Sonhos e Expectativas
Capítulo 1
Sonhos e Expectativas
Robin, como de costume, saiu apressada de casa para refugiar-se sob uma grande árvore que ficava no topo de um monte, a uns cem metros da sua residência, para observar mais um belo pôr-do-sol de verão. Hoje o céu estava incrivelmente limpo, com apenas alguns vestígios de nuvem ao longe. “Ai vem chuva...” pensou, enquanto procurava um bom lugar para se sentar em baixo do carvalho centenário. Robin sempre ia lá para clarear as idéias, ou desanuviar seu coraçãozinho, que vivia apertado, ou de saudade ou de tristeza.
Ela alisou o vestido, ajeitou seu cabelo e ficou a admirar o horizonte. Robin era bochechuda, nariz arrebitado e um pouco baixa, mas tinha um sorriso doce. Seus olhinhos azuis amendoados também demonstravam a meiguice e ingenuidade da menina. Sua pele era bem branca, quase pálida, cabelos bem pretos e lisos que ficavam na altura dos ombros presos com fita sempre em dois rabos-de-cavalo, um de cada lado.
Ela contemplou o Sol vermelho a se esconder por trás dos montes e começou a refletir sobre as coisas que seu pai havia dito há poucos minutos. Eles haviam discutido, o porquê ela não já não se lembrava ao certo, mas sabia que, no final, provavelmente era sua culpa. Robin se esforçava muito para estar à altura de seus pais, que faziam muitas exigências. Trabalhava muito mais que seus irmãos, tirava boas notas na escola, e fazia tantas outras coisas que crianças da sua idade nem imaginavam. Mas isso não era suficiente, ela ainda não era perfeita. Sabia que Joseph queria ter tido somente filhos homens e talvez ela simplesmente não estivesse em seus planos.
Uma coruja cinza piou alto, chamando Robin de volta a realidade. Quando deu por si, uma hora havia se passado já estava escuro. A menina cumprimentou a ave que lá morava e se levantou da grama. Mais tranqüila, a garotinha resolveu então voltar para casa. Todos haviam jantado, então ela comeu o que sua mãe havia guardado no forno, arrumou a cozinha e depois subiu para seu quarto.
Robin vestiu o seu pijama e já estava pronta para dormir quando caminhou até a janela e debruçou-se sobre o parapeito para espiar lá fora: estava uma noite linda e fresca, a lua cheia iluminava o pasto onde algumas vacas já dormiam. As árvores farfalhavam produzindo uma música suave e agradável ao longe; e uma brisa leve soprava os seus cabelos suavemente, descobrindo sua fronte, parcialmente encoberta por uma grande franja preta que tentava esconder uma cicatriz em forma de raio.
A garota ajeitou o cabelo e fechou a janela, deixando apenas uma fresta para o ar entrar. Deitou-se em sua cama, que ficava no meio do quarto, encostada na parede oposta à janela; e foi se aconchegando embaixo das cobertas, até que percebeu que Fluffy estava lá. Ela retirou seu pufoso debaixo das cobertas e o atirou numa velha poltrona de retalhos florais que ficava num canto do quarto. Foi quando ouviu passos no corredor, e logo a porta se abriu mostrando a silhueta de uma mulher muito bonita e alta carregando um garotinho no colo. Ela o fez vestir o pijama e o colocou na cama ao lado, sentou-se na beirada e disse:
– Ronan, você não tem mais idade para choramingar desse jeito...
– Mas mamãe, eu não estou com sono!
– Já é tarde! Amanhã nós vamos à capital visitar sua avó, portanto, durma logo. –ela ajeitou o filho sob as cobertas e beijou-lhe a testa.
A mulher se levantou e beijou a garotinha também, deu-lhes boa noite e fechou a porta. Robin dividia o quarto com Ronan, seu irmão que, apesar de ser apenas um ano mais novo que ela, parecia ter menos idade e não gostava de ficar sozinho. Robin lhe contou uma das muitas histórias que sabia de cor, deu-lhe boa noite e logo ele caiu no sono. Porém, dormir não era assim tão fácil para ela, que tivera pesadelos à semana inteira. Sonhava sempre a mesma coisa, e sua mãe havia lhe explicado que sonhos repetidos ou são um aviso, ou então um presságio, e nenhuma das idéias a agradava.
Lembrou-se então de que amanhã era o primeiro domingo do mês, dia de ir à Londres, visitar sua avó trouxa, e que se não fizesse um esforço concentrado para dormir, talvez não conseguisse acordar na hora. Fechou os olhos e começou a pensar em coisas agradáveis... ela estava brincando com seus cães no pasto, um casal de beagles muito alegres e brincalhões... mas então aquela coruja cinza apareceu novamente... toda vez que ela aparecia nos sonhos de Robin, tudo mudava... A menina se sentou sob a mesma árvore frondosa com o bicho no ombro e então desatou a falar:
“Quer ouvir um segredo? –Robin ouviu a coruja e demonstrou interesse –Sete primaveras e sete luas cheias se seguirão após o nascimento do escolhido, quando nascerá aquela que está predestinada a salvá-lo da escuridão... ela receberá o maior poder concedido a uma bruxa...”
A paisagem mudou, como se a garota tivesse sido levada para outro lugar. Era uma manhã fria de fim de inverno: os primeiros raios de Sol entravam pela única janela aberta num quarto de hospital, e um cheiro de orvalho e jasmim invadia o ambiente onde repousava apenas uma jovem mulher, que tinha longos cabelos negros e pele branca e bochechas rosadas. Seu sono parecia leve e tranqüilo, apesar da aparência cansada.
