Despertando
DISCLAIMER: Não é meu! É tudo da J. K. Rowling.
BETA READER: Shey Snape – muito obrigada!
N. A.: Capítulo trinta e dois! Severo não consegue tirar Hermione da cabeça.
Capítulo 32: Despertando
Severo passou a sexta-feira entre sua sala de aula e seu escritório. Os eventos da noite anterior ainda o perturbavam muito, e ele precisava de tempo sozinho para pensar. A realidade se expandira para proporções inigualáveis, e levaria mais de um dia para Severo assimilar todos os significados e as consequências disso. Negação não era uma opção, mas para ser honesto, nem era esta loucura.
Toda sua vida ele passara na duplicidade, e quando pensara que esta fase estava acabada e resolvida, uma nova parte de sua vida era exposta a ele – o papel que ele sempre quis desempenhar; seus sonhos se tornando realidade.
Severo não conseguia acreditar que tudo que sonhara tinha realmente acontecido a ele, a sua alma. Mesmo quando pensava sobre todos os frequentes pesadelos e entendia como eles podiam ser reais por muitas razões justificáveis, não era a idéia de que ele realmente passara por todos aqueles terrores o que deixava seu rosto fechado numa carranca de preocupação. Ah, não.
O que o preocupava e maravilhava em proporções iguais eram os sonhos – que agora se provavam realidade – de amor e afeição compartilhados entre ele e seu filho e, o mais preocupante de tudo, a mãe de seu filho. A Hermione Granger de seus sonhos era...
Ah, Merlin!
Como é que ele iria olhar para ela novamente, sabendo que tudo que sonhara fazer com ela tinha, de fato, sido feito?! Isso era loucura! E quanto mais Severo racionalizava o fato e sabia que não poderia estar acontecendo, menos ele queria dar ouvidos à razão.
Ele queria estar louco, se isso era o necessário para viver uma vida de sonhos.
Uma pena que Severo era tão orgulhoso do controle que tinha sobre seus impulsos para se deixar levar. Ele era muito jovem quando parara de sonhar acordado. Levaria tempo para acreditar que podia sonhar novamente sem ter os sonhos esmagados.
Seus sonhos sempre foram esmagados.
Ele correu uma mão nervosa pelos cabelos, suspirando. Nunca em sua vida se sentira tão vulnerável, porque se fosse dormir, ele já sabia onde sua mente – não, sua alma – o levaria, e não haveria nenhuma maneira de controlar o que faria.
Imagens, vislumbres de sonhos passados invadiram sua mente como que para zombá-lo e tentá-lo. Ele olhou o novo lote de Poção para Dormir Sem Sonhar supurando na bancada e se perguntou pela enésima vez se sequer valia à pena tomar uma dose. Poderia a poção funcionar como algo além de uma enganação, uma máscara que libertaria sua alma tarada ainda mais? Além disso, para ser honesto consigo mesmo – e Severo tinha que ser – se haveriam sonhos, ele queria, no mínimo, ser capaz de lembrá-los depois.
Uma pena que ele era tão entusiástico sobre o controle que tinha.
Severo decidiu ir jantar no Salão Principal. Talvez ela não estivesse lá; talvez ele pudesse ganhar tempo para pensar em uma solução, algum modo de contornar a situação. Mas tão logo ele entrou no Salão Principal, viu Hermione lá e se sentiu desesperançado e incomumente derrotado.
— Boa noite, Severo — ela o cumprimentou educadamente quando ele tomava seu lugar, que esta noite era ao lado do dela. — Como foi a semana? — ela perguntou sociavelmente quando ele se acomodou.
— Estressante — ele se viu respondendo.
Hermione piscou aqueles lindos olhos para ele. Severo queria se amaldiçoar quando percebeu que tinha realmente respondido em voz alta.
— Você precisa de um fim de semana relaxante. — Ela sorriu, esticando os lábios perfeitos para mostrar-lhe dentes igualmente perfeitos. — Se puder ajudar com alguma coisa, basta pedir.
