Margaridas e sorrisos



Luna Lovegood tinha um jeito peculiar de caminhar. A garota costumava olhar fixamente para o chão, ao mesmo tempo que sacudia os braços de maneira particularmente cômica. Talvez tenha sido justamente devido ao aparente interesse exacerbado da garota pela calçada que seus grandes olhos azul-celeste não repararam no garoto louro que vinha correndo em sua direção.
Draco tinha o rosto muito vermelho devido à verdadeira odisséia que havia sido chegar ao encontro de Luna. Com os dias que falatavam para a chegada do baile se esgotando, as ruas de Hoagsmeade se encontravam apinhadas de jovens bruxos e bruxas à procura do traje perfeito, bem como do agrado ideal para presentear seu encontro. Embora cansado, Draco havia encontrado alguns segundos livres para apanhar uma margarida de um canteiro próximo, margarida esta que o garoto escondia hermeticamente sob o casaco, receando com todas as fibras de seu ser que algum colega o avistasse com a flor em mãos. O que diriam as pessoas se avistassem o temido Draco Malfoy com uma flor em mãos?! Certamente todo o respeito que havia conquistado em seus anos de Hogwarts evaporariam em um estalar de dedos. Além do mais, Malfoys não mandam flores...O que pensaria seu pai se o surpreendesse carregando presentinhos, ainda mais destinados à Di-Lua Lovegood, a garota de cabelos desgrenhados e hábitos estranhos? E foi com esse pensamento que Malfoy, pisando na flor que anteriormente carregava, saíu desabalado na direção oposta à que anteriormente corria.




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De volta à Hogwarts, na companhia de Pansy Parkinson, o garoto resolveu passear pelos jardins e aproveitar o fim-de-tarde que iluminava com pinceladas de laranja e lilás o lago da propriedade do Castelo da escola.

- Sabe em que estive pensando, Draquinho? - disse Pansy com sua voz arrastada, agarrando o braço de Draco.

- Diga...

- Nós estamos em Hogwarts há tanto tempo...Como é que você nunca apareceu com uma namorada?

- Mas...mas o que é isso? - retorquiu Draco, surpreso. - Com tantas coisas importantes para pensar, você vem logo se meter em minha vida amorosa? Ah, mas é claro...É isso o que você faz...É o seu esporte favorito...Você analisa, espiona, conspira a respeito da vida dos outros. Você já pensou em arranjar algo melhor para fazer, Parkinson? Vai estudar, mulher! Talvez se você abrisse um livro sequer não estaria tão desesperada com os exames do fim do ano.

- Pra que tanta grosseria, hein? Eu estou é achando que essa sua irritação toda tem alguma causa digamos...feminina...

- Lá vem, você e suas suposições...Como é que você consegue me irritar tanto, mulher? - disse Draco, em tom de brincadeira, empurrando com os quadris a garota para cima de um arbusto.

- Nãao...eu não posso ganhar todos os louros por te irritar - respondeu Pnsy, se recompondo - Acho que a questão aqui não são os louros, e sim as louras....

Draco sentiu seu estômago congelar. Como é que a intrometida da Pansy sabia sobre Luna? O garoto não sentia essa sensação há muito tempo. Esse medo, esse receio eram típicos das vizitas à Azkaban, frente à visão do pai preso. Mas como era possível que a menção da simples suspeita à respeito de Luna lhe provocasse um medo assim tão intenso, equiparável até às sensações vivenciadas em Azkaban?!

- Que...que louras, Pansy? - perguntou Draco, num sussurro apreensivo.

- Coooomo que louras?! Não se faça de desentendido, Draco, eu sei muito bem com quem você saiu aquele dia que você não quis me contar.

- Ah...é? E...o que você...hm...acha dela? - perguntou Draco, sentindo-se corar.

- Bom, ela não é lá essas coisas, mas tem uns olhos bem bonitos...

Ele havia ouvido aquilo mesmo? Pansy Parkinson, a garota que conseguia encontrar defeitos até mesmo na modelo mais requisitada do mundo bruxo estava admitindo a presença de alguma qualidade em Di-Lua Lovegood?

- Você me surpreende, Parkinson...subiu no meu conceito.

- Eu sempre te surpreendo...Aliás, eu sou uma garota surpreendente...Além de sexy, linda, inteligente, e, é claro, que te ama, Draquinho! Aliás, essa sua lou...Nossa, olha aquela aberração da Lovegood alí do outro lado conversando com o Potter. Por Merlin, imagina se eles fossem ao baile juntos? Ia ser como se...

Mas Draco não estava mais ouvindo. Sua alegria perante ao relativo apoio de Pansy que ele havia suposto havia sido substituída por uma completa vontade de esganar Harry Potter, alí mesmo, por todos os motivos possíveis e imagináveis. Ele não podia esquecer-se de que prometera vingar o pai. No entanto, naquele momento a lembrança do pai estava distante. Só o que importava era o encantador sorriso de Luna, sorriso este que nunca havia sido reparado por Draco. Infelizmente, esse sorriso que o garoto tanto queria para si não lhe era destinado, e sim destinado à pessoa que ele mais odiava em todo o mundo: o garoto que prendera seu pai.



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