Claire Driver
Nos dias que se seguiram as coisas pareciam normais em Hogwarts. Havia um certo clima de apreensão no ar, algo inversamente diferente ao clima do ano anterior, quando Harry ainda era visto como mentiroso e poucos davam crédito a idéia do retorno do Lorde das trevas. E mesmo com as constantes noticias de ataques a trouxas e desaparecimento ou morte de bruxos, da melhor forma possível os alunos tentavam seguir seu dia a dia de aulas.
Neville estava um tanto apreensivo com a distribuição dos horários, que naquele ano seriam um pouco mais complexos, já que antes os alunos deveriam averiguar se haviam obtido a nota mínima nos N.O.M.s para continuar freqüentando uma determinada aula. Tinha obtido um “ótimo” em Herbologia e tinha certeza de que poderia continuar a freqüentar as aulas e para seu próprio espanto, havia conseguido um “Excede Expectativas” em Defesa contra as artes das trevas.
Porem o que lhe preocupava era que apenas havia obtido um “Aceitável” em Transfiguração e tinha absoluta certeza de que McGonagall sendo exigente como sempre fora, não lhe permitiria continuar freqüentando as aulas que embora não lhe despertassem o menor interesse, estava decidido a continuar freqüentando por insistência de sua avó. Não estava muito motivado a se levantar naquela manhã, mas sabia que mesmo contra sua vontade era algo necessário. Vestiu-se e desceu apressadamente as escadarias em direção ao salão comunal para o café.
Arranjara um lugar no centro da mesa onde se pusera a mastigar um pedaço de bacon enquanto observava os outros alunos da mesa da Grifinória. Vários alunos se encontravam ausentes naquela manhã, provavelmente tratando logo de conferir a que aulas haviam se qualificado com as notas dos N.O.M.s, e os alunos que se encontravam presentes pareciam estar absortos demais em seus próprios afazeres. Notou um grupo do quinto ano no canto da mesa que se acotovelava para poder ler a edição daquela manha do Profeta Diário, certamente buscando noticias sobre os últimos acontecimentos do mundo bruxo, mas com toda certeza Neville sabia que o que eles realmente procuravam era não encontrar o nome de algum amigo ou parente na lista dos desaparecidos ou mortos daquela manhã.
Neville estava tão perdido em seus próprios pensamentos que nem notou quando uma enorme coruja negra entrou voando pela janela. Voou sorrateiramente sobre o garoto, derrubando um embrulho marrom e retangular sobre seu prato, fazendo-o pular do banco com o susto. Olhou confuso para o pacote que agora jazia sobre seu prato, tentando imaginar de quem poderia ser.
Rasgou rapidamente o papel marrom que o envolvia, e para seu espanto encontrou uma edição do Pasquim, a mesma que Luna lia alguns dias atrás no expresso.
Ela parecia Ter levado realmente a sério a opinião do garoto para pedir a seu pai para enviar uma edição como prometera, e o deixou pensativo a até que ponto iria a distração de Luna, já que ele mesmo já havia se esquecido daquele fato. Olhou em direção da mesa do Corvinal em busca da garota, encontrando-a num dos cantos da mesa comendo distraidamente um prato de omelete, parecia um tanto isolada ali no canto da mesa, já que o aluno mais próximo estava a pelo menos duas pessoas de distancia. No instante em que fixou os olhos em Luna, foi como se um sinal invisível ouve-se avisado a garota de que alguém a observava, já que quase instantaneamente levantou a cabeça e se pôs a fitar Neville com seus enormes olhos azuis. O garoto acenou timidamente com um leve sorriso que parecia um tanto retraído, e Luna parecia haver notado que ele se encontrava com a edição do Pasquim em mãos já que acenou animadamente abrindo um grande sorriso.
Neville terminou seu café rapidamente e se pôs de volta ao dormitório da Grifinória, e embora lhe parecesse uma idéia absurda, sua mente insistia em se perguntar se o motivo da felicidade de Luna seria realmente o fato de Neville dar crédito ao Pasquim. Atirou a revista sobre sua cama e deixou o dormitório em busca de McGonagall.
Estava muito satisfeito com a conversa que tivera com a professora, e embora não tivesse conseguido ingressar nas aulas de Transfiguração, se sentia muito melhor do que se tivesse conseguido. Nunca antes havia sido elogiado por McGonagall e continuar a freqüentar as aulas de Feitiços lhe soava muito melhor do que as aulas da professora, das quais nunca fora muito interessado.