Ele teria se levantado, soltado algo desprezível e sarcástico em recusa e saído, mas para que se importar. Ele não estava no controle de nenhuma dessas situações, então para que fingir que estava. Ele optou por comer, devagar e em silêncio, como se saboreasse sua última refeição. O mundo em que vivera ontem não existia mais; o Severo que fora por todos esses anos era uma mentira, uma sombra...
Um fantoche.
Novamente.
Agora de suas próprias vontades e necessidade... dos desejos de seu coração... seus anseios...
Olhou de relance para Hermione e teve vontade de gritar.
Severo estava realmente perdido e não podia culpar ninguém além de si mesmo desta vez. As máscaras caíram.
— … tudo bem?
Ele ouviu as últimas palavras dela. Estivera olhando fixamente para ela, perdido em pensamentos de perdição. — Sim — respondeu, novamente em voz alta, e depois fez uma demonstração de desinteresse ao olhar para o mar de alunos sem face a sua frente. Severo enfiou outra fatia de batata na boca para manter a língua ocupada.
Ele sabia que ela o observava; ele podia sentir as perguntas não feitas pairando na boca aberta dela, as adoráveis mãos inquietas de indecisão. Seus olhos se focaram num menino – seu menino. Nathan encontrou seu olhar e sorriu tentativamente, mais para um meio sorriso, e a última tentativa de Severo de colocar a máscara de volta sucumbiu ali.
Ele se levantou, deixando a maior parte do jantar no prato.
— Severo?
Ele olhou de volta para ela com determinação no olhar. — Agora não — ele lhe disse e se dirigiu para a saída do Salão Principal. Ia para seus aposentos, e lá esperaria até que o castelo estivesse dormindo. E então será hora, Hermione — terminou para consigo mesmo, e só para consigo mesmo, ainda bem.
~o0oOo0o~
Agora não? — Hermione pensou. O que significava aquilo? O que pode ter acontecido para transformar Severo neste bruxo sem reação – ou estranhamente reativo? Ele disse que estava estressado, e ele parecia mesmo exausto, mas o que poderia estar causando isso? Ele parecera tão relaxado no último domingo...
Ele sempre revertia para o velho desprezível de sempre após claramente desfrutar alguma coisa, então deve ser isso: Severo estava fazendo birra.
Hermione chamou à mente a imagem de apenas momentos atrás, dele comendo em silêncio ao lado dela. Ele parecera distante, realmente cansado. Mesmo sabendo que apenas o agravaria mais, sentira vontade de estender a mão para afagar-lhe as costas e confortá-lo, naquela hora, e estava quase deixando o próprio jantar para ir atrás dele, agora.
Agora não — a voz dele em sua cabeça a lembrou, e Hermione suspirou. — Severo, Severo...
Ela procurou na multidão de grifinórios e encontrou Nathan rindo com os amigos. Ele não poderia ser a fonte da penúria de Severo, poderia? De alguma forma, Hermione achou improvável desta vez.
De qualquer forma, Hermione estava certa de que era algo grave.
~o0oOo0o~
Severo andou de um lado para o outro em frente ao fogo que morria, mantendo-se acordado. A cada cinco minutos, ele olhava no relógio, esperando que uma hora tivesse passado ao invés disso. Era quase uma hora da manhã. Estaria ela dormindo? Ele olhou no relógio novamente e decidiu que arriscaria ou ficaria louco – ou mais louco, como talvez fosse o caso.
Entrando no quarto, ele experimentou um momento de indecisão sobre o que vestir antes de lançar o feitiço. Urrando para si mesmo por sequer se importar, Severo simplesmente se deitou com as vestes negras de professor em que estava e olhou fixamente para o pano de cortina preso no lugar pelos quatro pilares de sua cama. Uma imagem de Hermione nua, enquadrada por este mesmo pano enquanto na cama com ele, sobre ele, nele, foi tudo que precisou para que Severo encantasse o latim do feitiço e finalmente libertasse sua alma.
Agora, ele só precisava encontrá-la.
A alma de Severo andou pelos corredores do castelo com apenas um destino em mente: Hermione. Sua vontade o levou aos aposentos dela, e à porta, ele hesitou.
Isso era insano. Ele passaria através da porta dela e depois o quê? Como ele deveria agir? Que papel ele deveria interpretar?
