Capitulo 01 – Virago (Theatre



Capitulo 01 – Virago (Theatre of Tragedy)


Angéline olhou pela janela do quarto em que a haviam enfiado naquele casarão. Bem, ao menos poderia chamar aquilo de quarto, e estava junto de Lolly, era isso o que mais importava no momento.


Uma cama de dorsel, uma escrivaninha, um armário que parecia muito tolo jogado em um canto e uma penteadeira. Sem mais nada no quarto, no que diz respeito a móveis. Não que fosse um lugar desagradável, mas se a situação fosse menos critica talvez até apreciasse um pouco mais a bela vista das montanhas que sua janela mostrava.


Não deviam ser nem oito horas ainda. Vira o sol nascer, mas não ouvira muito barulho. A verdade é que Angéline esperava que alguém viesse e fizesse logo algo com elas, assim pelo menos não teria aquela terrível sensação de abandono que tinha agora. Ouviu a respiração lenta e ritmada da irmã, mas isso era apenas um pequeno detalhe naquele estranho vazio.


Sabia desde que seu pai se casara com aquela mulher terrível, que mais dia ou menos dia ela daria um jeito para mandá-las para bem longe. Claro que nunca em sua cabeça se passara a idéia de dá-las para seqüestradores. E o que mais a assustara foram os olhos daquele ser desprezível quando a madrasta as entregou, dizendo que estariam mais perto do que queriam. Ela sabia o que eles tinham ido buscar... E se só de se imaginar um passo mais perto os olhos dele brilharam tão intensamente, se visse o que ela trazia sempre consigo então... Não, não era hora de pensar nisso. Prometera ao seu pai guardar aquele segredo, e guardaria.


- Mamãe? – Lolly sentou na cama, coçando os olhos. Desde pequenina chamava a irmã de ‘mãe’ pelo simples costume. E ninguém merecia mais que Angéline aquele apelido tão carinhoso.


Sorrindo meigamente, como se não estivessem presas em um casarão estranho, Angéline sentou-se ao lado da irmã, acariciando-lhe de leves os longos e levemente ondulados cabelos.


- Dormiu bem, Princesa?


- Tive um sonho estranho... Homens de mascara e capa nos levavam para longe. – Ela vê a irmã morder o lábio inferior, e sorri candidamente. – o que foi, mamãe?


- Não foi um sonho, Lolly... Mas não se preocupe, eles não lhe farão mal.


Ela concorda com a cabeça e passa a examinar o quarto ao redor. Seus olhos brilham ao ver a penteadeira, com seu grande espelho e com seus passos infantis de menininha de 6 anos, corre até ela, para poder examiná-la melhor. Elizabeth Lollyta sempre quisera uma penteadeira, e seu pai havia-lhe prometido uma para quando completasse 15 anos. Infelizmente ele se fora, e ela não poderia sequer cogitar a idéia da madrasta gastar um centavo furado com ela. Para ela, aquela peça de madeira, com detalhes em relevo era a coisa mais bela que já tinha visto.


- Eles deram isso para a gente, Mamãe?


- Eles nos colocaram aqui. Nada é nosso.


- Mas por que eles nos colocaram aqui, Mamãe? – Os olhinhos azuis da pequena se estreitaram lentamente. Havia começado até a gostar dos tais homens maus de capa, mas agora que não poderia ter sua penteadeira a coisa mudara de forma.


- Eles nos colocaram aqui para saber onde nos estamos, querida.


- Ah! Como naquelas histórias onde o pirata seqüestra a mocinha e o mocinho vai salvá-la? – Angéline assente com a cabeça – Então quer dizer que um príncipe vai vir salvar a gente, Mamãe?


- Talvez... Quem sabe, pequena?


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Tom Riddle sempre fora cuidadoso com tudo em sua vida, desde que se descobrira bruxo. Escolhia cuidadosamente suas primeiras vitimas para que não houvesse maiores prejuízos depois. Seus servos, mesmo os mais velhos que ele, sempre respeitavam suas decisões. Não era de se espantar então, que estivessem tão furiosos com essa inesperada ‘sobrecarga’.


- Milorde ouça o que digo. Seqüestro não é um bom passo. Uma hora teremos que destruir aquelas duas, por que não fazer agora?


- Aquela mulher citou Drakulya. Disse que gostaríamos de ficar com elas por causa daquilo. Ficarei com ambas até descobrir que relações têm com a magia. Depois disso, aproveito o que der, e então poderá matá-las, caro Rewson.


- Senhor, aquela mulher teria dito até que a parede da casa tinha relação com Drakulya ao ver que isso lhe salvaria a pele. Eu pesquisei a família, ela é madrasta das meninas, provavelmente as queria longe, e conseguiu um trouxa para carregá-las!


