A Peça



Durante as próximas vinte e quatro horas, Gina e Draco jogaram exatamente vinte e duas partidas de xadrez, trinta rodadas de cartas, e aprenderam com Elle a brincar com dados, que jogaram onze vezes.
Draco ganhou apenas uma partida de dados, mas foi quando Gina murmurou algo no ouvido de Elle, que ele teve uma sorrateira suspeita de que elas haviam deixado-o vencer.
Não tinha importância, contudo. Pelo menos não estava enlouquecendo de tédio.
- Estou ansiosa para o verão – disse Elle uma hora, tristemente – Para que possamos brincar lá fora. Mas o inverno mal começou.
“Espero estar longe daqui até o verão” pensou Draco, mas apenas desdenhou, guardando para si mesmo.
Depois do almoço – ou o que Elle chamava de ceia – a aia de Gina apareceu e acompanhou-a até o quarto, alegando que a princesa precisava se arrumar para a peça. Draco tinha esquecido completamente disso, e perguntou-se se deveria se trocar também.
Mudar de roupa devia ser a pior atividade dessa época para ele, o que significava muito, porque havia muitas coisas que achava chato e maçante. Os jogos estavam incluídos – se não estivesse constantemente perdendo e ficando bravo e irritado, seriam tediosos ao extremo. Mas por outro lado, se ganhasse todo o tempo, isso também não seria excitante.
Quando chegou ao quarto, Timothy estava lá o esperando. O empregado tentou um pequeno e tremido sorrido quando Draco aproximou-se.
- O que você gostaria de vestir para o teatro, Sua Alteza? – Apesar de sua voz ser instável, ele não pareceu gaguejar. Draco ficou tentado a dar um tapa de congratulações nas costas dele.
- Irei usar o que já estou vestindo – respondeu.
Timothy fitou-o de alto a baixo, seus olhos claramente expressando desaprovação – era a cara mais desafiante que Draco já vira no fraco garoto – mas não comentou.
- Como queira, Alteza. A carruagem parte em uma hora; i-irei chamá-lo quando for a hora.
- Obrigado – disse Draco, observando Timothy dar a volta e apressar-se pelo corredor.
O príncipe entrou em um quarto próximo por nenhuma razão em particular, já perguntando-se o que faria na hora seguinte. Ele olhou a sua volta rapidamente, notando que esse aposento não devia ter sido muito usado pela realeza, porque não era ricamente mobiliado. As paredes estavam vazias, com apenas colunas largas suspensas e levemente sobressaltadas; havia apenas um pequeno tapete no chão, sem lareira, mas com um sofá fraco e rasgado, uma cadeira, e uma mesa encostada na parede.
Ele virou-se e preparou-se para sair quando algo captou seu olhar. Havia
uma tapeçaria longa e escura suspensa em um dos cantos, entre uma pilastra e a parede. Draco examinou-a, e viu figuras delineadas nela, mas não podia distingui-las sem muita luz. A claridade que atravessava a janela suja era fraca.
Ele voltou ao corredor, espiou ao redor e encontrou um candelabro prateado em cima de uma mesa contra a parede. Esse corredor era definitivamente melhor que outros que havia visto, pois ao invés de tochas feias nas paredes, existiam velas em várias mesas. Draco, percebendo que o quarto da rainha devia ficar por perto, sorriu maliciosamente para si mesmo, e pegou o candelabro.
O garoto sentiu-se idiota segurando-o, e ficou levemente apreensivo de deixá-lo cair, porque era pesado. Voltando ao quarto frio e vazio, dirigiu-se à tapeçaria levantando as velas para que pudesse ver com clareza. Inclinando um pouco a cabeça, ele revirou os olhos, perguntando-se quem, em suas perfeitas faculdades mentais, teria tecido essas cenas.
Era um cenário de sangue e ferida; de horror e morte. Várias criaturas parecidas com duendes com unhas e pés grandes, caninos gigantes, e misteriosos olhos carmesim estavam rangendo os dentes para os humanos. As pessoas, que eram na maioria mulheres e crianças, tinham suas bocas abertas em gritos mudos, suas expressões apavoradas visíveis mesmo no quadro rudemente costurado. Algumas das criaturas estavam cravando os dedos em pescoços de poucos homens e muitas mulheres, ou então estavam arranhando seus rostos. Um estava até enfiando as unhas na barriga sobressaltada de uma mulher, obviamente grávida.
- Essas pessoas precisam achar novos hobbies – disse Draco atônito, fitando a cena por mais um tempo.
Sem pensar muito, ele usou sua mão livre para puxar a tapeçaria para o lado. Esperando ver uma parede, ou talvez até algum tipo de passagem secreta, ficou surpreso ao ver uma cadeira.
- Cadeira? – disse em voz alta, confuso. Havia uma abertura na parede, que seguia apenas alguns passos adiante, mas era ampla o bastante para acomodar uma cadeira de veludo verde escuro, de encosto alto. Com a tapeçaria no lugar, o pequeno espaço ficava invisível.
Era um lugar estranho para alguém se sentar, porque se alguma pessoa o fizesse, a tapeçaria bateria nos joelhos. Seria apenas uma fenda para esconder uma cadeira, talvez? Ou tinha alguma importância maior?