De fato o dia havia sido muito bom, afinal tivera duas aulas de Herbologia, matéria predileta em todos os seus anos em Hogwarts, e tivera a oportunidade de por os olhos numa legitima Vênus Papa-moscas Sul América gigante, e embora a enorme planta tivesse tido a oportunidade de cravar seus esporões folhosos na mão de Neville, ainda sim considerava aquele como um ótimo dia.
O Dia seguiu normalmente, com uma boa aula de Feitiços com o professor Flitwick e uma não muito boa, mas não de todo ruim, aula de Defesa contra as artes das trevas com o professor Snape que embora ainda causa-se certos calafrios em Neville, parecia entender do que falava.
Naquele dia não cruzou mais com Luna e por alguma razão que não entendia bem se sentia decepcionado pelo fato, e logo após o jantar se recolheu a sala comunal da Grifinória para averiguar a edição do pasquim que recebera naquela manhã. Nenhum dos artigos de capa lhe era novidade, já que tivera a oportunidade de averiguar a capa da revista no dia em que passara aqueles momentos silenciosos e constrangedores com Luna na cabine do expresso e se lembrava também dos momentos infindavelmente mais constrangedores que e seguiram. No entanto esperava ao menos que os artigos fossem menos absurdos do que a chamada na capa sugeria, mas após algum tempo lendo a revista, deu-se conta de que os artigo era tão ou mais lunáticos do que suas chamadas viriam a sugeriam. Como o artigo sobre a “conspiração dente podre”, armada pelos aurores para derrubar o ministério, ou como as fadas mordentes revolucionarias que estariam planejando uma invasão em massa a Grã-Bretanha.
Neville foi lendo artigo após artigo, esboçando uma visível expressão de descrença em seu rosto a qualquer um que parasse para observar o garoto por um instante. Porem em determinado momento, chegou até a matéria que tinha sido o motivo de possuir o Pasquim em mãos. Em pagina dupla havia de um lado em letras garrafais os dizeres “Auras – Entendendo e decifrando” e na pagina logo ao lado havia um par de spectrocs para serem destacados. Retirou os gritantemente chamativos óculos da revista, e teve a estranha impressão de que os spectrocs não necessitavam de fato possuir aquela aparência bizarra para funcionar corretamente.
A matéria possuía uma extensa tabela ilustradas por cores e charges um tanto mal feitas que representavam os diferentes tipos de emoções humanas, e embora algumas das emoções ali descritas não pudessem realmente tidas como emoções reais, já que em toda sua vida Neville jamais pensou encontrar alguém que caracteriza-se dor de estômago como uma emoção. Porem mesmo levanto em conta tais sandices, de fato uma boa parte do que se lia ali tinha muita lógica.
Olhou em volta para o salão comunal da Grifinória onde vários alunos realizavam uma série de atividades. Hermione discutia com Rony sobre deveres de casa, e as palavras “responsabilidade” e “falta” pareciam ser o tópico principal da garota, enquanto o garoto ruivo apenas se resumia a criticar o modo como a amiga não sabia aproveitar a vida.
Um visivelmente entediado Harry observava os dois se ofenderem mutuamente, como já vinha observando nos seus últimos cinco anos na escola de magia. De fato aquela parecia um ótima oportunidade para um pequeno teste com os spectrocs.
Ajeitou os berrantes óculos sobre o nariz e pois a observar a discussão que se seguia. Por alguns instantes nada podia ser notado de anormal, porem após alguns segundos, vários “contornos” luminosos começaram a surgir ao redor dos presentes na sala. Uma forte aura avermelhada se formou ao redor de Rony e Hermione, que ainda trocavam desavenças, enquanto que Harry, agora debruçado sobre mesa, era contornado por um fraco feixe de luz cinza esverdeado.
Neville achava aquilo fantástico, admitia jamais pensar que algo realmente tão incrível pudesse vir do Pasquim. Lembrou-se nesse momento de uma Luna muito triste, alguns dias atras no expresso, com certeza se ela o ouvisse falar assim sobre a publicação de seu pai, ficaria realmente muito triste, afinal, existe uma grande diferença entre receber criticas de um desconhecido e receber criticas desse gênero de um amigo, e certamente, apesar do seu ar alheio e de parecer imune a quaisquer tipo de comentário ofensivo a seu jeito de ser, certamente tinha sentimentos, afinal os spectrocs não podiam mentir, ou será que podiam ?
Voltou-se novamente para discussão que se desenrolava ferozmente próximo a ele. Rony havia feito qualquer comentário sobre Krum, os quais não perdia uma oportunidade de lançar nos últimos dois anos e Hermione parecia realmente magoada.
