre Missão Purificadora... E essas são minhas filhas; Bellatrix, a mais velha, Andrômeda e Narcisa... Senhor” – acrescentou.
“Bellatrix? Bellatrix Black?” – Aquele nome lhe trouxe memórias peculiares, e ele sorriu ao avistar a jovem que acabara de entrar no salão e parecia um tanto desnorteada, embora mantesse ainda conservasse a altivez que já possuía quando não passava de uma pirralhinha com ligeiros traços sádicos.
Hey sister why you all alone?
Ei garota, por que você está tão só?
I'm standing out your window
Eu estou parado do lado de fora de sua janela
“O senhor... O senhor a conhece?” – ofegou Cygnus, admirado, olhando para a filha como se nunca a tivesse visto antes.
“Ah, eu conheço Bella muito bem” – Falou baixinho, divertidamente.
E foi então que Bellatrix se virou para encarar o futuro Mestre, tendo acabado de responder uma cantada atrevida de Lúcio Malfoy, que tinha voltado para casa a fim de passar o feriado do Halloween com a família.
Hey little sister, can I come inside, dear?
Ei garotinha, eu posso entrar, querida?
“Meu Senhor!” – Exclamou Bellatrix, vermelha de afobação, abaixando-se e beijando a bainha de suas vestes.
“Levante-se, Bella.” – Disse, suavemente. - “As vezes acho que o tempo passa mais devagar para os jovens, já que pelo visto você não se lembra de nossa aventurazinha na Copa Mundial de Quadribol...”
“Lembro! Como se fosse ontem...” – Disse Bella, ainda sem se levantar. Parecia cravada no chão de nervosismo.
“Então você certamente há de se lembrar do que eu lhe disse?”
“Desculpe, senhor, não entendo...”
“Eu disse que você seria bem-vinda a ingressar nos Comensais da Morte se no futuro, assim o desejasse.”
“Sim, senhor, é o que eu mais desejo...”
I wanna show you all my love
Eu queria te mostrar todo o meu amor
I wanna be the only one
Eu queria ser o único
“E eu também disse” – Ele parou para analisar a expressão ansiosa da bruxa morena à sua frente, e então sorriu ao perceber que ela era bastante apta em Oclumência – “Que poderia lhe ensinar coisas melhores e maiores do que simples maldições Cruciatus.”
“Sim, senhor” – Bella finalmente se levantou, ficando cara-a-cara com Voldemort.
I know you like nobody ever, baby
Eu conheço você como ninguém conhece, baby
E dessa maneira Voldemort teve de dar toda razão ao menino Malfoy em relação aos seus comentários vulgares para com Bellatrix.
Ela era... Qual foi mesmo o termo usado por Lúcio?
Ah... Muito gostosa...
Little sister can't you find another way
Garotinha, você não pode encontrar um outro jeito?
No more livin life behind a shadow
Sem mais viver a vida atrás de uma sombra
Bellatrix era esguia, alta e morena; os lustrosos cabelos pretos adornando um rosto pálido e pontudo, mas que não destoava da simetria delicada, pelo contrário, faziam-na reluzir com uma beleza diferente. Ao contrário da irmã Narcisa (que agora se engraçava com Lúcio a um canto escuro), Bellatrix não possuía uma beleza comum e enjoativa.
“Está disposta a se tornar a minha... Ah, pupila?”
Os olhos cinzentos brilharam e Bella abriu um sorriso extasiado, e concordou com um aceno frenético da cabeça, fazendo cachos falsos com que a decorava esvoaçarem em todas as direções.
You whisper secrets in my ear
Você sussura segredos no meu ouvido
Slowly dancing cheek to cheek
Dançando lentamente com o rosto colado
“Você já se formou, Bellatrix?”
“Sim, senhor.”
“E qual era a sua casa?”
“Sonserina senhor... Fui Monitora-Chefe.” – Ela sorriu orgulhosa.
“Por que não vamos para um lugar mais tranqüilo? Essa música está ficando insuportável...”
It's such a sweet thing when you open up, baby
É uma coisa tão doce quando você se abre, baby
Foram para o seu escritório; e Voldemort não pôde reprimir um pensamento inconsciente de que Bellatrix Black e escrivaninha eram uma combinação perfeita.
Ah, as lembranças que aquele escritório traziam...
They say I'll only do you wrong
Eles dizem que eu só te faço mal
Sentaram-se em poltronas uma em frente da outra. Voldemort recomeçou seu interrogatório:
“Então, o que a senhorita acha da ‘limpeza’ do sangue bruxo?”
“Ah... papai sempre diz que...”