Draco suspirou e largou a tapeçaria, deixando-a voltar ao lugar. Dando a volta, conduziu-se para fora do quarto, dizendo a si mesmo que não era necessário saber o por que da cadeira estar em um lugar tão estranho. Não importava nem um pouco.
Mas por que estava escondida atrás de uma tapeçaria tão horrenda?


* * *

Gina sentiu-se como se estivesse preste a morrer. Maria havia apertado seu corpete o que parecia vinte vezes mais que o normal. Quando reclamou sobre a maneira que não conseguia respirar, a aia dissera simplesmente:
- A senhorita será vista em público, Alteza. Precisa estar na moda.
- Então você prefere que eu desmaie em público, na frente de todas aquelas pessoas, só para que eu tenha uma cintura tremendamente... fina... e não saudável? – replicara Gina entre arfadas.
- Oh, Alteza – foi a única resposta que recebeu.
Na carruagem a caminho do teatro (havia mais três outras conduções para a escolta, então não foi preciso se preocupar em ser atacada) ela sentou-se ereta e mexera-se um monte. Draco, que sentava na sua frente, já que eram os únicos na carruagem, notou e deu a ela um curvo sorriso irônico.
- As calcinhas estão pinicando seu traseiro, Gina? – perguntou.
Ela lançou-lhe um olhar mortal.
- Cale a boca, Draco.
O percurso levou aproximadamente vinte minutos – vinte minutos de pura tortura para as pobres costelas e abdômen de Gina. Quando voltasse à sua própria época, seria algum tipo de milagre médico; todos os seus órgãos estariam deslocados a lugares estranhos dentro do corpo.
- Então somos os únicos a ir a essa coisa? – perguntou Draco para quebrar o silêncio.
Gina tentou, por baixo das camadas de roupas, meter seu dedo no topo do corpete, perto da axila, para soltá-lo um pouco. Não funcionou.
- Bem, eu sei que Maria veio, mas ela está em outra carruagem – disse, olhando para baixo. O alto colarinho apenas coçou mais seu pescoço. – Por que Elle não veio?
- Ela não foi convidada, não é? – replicou Draco, lançando a ela uma expressão que dizia que a razão era óbvia.
Gina revirou os olhos. Então olhou para baixo novamente, ocupada mais uma vez com seu maldito corpete. Tentou puxar na frente dele, em cima de seus seios, e soltou um suspiro.
- Meus peitos estão seguros. Eles não vão se mexer a noite toda, isso é certo – disse ela.
- Quer que eu solte alguma coisa aí para você? – perguntou Draco inocentemente.
- Sai fora, vagabundo – repreendeu a garota.
A carruagem finalmente parou, e alguém lá fora abriu a porta. Um homem jovem permaneceu imóvel como uma estátua ao lado da saída. Por um momento Gina ficou incerta do que fazer, e Draco foi em frente e saiu. Quando começou a se levantar, o homem ofereceu a mão e ela usou-a para manter o equilíbrio em suas saias pesadas assim que se retirava indelicadamente.
Eles estavam perto da entrada do teatro, e já havia uma multidão esperando para chegar ao interior. As pessoas pareceram calar-se quando Gina saiu, e ela sentiu todos os olhos nela. Corou ardentemente, ciente que a sua saída da carruagem era definitivamente algo que alguém da sua posição não faria.
- Precisa de um acompanhante, Sua Alteza?
Gina deu um pulo ao ouvir a voz familiar, vendo que Tom Riddle havia aparecido ao seu lado do nada. Sua respiração prendeu-se na garganta, e seu sangue congelou imediatamente. Os olhos bonitos dele fitaram-na, e ela teve calafrios involuntários.
“Oh não” pensou. “O que ele está fazendo aqui? Eu me recuso a tê-lo aqui!”
O que ela podia fazer, porém? Enquanto ficava parada ali como uma idiota, boquiaberta, ele tomou seu silêncio como um sim e sorriu, dobrando a mão da garota em volta de seu braço. O toque dele era quente, humano, bem diferente de quando ele tocara-a quando estivera deitada doente e com febre na cama. A quentura dele pareceu tirá-la de seu estado assustado, e olhou para Draco. Ele estava parado contemplando-os, do outro lado de Gina, e estava encarando Tom com uma expressão indecifrável e olhos levemente revirados.
- Sua Alteza? – perguntou Tom, dando a ela um olhar estranho – Devemos prosseguir? – gesticulou para o teatro.
Gina respirou fundo e tirou sua mão do braço dele, rapidamente pensando em uma desculpa:
- Na verdade, - disse suavemente, capaz até de puxar o canto da boca no que se assemelhava a um sorriso – Eu já prometi a Draco que ele iria acompanhar-me. Certo, Draco?
Ela não esperou pela resposta dele; agarrou seu braço e começou a caminhar o mais rápido que pôde. Havia uma estreita passagem entre o público por onde eles passaram, entrando no teatro antes que qualquer um deles.
Dentro do simples salão, ela localizou Francis, que avistou-a e sorriu. Ele acenou para eles.
- Quem é esse? – sussurrou Draco.
- Francis. Um tenente. Minha mãe tem um tipo de queda por ele...
- Quem é a garota feia ao lado dele?