Severo sabia que a resposta era si mesmo. Ele deveria ser ele mesmo pela primeira vez em muitas décadas, mas o que temia era ser incapaz de sustentar o ato por mais de um minuto.
Isso era realmente insano.
Até mesmo a porta o zombava, e por um momento, a porta ordinária se transformou em uma porta de muita dor – a da Grifinória – e Lílian Evans negava-lhe o perdão atrás dela. Severo balançou a cabeça, se livrando da visão desagradável. A história não se repetiria, então ele atravessou a porta e entrou na sala de estar.
— Severo. — Seu nome era alegria pura, e ele congelou novamente com a incerteza e depois ficou ainda mais rígido com o desconforto dos braços dela ao redor dele. A força da energia receptiva em contato com ele – de alma para alma – era tanta que Severo, por medo de deixar de existir, segurou bem firme nela. — Senti sua falta — ela lhe disse, e Severo, não importa quão estranha a noção, sentira a falta dela também. Entretanto, ele não tinha voz para expressar isso; Severo ainda pensava que estava prestes a explodir.
Hermione tocou os botões de suas vestes, mas para Severo, era como se não houvesse nada separando seus corpos – ou o que quer que fosse que estivesse tornando suas almas possíveis de serem tocadas. — Você ainda está em suas vestes de professor... Dormindo sobre pergaminhos de novo? — Ela parecia divertida com a idéia, levantando o olhar adorável para o seu rosto, depois levando uma mão para acariciá-lo, deixando um traço de calor por onde os dedos tocavam. — Meu pobre e explorado Prof. Snape. — Ela selou as palavras com um beijinho em seus lábios, e Severo quase perdeu a força nas pernas, tomado por sentimentos que pensava que nunca sentiria dirigidos a ele.
Severo mergulhou, se afogando, pressionando os lábios nos dela para um beijo que nunca esqueceria. O modo como ela respondia avidamente fez Severo choramingar, qualquer objeção que pudesse ter sendo completamente esquecida, e esquecida, e esquecida...
Hermione interrompeu o beijo antes que ele pudesse impedi-la.
— O que foi? — Agora ela parecia preocupada. — Qual o problema, Severo?
— Preciso de você — suspirou. Puxou-a de volta para ele, enterrando o nariz atrás da orelha esquerda e soltando um suspiro trêmulo.
— Você está tremendo — ela observou. — Severo, por que você está tremendo? O que aconteceu? — Ela ergueu sua cabeça para inspecionar seu rosto, e ele deixou, arrebatado por ser cuidado, por gerar preocupação, e aquilo fez o tremor ficar ainda mais pronunciado.
Ele explodiria e deixaria de existir como um homem amado, o que fazia o resto perder a importância. Hermione o puxava para algum lugar, e Severo a seguiria para onde fosse. Ela o fez se sentar, e ele se sentou.
— Você está me assustando — ela disse. — O que tem de errado com você? — Ela começou a procurar nele uma resposta, e cada toque dela em sua alma era uma onda de amor; Severo não conseguia deixar de gemer, se derretendo no sofá como se músculos fossem gelatina. Ela parou abruptamente. — Estou fazendo você piorar. — Ela parecia horrorizada. Quando ele sentiu as ondas da presença dela começarem a dissolver, Severo abriu os olhos e impediu que ela se levantasse com uma mão que a segurou pelo pulso.
— Não, não! — Sua urgência seria embaraçosa se estivesse num estado mais racional. Ele a puxou para seus braços e ofegou. — Não se vá, Hermione — suspirou. Isto era muito mais do que Severo antecipara quando decidiu usar o feitiço para encontrá-la esta noite; muito, muito mais.
Ela aceitou seu abraço quieta por um momento, depois perguntou:
— Está se sentindo melhor?
Ele teve vontade de rir e não segurou. Rir era tão libertador. — Nunca me senti melhor em toda minha vida — ele finalmente respondeu, sorrindo para a mulher em seus braços.
Ela inclinou a cabeça, estreitando os olhos para ele. Os olhos se arregalaram de repente, e ela ofegou. — Você está consciente! Você está sob a ação do Anima Liberta!