Neville observou a aura da garota passar de um vermelho vivo para um verde aguado, ficando quatro ou cinco vezes mais larga, porem bem mais opaca. Lagrimas começaram a brotar do rosto de Hermione enquanto ela se levantava e corria para o dormitório feminino, deixando aos olhos de Neville um rastro esverdeado no ar, que rapidamente se dissipou.
Ron ficou sentado no chão emburrado. O vermelho se tornara uma onda de pulsações roxas e verdes extremamente desconfortáveis a vista, enquanto Harry o repreendia e lhe aconselhava a ser mais educado, especialmente com a garota que havia salvado sua pele por mais de uma vez.
Para Neville estava mais claro que a verde significava tristeza, mas aquele roxo forte permanecia um mistério. Folheou a revista rapidamente a procura de um significado, encontrou ao lado de um desenho um tanto mal feito de um homem visivelmente zangado que andava de um lado para o outro, e de um uma pequena tarja roxa, a palavra “Frustração”.
Se perguntava qual a razão da frustração do rapaz. Para ele, assim como para qualquer um da Grifinória, era bem claro que Rony e Hermione sentiam algo um pelo outro. E mesmo com a brigas constantes dentre eles, era bem claro para qualquer um que já tenha passado uma noite no salão comunal em que os dois tivessem passado mais de uma hora juntos que sentiam algo realmente forte, só não sabiam muito bem como expressar.
Se levantou da cadeira e foi em direção ao dormitório, pois já sentia o sono pesar e mesmo com a brincadeira divertida com os spectrocs, sentia o cansaço do dia vencer. Deitou-se na cama e ficou pensando por um tempo, viu Harry e Rony virem se deitar, ficou imaginando por um tempo boas utilidades para os spectrocs, e por fim adormeceu.
Acordou na manhã seguinte bem cedo, teria uma boa aula de Herbologia pela manhã e gostava de acordar cedo nesses dias. Costumava chegar antes dos outros alunos para oferecer algum auxilio a Prof.a Sprout, e aproveitar assim para pegar uma ou duas dicas sobre a matéria, que inevitavelmente a professora sempre deixava escapar.
Vinha estudando bastante por conta própria e descobrira coisas muito interessantes e algumas também bastante úteis. Havia descoberto com acabar com a acne, coisa que parecia afligir muito alguns de seus companheiro grifinórios, isso sem mencionar diversas garotas da escola. Uma simples pasta feita com algumas raízes simples resolvia o problema facilmente.
No entanto não tinha muito ambição comercial na sua descoberta, e optou por mante-la para si, afinal, definitivamente não possuía aquela veia empreendedora dos gêmeos Wesley.
Chegou a estufa antes de todos como o previsto, enquanto a Prof.a Sprout adentrava a estufa carregando num pequeno vaso marrom, uma muda de Venus-Papa-moscas gigante que havia lhe mordido a mão no dia anterior. A pequena bocarra verde mordia o ar freneticamente tentando alcançar as mãos da professora.
Neville seguiu a professora para o interior da estufa, em seu interior uma estava uma séria de plantas as quais não estiveram presentes em anos anteriores, muitas das quais, Neville vinha usando para criar seus pequenos “experimentos”.
---Bom dia Professora --- Exclamou Neville animadamente.
--- Oh bom dia meu querido --- Disse a professora sorrindo --- Chegou cedo como sempre.
--- Você sabe como eu gosto da estufa --- Respondeu o garoto --- Essa sempre foi minha matéria favorita.
--- Isso não é um segredo para mim --- Disse a professora colocando o vasinho com a Vênus sobre a mesa --- E acho que seu rosto não mente.
--- Como assim ? --- Perguntou Neville confuso.
--- Ora meu querido, um rapaz de quase dezessete anos sem uma única espinha no rosto é algo bastante estranho não concorda ?
--- Bem, é que, hum, agora você me pegou --- Disse Neville levemente envergonhado.
--- E eu também tenho sentido a falta de uma série de raízes, bagas e sementes da estufa --- Disse a Prof.a Sprout com um falso olhar severo --- Mas não se preocupe meu rapaz, eu aprovo seu entusiasmo pela Herbologia, apenas tome cuidado com o que faz, certas formulas podem ser bastante perigosas.
--- Vou tomar --- Respondeu Neville respondendo ao sorriso que agora professora lhe lançava.
Logo os primeiros alunos começaram a chegar, e a aula se seguiu normalmente. Neville teve de se esquivar de uma séria de investidas que a pequena Vênus fez a suas mãos e conseguiu alguns grãos que faltavam para seu ultimo experimento.
