Uma Conversa com Kelpie
Você o quê! – exclamou Kelpie excitada, ficando de pé na poltrona da sala comunal.
Eu...eu não sei o que me deu! – tentava explicar Lílian, desesperada. – Eu simplesmente falei. Não sei o que me deu! – repetia, o rosto enterrado nas mãos – Por que eu diria uma coisa dessas a Tiag..., digo, Potter?
Mas ela estava falando sozinha. Kelpie não ouvia uma palavra sequer. Ficava pulando de uma poltrona à outra, repetindo incansavelmente, os longos cabelos sacudindo: “ Você admitiu! Você admitiu! Você admitiuuu!”
Kelpie, você quer parar com isso? Alguém pode ouvir...
Kelpie virou-se pra Lílian, ainda pulando, as bochechas rosadas de tanto se movimentar.
Lily...olhe pela janela...o sol mal está nascendo! – disse, ofegante. E continuou: “Você admitiu...”.
Kelpie, pára! – gritou.
“Você admitiu, admitiu, admitiu...”
Kelpie...! – gritou com um tom de voz perigoso.
“Maroto e monitora, isso vai dar o que falar!”.
Pára!
“Lily e Tiago!”
Kelpie, eu ainda lembro muito bem do que você me disse sobre o Sirius. – berrou com todas as suas forças.
Kelpie, que estava passando de uma poltrona para a outra neste exato momento, estacou no ar à menção deste último nome e caiu de borco no chão, com um baque no chão. Lílian se levantara, com os pulsos crispados.
Lembro que você o achava o garoto mais lindo de toda a Hogwarts, lembro que você o achava divertido. Lembro, é claro, do dia em que você veio falar comigo sobre seus sentimentos por ele, e eu não fiquei gritando pela sala comunal. Lembro de você arranjando motivos para estar perto dele, como fez no dia em que fomos decorar o salão. Aliás, ele te deixou encharcada, ao invés de só destruir a maldita vela que estava pondo fogo nos seus cabelos e você nem sequer gritou com ele. Lembro, também...
Espera um minutinho aí, Srta. Evans. – disse Kelpie, levantando-se. – Eu também me lembro que Tiago deixou cair uma abóbora particularmente gigante na sua cabeça e você nem sequer reclamou!
Lílian se calou. Era verdade, esquecera-se de gritar com Tiago. Mas isso era insignificante, irrelevante.
Kelpie... – disse quase em tom de súplica – Acabei de lhe contar a maior besteira que já fiz na vida e você fica saltitando pelas poltronas, gritando, ao invés de me ajudar a resolver esse problema.
Besteira! Problema? Lily, você está bem? – perguntou Kelpie, incrédula – Você admitiu que gosta dele. E apesar dele viver arranjando detenções e praticando marotices ele é um garoto legal.
EU NÃO ESTOU APAIXONADA POR ELE! – gritou Lílian. Não se importava se alguém ouviria ou não, estava quase totalmente descontrolada.
Lily, por Merlin, à quem você quer enganar? Você não falou aqui por falar, assim, do nada! Aquele sentimento veio de algum lugar...
Lílian se atirou na poltrona mais próxima. Kelpie tinha razão, aqueles sentimentos vieram de algum lugar. Mas ela não tinha a mesma facilidade pra admitir, ou até mesmo entender seus sentimentos, como Kelpie.
Kelpie, ele é um maroto, e eu sou uma monitora...
Lily: ele é um garoto e você é uma garota. Você já tinha parado pra pensar assim? – disse Kelpie, sentando-se ao seu lado. – Você alguma vez tentou imaginar você e Tiago juntos, mesmo que só amigos, como um menino e uma menina, e não como um maroto e uma monitora?
Lílian não respondeu. Ela sentia algo por Tiago, sim. E temia que fosse o mesmo sentimento que Kelpie tinha por Sirius. Temia? Exato. Temia que fosse apenas mais uma das muitas meninas com quem o apanhador já ficara. Apenas mais uma da lista do dono do sorriso mais lindo de Hogwarts. E, ao mesmo tempo, achava que, desta vez, ele estava a procura de algo mais sério. Afinal, já fazia anos que ele a perseguia. Mas o que estava dando nela? Desde quando ela fazia elogios a Potter? Ela estava decididamente confusa.
Foi despertada desse pensamento por Kelpie. Ela parecia meio nervosa.
Lily...eu,bem, quando você mencionou Sirius...eu lembrei – ela agora corava furiosamente.
O que foi? – perguntou Lílian, rindo da cara da amiga.
ontem, quando nós descemos para a cozinha, Sirius me puxou pra um canto separado enquanto Remo separava a comida para Tiago e... me convidou pra ir a Hogsmeade com ele, na próxima visita.
E você, o que respondeu? – perguntou Lílian, esquecendo-se temporariamente de sua crise emocional.
O que você acha? – disse Kelpie sorrindo, nervosa.
Então ele também gosta de você!
Essa foi a vez de Lílian sair pulando pela Sala Comunal, feliz por Kelpie.
Eu sabia! Eu sabia! – exclamava, pulando alegre.
Ahn... Lily... tem mais uma coisinha...
O quê? – perguntou, se preparando para pular por cima do encosto do sofá.
Sirius pediu para eu lhe avisar uma coisa.
Que coisa? – perguntou, correndo em direção ao móvel.
É para você não recusar o convite de Tiago. Parece que ele está preparando alguma coisa muito especial para você.
Depois disso, nenhuma das duas conseguiu falar. Lílian, ao ouvir o que Kelpie disse, tropeçou na capa, passou deslizando ao lado do sofá e entrou de cabeça na lareira, enchendo sua boca de cinzas.