Severo segurou o olhar dela, o divertimento ainda pairando em seu olhar. Eles ficaram olhando um para o outro por um bom tempo, analisando a situação em sua totalidade.
— Encontrou o que procurava?
A pergunta era em essência curiosa, ele sentiu. E então, ele encontrou?
— Sim — respondeu para ambos.
— E o que fará com a informação?
Olhou intensamente nos olhos dela e a puxou para seu colo, beijando-a na boca com sofreguidão. Isso era o paraíso para Severo; ela era seu paraíso. Ela sentava com os joelhos envolvendo suas coxas quando os lábios dela o escaparam.
— Que tipo de resposta é essa? — ela insistiu.
— Há quanto tempo isso vem acontecendo? — perguntou ao invés de respondê-la.
Ela mordeu o lábio inferior, e Severo molhou o seu, não dando mais que alguns segundos para ela responder quando tomou-o para si com outro beijo. De que importava? De qualquer forma, ele preferia tê-la em silêncio sob sua boca do que o respondendo longe dali.
Ela se desvencilhou novamente.
— Severo, pare de me beijar quando o que precisamos é obviamente conversar.
Ele passou o dedão sobre aqueles lábios admiráveis, sem estar realmente consciente do que eles diziam.
— São ainda mais fascinantes depois de serem completamente beijados.
Ela desviou o olhar, parecendo embaraçada pelo comentário. Severo conheceu um momento de incerteza, então, o que o ajudou a recobrar sobriedade suficiente para concordar com a declaração anterior dela; precisavam conversar. Ele tirou as mãos dela e instantaneamente quis tocá-la novamente, então tomou as mãos dela nas dele.
— Há quanto tempo isso vem acontecendo? — reiterou a pergunta.
Ela olhou de volta para ele e visivelmente relaxou quando viu sua expressão.
— Desde antes... — ela começou. — De certa forma, não muito depois de começarmos a trabalhar juntos.
As sobrancelhas de Severo se ergueram, e ele procurou por maneiras de entendê-la errado, de fazer “trabalhar juntos” ser mês passado, quando passou os olhos em uma receita deixada em cima da bancada de seu laboratório e não resistiu em escrever uma nota na margem, e não doze, treze anos atrás.
— Durante a guerra — ela arruinou tudo —, quando o auxiliei com poções e a Ordem. — Ela saiu de seu colo, mas não soltou suas mãos, fazendo-o virar de lado e encará-la onde estava agora, sentada ao seu lado no sofá.
Era difícil acreditar que ela estivesse dizendo a verdade. Severo não podia simplesmente acreditar que tinha um caso com Hermione Granger enquanto dormia por treze anos enquanto vivia miseravelmente enquanto acordado. Ele franziu a testa.
— Não — ela disse, soltando uma mão para alisar as rugas entre suas sobrancelhas. — Por favor, não tente entender ou analisar a situação tão racionalmente. Afinidades nos uniram, e a vida complicou tudo, como costuma fazer. Não há nada de errado em tudo isso.
— Nossas almas têm um caso de treze anos, e você diz que não há nada de errado nisso?
— Nós não estamos tendo um caso — ela o corrigiu. — Nós sempre gostamos de passar tempo juntos, e desde que decidimos ter um filho, nos tornamos muito mais que amigos ou amantes; somos uma família, compartilhando amor e crescendo juntos.
— Nós não decidimos ter um filho; a mim nunca foi dada a chance de escolha neste caso, e não posso ver como você poderia ter escolhido ficar grávida dele também...
— Severo — ela interrompeu —, você está enganado. Nós decidimos tudo juntos. Concordamos que Nathan nos uniria, que ele me ajudaria a superar os terrores da guerra, e ele concordou em ajudá-lo a se perdoar pelas coisas que foi forçado a fazer por tanto tempo.
Ele queria contestar, mas ela o impediu mais uma vez.
— O único fato que concordarei que não aconteceu como planejamos é o tempo que está levando para nos entendermos e nos tornarmos a família que fomos feitos para formar. Nathan está sofrendo por coisas que não lhe dizem nenhum respeito.
Ela parecia assombrada e triste, e a tristeza o atingiu como um dardo de gelo no coração. Doía.
