Passeio andante



Rua dos Alferneiros. No menor quarto da casa, sob a penumbra, um rapaz crescido, cabelos pretos, bagunçados, rosto cansado e óculos tortos dormia em frente ao despertador, que marcava 30 segundos para meia-noite. Ao lado um pergaminho recém aberto com uma letra conhecida.

"Querido Harry
Rony me disse que escreveu pra você, mas não obteve respostas. Achei que era porque não queria que alguém interceptasse sua coruja. Não se preocupe. Píchi é quase invisível, uma prova disso é que minha carta chegou aí.
Tente nos contactar. Estamos preocupados.

Um beijo
Hermione"

Edwirges estava agitada, e bicava a gaiola com tal força que acabou acordando o rapaz de súbito, assustando-o, fazendo-o segurar imediatamente o despertador como se ele já tivesse sido tocado.
_ Edwirges, não me assuste _ resmungou Harry voltando a olhar mais atentamente para o relójio.
Vinte segundos faltavam para o seu aniversário. Dumbledore havia alertado aos Dusleys que tratassem melhor Harry, pois este iria atingir a maior idade aos dezessete anos.
Apenas dezesseis segundos. O malão já se encontrava pronto. Deixara claro para Rony e Hermione que não pretendia voltar para Hogwarts - Com Dumbledore morto e uma guerra mais do que clara estudos era o que menos importava - entretanto prometera a Rony que iria visitá-lo na Toca para ver o casamento de Gui e Fleur.
Dez segundos. Nove... Oito... Harry tratou logo de desativar o despertador para não fazer barulho. Melhor do que sair da casa dos Dusleys era fazer isso sem ter que ouvir os insultos dos mesmos.
Três. Dois. Um.
Harry soltou um "viva" sussurrado e levantou-se segurando a gaiola de Edwirges numa mão e abrindo a janela de outra. Pena que os bruxos não sabiam usar o telefone. De outro modo já teria ligado para os Weasleys virem pegá-lo. Tentando não fazer barulho abriu a porta e desceu as escadas puxando o malão. Embora já tivesse oficialmente dezessete anos não queria arriscar fazer mágica. E se os Dusleys escutassem algum ruído e, presumindo ser Harry, fingissem estarem dormindo já seria um favor prestado ao rapaz. Finalmente se vira livre. E dessa vez sem volta.
_ Alorromora­­ _ Sussurrou, e a porta da frente se abriu.
Edwirges piou ainda mais, porém Harry ignorou. Ergueu a varinha e ditou em voz baixa:
_ Lumus.
Como já era de se esperar, o ar aqueceu e, causando uma ventania, o noitibus correu e parou ao seu lado, quase o derrubando para trás. Abriu um sorriso, mas o desfez assim que viu a face abatida e desconfiada de Lalau ao abrir a porta. Antes que Harry pudesse falar ele saltou do tranporte e pegou logo o malão do rapaz e a gaiola, empurrando-o com força para dentro.
_ Rápido. Rápido. _ Dizia Lalau enquanto só faltava jogar Harry no chão _ É o segundo só essa noite. Ande, Harry Potter.
Quando Harry finalmente entrou Ernesto acelerou bruscamente jogando de imediato Harry contra o vidro traseiro.
_ Segure-se, Potter!_ Dizia Lalau com voz alterada enquanto o veículo acelerava endoidecido _ Ah, pagameto depois. Não está podendo ficar de pé agora...
_ E nem poderia! _ Gritou o rapaz segurando-se num cano vertical metálico_ Toca! Quero ir para a Toca!
_ Toca? Estamos a caminho de lá. Acelera, Ernesto!