Gina olhou para o lado do tenente, e assim que se aproximaram, teve que parabenizar a descrição de Draco de quem devia ser Elsabeth. Ela era feia. Não havia realmente uma coisa que a princesa pudesse apontar que tornava a pobre garota tão horrorosa. Não podia dizer que era o nariz, embora fosse meio grande. E não podia dizer que eram os seus olhos, de um azul tão pálido que pareciam estranhos contrastando com a pele mais clara ainda. Não eram exatamente seus lábios finos, também. Havia apenas uma essência que causava a feiúra.
Também não ajudava o fato de que parecia que não tomava banho há um ano. Seus cabelos presos que deviam ter sido loiros um dia caíam frouxamente nas suas bochechas brancas.
Gina tinha além disso uma suspeita oculta de que ela não estava usando um corpete, apesar de sua cintura parecer mais delgada do que a princesa percebera.
- Suas Altezas – disse Francis, sorrindo amplamente assim que chegaram. Então focou seus olhos em Draco: - O senhor recorda-se da minha bela filha, Elsabeth, não é?
Draco deu a garota um sorriso apertado.
- É claro que me recordo – disse falsamente.
Elsabeth lançou-o um breve sorriso incerto, revelando seus dentes amarelos. Ela parecia tão tímida e doce; Gina ficou tentada a esbofetear Draco por ser rude.
- Nós iremos entrar primeiro – anunciou Francis, olhando por cima do ombro
de Gina. Ela virou-se e viu que quase toda a sua escolta havia chegado, Tom e Maria incluídos. Ela abafou um gemido; a Rainha insistira que todo o regimento do castelo acompanhasse a princesa à peça.
Um homem que devia ser o dono do teatro conduziu-os ao camarote, que tinha três filas de sete cadeiras. O teatro em si era particularmente simples na verdade, sendo que a única cor presente era o vermelho do veludo dos assentos. O palco estava vazio com uma cortina preta fechada.
Gina certificou-se de não sentar perto de Tom. Acabou permanecendo na primeira fila, entre Francis e Elsabeth, que estava na ponta. Draco ficou do outro lado do tenente, e Tom pegou o lugar ao seu lado. O resto da escolta de Gina esperou no salão, porque não tinham sido convidados a assistir a peça.
A ruiva ficou tentada a convencer Maria de ficar, mas a aia desapareceu antes que ela pudesse dizer alguma coisa.
Estava planejando sentar em silêncio e observar o teatro encher, mas Elsabeth inclinou-se e disse calmamente:
- Você ainda não se livrou dessa aia má? – sua voz era quieta, sussurrante.
Gina encarou-a, suas sobrancelhas arqueadas em surpresa.
- Você quer dizer Maria? – perguntou – Livrar-me dela?
- É claro, foi a sua decisão, Sua Alteza – disse Elsabeth apressadamente, tentando sorrir amplamente. Então ela virou-se para frente novamente, deixando Gina intrigada com o que quisera dizer.
Antes que pudesse estender-se sobre isso, várias outras pessoas entraram no camarote, e cumprimentaram-na. Todos fizeram reverência, os homens contaram como ela estava de tirar o fôlego, e as mulheres declararam o quão bonito seu vestido era. Gina não tinha a mínima idéia de quem cada um era, mas sorriu e acenou para eles, o estranho enunciado de Elsabeth agora tirado de sua mente consciente.
Até a apresentação começar, várias pessoas da Alta Sociedade vieram a Gina, e depois que a viam, seguiam a fila para falar com Draco. Em um momento captou seu olhar, e ele arqueou sua sobrancelha brevemente em uma expressão de tédio, que fê-la sorrir.
No fim, todos haviam ido. Ou, então, aqueles que permaneceram, sentaram nas outras cadeiras e não mais perturbaram Gina. Suspirando de alívio, ela tentou afundar em seu assento, apenas para ser pinicada pelas roupas de baixo. Endireitou-se novamente.
Foi uma surpresa quando as cortinas de repente ergueram-se, e uma onda de silêncio percorreu o teatro. A garota estivera esperando que as velas fossem apagadas, mas quando a primeira cena começou, todas as luzes ainda estavam presentes. Ela percebeu que devia ser porque não havia muita claridade no palco.
Essa não foi a única coisa inesperada. A ruiva estivera antecipando um grande figurino e um cenário elaborado, pois Shakespeare em pessoa estava dirigindo a apresentação; provavelmente ele iria querer nada menos que o melhor para a sua peça. As roupas que os atores usavam pareciam comuns, nem mesmo mais finas que as que a própria Gina vestia. O fundo do cenário era simples, sem suportes.
Confusa, Gina perguntou-se se talvez não fosse ser uma grande peça afinal.
Mas as primeiras falas provaram que estava errada.
“Agora, bela Hippolyta, nossa hora nupcial
Adiantadas em rapidez: quatro dias felizes trazidos
Outra lua; mas O! creio como é lento
Essa mingua da velha lua; ela tarda meus desejos
Como a cadência de uma dama, ou uma matrona...
Por muito tempo debilitando o rendimento de um jovem homem.”
O ator falou com tanto sentimento, e usou tanta emoção que Gina percebeu imediatamente que o espetáculo seria absolutamente fantástico. Entretanto, ficou hipnotizada apenas por alguns momentos.