— Desculpa — ela pediu, parecendo saber que o estava machucando. — É só que tem sido um ano frustrante para todos nós. — Ela então sorriu, e a dor se foi.
Severo foi rápido em busca dos lábios dela, beijando-os ternamente, sem saber por que não conseguia se controlar ao lado dela. Ela o beijou de volta, o agarrando, deixando-o insensato. Quando suas bocas perderam contato, os olhos de Severo permaneceram fechados, ainda sentindo-a.
— Eu amo você, Severo Snape. Eu amo muito você — Hermione sussurrou.
Agora, era ela quem iniciava um beijo, trazendo sua cabeça para baixo com uma mão firme em sua nuca, atacando sua boca com a língua e derretendo seu senso de consciência. Suas mãos aprenderam rápido o caminho das costas dela, para dento dos cabelos, e Severo pôde responder a voracidade dela ao deixar sua língua livre para sentir seu gosto.
Poderiam duas almas se tornar uma?
~o0oOo0o~
O vento uivou, e Hermione acordou assustada. Quando se lembrou do que estava sonhando, ela gemeu.
— Não quando eu estou beijando ele! — reclamou com Morpheus.
Ela tentou em vão voltar a dormir e para os braços de Severo, e quando percebeu que o descanso da noite tinha sido irrevogavelmente abreviado pelo vento, Hermione suspirou e colocou as cobertas de lado. Já que estava acordada e os sonhos foram arruinados, por que não voltar às equações aritmanticas que estivera trabalhando?
~o0oOo0o~
Ainda perdido e desorientado, Severo observou Hermione entrar na sala e tomar a cadeira da escrivaninha no canto, longe dele. A presença dela não tinha o mesmo efeito avassalador de antes, o ar entre eles estava mais pesado agora, mas ela estava definitivamente ali. Severo queria senti-la perto dele novamente, mas ela era uma presença física na sala, e ele não podia tocá-la, podia?
Ele se aproximou e ficou parado atrás da cadeira. Severo olhou de relance para o pergaminho em que ela olhava atentamente, colocou o nariz perto do cabelo dela e respirou fundo. O cheiro dela estava abrandado, mas definitivamente presente. Ele levou uma mão para acariciar o braço dela.
— Hermione.
Ela soltou o pergaminho e estremeceu.
— Você está nos meus sonhos, e agora não me deixa concentrar. Você vai me deixar louca, como gosta de dizer que eu já estou — ela resmungou consigo mesma, mas Severo sabia que as palavras eram para ele.
Ele soltou um riso curto e se afastou para observar a reação dela.
Ela retomou o pergaminho nas mãos e fez uma cara de concentração. Severo sorriu com malícia.
Quando estava prestes a tocá-la novamente...
— Aí está você! Estou esperando faz horas!
Era seu filho – ou melhor, a alma do menino.
— Você me prometeu uma partida de xadrez, ou esqueceu?
Ao mesmo tempo que Nathan parecia bravo com ele, o menino lhe abraçava apertado. Os braços de Severo envolveram Nathan, e o que Hermione lhe dissera mais cedo começava a voltar.
— Desculpa, Filho.
Nathan olhou para cima, e Severo pôde ver que ele sorria. — Eu gosto quando você me chama assim — o menino lhe disse. — É muito melhor que cabeça-oca. — Ele ainda sorria, fazendo da declaração uma piada.
— Você não é um cabeça-oca — Severo lhe disse com seriedade. Ele sentiu vontade de se desculpar por cada palavra que já pronunciara e que machucara seu filho de alguma forma, por mais mínima que tivesse sido.
O menino franziu a testa. — Você está triste. Não fique triste. Você sabe que eu não ligo para as coisas que o idiota diz. — Ele sorriu novamente. — Nós não tiramos sarro disso o tempo todo?
O insulto a sua pessoa fez Severo se sentir melhor, marginalmente. Ele foi puxado pela mão.
— Vamos. Vai amanhecer antes que nós percebamos, mas ainda pode dar tempo de jogar um pouquinho.