As paredes pintadas de verde-claro e o chão frio de cerâmica davam um ar de limpeza ao ambiente. Havia apenas seis leitos no quarto, todos arrumados com lençóis brancos, e havia uma cadeira e uma mesinha ao lado de cada cama. Um sofá de veludo muito confortável jazia abaixo das janelas cobertas de cortinas de chiffon branco e um arranjo de tulipas róseas enfeitava sua mesa de cabeceira.
Ela abriu seus olhos lilases amendoados e sorriu quando uma enfermeira adentrou o quarto com um lindo bebê nos braços, enrolado como um pequeno embrulho, seguida por um homem que demonstrava estar muito feliz. Este era ruivo, alto e forte; sua postura ereta lhe dava um ar de homem distinto e seus olhos azuis-piscina tornavam seu olhar muito mais profundo. A moça pegou a criança no colo e recuou um pouco, dando espaço para o homem se sentar na beirada da cama. Passando o braço por trás das costas dela, ele sorriu com doçura e disse:
– Ela tem os meus olhos! E meu sorriso também...
– Mas as mãos são definitivamente minhas! Esses dedinhos gordinhos... A orelha e as bochechas... –ela sorriu extasiada. –Como é bom poder segurar assim um ser que desde de pequenino é a nossa imagem e semelhança!
– Tudo nela me lembra você! –disse ele com ternura beijando a cabecinha da criança com muito cuidado.
A mulher segurou a mãozinha pequena de seu bebê e começou a niná-la com uma canção. Agora elas estavam num quarto um pouco escuro... Já era noite e tudo estava silencioso... A jovem mãe sorriu e beijou-lhe a fronte ternamente, depois a colocou no berço. Logo o silêncio foi quebrado por alguns estampidos seguidos de gritos e explosões... um homem alto, desfigurado e de pele acinzentada entrou no quarto e olhou no fundo dos seus olhos...e ele riu uma risada fria e estridente, que sempre a deixava amedrontada... Ele apontou sua varinha e soltou uma luz verde seguida de um barulho ensurdecedor, então sua testa começou a latejar e um clarão violeta tomou conta do lugar...
Robin acordou ensopada. Sua cicatriz estava ardendo muito... isto começou a acontecer com uma certa freqüência de uns anos pra cá, mas nos últimos meses estava ficando insuportável. A menina olhou o relógio e viu que era cedo demais para alguém estar acordado, e como faltava ainda uma hora para o Sol raiar, ela decidiu sentar-se quietinha a sua velha poltrona onde Fluffy estava adormecido. Fluffy era um pufoso, ou melhor, um bichinho de estimação de bruxos, muito fofo e peludo, da cor caramelo, que come qualquer porcaria e adora brincar. Joseph odiava “aquela peste” e vivia jogando-o pra lá e pra cá. Mas cada vez que o pai fazia isso, o bicho parecia mais satisfeito e apegado, então zumbia de contentamento.
Logo a menina começou a pensar no sonho e em como aquela mulher lhe era familiar... Passou pela sua cabeça que a jovem talvez fosse ela mesma no futuro, mas sentia que não era isso... Tinha de ser outra coisa... Decidiu mudar o rumo dos seus pensamentos vendo que não chegava a conclusão alguma.
Já que o sono não veio, Robin resolveu escrever uma carta para Eric, que estava em Hogwarts. Ele era um ano mais velho e, dentre os seus quatro irmãos, também o mais companheiro. Tinha cabelo curto da cor castanho-alourado como seu pai, meio magricelo e muito maroto, um sorriso largo como o de sua mãe que conquistava qualquer um. Era o tipo de irmão que te protege na escola dos garotos maiores e que sempre te manda uma coruja perguntando como você vai, talvez tivesse mania de herói, que sempre o colocava em situações difíceis, mas mesmo assim, era muito querido pela garota.
Robin sentia muita saudade dele desde de que entrou em Hogwarts em setembro do ano passado, então se lembrou que em poucas semanas ele voltaria e que logo receberia uma coruja convocando-a para estudar lá também. Quem sabe ela até seria escolhida para entrar na Grifinória. Sua mãe, Rachel, havia estudado lá, assim como os outros bruxos da família que descendiam do grande mago Dumbledore, um dos maiores diretores que Hogwarts já teve.
Robin escreveu uma folha de pergaminho inteira e quando deu por si, o Sol já havia nascido por trás das espessas nuvens que anunciavam chuva, então colocou um jeans surrado com uma camiseta rosa e seu suéter azul predileto, prendeu uma fita nos cabelos, agarrou a carta e desceu correndo para fazer a ordenha das vacas que provavelmente já se alimentavam no cocho.
Sua mãe já estava acordada fazendo o café e colocava a mesa quando a garota passou correndo, só parando para dizer “Bom dia!”. Robin sempre acordava de bom humor e com muita disposição. Lá fora, a garota entregou o pergaminho à coruja da mãe que repousava tranqüilo no poleiro. Hermes era uma coruja do campo já velhinho que fazia a entrega das cartas, nem sempre com rapidez, mas com muita precisão. A garota acariciou a ave por alguns instantes e disse. “Para Eric Stanford, em Hogwarts.”