Mas não importa o quão maravilhoso fosse, a princesa não estava confortável. Ter que sentar-se ereta por tanto tempo estava matando-a. Sabia que teria que levantar-se logo e sair para caminhar.
As trocas de cena eram súbitas, sem o apoio da cortina, mas ainda assim Gina entendia o que acontecia. Estava muito surpresa pelo profissionalismo de todos aqueles que trabalhavam na apresentação. Não imaginara que as pessoas dessa época levassem a atuação tão a sério. Obviamente, estava equivocada.
Finalmente, dirigindo-se ao final da primeira cena do terceiro ato, Gina não podia mais agüentar. Inclinou-se e sussurrou para Francis:
- Preciso pegar um ar. – E levantou-se, forçando-se a ser delicada. Então saiu do camarote, sentindo os olhos dos outros que sentavam perto em si. Bem, essas mulheres estavam habituadas aos corpetes; eles tinham que aceitar o fato de que ela não estava.
Até mesmo no corredor deserto, podia ouvir Titania dizendo do teatro “Venha, espere por ele; conduza-o ao meu arvoredo...”
Gina marchou um pouco, usando as mãos para tentar mover o corpete. Nada parecia funcionar. Não conseguia folgar as suas malditas roupas. No minuto que voltasse ao castelo, decidiu, iria tirar tudo e dormir nua. Naquela hora daria até a mão direita apenas para poder usar jeans e uma camiseta.
- Há algo errado, Sua Alteza? – perguntou alguém atrás dela.
Gina pulou e deu a volta. Era Tom. Não havia ouvido-o entrar no corredor. Rapidamente, olhou ao redor, rezando para que tivesse alguém por perto. Não havia. Estava sozinha com ele, e essa informação não fazia bem ao seu estômago. Ele borbulhava desagradavelmente, apenas agravando seu nível de conforto.
- Por que você está aqui fora? – perguntou ela apressadamente, olhando por cima dos ombros. Ele vinha da única direção que poderia correr para estar perto de outras pessoas, onde não poderia ser machucada; teria que esquivar-se por ele ou dar a volta e correr para fora do teatro. Se escolhesse o segundo, ele a perseguiria e a alcançaria.
- Você parecia um pouco pálida quando deixou o camarote – comentou ele, seu rosto inteiro enrugado em um sorriso. Ela não sabia se gostava ou não do jeito que ele estava encarando-a. – Vim para ver se você está bem.
- Estou bem – contou ela, muito rápido – Você pode ir. Só queria esticar as pernas.
- Você tem medo de mim. – Não era uma pergunta, ou um enunciado. Era um fato, e ele sabia disso. – Por quê?
Ela encontrou os olhos dele, dessa vez forçando-se a não desviar. Então endireitou seu queixo e respondeu firmemente:
- Você realmente precisa perguntar?
- Sim.
Gina respirou fundo. O sorriso dele desapareceu; agora estava sério. Contudo, se estava bravo, não demonstrou-o.
- Você é um assassino.
Ela esperava que ele fosse negar. Esperava que o rosto dele fosse enrugar-se em preocupação e surpresa, seus lindos olhos umedeceriam e irradiariam mágoa. Mas ao invés disso, ele fez exatamente o que ela devia ter imaginado.
Tom sorriu. Um sorriso frio, seu gelo parecendo perfurar os ossos da garota. Cruzando os braços, seus dedos de aranha estendidos sobre suas mangas pretas, deu um passo a frente. Involuntariamente, ela deu um passo atrás.
- Você não é burra, é, Gina? – perguntou ele suavemente, sua voz acariciando-a perigosamente. Isso fez os pequenos pêlos atrás de seu pescoço eriçarem-se. Riddle deu outro passo na direção dela. – Você me reconheceu no momento em que me viu.
Ela tentou engolir em seco e não conseguiu. Se sua mente já estava enfrentando problemas em pensar racionalmente, muito menos conseguiria falar. Ao invés disso, tentou caminhar para trás até que suas costas encostassem-se à parede. Então descobriu que suas pernas não podiam mais se mover.
- Você sabe o que eu sou – disse ele lentamente, seu sorriso desaparecendo – Sabe que você não pertence a esse lugar; que eu também não.
Riddle não parou de andar até estar bem na frente dela, seu rosto quase tocando o dela. Ela não conseguia olhar, não conseguia sair de perto mesmo que quisesse desesperadamente. Ele estava lançando algum encanto, mantendo-a enfeitiçada, e a garota não sabia como quebrá-lo.
Conseguiu engolir em seco, e encontrou sua voz.
- Você nos trouxe aqui – disse, satisfeita pelo seu tom firme e afiado.
- Sim. – Um sorriso fraco marcou seus traços.
- Como? Na nossa... na minha época, você estava morto. Ambas as suas formas – Gina tentou fundir-se na parede, desaparecer. Mas não conseguiu.
- Irei contar-lhe tudo – murmurou ele, dando um último passo a frente e preenchendo todo o espaço entre eles. Seu corpo contra o dela era quente, mas aterrorizante. Ela sentia repulsa dele, queria que saísse de perto, mas agora ele a tinha prendido. Gina arrependeu-se de ter deixado-se ser encurralada na parede. Por que estava agindo tão estupidamente? – Irei contar-lhe tudo – repetiu Tom, e depois acrescentou: - Mas não agora.