Ernesto virou o volante provocando uma curva fisicamente impossível, jogando Harry para o lado oposto, colindindo com uma das camas. A primeira reação de Harry foi agarrar-se nas cortinas. Tinha que adimitir que o noitibus estava um pouco mais rápido que o de costume. Harry se pôs de pé, mas as cortinas cederam para alguém que parecia estar atrás delas.
_ Harry!
_ Ar!
Assustado, o rapaz olhou para trás e, para a sua surpresa, deu de cara com Hermione, segurando-se no pilar da cama.
_ Mione!
_ Harry! _ Sorriu seguido de um gritinho agudo _ Nossa! Eu lhe daria um abraço se eu não estivesse aqui!
_ Aqui? _ Repetiu ele confuso _ Espera, você não estava na Toca? A carta que você me mandou presumiu que você e Rony estavam no mesmo lugar.
Hermione sorriu sem graça:
_ Bem... Na verdade estávamos.
Nesse momento Harry reparou num ronco conhecido e juntou forças para chegar à cama que estava mais adiante. Tomando cuidado para não bater a cara no chão puxou as cortinas e encontrou Rony dormindo inexplicavelmente, com a roupa do corpo e estirado na cama, remexendo de acordo com o movimento do veículo como se fosse um boneco de trapo.
_ O que aconteceu com ele?
_ Está cansado _ respondeu a garota indiferente _ Nossa! Não sei como ele consegue dormir aqui.
_ Mas... Por que ele está aqui?
_ Ele passou o final de semana lá em casa _ respondeu ela. E ao ver Harry boquiaberto adiantou-se _ Você sabe, eu vivo passando as férias e feriados na Toca e meus pais queriam conhece-lo. Eu também apresentaria você, mas seus tios...
_ Não esquenta _ disse sinceramente _ Mas por que meia noite?
_ Por causa de Voldemort. Está todo mundo assustado, você sabe. Esse pode não ser um horário perigoso, é tão óbvio que acaba sendo o mais seguro. Convenci Rony a me acompanhar. Ele ía mais cedo. Além disso Lalau tem sido perturbado pelo ministério toda a hora e anda morrendo de medo dos comensais. Está entre a cruz e a espada. Nem sei como continua trabalhando.
_ Entendo _ disse Harry olhando com pena para Lalau _ Só me surpreendo que seus pais a deixem ir para a Toca com tudo o que está acontecendo.
_ Se soubessem jamais deixariam.
_ Como?
Hermione virou o rosto e falou naturalmente:
_ Francamente, Harry, meus pais nem sabem que Voldemort existe. Nem sabem quem ele é direito. Já pensou se eu dissesse que tem um bruxo assassino a solta que detesta filhos de pais trouxas embora ele seja um? Eu nuncamais iria para Hogwarts e você estaria perdido sem mim.
Harry se calou. Primeiro porque o veículo arrancou com mais força quase atirando ele e Hermione contra o chão e segundo porque a amiga havia feito uma coisa inédita: Se enaltecer. E como nunca conhecera Mione a fundo pouco sabia o que poderia vir caso ele questionasse (e perdesse a razão, provavelmente).
_ Ah, outra coisa, Harry. Feliz aniversário.
Lalau andava pelo veículo com o Profeta Diário em uma mão e o Pasquim, enrolado como um canudo, na outra. Notava-se que não estava no seu humor costumeiro (contando mentiras, espalhando boatos, fingindo um diálogo com Ernesto que na verdade acabava sendo um monólogo...). Harry hesitou, mas acabou pedindo o Profeta emprestado. Lalau levantou uma das sobrancelhas, como se ali estivesse algum comensal, e passou para Harry.
Quando este viu a folha de rosto deixou o queixo cair.
_ Acho que ele está mesmo perturbado _ segredou Hermione para Harry enquanto olhava Lalau gritando para Ernesto acelerar _ Coitado. Hum... O que está escrito aí?
_ Não sei. Mas tem a foto do Percy aqui.
_ Como?!