E assim que a coruja levantou vôo, a menina se precipitou para o curral. Todas as manhãs, ela ia até lá para tirar leite das vacas para que todos pudessem toma-lo fresco no café da manhã. Robin adorava cuidar dos animais da fazenda, mas sem os seus irmãos, tudo era um grande tédio. Até o rio perdia sua graça se Jonathan, Adam e Eric não estivessem lá para apostar uma boa corrida ou simplesmente nadar um pouco. Ronan não sabia nem boiar e tinha muito medo de água, usava então a velha desculpa de ser muito pequeno para brincar com eles lá. Eric até tentou ensiná-lo, mas foi em vão.
Todos os primeiros domingos do mês eles iam à casa da avó trouxa para almoçar: um antigo hábito das grandes famílias tradicionais que foram sendo esquecidos ao longo do tempo. Então, nessas manhãs de domingo, os Stanford colocavam suas melhores roupas, tomavam seu café da manhã, se espremiam num velho Ford vermelho ano 92, e a família começava uma longa viagem pelos 100 km que separavam a fazenda da casa de sua avó em Londres. Hoje porém, havia espaço de sobra no carro e o pai já esperava lá dentro pelos outros. Como sempre, Robin era a última a sair e Joseph já começava a implicar com a garota:
– Robin! Vamos logo! Não tenho obrigação nenhuma de esperar você ficar se embelezando toda! –Joseph abaixou o tom e continuou. –Mesmo porque sua avó não vai reparar nisso...
– Pare com isso... –disse Rachel em tom defensivo. –A garota está guardando os animais para não tomarem chuva. Não vê que o tempo está virando? Ao invés de ficar ai reclamando, desça do carro e vá ajuda-la!
– Eu não! É obrigação dela fazer esse serviço...
– Ela é só uma criança! Você deveria ter mais consideração pela sua filha...
– Minha filha... Hunf! –murmurou Joseph em tom amargo. –Eu não tenho filha, só filhos...
– Pronto! Terminei tudo! –exclamou a menina enquanto corria até o carro. –Desculpe a demora, papai!
Assim que ouviu a garota, ele deu a partida. Ela pulou dentro do automóvel e fechou a porta com o carro já em movimento, e lá se foram os quatro pela estrada pobremente asfaltada até que finalmente alcançaram a rodovia já ensopada pela forte chuva que caia.
Lucinda Stanford era uma mulher gorda, em seus sessenta e seis anos de rabugice misturados com doçura: tinha os cabelos grisalhos quase brancos, presos em um coque no topo da cabeça, usava um vestido verde floral que a fazia parecer uma simpática azeitona num avental branco.
A casa da avó era impecável: cheia de paninhos, toalhinhas e bibelôs espalhados pelos móveis da casa. Tudo estava perfeitamente limpo e conservado: desde a escrivaninha de mogno de mais de cinqüenta anos até as fotos da família que ficavam em cima da lareira desde que ela se mudara para aquela casa.
Quando a avó os recebeu à porta, foi logo dando um forte abraço em Joseph, seu filho único, e recomendando a todos para limparem bem os pés antes de avançarem casa adentro. Ao ver o neto caçula, comentou:
– Meu Deus, como Ronan está magro! Não cresceu nada desde a última vez que o vi! Rachel, você precisa alimentá-lo melhor! –disse a mulher apertando o garoto contra sua massa corpulenta.
Rachel sorriu sem graça e retrucou:
– Também, você os viu mês passado... A senhora há de convir que trinta dias não é muito tempo...
Robin riu baixinho enquanto Ronan tentava recuperar o ar. Lucinda não a cumprimentava com o mesmo afeto com que o fazia com os outros netos e ela, apesar de perceber a distinção que avó fazia desde sempre, não gostava menos da velha senhora. Mas até que sentia falta deste afeto: por vezes tentou se aproximar da avó, que retribuía com uma mistura de repúdio e tédio. Robin passou pela lareira e percebeu que Lucinda ainda não tivera tempo, ou disposição, para colocar seu retrato junto aos outros.
O almoço era servido ao meio dia, pontualmente, e antes que alguém pudesse tocar a comida, todos agradeciam pelo banquete. Vovó Lucinda sempre fazia pratos deliciosos de fazer inveja a qualquer um, mas sem seus irmãos, os almoços de domingo não eram tão bons –ainda mais com a atenção excessiva que ela concedida aos dois já que o número de netos havia reduzido. Robin, como sempre, fazia algo errado perto da avó, que respondia com um olhar de pesar. Talvez o auge do dia de Lucinda fosse apontar os defeitos da menina e a cicatriz que “enfeava tristemente sua testa”.
Quando seus irmãos estavam presentes, normalmente a avó lhes dava algum dinheiro para tomarem um sorvete, mas hoje chovia muito, e os dois netos tiveram de ficar sentados quietinhos na sala assistindo a uma reprise de um antigo seriado na televisão. Então, após o chá das cinco eles sempre se despediam e iam embora de volta à fazenda. Robin acreditava que essa era a hora mais feliz do seu domingo: voltar para casa após uma longa tortura silenciosa e brincar o resto do dia com sua amiguinha Alice, que morava a uns dois quilômetros da fazenda.
No caminho de volta, o pai parou o carro em frente à fazenda dos Bealmount e esperou Robin descer. A menina abriu o guarda-chuva e já ia saindo quando sua mãe a chamou de volta.
– Robin, não se esqueceu de nada?
A menina torceu o nariz e voltou para dar um beijo de despedida na mãe, e esta fez um monte de recomendações a garota, que já havia se acostumado a tudo isso, e disse também que às onze horas ela deveria voltar para casa.