Ela estava tendo dificuldade em respirar. Ordenou a si mesma que relaxasse, e pensasse numa forma de sair dessa situação. Se permitisse-se ficar apavorada dele cada vez que o via ou estava perto dele, Tom iria dominá-la. Iria controlá-la. E Gina não podia permitir isso. Tinha que mostrar que ele não a assustava.
Mesmo que realmente assustasse.
- Por que não agora? – sussurrou ela, firmemente. Rapidamente correu a ponta da língua por seu lábio inferior – É uma hora tão boa quanto qualquer outra, não reconhece?
- Vai perder a peça – respondeu ele em uma voz muito calma. Seus olhos agora demonstravam um olhar faminto, e isso só fez o coração da garota bater mais forte de medo.
- Não faz mal – disse ela, lentamente levantando seus braços. Posicionou as palmas no peito dele, e quando fez isso, ele sorriu. – Então afaste-se e conte-me: por que você trouxe eu e Draco para cá?
Assim que começou a empurrá-lo, as próprias mãos de Tom apressaram-se e prendeu os dedos em volta dos pulsos dela. Ela soltou um clamor de choque quando ele apertou-os, seu rosto de repente cheio de fúria. Ele tirou as palmas dela de si mesmo e bateu-os contra a parede, os pulsos paralelos com os ombros da ruiva. O terror tomou conta de novo, e forçou-se para não demonstrar. Custou quase toda a sua força para manter um rosto calmo, apesar de saber que seus olhos denunciavam como realmente sentia-se.
- Há uma coisa que precisa aprender sobre mim, Gina – disse venenosamente. De repente ele fazia-a lembrar uma cobra, seus olhos revirados e tingidos de vermelho pela raiva. – Não me diga o que você quer que eu faça. Isso é o que mais me irrita, Gina, e você não quer aborrecer-me.
- Está me machucando – disse ela rapidamente.
E então ele estava sorrindo novamente, loucamente, com seus olhos ainda levemente vermelhos. Tom inclinou seu rosto ao lado do dela e sussurrou vagarosamente em seu ouvido:
- Ainda não machuquei-a o bastante.
Quando ele encontrou os olhos dela, Gina havia reunido sua raiva, e estava encarando-o. “Não deixe-o perceber seu medo” instruiu a si mesma.
- Se você não me soltar imediatamente, – disse cruelmente – irei gritar. E nem a opinião de minha mãe, por mais positiva que seja, o salvará do seu destino se for descoberto fazendo mau a uma princesa.
Ele apenas sorriu, quase serenamente.
- Você não entende, Gina? – perguntou calmamente – Eu sou o dono desse mundo. Ele não existe. Eu é que o criei. Posso controlá-lo, e por causa disso, sou mais poderoso que sua mãe.
A garota engoliu em seco com isso, incerta do que responder. De repente esquecera-se de disfarçar seu medo... e então, algo ocorreu-a.
- Se você o criou, – começou instavelmente – por que incluiu...
- Gina! – disse outra voz muito familiar.
Draco.
Tom largou os pulsos dela, saiu de perto rapidamente e virou-se casualmente. Draco atravessou o corredor, com o seu usual passo largo, e tinha uma expressão tranqüila. Parou ao lado do médico.
- Divertindo-se? – perguntou sombriamente.
Gina nunca ficou tão feliz em vê-lo em sua vida. Imediatamente esqueceu de perguntar a Tom por que ele incluíra Dumbledore nesse mundo se tinha o criado, e apressou-se para o lado de Draco.
- Descobri quem nos trouxe aqui, Draco – contou, sentindo-se bem mais segura agora que ele estava presente.
O príncipe encarou Tom, que sorriu ironicamente para ele. Então Riddle anunciou diretamente:
- Se me der licença, estou perdendo a apresentação. – Sem outra palavra ou olhar, passou por eles e deixou o corredor, e o medo de Gina foi com ele.
- Mais uma vez, você conseguiu aparecer em uma boa hora, mas ainda poderia ter sido útil há alguns minutos – disse Gina para Draco.
- O que ele estava fazendo?
- Apenas me ameaçando. Admitiu que era o assassino, e que nos trouxe aqui – disse encolhendo os ombros, como se não fosse nada demais – Ele disse que fez esse mundo.
Draco concordou, antes de pensar, também, em Dumbledore.
- Então se ele o criou, então por que Dumbledore está aqui?
- Estava prestes a perguntá-lo isso, - disse Gina – mas você interrompeu-nos.
Ele sorriu ironicamente.
- Da próxima vez irei certificar-me de deixá-la terminar a conversa – zombou.
Ela preferiu ignorá-lo:
- Se ele colocou Dumbledore aqui, então isso deve significar que não podemos confiar nele.
- Não podemos confiar em Dumbledore?
- Bem, você acha que Tom colocaria um Dumbledore bom nesse mundo, um que pudesse ajudar-nos? – indagou – Obviamente está tentando virar todos contra nós. Harry, meus pais... e provavelmente foi ele quem fez Alexandria mudar-se. E depois fez que todos os habitantes da cidade esquecessem que ela já vivera ali.