“Não quero saber o que seu pai acha. Quero saber o que você acha”
“...papai sempre diz que o mundo bruxo devia se fechar para aqueles que não forem puro-sangue. Ele diz que mais cedo ou mais tarde, se simplesmente pararmos de nos misturar com essa gentinha, a população bruxa voltará a ser toda sangue-puro. No entanto...” – Bella levou a taça de vinho à boca e sorveu um gole lentamente – “Não acho que devamos esperar tanto. Por que não... exterminamos logo tudo de uma vez?”
Voldemort sorriu. Ali estava a sua Comensal mais fiel e competente. Só precisava se um certo treinamento...
We come together cause I know
Nós estamos juntos porque eu entendo
Just who you really are, baby
Quem você realmente é, querida
E então ele percebeu um ligeiro brilho na mão de Bellatrix. Havia ali uma inconfundível aliança dourada de noivado.
“Você está noiva?”
“Ah, estou sim, senhor” – Ela respondeu meio desgostosa.
“E quem é o felizardo?”
“Hmm...” – Bellatriz gemeu inconsientemente e fez uma ligeira careta, sem pereceber que o fizera. – “Rodolpho Lestrange.”
Voldemort assustou-se. Preciava ter uma conversinha séria com seus comensais sobre casarem-se com garotas com idade para serem suas filhas...
“Você não é um tanto jovem para casar?”
“Oh, bem, me parece que papai está muito preocupado com a perpetuação da espécie para levar em consideração detalhes como a minha idade.” – Ela sorriu torto – “Seja como for, o casamento se realizará em junho. Para ser sincera, estou prometida desde que nasci.”
Little sister can't you find another way?
Garotinha, você não pode encontrar um outro jeito?
No more livin life behind a shadow
Sem mais viver a vida atrás de uma sombra
“Então, Bella, acho que poderemos nos encontrar... Amanhã, às nove, aqui. O que você acha?”
“Acho perfeito, senhor, muito obrigada...”
Ela se retirou, fazendo uma reverência respeitosa a Voldemort, que apenas sorriu contente.
[...]
“Senhor!” – Gritava Hunter, entrando de repente no quarto abafado onde Voldemort repousava tranqüilamente.
Havia sido uma manhã cansativa. O Profeta Diário acabara de anunciar a criação de uma força-tarefa especial de aurores só para capturar os Comensais da Morte.
Era extremamente frustrantede ter de se isolar em casa. Foi nesse dia que Voldemort finalmente decidiu que era hora de sair das sombras.
“O que foi, elfo desgraçado?” – Sibilou entre os dentes.
Hunter piscou confuso. Só então Voldemort se deu conta de que dera a ordem em língua de cobra. Sempre fazia isso quando estava irritado ou nervoso...
“A Senhorita Black o espera no hall, senhor.” – Disse Hunter, prestando mais uma reverência.
“Ah, Bella! Excelente!”
Passou por cima do corpinho estendido de Hunter que só faltava encostar a testa enrugada no chão. O Elfo se desequilibrou e caiu.
Com uma risadinha maldosa, Voldemort desceu as escadas em direção ao hall de entrada.
“Bellatriz, minha cara.” – Cumprimentou-a docilmente.
Bellatrix se atrapalhou um pouco e levantou-se do sofá em um salto, deixando cair o livro que estava em seu colo – entitulado “Artes das Trevas Avançadas – Um Guia para potencializar seus poderes”.
“Desculpe, senhor. Eu vi o livro na estante e...” – Ela ofegou nervosmanete, abaixou a cabeça e corou até a raiz dois cabelos.
“Não tem problema” – Disse Voldemort, abaixando-se e repondo o livro na estante. – “Mas as coisas que você aprederá comigo não estão em livros.”
Fez sinal para que Bella o acompanhasse de volta ao escritório.
Lá dentro, na penumbra permanente em que o aposento se encontrava quase sempre imerso, com as pesadas cortinas verdes fechadas barrando a entrada de qualquer luz natural, havia um único armário velho e quebrado que chacoalhava ruidosamente.
Antes que Bellatrix lhe perguntasse qualuqer coisa ele tomou a diateira:
“Aí dentro tem um bicho papão. Nossa primeira lição.”
Como Voldemort esperava, Bellatrix dirigiu-lhe um olhar inquisidor murmurou:
“Um bicho-papão? Mas... Isso é nível de terceiro ano, senhor.”
“Nós não vamos afujentar o bicho-papão. Não...” – Voldemort deu um passo à frente e puxou a maçaneta da porta do armário.
“Vamos usar o bicho-papão a nosso favor. Vamos transformar a coisa que mais tememos em uma arma letal que poderá ser voltada contra outros. O primeiro passo é vencer o próprio medo; deixar o bicho-papão achar que não o tememos. Ele ficará confuso. Depois dizemos o feitiço phobus everto... Tente primeiro...” – E puxou a porta do armário.