Rewson nem soube direito o que o atingiu. A única coisa que raciocinava era que Cruciatus realmente doía. Riddle olhava sem emoção para o corpo do senhor já de idade se contorcendo no chão. Seus olhos negros não demonstravam nenhum sentimento.


- Perdoe-me, Milorde – Rewson, sem fôlego, declarou após Riddle ter parado de enfeitiçado-o. – Apenas quis dar minha opinião... O senhor ainda é jovem, acredite em mim, elas serão um peso desnecessário.


- Achei que minha opinião estava clara quanto a essa questão, Rewson. – Riddle estalou os dedos pegando em seguida do Elfo doméstico a taça de vinho que lhe era oferecida. – Posso ser jovem, mas achei que havia te mostrado muito bem que posso ser um líder mais capaz que você, em todos os sentidos. E se eu digo uma coisa, não quero vê-lo discutindo comigo. Você nem ninguém têm esse direito.


- Sim, milorde.


- Agora saia e traga-as aqui. Talvez esteja na hora de eu por em lençóis limpos essa questão.


Angéline andava com passos rápidos, mas ainda tentando parecer calma. Carregava Lolly no colo, e aproveitava para conferir bem todos os caminhos do casarão, apesar de que duvidava que pudesse refazê-los em um momento de pressa. Das duas uma, ou o casarão era um enorme labirinto, ou então aqueles malditos estavam andando em circulo para confundi-la.


Por fim, eles a levaram para um corredor escuro que dava acesso a uma grande porta de carvalho antiga, e entalhada com desenhos de serpentes. Lolly pôs as mãos nos olhos, um pouco assustada. Desde pequena tinha medo de cobras.


- Lembre-se, maldita, curve-se ao nosso Lorde, e respeite-o se quiser se manter viva. Ou se não quiser que ela morra. – O mascarado apontou para Lolly.


Angéline apenas olhou-o fria. Não tocariam em Lolly enquanto estivesse viva, e se dependesse dela, nem quando não estivesse.


O Mascarado abriu as portas, mostrando o aposento sem janelas e sombrio. Apenas uma lareira e velas iluminavam o local. Sua respiração quase parou ao ver que era uma bela biblioteca, repleta de livros do chão ao teto. Perto da lareira havia duas poltronas, e uma bancada de centro com vinho em duas taças.


- Vá logo, Milorde a espera. – O lacaio só faltou empurrá-la para dentro do aposento, e logo havia fechado a porta. Angel ainda respirou fundo duas vezes antes de seguir com Lolly no colo até a poltrona.


Sua surpresa mal pode ser disfarçada ao ver um rapaz de sua idade sentado junto a um das poltronas, observando o fogo. Olhou ao redor um pouco, como que para ter certeza de que aquele era o tal Milorde de quem todos pareciam ter tanto medo e respeito.


- Ouvi falar muito de você neste castelo já, e você nem completou 24 horas sob este teto. – Ele se virou para ela, e sorriu cinicamente. – Pode sentar na poltrona, não há cobras nela.


Angéline sentiu Lolly estremecer um pouco, e encarou-o altivamente antes de sentar-se na poltrona. Aconchegou a irmã melhor ao colo, e esta logo passou a observar ainda tímida o ambiente.


- Então é mesmo verdade o que dizem? Que não larga essa menina por nada?


- Prefiro ter certeza de que onde quer que ela esteja, esteja segura.


- Um belo discurso. Se fosse mãe dela até faria sentido. Mas não entendo... Ouvi dizer que você se recusou a vir falar comigo sozinha... Seria medo de deixá-la sozinha, ou medo de me ver sozinha?


Angéline corou um pouco, amaldiçoando todos os deuses que conhecia. Era verdade que ambas as opções estavam corretas. Nunca deixaria Lolly sozinha naquele lugar estranho, e por outro lado, a idéia de que um ser repugnante daquele ousasse tocá-la causava-lhe calafrios. Preferia levar a irmã e proteger a ambas desta forma.


- Bem, não importa realmente. Creio que sua irmã pode ouvir sobre o que iremos conversar. – Ele bebeu um gole lentamente da taça de vinho, observando-a minuciosamente enquanto isso. – Não bebe?


- Não enquanto sou vitima de um seqüestro – Ela sorriu, sarcástica.


- Não, não... Vocês não foram seqüestradas. Sua madrasta as deu para mim. Eu nunca seqüestraria vocês... As prefiro mortas que aqui.


- Então por que ainda não nos matou?


- Por que, cara Angéline? – Ele sorriu sarcasticamente enquanto pronunciava-lhe o primeiro nome. – Por que acha que eu não as matei ainda?