A fazenda vizinha era muito diferente da sua: havia uma grande mansão a uns doze metros da entrada, toda branca, com grandes janelas, um caminho de pedra adornado por roseiras e três chaminés.
Robin parou na entrada e tocou a campainha. Logo uma menina meio ruiva abriu a porta. Ela tinha longos cabelos ondulados, fazendo cachos nas pontas, era um pouco magricela, usava óculos de armação pesada que escondia seus olhos azuis, tinha algumas sardas e um nariz fino. A garotinha abriu a boca e uma voz fininha e alegre disse:
– Robin! Você chegou na hora! Mamãe acabou de fazer um bolo de chocolate maravilhoso!
– Que delícia! Só vocês duas mesmo para salvar o meu dia...
– Vamos, ela está esperando a gente na copa.
Robin tirou suas botas sujas e as deixou do lado de fora da casa, depois colocou seu guarda-chuva de corações coloridos num canto ao lado da porta. Normalmente a menina entrava pela porta do fundo, mas Madame Françoise fazia questão que visitas entrassem sempre pela frente. E lá se foram as duas caminhando rapidamente casa adentro. A residência era muito grande e bonita. As duas atravessaram a sala de jantar e entraram na copa.
– Robin, chegou bem na hora!
– Boa noite, Madame Françoise! Como vai a senhora?
– Por favor, me chame de Fran, querida! Eu vou muito bem, obrigada. E como vai a senhorita, Madame Locksheart?
– Stanford... –disse ela torcendo o nariz. –Acho que vou bem, também! Confesso que agora estou melhor... Minha avó não estava num bom dia!
– Ela é tão boba... não sabe a grande neta que está deixando de conhecer te tratando deste jeito... –Fran sorriu mais uma vez, daquele jeito cativante, mostrando seus dentes brancos.
Madame Françoise sabia como tratar as pessoas, e faze-las se sentirem melhores. Não é à toa que Sr. Bealmount era tão carinhoso com ela. Robin percebera há muito tempo que, sempre que vinha da casa de sua avó, direto para a fazenda deles, a mãe de Alice a recebia com uma sobremesa caprichada, e quando realmente estava mal, ela as chamava para uma boa conversa na sala de estar. Quando não, lia para ela histórias de contos de fadas e de pessoas que corriam o mundo ou realizavam grandes feitos. Esses privilégios não eram comuns em sua casa, então a garotinha sempre agradecia pelos cuidados de Madame Françoise.
– Que cheiroso... –disse Robin olhando para um lindo bolo que repousava em cima da mesa.
– Eu sei o quanto vocês adoram bolos regados de chocolate, ainda mais num dia de chuva como este. As damas gostariam tomar chá para acompanhar?
– Claro! –responderam em coro.
A mulher serviu pedaços bem grandes de bolo para as duas com xícaras de chá que ela já havia colocado sobre a mesa, e colocando outros dois pedaços numa bela bandeja de prata, despediu-se das duas dizendo:
– Acho que Richard também quer um pedaço. Divirtam-se garotas!
As meninas comeram o bolo, levaram os pratos e xícaras para a pia, e subiram em seguida para o quarto da amiga que ficava no andar de cima. Alice era aquele tipo de menina que cresceu tendo tudo o que queria, e por ser filha única sentia-se um pouco sozinha, portanto dividia tudo com sua melhor amiga, desde seus segredos e pensamentos até seus vestidos e brinquedos. Madame Françoise, mãe de Alice, gostava muito da jovem amiga, sabia que ela não era tão querida por todos os membros da sua família e a acolhia bem em sua casa. Alice parou os olhos em sua amiga com ar preocupado e disse:
– Robin, sabe... eu ouvi meus pais conversando outro dia... e pelo que eu entendi, não é algo muito agradável. Eles disseram que talvez nós nos mudemos para Londres finalmente.
– Como assim? –disse ela um pouco confusa.
– O papai agora passa a maior parte do tempo lá, o ateliê da mamãe está crescendo cada vez mais e agora eu vou estudar na capital também... Ele acha que é um desperdício ir e voltar pra casa só nos finais de semana. Acho que conseguiram um flat no centro e talvez mudemos para lá antes do Natal.
O silêncio se fez no quarto da menina e por longos minutos elas se entreolharam quietas, tentando assimilar o que aquilo queria dizer. Robin disse:
– Eu acho... acho que isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde. Eu também não estarei muito presente nos próximos anos... Tudo depende de uma carta. –Robin torceu o nariz e continuou. –Você mesma disse que teria que voltar para a França logo mais...
– Eu sei... isso é certo! Tão certo como dois e dois são quatro! Eu sou de lá, mamãe e papai são de lá, e por isso querem tanto voltar para o nosso país em breve...
– Eu sei... Já esperava por isso... Mas é que agora tudo parece tão real!
– É que falar é fácil... Se agora Londres parece tão distante... imagine a França!!!
– Vou sentir saudades... Sabe, esse ano talvez eu vá estudar naquele colégio interno bem longe daqui.
– Hogawards, não é? Meu pai disse que nunca ouviu falar desse colégio...
– É Hogwarts... fica muito longe daqui! Acho que fica perto da Escócia... Eu só posso voltar no natal e nas férias de verão, portanto, o resto do tempo eu devo ficar por lá mesmo.
– Nos vamos nos separar?
– Não! Você é minha melhor amiga... Nós podemos nos escrever...