Teve duas aulas de feitiços com o Prof. Flitwick e então teria um período vago antes de sua aula de Defesa contra as artes das trevas. Sentou-se sobre uma arvore próxima a estufa, pensava sobre uma forma de evitar o mal estar que as batatas assadas lhe causavam, pois se havia uma resposta, certamente estava nas plantas.
Estava perdido seus pensamentos cheios de formulas herbologicas , quando sentiu que alguém o observava. Olhou para o lado e viu uma garota que o observava e ao notar seu olhar fingiu desviar sua atenção a um dos canteiros esternos da estufa.
Infelizmente, voltou-se para o canteiro onde a Prof.a Sprout havia colocado as pequenas Vênus para tomar sol. Ele apenas observou enquanto uma das pequena bocarras verdes agarrava a saia da garota como se tentando arranca-la, Neville levantou-se de um salto retirando a varinha do bolço
--- Flora Extuporate --- Gritou o garoto, enquanto um jato de luz laranja saltava da sua varinha, atingindo a pequena porem feroz planta, agora paralisada.
--- O..obrigada --- Gaguejou a garota.
--- Você deveria ter mais cuidado quando espiona as pessoas --- Disse Neville secamente.
--- Não estava te espionando --- Respondeu a garota baixando a cabeça, visivelmente vermelha.
--- Não foi o que eu vi --- Disse ele encarando a garota --- Muita gente anda achando que eu e meus amigos somos grandes curiosidades só por que estivemos no Ministério ano passado.
--- Mas eu não estava te espionando --- Protestou a garota, agora encarando Neville, com seu rosto extremamente rubro.
--- Não precisa se explicar --- Disse Neville lhe dando as costas --- Você provavelmente viu meu rosto em algum jornal e resolveu olhar mais de perto, de certo nem sabe meu nome.
--- Sei sim, é Neville Longbotton --- Disse a garota timidamente novamente baixando a cabeça.
Neville a fitou de cima a baixo por um instante, usava vestes amarelas e cinzas e um cachecol listrado mas mesmas cores, tinha longos cabelos loiros que lhe batiam pela cintura, e embora só tivesse visto por um instante, percebera que ela tinha brilhantes olhos azuis.
Notou então que grossas lagrimas escorriam pelo rosto da garota que soluçava baixinho. Aquilo o fez se sentir muito mal por dentro, afinal embora já estivesse farto de tanto assedio, não chegaria ao ponto de magoar as pessoas, especialmente uma garota.
--- Me desculpe, eu não quis ser grosseiro --- Disse o Neville pousando sua mão sobre o ombro da garota --- Acho que me descontrolei por um instante.
--- Tudo bem --- Respondeu a garota enxugando os olhos com a ponta do cachecol --- Eu não deveria ficar espionando as pessoas.
--- Então você estava me espionando --- Disse Neville sorrindo num tom descontraído, tentando animar a garota.
--- Eh, talvez --- Respondeu a garota baixinho, também sorrindo.
--- Mas já que você sabe quem eu sou, acho que seria bom se você me dissesse quem você é --- Disse ele, enxugando uma ultima lagrima que escorria com a ponta do dedo.
--- Claire, Claire Driver --- Exclamou a garota, cruzando seus olhos com os dele.
--- É da Lufa-Lufa não é --- Disse ele apontando para o pequeno brasão de texugo no peito da garota.
--- Isso, quarto ano --- Respondeu a garota com firmeza.
--- Mas por que você estava me espionando.
--- Hum, tem um monte de garotas falando de você --- Disse ela encabulada -- - Você ficou famoso depois de se aventurar no ministério.
--- Garotas? Falando de mim? --- Perguntou Neville envergonhado, se dando conta do tipo de situação em que havia se envolvido.
--- S...sim --- Gaguejou a garota timidamente.
--- Isso quer dizer que você...
--- É --- Respondeu a garota com o rosto vermelho.
Neville engoliu seco, já tinha gostado de garotas antes, mas era a primeira vez que uma garota mostrava real interesse por ele, e era mais chocante ainda descobrir que não era apenas uma, mas varias.
Não ouve tempo de reação quando a garota se aproximou de seu rosto e lhe deu leve beijo, quase que apenas um leve toque nos lábios. Já havia beijado garotas antes, dera seu primeiro beijo no quarto ano, em uma garota do Corvinal, mas aquilo era diferente, foi um beijo terno, carregado de carinho.
A garota então se afastou e lhe olhou fundo nos olhos, seu rosto ruborizou completamente, então deu lhe as costas e saiu correndo em direção ao castelo, Neville apenas observou enquanto a garota desaparecia com a distancia.
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