Kelpie ajudou Lílian a se limpar, mas só foi parar de rir da amiga quando se sentaram à mesa do café. “E depois diz que não sente nada por ele...”.
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Lílian e Kelpie desceram mais cedo que o de costume, de forma que o grande salão estava praticamente vazio quando chegaram. Comeram suas torradas com geléia, conversando sobre as compras de Natal que fariam em Hogsmeade. Lílian tentou descobrir o quê Kelpie iria comprar para Sirius, mas a menina não dava nem sequer uma pista. Até enquanto desciam para os jardins Lílian tentou descobrir qual seria o “misterioso presente”. Mas não adiantou, Kelpie não cedia.
Estava frio e nublado lá fora. Nem sequer a Lula-gigante dava sinal de vida.
Kelpie continuou tendo súbitos ataques de risadinhas, lembrando-se dos acontecimentos de mais cedo. Lílian, em um certo ponto, começou a rir junto com ela. Menos quando a menina mencionava Potter...ela insistia no assunto!
Conseguiram encontrar uma parte do jardim onde havia um pouco de sol e ficaram um bom tempo sentadas ali. Aos poucos, os alunos começaram a sair para os Jardins. Grifinórios rumo às estufas e sonserinos rumo à aula de Trato das Criaturas Mágicas.
Viram Snape e Malfoy saírem apressados para os gramados. Logo depois, Tiago e Sirius saíram refazendo os passos dos sonserinos.
De onde estavam, Kelpie e Lílian puderam ouvir a voz arrastada de Lúcio Malfoy:
Kelpie, Sirius? Cuidado, hein, aquela garota vive sumindo. E se ela trair você? Ou será que ela some por que tem muita vergonha daquela cara de morcego velho para expô-la durante um mês inteiro?
Sirius agitou a varinha e ergueu Malfoy no ar, enquanto Snape falava à Tiago:
Sempre achei que você ra anormal, Potter, mas nunca a ponto de venerar um sangue-ruim. Principalmente Evans...
E Snape foi automaticamente erguido no ar.
Tiago viu Lílian e Kelpie chegarem, arfando. Haviam corrido até ali. A menção dos seus nomes lhes havia chamado a atenção.
Tiago...o que vocês...estão fazendo? – arfou Lílian, segurando o peito.
Eles falaram mal de vocês Lílian... – resmungou Sirius, concentrando-se em fazer Lúcio bater os braços, imitando uma galinha.
E você sabe que eu não gosto nem um pouco quando falam mal de você, Lily... – acrescentou Tiago, dando uma piscadela marota.
Estamos dando a eles o que eles merecem... – Lúcio agora imitava rato.
Um aglomerado de alunos começou a se aproximar. Uma menina de óculos, da Lufa-lufa, observava a cena com muito interesse. E Pedro não sabia o que fazer. Não sabia se sorria ou se ficava preocupado.
Sirius, ponha os no chão! – ordenou Kelpie.
Mas Kelpie...
Agora, Sirius! Tiago, você também!
Kelpie, eu... – falou Tiago.
Agora, Tiago. – disse Lílian, lançando-lhe um olhar penetrante, um olhar que só ela sabia dar.
Contrariados, os grifinórios baixaram as varinhas, nem se dando o trabalho de baixar os sonserinos. Estes caíram com um baque surdo na grama.
Assim está melhor – disse Lílian. – Vamos, se não vamos nos atrasar...
Sirius e Tiago saíram, com Kelpie e Lílian ao seu lado, respectivamente. Nem bem deram as costas para Malfoy e Snape, Tiago viu as duas meninas serem arremessadas três metros à sua frente.
Acham que precisamos de sangue-ruins para nos defenderem? – exclamou Malfoy, desdenhoso.
Tiago virou-se com fúria para Lúcio e Snape. Sirius o imitou. Ergueram as varinhas. Mas no momento em que iam azará-los, dois raios azuis passaram entre eles, cada um atingindo um dos sonserinos.
Tiago olhou surpreendido para Lílian. Os olhos dela expressavam fúria. Fazia tempo que não via Lílian assim. Aliás, achava que nunca a tinha visto assim. Ela fazia Snape rodopiar como um bisbilhoscópio, enquanto Kelpie girava Malfoy no ar no sentido horário, como um ponteiro de relógio.
Tiago estava se divertindo até que viu a garotinha de óculos da Lufa-lufa correr em direção ao castelo. Reconheceu-a imediatamente.
Ahn, Lily, meu bem... – disse, cutucando as costas da menina.
Sim? – respondeu ela, concentrada em fazer Snape subir mais seis metros do chão.
A brincadeira acabou.
Por quê?
Lá. – e apontou para a menina de óculos.
Quem é ela? – perguntou Lílian.
Berta Jorkins.
Lílian deixou Snape cair. Kelpie reagiu da mesma maneira com Malfoy.
Ber-berta? – perguntou Kelpie, nervosa. – Mas você não acha que ela vai contar, acha?
Acho, não. – disse Sirius, desanimado. – Tenho certeza...
E o que vamos fazer agora?
Ir para a aula de Herbologia... e esperar a detenção. – disse Tiago.
Detenção! – gritou Lílian, apavorada.
O que você queria, um passeio em Hogsmeade?
Seguiram em silêncio até as estufas. Lílian teve a impressão de ter visto lá de longe Pedro Pettigrew ajudando Snape e Malfoy. Mas não comentou nada com ninguém. Tiago e Sirius estavam animados contando à Remo como ela e Kelpie haviam azarado os sonserinos. E ela não pôde deixar de perceber o quanto estava próxima de Tiago...
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Uhhm... demorou um pouco mais do que eu pretendia pra postar aqui de novo... mas agora eu angajei de vez na fic, de novo, e o tempo entre postagens não será tão longo! Comentem, votem! É importante pra mim :]
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