Ministério da Magia atacado novamente

Mais uma vez comensais conseguiram invadir o Ministério, desta vez com a ajuda de Percy Weasley. Ao que tudo indica, os invasores procuravam roubar um artefato ao invés de cometer assassinatos desnecessários. Percy Weasley foi detido durante o ato e os comensais fugiram, apresentava o corpo coberto de ferimentos e hematomas. O assistente-junior afirma que estava sob efeito do feitiço Imperius, contudo espera-se que o mesmo convença a corte que irá julgar o caso em questão. Leia mais na página 16.


_ Percy! _ Hermione engoliu seco _ Deve ser o efeito do Impérius. Tem que ser.
_ Rony sabe disso?
_ Claro que não.
_ Então vai ter um choque.
O Noitibus freiou bruscamente e Harry e Hermione foram jogados para o lado oposto, caindo um em cima do outro. Por outro lado Rony caiu no chão e acordou assustado e sonolento. Lalau andou até Harry e puxou o jornal de sua mão.
_ Chegamos. A Toca. _ Avisou Lalau nervoso _ E não se esqueçam do pagamento.
Hermione fechou a cara e entregou alguns sicles para Lalau, Harry procurou confuso as moedas em seu bolso enquanto Rony tremia, deixando os nuques que tirara do bolso do casaco caírem no chão. Os três saíram quase empurrados e Lalau despejou suas coisas, em seguida o noitibus acelerou e desapareceu cortando o vento. Rony, entretanto, parecia confundir sonho com realidade, pois mantinha o olhar perdido e não falava uma palvra.
_ Pelo menos chegamos a Toca _ falou Hermione puxando Rony pelo cotovelo.
_ O que... O que aconteceu? _ Balbuciou Rony _ Harry? O que faz aqui?
_ Hei, Rony, acorda! Eu disse que viria, esqueceu?
_ Hã... Disse... Disse sim.
_ Vamos logo _ Hermione largou-o imediatamente e pegou sua bagagem.
A Toca estava intacta, como sempre, contudo totalmente trancafiada. Rony balançou a cabeça para despertar e puxou a varinha das vestes, batendo com a ponta dela na porta. Um barulho se ouviu de lá de dentro e uma janelinha na porta se abriu, mostrando o senhor Weasley.
_ Rony! O que faz aqui a essa hora?
_ Horário seguro _ respondeu Rony esfregando os olhos_ Pode abrir?
_ Hum... Qual o cheiro da amortência?
_ Chocolate, madeira e outro elemento que eu nunca disse ao senhor.
_ E por que não?
_ Arthur_ ralhou a voz da senhora Weasley por trás dele _ abra logo essa porta antes que Rony pegue um resfriado!
Hermione tapou o riso com a boca e Rony segurou a fronte um tanto envergonhado, o porquê Harry não sabia. Ouviu-se o barulho de umas dez trancas serem abertas e a porta se abriu. Rony tentou se desviar dos braços da mãe de roupão, mas não conseguiu. A segunda vítima foi Harry.
_ Querido, que bom vê-lo bem!
_ Obrigado, senhora Weasley.
_ Mas por que vieram a essa hora? Hermione, você também vai ficar aqui?
_ Meus pais me deixaram, espero que não se incomode.
_ De jeito nenhum. Você já é da família. Só não sei como seus pais a deixaram correr um perigo tão grande vindo pra cá.
_ Eles... Confiam em mim. Prometi que não me meteria em confusões
_ Entendo. Vamos, entrem os três.
Obedecendo, entraram. Para a surpresa de Harry não eram só o senhor e a senhora Weasley que estavam acordados. Fleur apareceu descendo as escadas com uma bacia de água morna.
_ Ele já dormiu, senhorr Weas... Arry? Ron?
A moça desceu e espalhou seus longos cabelos dourados neles enquanto os abraçava e os beijava no rosto. Harry corou e Rony ficou totalmente sem jeito, ainda mais quando notou o olhar evasivo de Hermione, fingindo não ver a cena.
_ Que bom vê-los. Você também, Hermione.
_ Obrigada, Fleur.
_ Como está Percy? _ Indagou a senhora Weasley recolhendo a bacia.
Rony acordou de vez ao escutar o nome:
_ Quê! Percy está aqui?
_ Oh, sim.
_ E por que? Foi demitido do Ministério por acaso?
_ Rony, não tolero que fale assim do seu irmão.
_ Ele não está nada bem, Rony _ falou o senhor Weasley calmamente _ Mas não vamos falar disso agora. Está muito tarde. Precisam dormir.
Harry pensou em contar sobre o que lera no Profeta Diário, mas quando viu o olhar severo de Hermione entendeu o recado e ficou calado.
_ Vão dormir, meninos _ mandou a senhora Weasley os guiando para os quartos _ Hermione, Gina está dormindo. Tente não acordá-la.
O nome "Gina" fez as entranhas de Harry contraírem e seu coração pular. Moli abriu a porta vagarosamente e Hermione entrou, desejou um boa noite a todos e se escondeu por trás da madeira. Em seguida a senhora guiou os rapazes para o quarto e os acomodou lá.
_ Não conversem, certo? Percy está dormindo no quarto ao lado.
_ Pode deixar _ concordou Rony contra a vontade _ Boa noite.
A porta fora fechada e os rapazes começaram a trocar de roupa.
_ Alguma coisa aconteceu _ iniciou Rony vestindo o pijama _ Percy não veio aqui só para ver o casamento do Gui com Fleur.
Harry se controlou, mesmo com Rony insistindo:
_ Quero dizer, ele encheu a boca pra falar mal da nossa família e depois se recusou a baixar a crista e adimitir que foi um imbecil. E antes d'eu ir para a casa da Mione ele não havia mandado uma só carta para o papai ou a mamãe.
_ Falando nisso _ Harry procurou mudar de assunto_ o que você foi fazer na casa da Hermione?
Rony enrubreceu, mas não demorou a responder:
_ Ela passa parte das férias aqui, esqueceu? É normal que os pais dela queiram conhecer os "amiguinhos", mas seus tios... Não é qualquer um que aguenta. De qualquer forma foi só um final de semana, isso porque o Lalau foi interrogado outra vez. Vê se pode... Ser acusado de ser um comensal. Ficamos sem tranporte há dois dias.
Imediatamente puxou o travesseiro e os cobertores para se deitar. Fez tão rápido que até surpreendeu Harry. Pelo menos esquecera de Percy e só lembraria que estavam conversando sobre ele quando Harry já pudesse fingir que estava dormindo.
O céu estava coberto por núvens espessas que lembravam borrões mal feitos. E a lua tentava em vão reaparecer no céu.




CONTINUA...

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