- Apenas não entendo por que ele faria isso. – disse Draco.
- Nem eu. – admitiu ela – Ele não explicou.
- Antes de deixarmos esse lugar, ele explicará – jurou Draco.
- Mas... – Gina mordeu seu lábio inferior, seus pensamentos deprimindo-a – Se ele domina esse mundo, não há como sairmos. Não sem a ajuda dele, pelo menos. E ele trouxe os dois aqui por uma razão. Você supõe que ele nos deixaria ir para nossa própria época só porque queremos?
Draco fitou-a, sabendo que estava certa.
- Vamos dar um jeito – disse.
Gina concordou relutante, apesar de não estar muito reassegurada. Não foi antes deles estarem caminhando de volta ao camarote que notou que ele dissera “Vamos dar um jeito”. Ele finalmente percebera que teria que ajudá-la a sair desse mundo.
Entretanto, agora a garota não tinha certeza se nem ambos unidos conseguiriam voltar.

* * *

Assim que Draco retornou ao seu assento, fitou Tom, recebendo apenas ignorância em resposta. Foi então que descobriu que não conseguia aproveitar a apresentação. Sua mente estava cheia de pensamentos preocupantes que o deixavam desconfortável.
Gina tinha razão. Se Tom criara esse mundo, não havia uma chance de irem embora. Ele havia trazido-os, os únicos que sabiam que eram do futuro, por alguma razão. E certamente, não era uma boa. Provavelmente era uma causa malvada que acabaria tornando o mundo inteiro em escravos de Riddle.
E depois do que pareceram horas, a peça finalmente acabou. Os aplausos foram ensurdecedores, e duraram vários minutos. Draco permaneceu em sua cadeira enquanto todos à volta levantaram-se, até Gina, apesar de seu rosto estar sombreado, indicando que sua cabeça estava em outro lugar além do quão maravilhosa a peça havia sido.
Finalmente, era hora de ir embora. Draco pôs-se de pé, apenas para descobrir que várias outras pessoas mais importantes estavam vindo para a despedida. Por outros cinco minutos, ele franziu o cenho e disse adeus para todos que o saudavam.
- Venha, Sua Alteza – sorriu Francis para Gina, gesticulando para ela deixar o camarote na frente dele. – O Sr. Shakespeare gostaria de conhecê-la, se tiver tempo.
- Não, ela não tem tempo – repreendeu Draco, ávido para ir embora. Por alguma razão, não gostava que Tom ficasse perto dela. Isso deixava-o irascível.
Gina cerrou os dentes e lançou um olhar bravo a Draco, claramente mandando-o calar a boca. Então deu a Francis um sorriso bem forçado.
- Claro – disse ela – Mas que seja rápido.
Então Draco seguiu Gina, Francis, sua filha feia, e dois guardas até o palco. Ele procurou ao redor pelo homem que havia visto em pinturas, vestindo roupas magníficas e de cabelos castanhos. De qualquer forma, a pessoa que se dirigiu a Gina era alta, magra, e velha. Seu cabelo era todo branco, e suas roupas eram um pouco sujas, como se não tivesse trocado-as há dois dias.
Mas no minuto que viu a princesa, ele ajoelhou-se em uma das pernas e estendeu a mão. Ela fitou-o por um tempo, antes de esticar sua mão para ele beijá-la, corando.
- Estou feliz por Sua Alteza ter vindo esta noite – disse ele, e pôs-se de pé. William avistou Draco e fez uma profunda reverência – Assim como por Sua Alteza – adicionou.
Draco concordou para mostrar que havia ouvido-o. Só Shakespeare diria algo assim.
- Gostariam de dar um passeio pelo teatro? – perguntou educadamente.
Gina pareceu incerta, e Draco tentou captar seu olhar e sacudir a cabeça para dizer não, mas ela não voltou a encará-lo.
De qualquer forma, ela conseguiu sozinha sobreviver a sua reputação esnobe e recusou – apesar de tê-lo feito gentilmente.
- Na verdade, estou muito cansada. Posso pegar um crédito para uma outra hora?
Shakespeare arqueou as sobrancelhas, claramente não entendendo o que ela quisera dizer. Gina ficou ainda mais vermelha, e rapidamente adicionou:
- Voltarei alguma hora depois do casamento.
- Tudo bem, Sua Alteza. – Seu sorriso fino mas caloroso retornou, e fez uma reverência pela última vez. Então Francis pegou Gina pelo cotovelo, completamente ignorando sua filha, e conduziu-a para fora do teatro.

* * *

Gina não conseguia dormir. Estava deitada na cama, coberta confortavelmente em seus muitos cobertores, a lenha crepitando na lareira. Mas sua mente estava remoendo o que Tom havia contado.
O que poderia fazer em relação a ele e a situação? Nada? Iria simplesmente permitir-se desistir e aceitar que não havia coisa alguma que ela ou Draco pudessem fazer?
“Deve haver algo” discutiu mentalmente. “Deve haver algum jeito.”
E se Dumbledore não fosse mau? Isso faria algum sentido? Tom colocando-o propositadamente nesse mundo para tornar as coisas mais fáceis para ela? Não, não fazia sentido. Havia uma coisa que devia ser concluída, e era que Dumbledore não os ajudaria. Além do mais, como saberia se podia ou não confiar nele? Não saberia; não havia como ter certeza absoluta de que ele estava do seu lado. Simplesmente não poderia pedir ajuda a ele.