O silêncio se fez de novo por alguns instantes. Alice se levantou do carpete, onde brincavam, e começou a andar pelo quarto, depois parou e disse:
– Sabe, as mudanças nem sempre são más! Você pode me visitar nas férias, ai eu peço pra mamãe nos levar num monte de lugares legais!
– Ao menos eu não vou mais estudar naquela escola... ninguém gosta de mim mesmo... Eles me olham de canto de olho e me chamam de esquisita! –Robin falou com amargura. Só vou sentir falta de uma coisa de lá: você!
– Nós vamos dar um jeito, não é? –Alice tentou sorrir e continuou, tentando mudar o rumo das coisas. –Eu pedi pra mamãe fazer uma coisa para nós. Talvez fique pronto mês que vem! Fui eu quem ajudou a escolher...
– O que é? –a menina parecia estar se remoendo de curiosidade.
– Eu não posso contar! É segredo!!! ...Mas você vai gostar!
– Ai! Como você é legal! Você falou tudo isso só para atiçar a minha curiosidade!!! Que amiga...
“Quando se é criança, tudo parece mais fácil. A gente não tem noção do que é sentir medo, ou saudade...” Robin pensou. Às vezes ela assustava a si mesma com os pensamentos que tinha, que por vezes eram demasiado adultos para uma cabecinha tão jovem, mas logo ela se distraiu, retomando a brincadeira e uma conversa mais descontraída. As amigas riram juntas e brincaram muito, porém, às onze horas da noite bateram à porta do quarto e logo um senhor alto de cabelo castanho entrou vestindo um longo casaco de couro preto com as chaves na mão. Era o Sr. Richard Bealmount, um homem muito bem apessoado, de quase quarenta anos de muita saúde e sucesso. Não que Robin não gostasse dele, pois por diversas vezes demonstrou ser educado e gentil, além de dotado de um grande senso de humor. Mas as garotas sabiam que, sempre que ele aparecia, a brincadeira acabava.
– Robin, já é tarde. Vamos? Vou leva-la de volta pra casa.
Meio que de contra-gosto, as duas meninas desceram e vestiram seus casacos, e Robin se apressou para pegar seu guarda-chuva e botas. O pai de Alice pegou dois guarda-chuvas e logo os três estavam no carro. Eles chegaram na fazenda e o automóvel parou quase na porta da casa. As duas se despediram com um abraço, Sr. Bealmount abriu o guarda-chuva e desceu para levar Robin até a entrada, e ela entrou assim que Rachel abriu a porta.
Quando chegou, Robin subiu para o quarto para tomar seu banho. Meia hora depois, a garota já estava de pijama, mas não estava com sono. Acendeu o abajur que ficava em cima da mesinha ao lado da poltrona e por sorte não se sentou em Fluffy. Ela colocou o bichano no colo, e afagou o seu pêlo macio enquanto pensava no que sua amiga havia lhe dito: ia se mudar para a capital. Talvez ela pudesse visitá-la nos finas de semana, enquanto o restante da família ficava na casa da vovó Lucinda. Eram tantas coisas e tantos problemas que afligiam a garota nesse momento que sua cabeça parecia rodopiar, e lá ficou pensando até que sua mãe finalmente apareceu.
– Robin, vá para a cama, minha pequena! Amanhã você tem aula, já é muito tarde para a senhorita estar acordada. Deite-se na sua cama para poder descansar melhor... –disse sua mãe ajeitando as cobertas de tal forma que assim que a garota se jogou na cama, ela pode cobri-la direito.
– Sabe, mãe... Estou preocupada... –disse a menina torcendo o nariz daquele jeitinho que só ela sabia fazer.
– Então me conte! Sou toda ouvidos... –disse a mãe se sentando poltrona e sorrindo de forma carinhosa para a sua filha.
Robin observou sua mãe antes de tentar colocar para fora todos os pensamentos que a afligiam. Ela tinha um sorriso grande e largo, como os das atrizes de cinema, mas algumas rugas de expressão denunciavam os dias difíceis e a vida dura que levava. Rachel se casou bem moça e tivera filhos muito cedo, tendo o mais velho quase dezesseis anos. Tinha cabelos avermelhados e crespos, sempre presos com um lenço em um rabo de cavalo. Ela era simples, mas sua postura e atitude denunciavam anos de educação aristocrática que tivera. Ela sempre fora uma moça muito alegre e receptiva, inteligente e educada, portadora de um sorriso cativante. Às vezes Robin não entendia como ela podia ter de casado com um homem tão turrão e carrancudo quanto Joseph. Voltando de mais um de seus devaneios, a garotinha disse em tom muito sério:
– Não trago notícias agradáveis da casa dos Bealmount... –Rachel ouvia atenta. –Eles vão se mudar para a capital até o final do ano... e eu vou para Hogwarts em setembro... Se a carta finalmente chegar, é claro!
– Ela vai chegar, meu bem!
– Esse é o problema: não a nada a fazer! Nós vamos nos separar mamãe, como já era previsto... Só que falar é uma coisa... o difícil é conviver com a distância das pessoas que nós tanto amamos!!!
– Mas se isso é o melhor para todos, não vejo porque tanto drama, minha pequena... Cedo ou tarde, isso iria acontecer... Ela não é da França? Ano que vem ela voltaria para lá do mesmo jeito! É como quando Eric foi para Hogwarts... você chorou e esperneou, mas ele está lá: vivo e muito feliz, com novos amigos e muita coisa pra contar! E assim será com você também... –Rachel foi se sentar na beirada da cama de Robin.
