Achado não é roubado



– Capitulo 1 –
Achado não é roubado

Já amanhecia em Hogwarts e mesmo assim a aluna mais aplicada da escola, Lílian Evans, não parava de ler um certo livro, sem título e encadernado em couro de dragão. Era um diário. Um diário, que a menina havia encontrado no dia anterior, debaixo de uma carteira da sala de Poções, localizada nas masmorras. Ela bem que procurou descobrir a quem pertencia; tentou diversos feitiços que revelassem o nome do dono, mas todas as suas artimanhas não deram certas. Procurou até manualmente o nome da pessoa, sem cair na tentação de ler o que havia escrito, mas não teve jeito: a curiosidade foi tão grande quanto o respeito que tinha pelos segredos das pessoas.
Ela guardou o diário na mochila e esperou até todas as colegas de quarto caírem num sono pesado, para se esconder atrás das cortinas de sua cama e começar a ler o que estava escrito. A caligrafia era caprichada, fina e corrida; muito provavelmente de uma menina. O problema era que as sentenças estavam todas no masculino e algumas frases como “O maldito fez a minha calça ficar florida na frente de todos”, decididamente não fora escrita por uma menina e sim, por um menino. Agora, quem ele era? Lílian não sabia. Ele não citava nomes, nem a que casa pertencia. A única pista que teve, era que parecia ser aplicado nos estudos e que possuía um crescente ódio por alguém, que ela também não sabia quem era, mas que apoiava o sentimento do menino completamente. O “Inominável” como Lílian decidiu chamá-lo, era diariamente humilhado por algum garoto metido e arrogante, sem falar que o valentão parecia ter um comparsa igualmente idiota, para amolar o misterioso dono do diário.
À medida que lia os segredos do “Inominável”, Lílian, cada vez mais tomava as dores do menino e quando finalmente leu a décima segunda folha do diário, viu que seu relógio de cabeceira já marcava seis horas da manhã e mesmo que sua curiosidade fosse do tamanho de um dragão, suas pálpebras ficaram repentinamente pesadas até que sua visão se tornou difusa e tudo sumiu dentro de uma escuridão sem fim.

***
Pareceu-lhe segundos desde que fechara os olhos e abria-os novamente, quando sua amiga Joanne apareceu pulando em cima de sua cama feito loca.
- Lily! – Gritou ela desesperada puxando a amiga para fora dos cobertores – Você precisa se arrumar logo, estamos atrasadas!
- Atrasadas? – Perguntou a menina sem entender, ainda com os olhos marejados de sono – Atrasadas pra quê? Hoje é Sábado. Sá- ba- do! Se você não sabe, hoje não tem aula...
A amiga olhou incrédula para uma Lílian totalmente descabelada que já estava voltando para debaixo das cobertas. Uma coruja piou lá fora e quando ela começava a cavalgar num lindo unicórnio, foi interrompida mais uma vez pela voz fina de Joanne.
- Nada disso! – Falou Joanne puxando as cobertas e jogando-as no chão – Eu não acredito que você esqueceu que hoje é a primeira visita a Hogsmead do ano!
- HOGSMEAD! – Gritou Lily caindo da cama.
- É, pelo visto você esqueceu... Não me admira. – Continuou Joanne ajudando Lily a se vestir o mais rápido o possível, colocando-lhe um suéter pela cabeça – Você ficou até tarde escrevendo naquele seu diário.
- Meu diário, que diário?– Indagou Lily olhando para a amiga com um olhar perdido – Ah! O diário que eu achei...
- Achou? Como assim? – Lily agora passava batom em seus lábios e penteava seus lindos cabelos cor de fogo – E estava lendo, é? Não sabe...
- Antes que você fale “Não sabe que é falta de respeito fazer isso” – Disse Lílian tentando imitar a voz da amiga – Saiba que eu só estava lendo porque queria descobrir a quem pertencia.
Joanne olhou desconfiada. Mas por fim, disse:
- Só vou acreditar em você porque tenho certeza de que sendo quem você é, nunca faria uma coisa dessas se não tivesse um motivo realmente bom para fazê-lo. Mas me admiro você, por não ter tido a idéia de usar um Feitiço Revelador!
- Hum, eu realmente tentei, mas nada deu certo! – E apressou-se em completar a frase – Verdade! Se você quiser pode tentar – E abaixou-se para apanhar o diário que estava jogado debaixo da cama – Tente você mesma.
- Okay – Joanne apanhou sua varinha de cima do malão e pronunciou claramente o feitiço - Revele os seus segredos!