Aquilo fez Severo perceber como a noite ia avançada e como ele teria bem pouco sono real. O feitiço era muito extenuante, então ele teve que parar o filho. — Não posso.
— Mas, Pai — o menino choramingou. — Já tem dias!
— Eu sei — Severo disse, mesmo não sabendo de nada —, mas estou prestes a acordar. Faremos isso em outra hora, eu prometo.
Nathan suspirou. — Está bem. Vá acordar, então.
A cena do menino fazendo birra por não ter sua companhia era estranhamente encantadora, e Severo afagou-lhe a cabeça, desmanchando-lhe os cabelos.
— Eu cumpro minhas promessas, Nathan.
— Eu sei, mas mesmo assim isso é uma droga. Este é o único tempo que realmente passamos juntos, e você dorme tão pouco...
O consternação que o menino sentia pesava onde tocava a alma de Severo. Ele trouxe a cabeça de Nathan para o peito para tentar confortá-lo.
— Passaremos mais tempo juntos acordados. Esta é outra promessa que cumprirei, Filho.
Nathan olhou para cima e sorriu antes de abraçá-lo apertado e soltá-lo. — Me leva para Torre? — o menino propôs, pegando na mão de Severo e o puxando em direção à porta.
Nathan lhe contou sobre coisas fascinantes e mundanas enquanto cruzavam o castelo. Se outras almas estavam aqui e acolá, Severo não tinha olhos para elas; Nathan tinha sua total atenção. Enquanto o menino falava, as palavras da revelação de Hermione revolviam na mente de Severo. Eles sempre foram uma família, Severus sempre amara o filho, e Nathan sempre o amara de volta, como pai. Agora Severo sabia por que parecia tão certo e possível sentir-se tão ligado a este menino.
Severo desvencilhou sua mão da de seu filho e puxou o menino para mais perto pelo ombro sem perder o passo. Nathan o abraçou instantaneamente pela cintura e continuou lhe contando sobre finalmente ter visto os elfos domésticos que serviam a Torre da Grifinória limpando seu dormitório depois de quase um ano tentando flagrar as pequenas criaturas ali.
— O que eles fizeram quando perceberam que você estava lá? — Severo perguntou com genuíno interesse.
Nathan abriu um sorriso largo antes de responder:
— Eles gritaram como menininhas e desapareceram na mesma hora, bem do jeito que você disse que eles fariam. Nossa, como eles são escandalosos!
Severo desejou ter a lembrança da conversa em questão... Pelo menos, ele teria esta conversa para nutrir. Eles estavam à porta da Grifinória, e neste clima de sonhos que se tornaram possíveis, Severo decidiu fazer o que sempre desejara que um adulto fizesse para ele quanto tinha a idade do Nathan. Ele abraçou o filho e beijou-lhe a testa. — Não se meta em encrencas e nunca deixe ninguém lhe dizer que não pode ser o que bem entender.
— Não vou, Pai. Amo você. — Nathan o abraçou e atravessou o retrato da Mulher Gorda.
Severo se sentiu instantaneamente frio e solitário. Ele se apressou até as masmorras, procurando abrigo, e quando finalmente chegou de volta em seus aposentos, passou alguns longos minutos observando o próprio corpo, pensando sobre o quanto não queria voltar para dentro dele e deixar esta terra de sonhos, de amor, de felicidade, sua família, uma vida muito mais digna de ser vivida.
Severo executou o contra-feitiço mesmo assim, e uma lágrima solitária escorreu para o lençol frio sob sua cabeça pouco antes do esgotamento levar sua consciência.
~o0oOo0o~
Sua mãe o convidava para ajudá-la no laboratório, mas Nathan temia que seu pai estivesse lá. A última vez em que estiveram juntos longe do resto da escola consumiu Nathan demais emocionalmente, e ele estava apreensivo, preocupado em como o próximo encontro seria. Nathan já havia decidido que não perguntaria se o homem tinha ou não lançado o feitiço naquela noite. Isso significava que ele continuaria no escuro, sem ter certeza.
A única coisa que ele tinha certeza era que não queria entrar em outra montanha russa de emoções tão cedo.
— Pronto para ir? — sua mãe perguntou.