– Mas eu não queria que fosse assim... –ela se revirou na cama para se acomodar melhor.
– Eu sei. Mas nem sempre as coisas são como a gente gostaria que elas fossem... A gente cresce e aprende, querida! Pense positivo... Não se esqueça que o pessimismo nunca dispõe da última palavra!!!
– Falar é tão fácil... o difícil é se acostumar a tudo isso que está acontecendo! Eu queria que o tempo congelasse no meu último aniversário, quando fiz onze anos... Ai sim! Poderia viver naquele dia para sempre!!!
– Você nem sabe as grandes surpresas e descobertas que o seu futuro lhe reserva... Se soubesse das coisas grandiosas que fará, com certeza não estaria dizendo nada disso!
Sua mãe sorriu de forma tão confiante que Robin realmente acreditou no que ela havia dito. Parecia que os adultos sabiam do que estavam falando e ela gostava disso, se sentia segura. Mas se separar de sua mãe também não seria fácil: acordar todas as manhãs e não poder tomar aquele café fresco com panquecas, ou então não poder correr para a sua cama nos dias tempestuosos. Sabia porém que algo melhor a esperava em Hogwarts. Confusa demais com tudo isso, e sem querer mais pensar em sentimentos tão conflitantes, Robin deu um grande beijo de boa noite em sua mãe e a abraçou muito forte. A mãe retribuiu o gesto com o mesmo afeto e carinho, e logo ela estava apagando as luzes e fechando a porta do quarto, deixando para trás uma Robin irresoluta e indecisa.
Com a casa vazia, a rotina se tornou desgastante e enfadonha. Tirando as aulas na escola, onde o recreio era o único momento realmente agradável para Robin; as muitas tarefas que ela tinha, em especial cuidar dos animais da fazenda e das plantas e ervas mágicas que Adam cultivava fora do alcance dos olhos de seu pai; as poucas coisas que a divertiam eram brincar com Ronan usando o pufoso como bola; visitar Alice; nadar no riacho e, por fim, conversar com uma coruja cinza de olhos lilás que viva empoleirada num belo carvalho que ficava bem no meio do pasto. Não que a coruja lhe respondesse alguma coisa, mas o simples fato de ter “alguém” para ouvir seus pensamentos e sonhos tão malucos já era suficiente.
Robin havia obtido grande êxito nas provas finais da escola e não tinha mais com o que se preocupar, foi quando percebeu que agora não contava somente as semanas, mas também os dias e horas para que os outros voltassem de Hogwarts. Por mais que se esforçasse para não pensar nisso, a menina sentia uma pontinha de ansiedade: Eric sempre lhe escrevia contado sobre os grandes acontecimentos e realizações lá na escola, mas isso já não era suficiente. Queria fazer parte de tudo! Tentava não pensar no tempo, mas isso era inevitável. E ainda por cima tinham aqueles sonhos que não paravam de assombrá-la e cicatriz que a estava perturbando com mais freqüência.
Robin já havia devorado todos os livros da escola que seus irmãos tinham lhe dado e releu “Hogwarts, uma história” pelo menos duas vezes. Ela se sentia pronta para começar a praticar os feitiços ensinados nos manuscritos; já tinha aprendido todos os macetes de poções; havia decorado metade das constelações que havia no livro de Jonathan; queria muito assistir uma boa partida de quadribol, algo que Eric comentava com tanto entusiasmo que ela finalmente parecia ter desenvolvido algum interesse sobre o assunto; conhecer o “famoso” guarda-caças Hagrid e estava louca para experimentar o Chapéu Seletor. Eric disse que mal encostaram aquele velho chapéu em sua cabeça e ele gritou: Grifinória! Robin sentia uma inquietude misturada com ansiedade. Freqüentar a escola normal não era nada se comparada ao que ia aprender lá em Hogwarts. Mas ainda faltava algum tempo... tempo até demais!
As semanas se arrastaram até que finalmente chegou o dia de buscar os garotos na estação King´s Cross. Rachel e Robin desceram correndo assim que Joseph estacionou aquele carro velho. Ele, como de costume, ficou esperando no automóvel com Ronan. A garota estava ansiosa por atravessar pela primeira vez o portal que levava à plataforma 9 1/2. Aquilo era incrível! Entre as colunas que demarcavam as plataformas 9 e 10, havia uma que guardava a entrada secreta para o outro lado. Ela até pensou em sair para voltar novamente, mas ficou com medo de não poder entrar. Demorou ainda alguns minutos até que o famoso Expresso Hogwarts finalmente chegasse à estação, mas para Robin, o tempo de espera fora demasiado longo e tortuoso .
Quando o trem chegou e abriu suas portas, uma multidão de alunos desceu se empurrando e espremendo afoitos, e uma infinidade de malões, mascotes e cabeças se amontoaram na estação. Custou um pouco até que as duas pudessem encontrar os garotos. Eles estavam se despedindo dos seus colegas, prometendo trocar corujas e fazer visitas. Robin correu até Eric, que a recebeu com um grande sorriso. Logo a apresentou ao seu simpático amigo, que esperava pacientemente a garota terminar de abraçar o tão querido irmão.
– Então, está aqui é a Robin? Seu irmão fala tanto em você quanto fala de quadribol! –ele sorriu.
– Não exagere! O que o Tevolli vai achar disso? –Eric deu uma cotovelada discreta no amigo.