Uma linha dourada surgira entre os rabiscos da primeira folha, formando uma frase:
“Se você está lendo essa frase é porque não é o verdadeiro dono deste diário. Criatura enxerida, cuidado para não se dar mal. Você pode saber dos meus segredos, mas nunca saberá quem eu sou!”
- Está vendo – replicou Lílian fechando novamente o diário e colocando cuidadosamente dentro do seu malão - Por mais que eu tente, só aparece frases desse tipo. Uma chegou a rogar uma praga dizendo que nunca seria feliz no amor.
- Está me parecendo aqueles tipos de diário que a minha irmã Diana tinha antigamente – disse Joane num tom cômico – Eles vendem esse tipo de coisa no Beco Diagonal, e por mais que você tente procurar não consegue achar nenhuma pista de quem é a pessoa que escreveu tudo aquilo.
- Eu percebi ... Mas vamos indo, não quero que aquele zelador horrível implique conosco e nos proíba de ir ao povoado. – disse Lily e completou fechando a porta do dormitório – Estou a fim de comprar um livro que a professora Valiente, me recomendou sobre runas.
E assim atravessaram a sala comunal da Grifinória, discutindo e se perguntando quem se enquadrava nas características do “Inominável”, até que a porta secreta guardada pela Mulher Gorda se fechou atrás delas e ambas saíram para um corredor bem iluminado, e caminharam até o saguão de entrada para entregarem as permissões a um carrancudo Filch.
- É parece que tudo está em ordem – Disse Filch olhando com um olhar suspeito para as meninas – Saibam as senhoritas que na volta vou averiguar se trouxeram alguma coisa ilegal para Hogwarts.
- Sim senhor – Disseram as meninas em uníssono.
Passados cinco minutos de caminhada até os portões que levavam até a estradinha de Hogsmead, Joanne, disse num sussurro quase inaudível.
- Será que um sutiã com Bombas de Bosta é um artigo ilegal?
As duas amigas atravessaram os grandes portões enfeitados por javalis alados rindo e se divertindo. Alguém mais à frente delas, caminhava lentamente e não parecia estar na melhor forma. Era um menino solitário de cabelos cor de palha e estatura mediana. Parecia cansado e decididamente doente.
Lílian e Joanne apressaram-se quando o menino pareceu tombar ligeiramente para a direita e se ajoelhar no chão. Quando finalmente se aproximaram e tentaram ajudar o garoto, repararam que era um dos monitores e colega de casa, Remo Lupin. Este estava pálido e cansado, dando-lhe o ar de ter corrido uma verdadeira maratona.
- Remo! Vo...você está bem? – Disse Lílian aflita.
- Que pergunta idiota Lily! – Interrompeu Joanne puxando o braço do menino e pondo-lhe de pé com a ajuda da amiga – Olha só pro rosto dele!
- Eu... Eu estou be... – mas antes que pudesse terminar o que ia dizer, começou a ficar verde e vomitou no chão a sua frente, por fim limpou a boca na manga da blusa e disse – Não, não estou nada bem.
- Decididamente não – Falou Lílian em tom compreensivo – Vamos ajudar você a voltar ao castelo e ir até a Ala Hospitalar. Tenho certeza que Madame Ponfrey irá dar alguma poção que faça você se sentir melhor.
- Não... Obrigada. Já fui lá – Disse Lupin revirando os olhos.
- Tem certeza? – Perguntou Joanne olhando para o garoto como se tivesse medo que ele vomitasse em cima dela (Lílian tinha certeza que era isso mesmo) – Você não parece muito convincente...
- Tenho – Replicou Remo se empertigando e ajeitando a gola das vestes – Agora se me dão licença, tenho que encontrar meus amigos em Hogsmead.
Lílian e Joanne trocaram olhares assustados.
- Tem certeza, Remo? – Perguntou Joanne baixinho.
Mas antes que pudesse responder qualquer coisa, três meninos vinham, correndo gritando a plenos pulmões, em direção a eles; vindos muito provavelmente do povoado. O mais alto de todos era forte e bonito; o mais baixo era claro e parecia um ratinho; e o restante tinha a estatura mediana, era magricela, usava óculos e tinha os cabelos muito negros, totalmente despenteados; foi este que falou primeiro assim que se aproximaram.
- Hei cara! – Disse empurrando as meninas e aproximando-se do amigo – Procuramos você por todos os cantos, até na Casa dos Gritos e nada. Você disse que viria cedo.
- Acontece que as coisas não saíram como eu planejava – Disse Remo entre os dentes – Parece que comi algo “estragado”.