Pronto não era bem como Nathan se sentia, mas ela tinha aquele sorriso meio malandro no rosto que usava quando estava prestes a testar alguma teoria nova. Se Nathan dissesse não, ele tinha certeza que perderia algum momento histórico, monumental, épico de muito divertimento. Parecia que não tinha outra escolha senão arriscar encontrar com o pai.
— Certo, estou pronto — respondeu, e sua voz carregava mais certeza do que realmente sentia.
O sorriso de sua mãe se abriu mais, e Nathan sorriu de volta.
— O que exatamente vamos fazer hoje?
Eles começaram a andar juntos para as masmorras.
— Acho que finalmente encontrei uma forma de modificar a base para funcionar mais ativamente como o feitiço.
— Nós vamos realmente preparar algo novo, então?
— Sim, e torcer para que dê certo. Cruze os dedos! — ela lhe disse animadamente.
Sim, isso vai ser diversão em proporções épicas!
Mas no momento que eles entraram no escritório do mestre de Poções, a idéia de Nathan de uma tarde divertida foi desafiada pela presença no cômodo. Nathan tentou agir como se nada o estivesse aborrecendo, torcendo para que eles pudessem passar pelo professor sem interagir.
— Boa tarde — o homem cumprimentou, para o desânimo de Nathan.
Ele nunca cumprimenta! Por que justo hoje?
— Boa tarde, Severo — Mamãe logo respondeu. — Está se sentindo melhor?
Seu pai fez que sim devagar com a cabeça, observando-a pensativamente por um momento antes de fixar seus olhos negros em Nathan.
— Boa tarde — Nathan se sentiu obrigado a dizer, e seu pai inclinou a cabeça para aceitar o cumprimento antes de se voltar à mãe de Nathan novamente.
— Tenho uma poção no meio do preparo. Está apenas tomando um pouco de espaço na segunda bancada, então presumo que não constitua em um problema para o seu trabalho — seu pai informou.
— Não, certamente não será problema — ela respondeu, e depois houve silêncio.
Nathan não entendia por que sua mãe não ia para o laboratório, mas ela não ia; ele também não entendia por que seu pai estava simplesmente olhando para ela ao invés de fazê-los ir andando, como de costume.
— Estarei no laboratório, então — ela finalmente anunciou, apontando para a porta oculta, mas sem dar nenhum passo em sua direção.
Seu pai assentiu, finalmente voltando para os papéis em sua mesa.
Sua mãe se mexeu afinal, e Nathan a seguiu para o laboratório. Ele se certificou que a porta estava fechada antes de perguntar:
— O que foi aquilo?
— Do que você está falando? — ela devolveu a pergunta, se ocupando em preparar o local de trabalho.
Nathan olhou para a porta fechada e abriu a boca para perguntar de outro jeito, só que... percebeu que não tinha idéia de como. — O que acabou de acontecer ali fora — tentou. — Você sabe.
— Não, não sei — ela respondeu rapidamente. — Você poderia pegar o caldeirão de vidro com cuidado para mim, por favor? O pequeno.
Nathan franziu a testa, mas fez o que ela tinha pedido e começou a trabalhar com ela. Ele nem notou sua mente colocando a interação estranha entre seus pais atrás de pensamentos sobre ingredientes de poções e experimentos legais.
Depois que algumas horas já haviam se passado, ele ria do nojo de sua mãe com o jeito que ele esmagava Bubotúberas. Entretanto, seu pai decidiu entrar no laboratório naquele momento, arruinando o bom humor de Nathan. Ele tentou retomar a diversão de antes assim mesmo, esmagando outra Bubotúbera.
— Pare com isso — sua mãe o recriminou.
Ficou claro que a diversão tinha definitivamente acabado, substituída pela tensão de sempre, e Nathan se lembrou na hora de como seus pais estavam agindo estranho um com o outro. Ele observou seu pai mexer o caldeirão colocado na segunda bancada, ouvindo os utensílios baterem um no outro.
— Sua poção está começando a ferver — o homem destacou, sem tirar os olhos do caldeirão em que trabalhava.
— Oh! — Ela voltou à ação, correndo para diminuir o fogo. Ela mexeu o líquido algumas vezes. — Vou precisar de mais pus, Nathan.