- Porque temos algo que deseja.


- Exato. Eu nunca faço algo sem pensar antes na recompensa. Vocês realmente têm uma informação que eu desejo muito.


- E que se depender de mim, nunca terá.


Riddle estreitou os olhos, enquanto Angéline segurava um pouco mais forte a irmã.


- Você não é muito esperta. – Ele riu – Eu a tenho em meu poder... Você e sua amada filhinha, ou irmãzinha, sei lá... Posso fazer o que quiser com ambas... E ao invés de tentar facilitar suas vidas, o que você quer é me deixar mais irritado.


- Dar-lhe a informação não seria facilitar nossa vida, seria antecipar nossa morte.


- Quem sabe? – Ele deu de ombros – Talvez eu até mesmo pudesse ser um pouco mais gentil... Depende de o quanto de informação você me eu até mesmo pudesse ser bondoso com vocês... Depende de o quanto você me oferecia... Até onde você iria para salvar sua amada irmãzinha?


Ele chegou mais perto dela, e acariciou-lhe o rosto. Ele sabia que ela faria qualquer coisa pela irmã, e bem, não podia negar que ela era muito bonita. Abruptamente, porém, Angéline vira o rosto. Os olhos dele queimam de raiva.


- É assim? Eu tentando lhe ajudar e você se fazendo de difícil?


- Eu nunca dormiria com um ser tão desprezível.


- Nem pela sua amada irmãzinha? Achei que ela fosse ao menos um pouco importante para ti.


Angéline abraça mais forte a irmã. Não podia aceitar a proposta indecente que aquele canalha lhe oferecia, mas também não podia deixá-lo machucar Lolly.


- Mas que seja de sua maneira... Ainda virá se ajoelhar aos meus pés... – Ele encara com satisfação os olhos cheios de medo dela – Não ferirei a menina, por enquanto... Darei-lhe uma semana para pensar bem no que pode me oferecer... Nesse ínterim trabalhará para mim. Catalogará cada livro destas estantes. Quero um registro completo. E olhe o lado bom, devem ser só uns... 3.000? – Ele dá uma fria gargalhada - Pode ir agora.


Ele pega novamente a taça, e beberica novamente a bebida. Angéline ainda fica uns poucos instantes sentada, como se esperasse que ele fosse atacá-la assim que ela ficasse de costas. Quando por fim “acordou”, levantou-se sem saber ainda direito o que fazer.


- Um de meus seguranças a espera no corredor. Amanhã cedo começará o serviço. – Ele estreitou os olhos, cheios de satisfação – Veremos quanto tempo aguentará...


Angéline não sorriu, não falou e nem o encarou. Seguiu de cabeça erguida para a porta, apertando um pouco demais a irmã, que apenas a olhava calada. Quando chegou perto da porta, esta já foi aberta, e ambas foram novamente conduzidas a seus aposentos. Somente quando lá estavam sozinhas, Angéline se permitiu chorar.


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Rewson entrou, fez uma reverencia e se sentou onde Angéline estivera há poucos minutos.


- E então, milorde? Conseguiu a informação? Ou ao menos a confirmação de que estamos na pista certa?


- Não, não consegui nada. Aquela garota mimada sabe o que acontecerá se nos der.


- Então conseguiu ao menos a confirmação que ela sabe alguma coisa?


- De seus lábios, nada. Mas o olhar de terror dela ao me dizer que não contaria nada que sabe despertou minha curiosidade. Ou ela sabe algo sobre Drakulya ou então sabe algo bem mais valioso...


- O que significa que não as matará?


- Significa que ela terá que descobrir um pouco o que é sofrimento antes de conseguirmos algo.


- O que vai fazer, Milorde?


- Você verá... Agora avise todos aqueles elfos imprestáveis para fazerem um jantar excelente para três pessoas.


- Espera visitas, Milorde? – Rewson o olhou curioso, Tom jamais recebia visitas ou jantava com alguém... Aquilo podia estar começando a ficar perigoso.


- Temos convidadas essa noite, esqueceu-se? – Ele bebeu mais um gole de vinho e sorriu por dentro da taça – Veremos se ela se recusará a comer também.


Quando o comensal entrou no quarto sem bater, Angéline se levantou e se postou na frente de Lolly como se isso fosse um reflexo. O comensal sorriu com o medo estampado claramente nos olhos delas. Era bom ter carne fresca por perto...


- O jantar está servido. Milorde as espera na sala de jantar.


- Obrigada, mas preferimos comer por aqui mesmo, ou na cozinha. Preferimos algo menos informal.


- Ele já imaginava isso – O comensal deu um sorriso cínico – Por isso mandou avisar de que ou irão comer com ele, ou não jantarão.