– É cara! O que é eu vou achar disso? –disse um garoto bonito, de cabelos bem pretos, chegando por trás e se jogando sobre os ombros dos dois jovens em um breve abraço.
– Eu estava brincando, cara... –disse Eric um pouco constrangido.
– Sei... Tudo bem! Seja lá o que for, eu te perdôo... –ele riu maroto. –Mas então, vim aqui só para me despedir... Qualquer coisa, me mande uma coruja viu? –ele bagunçou o cabelo dos colegas. –Sem mais delongas, já vou indo que tem muita gente pra cumprimentar ainda... –e lá se foi ele tão rápido quanto chegou, deixando Robin um tanto quanto curiosa.
– Garoto estranho... Meio elétrico! –disse Robin rindo.
– Elétrico e por vezes inoportuno... Mas então, de onde paramos? –Andrew sorriu e continuou. –Sim! Eu queria saber quem era essa senhorita...
– Sim, eu sou a Robin! –respondeu a garota um pouco tímida, apertando-lhe a mão, ainda estendida, para cumprimentá-lo. –Quem é você?
– Eu sou Andrew Wood, mas pode me chamar de Andy!
– Hum... prazer Andy. –disse ela pouco descontraída.
– Minha irmã é um pouco tímida! –disse ele a abraçando e afagando-lhe a cabeça a fim de bagunçar seus cabelos . –Talvez, se for me visitar na fazenda, ela acabe se acostumando com você!
Robin tentou se desvencilhar dos braços do irmão e Andrew riu da afeição entre eles.
– Pode deixar que eu vou! –disse o amigo tentando conter o riso ao ver os cabelos desgrenhados da menina.
O garoto se despediu dos dois e foi de encontro aos seus pais, e eles fizeram o mesmo. Rachel, que esperava pacientemente ao lado de Adam, os viu se aproximando. Eric abraçou sua mãe e disse:
– Tenho tanto para contar! Coisas incríveis aconteceram em Hogwarts. Vieram uns alunos de outros colégios e a gente aprendeu um monte de coisas sobre escolas na Alemanha, Romênia, Birmânia, Espanha, África do Sul, Japão, Rússia e México. –Eric disse tudo num fôlego só. –Eu fiz um monte de amigos, aprendi a montar num hipogrifo e eliminar um bicho-papão! Acho até que vou acabar com aquele que vive embaixo da minha cama assim que chegar em casa!!!
– Você não pode usar magia fora do colégio, bobo! –disse Adam, outro irmão dois anos mais velho que Eric, fazendo com que este desmanchasse seu sorriso de contentamento.
– Obrigado por me lembra... –disse ele meio chateado.
Jonathan veio em direção da família acompanhado de alguns integrantes do time da casa. Dum jeito altivo e alegre, ele abraçou uma ruivinha simpática e falante, ao mesmo tempo em que os outros se cumprimentavam com muito entusiasmo. Rachel já sabia: havia ganhado a taça de Quadribol, e ela provavelmente teria de ouvi-lo lhe contar milhares de vezes como conseguiu o feito com o mesmo entusiasmo com que o fez pela primeira vez. Ela havia guardado a carta que recebera com nada menos que três folhas de pergaminho contando nos mínimos detalhes, todos os seus doze gols e o esforço que a nova apanhadora fez para pegar o pomo na frente do adversário Sonserino. Ao se aproximar da mãe, ele lhe deu um beijo discreto na face e disse:
– Mãe, adivinha?!?
– Sorrindo de orelha a orelha desse jeito, não tem erro! Você ganhou alguma outra taça além da de Quadribol?
– Ah! Você acertou! A gente também levou a taça das casas!!! Mas a de Quadribol foi histórica! A minha primeira, dentre as muitas que erguerei como capitão da Grifinória!
– São seus amigos? –ela disse cumprimentando os jovens que se postaram logo atrás.
– Ah! Sim... É que eu tenho um pedido especial a te fazer... –ele retomou o tom sério habitual. –Bem, gostaríamos de dar um pulinho no Beco Diagonal no próximo final de semana... Sabe, nossa grande apanhadora vai se aposentar, e isso não poderia passar em brancas nuvens!
– Se for por uma boa causa, acho que pode... –ela viu Jonathan e os outros respirarem aliviados, algumas garotas cochichando muito satisfeitas. –Mas antes, gostaria de saber quem seria essa grande heroína, da qual você me falou com tanto entusiasmo naquela carta? –Rachel piscou-lhe um olho de um jeito maroto.
– Bem, é esta jovem aqui, Gina Weasley. –ele a apertou mais forte, tentando disfarçar o tom vermelho que assumia as suas faces. –Ela se formou este ano e não vai mais jogar com a gente... –ele esboçou um sorriso pesaroso. –Eu queria mesmo que você a conhecesse. –disse o rapazinho ficando mais vermelho ainda.
– Você é uma Weasley? Deveria ter percebido! Cabelos de fogo... como os de Arthur...
– A senhora conhece o meu pai? –a jovem sorriu intrigada.
– Claro! Eu trabalhei com o seu pai, grande homem! Fui sua assistente por alguns anos... Eu nem sabia que ele tinha filhas! Aposto que ele deve ter ficado muito satisfeito com o seu nascimento...Bem, é uma bela moça! Muito prazer, Gina! Eu sou a Sra. Rachel Stanford. –ela estendeu sua mão para cumprimenta-la e a garota retribuiu o gesto.