Gina sentou-se, suspirando. Estava sentindo-se inquieta, e um pouco oprimida. Tirando os cobertores, alcançou o robe e um par do que achava ser equivalente a chinelos e colocou-os. Então saiu para o corredor silencioso e frio.
Estava tão escuro, quieto e parado que Gina quase teve um ataque do coração quando alguém bateu no seu ombro. Conseguindo manter o grito interrompido na garganta, deu a volta, apenas para ver o seguro rosto de Maria.
- Menina, o que está fazendo aqui há essa hora? – sussurrou.
Gina fitou-a da cabeça aos pés, colocando uma mão no coração para tentar acalmar seus batimentos. Maria ainda estava vestida em suas roupas diárias.
- Não consegui dormir. E você dorme alguma hora afinal? – Estava um pouco sem fôlego pelo susto.
Mesmo na fraca luz, pôde ver a aia sorrir.
- Não há tempo para dormir, Alteza. Ainda estou ajudando nos preparativos para o casamento e é muito trabalho.
Gina sentiu uma onda de raiva de sua mãe por mandar seus empregados trabalharem tanto. Colocou uma mão no ombro de Maria.
- Vá para a cama, Maria – ordenou gentilmente – Não me importo muito com o casamento de qualquer forma.
- Você diz isso agora, mas se tudo não estiver perfeito no Natal, se arrependerá de ter me dito isso – insistiu.
- Apenas vá dormir, certo? – perguntou Gina, apertando mais forte o robe em volta de si – Irei apenas sair para uma curta caminhada e depois voltarei para a cama também.
- Está bem, Sua Alteza. Mas você deveria dormir um pouco também, você sabe. Ainda precisa recuperar as forças daquela doença que teve.
- Sim, Maria – disse Gina, sorrindo em adeus antes de virar-se e ir.
A princesa já sabia que estava indo em direção da rua, mas quando entrou no salão principal, viu que vários homens estavam guardando a porta. Franzindo o cenho, deu a volta e tentou achar outra saída, pensando que devia ter uma na cozinha ou perto dela.
A cozinha estava escura e deserta, e dessa vez teve certeza; não queria que Draco aparecesse do nada novamente e caísse em cima dela. Bem, a parte de cair em cima dela não seria tão ruim, mas já havia se mijado de susto quando Maria a batera nos ombros, e alguém aparecendo do nada definitivamente a mataria.
Bem como imaginara, havia uma porta que dava ao exterior na cozinha, e não estava guardada.
Ela deslizou para a noite fria e calma, tendo um calafrio logo que o ar bateu em suas bochechas.
Caminhando para longe do castelo, pisando na neve agora dura, olhou para o céu. Estava claro, com um milhão de estrelas brilhando como diamantes em um veludo negro. Aqui, não havia luzes trouxas para afogar a beleza da noite. Apesar da baixa temperatura, Gina sorriu e aproveitou a tranqüilidade do mundo.
Parou perto da margem do jardim, sentando em um banco de pedra. Mais pensamentos encheram sua cabeça, desde a emocionante lembrança de conhecer Shakespeare, até a idéia terrível de que ela e Draco talvez nunca mais pudessem voltar à sua época.
O que faria se fosse forçada a ficar? Casaria com Draco, teria filhos e reinaria o país exatamente como era sua obrigação? E sempre sabendo que Tom estava por perto e poderia fazer qualquer coisa que quisesse com a sua vida?
Ou fugiria? Deixaria qualquer responsabilidade que viria a ter quando cassasse, e tentaria se esconder de Tom? “Isso não é possível” percebeu. “Se Tom controla esse mundo, ele poderá me encontrar. Facilmente.”
Suspirou profundamente, perguntando-se por que tudo era de repente tão complicado para ela. Cada solução que pensava não funcionaria. Estava presa e não sabia como libertar-se.
- Você pode pegar pneumonia novamente se ficar aqui fora, sabe.
Gina pulou ao ouvir a voz de Draco, virando a cabeça para vê-lo emergir das sombras do castelo. O garoto ainda estava vestido, sem expressão, e sua respiração saía em nuvens no ar frio. Ele parou na frente dela, cruzando os braços sob o peito.
- Apenas preciso pensar – contou ela, fitando seus dedos no colo. Roeu as unhas. – É agradável aqui fora.
- Está congelando aqui fora – corrigiu ele, transferindo seu peso de um pé para outro. Então mudou de assunto: - Estava pensando sobre o quê?
- Sobre o que eu sempre penso – respondeu automaticamente.
- Harry? – Pela luz das estrelas, pôde vê-lo sorrir com ironia.
- Não – repreendeu ela, revirando os olhos para ele – Estou pensando em como dar o fora daqui.
- Talvez primeiro devêssemos descobrir para o quê Riddle nos quer aqui – disse Draco sabiamente.
- Certo. Vá e pergunte a ele – disse, sem intenção de soar tão afiada.
- Ele parece gostar mais de você – zombou.
Ela encarou-o antes de suavizar seu olhar e suspirar.
- Está tudo tão perdido. Você tem alguma idéia de como nos tirar daqui?
