Segredo

A Rua dos Alfeneiros estava mais tranqüila do que nunca, até o silêncio ser rompido por um grito de terror:
- Dobby!!! Quantas vezes eu já te disse para não fazer isso?
Harry Potter, agora sentado em sua cama, havia acordado com Dobby, o elfo doméstico, pulando sobre suas pernas. O elfo, surpreso com a reação do ídolo, se encolheu com uma expressão de culpa no rostinho brilhoso e ganiu, aflito:
- Harry Potter perdoa Dobby, Harry Potter perdoa Dobby, meu senhor!
- Calma Dobby, eu não estou bravo! – Harry pensou ter ouvido um barulho no quarto ao lado. – Eu só me assustei... Mas... O que você faz aqui?
- Dobby estava com saudades de Harry Potter, meu senhor! – Dobby parou de ganir. Colocou-se de joelhos em frente à Harry. – Dobby queria muito vê-lo, meu senhor.
- Ah... Mas porque não veio de dia, Dobby? Agora é madrugada! – Harry já havia se recuperado de susto inicial. Agarrou seus óculos redondos e os colocou.
- Dobby trabalha em Hogwarts, senhor... Lá o trabalho nunca acaba... Só temos folga à noite Harry Potter, eu e todos os outros elfos... Dobby só podia vir à noite... Senão como Dobby iria contar a Harry Potter que um segredo o espera em Hogwarts, senhor?... – Após dizer isso, Dobby arregalou os olhos e começou a esbofetear o próprio rosto. Harry pulou da cama e o conteve, segurando seus bracinhos finos.
- Pare Dobby! – exigiu. O elfo tornou a se encolher, angustiado. – De que segredo você está falando, hein?
- Quase que Dobby traiu o próprio empregador, Harry Potter! – exclamou o elfo, erguendo a cabeça como uma tartaruga. – Dobby fala demais, Dobby fala demais!
- Não vai me responder, Dobby? Que segredo é esse? – Harry insistiu.
- Dobby não pode meu senhor, Dobby não pode! O diretor Dumbledore ficaria muito bravo e expulsaria Dobby de Hogwarts! Dobby não devia ter dito nada à Harry Potter!
- Tudo bem, Dobby, tudo bem. – Harry sabia que não adiantaria insistir ainda mais. Dobby abriu um sorriso sem-graça e pulou da cama ao chão carpetado.
Harry, um pouco confuso com a revelação de Dobby, passou os olhos por um cachecol velho que estava jogado sobre sua escrivaninha e, tomado por uma compaixão repentina, falou:
- Pegue esse cachecol Dobby. É um presente de agradecimento à sua visita. Você me faz acreditar que Hogwarts não é um sonho.
No instante seguinte, Harry estava acudindo o elfo em prantos. Mas não foi rápido o suficiente. A porta de seu quarto foi escancarada por Válter Dursley, o tio de Harry, que parecia preste a ter um colapso.
- Você sabe que horas são, moleque? – berrou ele, sem notar Dobby, que aproveitou a chance para desaparecer, acompanhado de um estalo. - Você é maluco ou o quê? As pessoas normais têm que dormir! E já é a quinta vez essa semana que essa coruja imbecil me acorda!
Edwiges, que até o momento assistia à cena sem se mover, piou particularmente alto. Harry se viu num beco sem saída.
- Desculpe-me! – gaguejou. – É que Edwiges está... está gripada... E por isso...
- Você acha que eu sou algum retardado? – berrou o Tio, apontando um dedo para a coruja branca. – Eu sei que esses bichos não ficam gripados coisa nenhuma! E eu sei que havia alguém do seu mundo de anormais aqui!
- Não... não Tio Válter... – Harry pôs-se de pé num salto.
- Eu já disse que não vou tolerar essa gente em minha casa! – Válter Dursley parecia agora prestes a explodir, suas veias latejavam ameaçadoramente. – Já chega ter que te aturar na minha casa por 15 anos, você e sua anormalidade, essa doença de gente maluca... E agora você trás amiguinhos para fazer reuniões em plena madrugada?!
- Tio Válter, em primeiro lugar, não havia ninguém aqui! – berrou Harry, agora perdendo o controle. Ouvir aquelas coisas de um trouxa, ainda por cima um trouxa como Válter Dursley, era simplesmente inadmissível. – E em segundo lugar, quem é o senhor para dizer essas coisas do que não conhece? O senhor e sua família de hipócritas não tem o direito de julgar ninguém!
Tio Válter, ao escutar as palavras de Harry, ficou ainda mais púrpuro e gritou de um modo que acordou à todos, até mesmo Duda, que tinha um sono de pedra.
- Moleque ingrato! Nós cuidamos de você, lhe damos comida, roupas e moradia... E é dessa forma que você agradece? Só não o coloco na rua agora porque sou piedoso!
Essa foi demais até para Harry.
- Você fala como se quisesse ter me criado, como se tivesse me acolhido num berço de ouro quando fui abandonado em sua casa! Você me enoja, tio! Mas... pode deixar, logo que eu puder, vou embora dessa casa, sem precisar ouvir suas palavras de despejo!
Ao ouvir suas palavras, Petúnia Dursley, que espiava a cena por cima do ombro do marido, cobriu a boca com as mãos. Duda, ainda sonolento e de pé ao seu lado, murmurou cadê o café?, mas como ninguém o notou, o mesmo desceu sozinho e resmungando para a cozinha. Tio Válter bufava como se não pudesse respirar. Harry o encarou, esperando uma pancada, mas o homem apenas se virou e disse para Petúnia:
- Petúnia, volte a dormir. Não há mais nada aqui para ver! Esse moleque precisa se mostrar merecedor de tudo o que fizemos para ele desde o dia em que ele foi deixado na nossa porta.
E se foi em direção ao quarto.

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