– Melhor assim, ai fica tudo em família... –disse um garoto alto, olhos e cabelos bem claros, e muito sorridente, provocando riso nos colegas.
– Para com isso, Colin Creevey!!! –Gina exclamou muito sem graça. –Vocês todos são tão crianças! –e voltando-se para a Sra. Stanford, ela continuou. –Bem, o prazer é todo meu! Quem sabe o Jojo pode até me visitar um dia? Nós também moramos no campo!
– Jojo!?! Que tipo de nome é esse!?! –caçoou Adam, seguido de Eric.
– Que isso gente... Todos sabem que o coração de Gina já tem dono... –Jonathan sorriu quase tão encabulado quanto a garota de cabelos cor-de-fogo. Nas costas dela, ele fez um gesto de ameaça e disse “Vocês vão ver!” baixinho, mostrando o punho.
Mas isso só fez com que todos zombassem mais ainda. Até Robin riu. Eric afinou sua voz e começou a falar no ouvido de Adam:
– Ai, Jojo, vem cá me dar uns beijinhos!
E os dois gesticularam como namorados, fazendo barulho de beijo com a boca. A moça, que já estava vermelha, começou a ficar roxa de vergonha, então, tentando disfarçar, mudou de assunto:
– Aquela é a minha família, os “famosos” Weasley... É assim que todos falam desde que papai assumiu o cargo de Ministro da Magia. –disse apontando para um grupo de pessoas ruivas ao longe, cercada de gente. –Gostaria de revê-los?
– Claro! Seria um prazer poder cumprimentar Molly e Arthur! Vamos lá... –Rachel se dirigiu àquelas pessoas, seguida deles.
Os pais de Gina pareciam muito simpáticos e receptivos, e ficaram tão contentes em rever Sra. Stanford, que ficaram conversando por mais de vinte minutos. Enquanto isso, Robin estava prestando atenção em cada palavra que os dois irmãos tagarelavam empolgados sobre os grandes acontecimentos do ano:
– Nem acreditei quando fui escolhido para representar o terceiro ano da Grifinória no México! Eles sabem falar inglês lá... e o clima é tão quente, mas tão quente, que nem sei como eles agüentam usar aquelas capas verdes! Mas é tão legal... Eles têm umas matérias especiais que são super diferentes das nossas... Tenho tantas fotos guardadas que nem sei onde guardá-las! Você tem que ver, Robin! Eles têm uns bichos superestranhos e umas montarias aladas especiais... Tanta coisa diferente que nem sei se me lembro de tudo! E a escola fica no meio do deserto, entre diversos lagos... Ah! Eles têm um esporte aquático que é quase tão famoso quanto o Quadribol!
– Nossa, foi muito legal quando você foi escolhido para o Intercâmbio Internacional!!! Não é qualquer um não, é o Internacional!!! –Eric deu uns tapinhas nas costas de Adam para cumprimenta-lo.
– O primeiro de muitos, depois de tanto tempo sem essas confraternizações! –Adam parecia entusiasmado. –É incrível ver o mundo mágico se unindo novamente depois que Vol... o Lord das Trevas... desapareceu de vez. –Adam mudou seu tom de voz drasticamente.
– É Voldemort! –disse Eric tentando se mostrar corajoso, e chamando a atenção de algumas garotas que estavam a sua volta. –E se ele se foi mesmo, devemos perder o medo de dizer o seu nome!
Eles mudaram o rumo da conversa para algo mais alegre: Quadribol. Robin achava incrível como eles poderiam gostar tanto de algo que por vezes lhe parecia extremamente extenuante. Logo Rachel voltou para junto dos garotos, que conversavam animadamente enquanto a esperavam. Ela apressou Jonathan, que se despedia dos colegas, e olhou o relógio. Ficou assustada e disse afoita:
– Olha a hora! Seu pai deve estar tendo um treco! Já faz mais de uma hora que estamos aqui! Vamos crianças, me ajudem com a bagagem!
A mãe juntou os malões, os bichos e os filhos, e saiu apressada da Plataforma 9 1/2, deixando para trás um ano letivo cheio de novidades e grandes aventuras. Robin lançou mais um olhar esperançoso ao Expresso Hogwarts e disse antes de atravessar o portal:
– Dá próxima vez que nos virmos, eu é quem estarei embarcando! –e ela sorriu.
Ao chegar no carro, o pai estava cochilando tranqüilamente no banco da frente enquanto Ronan parecia muito aborrecido no banco de trás. Mas quando avistou seus irmãos ao longe, o menino soltou um gritinho de alegria e desceu do carro para abraça-los. Sorrateiramente eles colocaram tudo no carro, que por sinal estava ficando pequeno demais para tanta bagagem, e se espremeram nos seus lugares. Robin ia no colo de Rachel e Ronan no de Jonathan. Então a mãe acordou Joseph, que ficou um pouco aturdido ao vê-los todos esperando para dar a partida.
O pai riu da brincadeira, se apertou para beijar todos os filhos e ligou o carro. A conversa foi animada no caminho de volta à fazenda. A casa estava cheia de vida novamente e tudo parecia mais colorido agora que todos haviam voltado. Eric tinha assunto para as férias inteiras! Era tanta coisa para contar, e agora Robin poderia desabafar com alguém sobre seus sonhos estranhos. A garota sentia-se feliz e cheia de vida novamente, apesar de perceber que o comportamento do irmão havia mudado um pouco em relação a ela.
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