- Hum, então vamos para Hogsmead logo! – Disse o menino alto – O Três Vassouras recebeu um carregamento de Cerveja Amanteigada deliciosa, com nova formula.
Os quatro meninos começaram a caminhar em direção ao povoado, ignorando totalmente Lílian e Joanne, que ficaram olhando eles partirem de queixo caído.
- Eles não são um exemplo de boa educação, não é? – Disse Lílian emburrada – Que grosseiro aquele moreno de cabelo despenteado, acho que é James o nome dele, não é? Ele sempre fica se achando durante as aulas. Mesmo estando no mesmo ano que ele e assistindo as aulas juntos, nunca conversamos direito. É totalmente indigesto.
- Sim – Disse Joanne puxando a amiga para continuar a caminhada – Aquele baixinho é o Pedro e o mais alto – Joanne ficou ligeiramente rosada – É o Sirius... Sirius Black.
Lílian pareceu não ter percebido. No entanto, parou de chofre fez uma careta e saiu correndo atrás dos meninos.
- Lily, pára com isso, eu só o acho boni...
- Não é isso tolinha.– Gritou ela como uma louca saindo correndo. Joanne colada em seus calcanhares – Hei! Vocês parem aí!
O quarteto continuou andando, o único que parecia ter percebido Lílian chamar, fora Pedro que cutucou Sirius, que cutucou Remo e este por fim, cutucou James, que se virou pra olhar.
- O que foi? – disse ele olhando para a garota displicentemente – O que você quer?
- Eu... – Lílian olhou emburrada para o menino, mas logo preferiu admirar os próprios sapatos que estavam sujos de barro – Eu queria saber se algum de vocês andou perdendo alguma coisa essa semana?
- Se perdemos algo? – Repetiu James abismado com a pergunta – Eu não... quero dizer, perdi mas não é da sua conta. Algum de vocês perdeu algo?
- Hum ... Um par de meias – disse Pedro baixinho – mas já as encontrei.
- Tenho certeza que não perdi nada – Falou Lupin, que agora parecia estar com um aspecto melhor, mas não totalmente curado.
- A única coisa que perdi foi um dente bem aqui, oh – Disse Sirius abrindo a boca e mostrando um espaço vazio – Foi durante uma briga com o Malfoy, mas... Não Remo, isso foi três dias atrás e você não pode descontar pontos por aquilo que não viu. – Completou o garoto olhando de esguelha para Remo.
- Bom, acho que não perdemos nada. – Falou James em tom conclusivo – Acho que foram as senhoritas que perderam.
- Nós? Como assim? – Perguntou Lily levantando os olhos incrivelmente verdes e olhando diretamente para James.
- Sim, vocês! Acho que perderam o cérebro. Que pergunta mais estranha de se fa...- Mas suas palavras foram morrendo e ele se virou sem terminar de falar – Vamos gente.
Lílian e Joanne se olharam fazendo caretas, quando viram James puxar os outros garotos pelo braço sem dizer nem ao menos um “tchau” e saíram desembestados.
- Que... Que menino estranho – Disse Lílian pasma – O que há com ele?
- O que há com você!? – Perguntou Joanne – O que deu em você pra fazer aquela pergunta?
- Não é óbvio? Eu só queria descobrir se o diário pertencia a algum deles – Respondeu Lílian olhando para dois pássaros que faziam um ninho em uma árvore próxima – Aquele James pareceu meio suspeito quando disse “perdi, mas não interessa a você!”, não acha?
- Sim, mas garanto que não é ele – e completou rapidamente – ele não tem cara de escrever em diários.
- É...

Hogsmead estava cheia de estudante aquele dia. As lojas mais populares eram a Dedosdemel e Zonko’s, que vendiam tudo que a garotada de Hogwarts gostava e Filch, o zelador, odiava. Lílian e Joanne voltaram para o castelo quando o sol já estava se pondo, com os bolsos cheios e Sapos de Chocolate, Delicias Gasosas, Fadinhas Açucaradas e outros doces deliciosos, além das Bombas de Bosta escondidas dentro do sutiã de Joanne, que Filch não teve a permissão e revistar.
Lílian ficou até tarde reclamando da maneira com que James se comportara, quando finalmente cochilou e dormiu, Joanne sussurrou para si mesma:
- Porque você não o escutou falando de “uma menina linda de cabelos cor de fogo e olhos brilhantes como esmeraldas” – e com um sorriso, olhou para a amiga, deitou a cabeça no travesseiro e fechou os olhos também.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.