Angéline sentiu as mãozinhas de Lolly em sua perna. A menina não comia nada desde cedo, precisava se alimentar logo. Olhou para ela, que retribuiu o olhar, tristemente.


- Iremos com você.


Tom observava o vinho através de uma taça de cristal, colocando-a contra a luz da lareira. Estavam demorando demais, mas ele sabia que Angéline nunca deixaria a irmã sem comer. Obrigaria-a aos poucos a se tornar uma serva sua, e logo ela realizaria todas as suas vontades, sem sequer reclamar, ele tinha certeza. E conforme fosse, se ela realmente fizesse o que precisava de maneira que lhe agradasse, então poderia até pensar em mantê-las vivas. Riu sozinho ao imaginar a cara de Rewson se lhe propusesse isso. Aquele velho imprestável estava começando a ficar incomodo para seus interesses... Teria que dar um jeito nele logo, logo.


A porta de Magno se abriu, e o comensal deixou Angéline e Lollyta passarem. Tom se encostou melhor na cadeira na ponta da mesa, e fez sinal para que se sentassem. Havia mandado os elfos arrumarem a mesa a ponto de que Angéline ficasse ao seu lado, o que muito a desagradou, reparou ao ver a cara de insatisfação dela ao sentar-se em seu lugar.


A pequena menina olhava a tudo ao seu redor, como se tudo fosse mágico. Ela estava realmente encantada com tudo, ele observou, com um sorriso. Se quer conquistar uma mãe, conquiste a filha em primeiro lugar. Só não entendia o porque de Angéline querer sacrificar-se tanto pela pirralha. Mesmo elas sendo irmãs, porque não deixar simplesmente a menina para trás e se salvar? Bem, não era hora de ficar pensando nisso mesmo. Podia sentir os olhos de raiva de Angel, já que observava a pequena fixamente a alguns momentos. Ela provavelmente deveria achar que ele era um pervetido que na primeira oportunidade agarraria a menor. Sorriu.


Tom com um aceno fez com que os elfos servissem os pratos fumegantes de sopa, e enchessem os copos com um refinado vinho, exceto para Lolly que foi servida com um suco simples. Quando os elfos terminaram de fazer seu serviço saíram logo da sala, fazendo mensuras exageradas. Lolly olhou curiosa para Angel, que concordou com a cabeça, fazendo com que a menina passasse a comer com vontade. Angéline porem não tocou sequer no garfo, cruzando os braços em cima da mesa. Tom bebeu um gole de vinho, se reencostou na cadeira e sorriu.


- A comida não está envenenada, sabia? – Ele gargalhou, sarcasticamente.


- Claro que não está, você prefere nos matar bem lentamente, porque nos mataria de forma tão indolor? – Ela sorriu sarcasticamente.


- Então porque não come? Creio que está uma delicia.


- Comer com seres indesejáveis me causa ânsias. – Ela manteve o sorriso, enquanto Tom cerrava os punhos.


- Perdeu a noção do perigo? O que acha que eu sou? Um panaca? – Ele segurou o braço dela com força – Deveria ao menos me respeitar! Eu já faço a bondade de deixá-las vivas! Mas você vai aprender a me obedecer!


Largou o braço dela com raiva, enquanto fazia um sinal com as mãos, fazendo com que vários comensais entrassem, encapuzados e de varinha na mão.


- Levem a menina.


Lolly gritou de medo, segurando no braço de Angel com força pedindo para ela não deixá-la. Os comensais foram mais rápidos, porém, e mesmo com ela segurando a menina com força, acabaram por separar as duas, e levar a menina para longe.


Angéline caiu sentada na cadeira, com a força que o comensal a puxou, e secou as lágrimas. Tom voltou a pegar sua taça de vinho e beberica-la. Ela levantou a cabeça, lentamente, os olhos furiosos, quase em chamas.


- Traga Lolly de volta.


- Quem sabe depois que terminarmos de comer? – Ele fez um sinal para que ela começasse a comer, com um sorriso sarcástico. Angel tremia de raiva.


- Eu... Disse... Para... Traze-la... AGORA! – As taças de cristal que estavam na mesa explodiram, Angel se levantou com raiva e jogou o prato na parede, espatifando-o. – eu quero minha irmã! E o mais breve possível! Ou vocês irão se arrepender demais!


E saiu correndo porta a fora. A sala de jantar ainda tremia, os pratos caiam no chão, e os elfos já estavam desesperados catando tudo. Tom apenas sorriu e fez um sinal para os comensais, que iam segui-la.


- Deixem-na. Quero ver do que ela é realmente capaz... Algo me diz que isso que ela fez aqui é só o começo...


Continua...

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