O que saiu lá de dentro foi uma Bellatrix idêntica à atual, mas vestida no que parecia um uniforme de adolescente trouxa – calças jeans, uma camiseta de uma banda trouxa qualquer e all stars. Ao invés de uma varinha, o que Bellatrix apontou para sua gêmea de carne e osso foi um revólver.
O que Bellatrix mais temia era se tornar trouxa.
Voldemort não pôde deixar de rir, e um colorido vermelho foi subindo pelo rosto da bruxa. No entanto ela resistiu à tentação de repelir o bicho-papão, e uns dez minutos depois, conseguiu fazer o ser obedecer às suas ordens de apontar a arma para Voldemort.
“Riddikulus” – Disse Voldemort claramente e o bicho-papão voltou para seu armário.
“Muito bom mesmo, Bella. Mas você não deveria se deixar assustar por um momento que fosse; isso alimenta o bicho-papão e ele se torna mais e mais forte. Veja, vou mostrar a você...”
E abriu o armário pela segunda vez. Por um instante, pareceu a ambos que o bicho-papão não se transformaria em nada. De fato, ele parecia estar se decidindo em que forma tomar.
E então se decidiu: Um corpo morto apareceu subitamente à sua frente. O corpo morto de Voldemort
Voldemort sentiu toda a cor de seu rosto pálido sumir e arrepios gélidos subirem por sua espinha. Tremores descontrolados tomaram sua mão que segurava a varinha. Bellatrix desabara na cadeira, lívida de espanto e o observava atentamente...
Ele sabia que não deveria se mostrar fraco, não diante de Bellatrix... Mas aquilo era simplesmente tão assustador...
Era tão real.
Os olhos brancos vidrados, a boca entreaberta; um filete de sangue escorrendo de sua testa, o corpo frio e enrijecido...
“P-Phobos E-ev-vert-to!”
Nada aconteceu; o corpo virou para o lado, mostrando a outra face rígida encharcada de sangue coagulado.
“Phobos Everto! Phobos Everto! ”
O corpo enfim se levantou e veio andando como um zumbi na direção de Bellatrix, que se encolheu ligeiramente contra o encosto da cadeira. Com um aceno da varinha, Voldemort fez com que ele sumisse. Mas aquela imagem havia despertado em sua mente uma idéia... Uma idéia realmente louca... Tão louca quanto as boas idéias costumam ser...
“Desculpe” – murmurou Voldemort a Bellatrix, a contragosto – “Eu não deveria ter me deixado afetar pelo bicho-papão.”
Ele se dirigiu à porta de saída. Bellatrix o acompanhou com o olhar, ainda pálida e muda e então se levantou. Voldemort abriu a porta educadamente e fez menção para que Bellatrix saísse:
“Acho... Acho que por hoje chega... Nos vemos na semana que vem, creio.”
*Macbeth, Ato I, Cena V
+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++
Hello, people!
Gostaram do capítulo? Não teve realmente tanta graça assim. Foi relativamente curto, já que eu coloquei uma letra de música imensa no meio que sozinha deve tomar bem uma página. E antes que perguntem, o nome da música é “Little Sister” do “Queens of the Stone Age”. Eu realmente gosto dessa música, acho ela bem cool, faz o estilo de uma festinha à lá Voldemort hehe... E tem bastante a ver com a relação Voldie/Bella.
Avisando: O poema recitado inscrito na pedra na Caverna é de Macbeth, Ato I, Cena V (eu indiquei aí em cima).
A coisa lá da caverna será explicada bem mais tarde, mas não ficará por isso mesmo.
Aí começamos as aulinhas de Bella, o bicho-papão dela foi realmente bizarro, mas eu não consegui pensar em coisa melhor do que isso para Bella temer. E a própria Tia Jô falou que o boggart de Voldemort era seu corpo morto. Mas ele é bem esperto e vai saber administrar isso muito bem (quem aí falou Inferius?!).
Temos o início de uma pequena (que será grande, muito grande, podem crer...) tensão sexual entre Voldemort e Bellatrix. Mas vai demorar um bocadinho antes de rolar alguma coisa entre os dois. Quero desenvolver bem a relação hehe...
Ah, e o conto de Voldemort é uma adaptação de um conto indiano que teve algumas coisas modificadas (o nome do Rei das Serpentes não era Nagini. Nagini é o feminino de Nagas, que eram as cobras que o Rei das Serpentes governava). O conto inteiro está aqui:
http://geocities.yahoo.com.br/caveiraeletrica/contos.html
E eu jurrro que farei um capítulo maior na próxima vez. Há muito o que contar; a guerra vai finalmente começar, teremos o casamento e mais aulas e mais tensão sexual entre Voldemort e Bellatrix. E prometo uma “aparição especial” de Ricky no próximo capítulo também ;)
Obrigada imensamente pelos comments...
Beijos,
Lillith.
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