- Nenhuma.
- Fica se gabando de como os Sonserinos sempre inventam os melhores planos. Então por que você não pensa em um?
- Eu menti – respondeu diretamente – Os da Corvinal são os mais espertos.
- Oh, isso realmente ajuda na nossa situação – murmurou, descansando o cotovelo na sua coxa e apoiando o queixo na mão – Você pelo menos está tentando pensar em alguma coisa?
- Não, eu quero ficar aqui – disse ele, e ela fitou-o, apenas para achá-lo sorrindo ironicamente – É claro que eu tentei. Mas não consigo pensar em uma solução mais do que você.
Ela suspirou novamente e levantou-se, encontrando os olhos dele.
- Teremos que simplesmente continuar pensando – disse com uma contração de ombros – Não sei quanto a você, mas eu não vou ficar aqui nesse mundo e permitir que nos casemos.
Uma emoção relampejou através dos profundos olhos cinzas dele, mas foi tão rápido que ela não pôde compreender o que era. Em um instante já havia ido embora, substituído pelo usual olhar indiferente.
Ela percebeu então o quão próximos eles realmente estavam; seus corpos apenas separados apenas por algumas polegadas. Seu coração começou a se acelerar, e corou, sentindo arrepios na pele. Por que diabos ele tinha que ser tão vistoso? Por que não conseguia tirar da cabeça o pensamento de seus lábios?
- Quero dizer – começou ela, sem fôlego – mesmo que nos casemos, não é que vá contar no futuro. Algum dia teremos que voltar, você sabe, e se tivermos nos casado aqui, não necessariamente estaremos casados agora. Ou daqui a quatrocentos anos. – Ela estava bem ciente de que estava falando errado, e suas bochechas queimaram de vergonha, mas continuou tagarelando para preencher o silêncio – Eu sempre prometi a mim mesma que não iria casar antes dos vinte anos, ou vinte cinco, e dezessete não foi a idade que considerei quando estava pensando sobre...
- Gina, quer calar a boca? – Ele estava sorrindo com ironia; silenciosamente zombando dela.
- Está bem – ela respirou, e o beijou.
Primeiro foi lento, quente e maravilhoso. Ela não esquecera como era ser beijada por ele, e não havia esquecido dos familiares joelhos fracos quando estava pressionada contra ele. Pensou tontamente para si mesma “É assim que quero ser beijada pelo resto da minha vida.”
As mãos dele foram para os seus ombros, os dedos mergulhados em seus cabelos. Quando o beijo se aprofundava, ela instalou suas palmas nas bochechas dele como se para segurá-lo para sempre, antes de deslizar seus braços ao redor do pescoço dele e puxá-lo para mais perto. Nunca queria que ele parasse, nunca queria deixá-lo ir, mas ele afastou-se de repente. A brusquidão partiu-a como uma faca, como se para lembrá-la o quão fascinada estava ficando.
- Eu pensei que tinha dito para não fazer isso – sussurrou ele, sua respiração na bochecha dela. Os seus olhos perfuraram os dela. Estavam negros e indagantes.
- Não deveríamos estar fazendo isso – admitiu ela silenciosamente.
Ele lançou um fino sorriso torto.
- Mas você quer. – Era uma afirmação.
- E você não? – Seus olhos procuraram os dele.
- Vamos apenas pensar em um coisa – disse ele, a diversão clara em seus olhos – Não há maneira possível de sairmos daqui antes de nos casarmos.
Ela parecia confusa.
- Sim...
- Então se temos que nos casar, por que não praticar? – Ele nem ao menos esperou pela resposta. Ao invés disso, sua boca estava na dela em um instante, sua língua pressionando entre os lábios dela. A sensação removeu todos os pensamentos da mente dela, e não teve chance de digerir o que ele dissera.
Estavam tão absorvidos um ao outro, tão distraídos do que estava ao redor, que nem notaram uma pessoa observando-os de uma janela do segundo andar.
Os dentes de Tom brilharam na fraca luz, como se estivesse sorrindo, mas a expressão em seu rosto não assemelhava-se a felicidade. Era quase como uma alegria louca. Ele deixou as cortinas pesadas voltarem ao lugar, e sussurrou algo para a pessoa baixa e gorda que estava ao seu lado.
- Está dando certo.
Nota da Autora: Novamente, eu menti; houve apenas um beijo fogoso. Mas não se preocupe, porque no próximo capítulo é o grande casamento, então esperem muitos beijos!
Próximo Capítulo: Finalmente, o grande casamento. Será que Gina e Draco serão obrigados a dizer “sim”? Ou conseguirão milagrosamente voltar ao futuro? Há mais pistas de quem é o cúmplice de crime (se você não conseguiu adivinhar ainda...).
Nota da Tradutora: Há uma parte, quando Shakespeare convida Gina para dar uma volta pelo teatro, que ela recusa dizendo “Posso pegar um crédito para uma outra hora?”. Na verdade, no capítulo original, a autora usa uma expressão (May I take a rain check?") que claramente não existe aqui e não poderia ser traduzida ao pé da letra, mas que significa “adiar”. Então como não tenho conhecimento de algo que seja igualmente “atual” e que provocaria tal reação confusa em Shakespeare, decidi pelo que está escrito aí.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.