Foi a vez de Nathan voltar ao trabalho, ainda observando receosamente os dois. Seu pai tinha parado de mexer a poção dele, mas continuava observando-a cuidadosamente. Sua mãe ainda cuidava da base deles, só que mais devagar agora. Nathan esmagou mais uma Bubotúbera, que fez um barulho alto. O som pareceu arrebentar a fina linha de tensão, e agora mais nada mantinha o ambiente em equilíbrio.
Seu pai começou a vir em sua direção, sua mãe parou de mexer a base, e Nathan soltou a faca que segurava, pronto para se desculpar. Seu pai pegou a faca... e cortou a Bubotúbera no meio.
— Corte e depois use o lado cego da faca para extrair o pus das metades. Quando você as explode daquele jeito, embora seja mais divertido — um canto dos lábios do homem se ergueu —, parte da secreção se perde.
O cabo da faca lhe foi oferecido. Nathan o tomou e vagarosamente cortou a próxima Bubotúbera ao meio, prosseguindo exatamente como fora ensinado.
— Muito melhor — seu pai aprovou, e Nathan sentiu uma onda de felicidade com a aprovação.
Eles terminaram a base sob o olhar atendo do mestre de Poções.
— Brincando com Penseiras? — o homem perguntou de repente.
A mãe de Nathan ergueu o olhar que tinha na poção, Nathan observando ambos com interesse. — Estou tentando melhorá-la — ela contou e prosseguiu explicando seu projeto e suas teorias, e seu pai ouviu com atenção. Aquilo fez com que o fato do Prof. Snape estar sendo bonzinho demais naquela tarde fosse incontestável para Nathan.
Talvez ele tivesse feito o que Nathan pedira; talvez ele tivesse visto como era quando eles dormiam, sonhavam, e decidira ser um pouco menos idiota. A esperança fazia o coração de Nathan bater mais rápido. Seu pai não desistira dele e estava tentando lhe dizer, lhe mostrar isso, não estava?
Perfeito! Era tudo que Nathan sempre quisera desde que conhecera a alma dele. Uma vontade repentina de abraçar o pai quase ultrapassou sua razão. A atenção do homem se voltou para ele como se chamada, e Nathan sabia que o pai seria capaz de ver em seus olhos brilhantes a felicidade e o alívio. Seu pai não tinha desistido dele.
— De qualquer forma — sua mãe continuou —, acho que encerramos por hoje. A base tem que supurar antes que qualquer coisa possa ser adicionada. Mal posso esperar para ver se vai funcionar — ela disse entusiasmada, tirando os olhos dele de Nathan e de volta para ela.
O homem deu um pequeno impulso para longe da bancada onde estivera encostado. — Muito bem. — Ele começou a tirar alguns frascos de uma prateleira.
A mãe de Nathan também juntava equipamentos e ingredientes que não foram usados.
— Você poderia me ajudar a engarrafar esta poção, Nathan.
Nathan ergueu rápido o olhar, sua mente automaticamente pensando Quem? Eu? às palavras de seu pai. O homem não estava olhando para ele, então Nathan se aproximou devagar, em silêncio. Seu pai olhou de relance momentaneamente.
— Pegue uma concha para você — seu pai instruiu.
Nathan foi atrás do utensílio e voltou para o caldeirão, sentindo-se repentinamente nervoso com a tarefa. Ele estava ajudando o Prof. Snape no laboratório, seu pai. A animação seria a maior que Nathan já experimentara se...
— O que é isso? — Nathan empalideceu ao ver o líquido diante dele. Ele conhecia aquela poção, conhecia! — Por que você está preparando esta poção? — perguntou com uma voz trêmula. — Por que, Pai? — Ele não conseguia tirar os olhos do caldeirão cheio de Poção para Dormir Sem Sonhar. Todas as esperanças e os sonhos de Nathan foram caldeirão abaixo e estavam agora no lugar perfeito para que seu pai os descartasse de uma vez por todas.
Sua mãe escolheu aquele momento para reentrar no laboratório, vindo da despensa. Nathan fez moção de ir até ela, mas Snape o segurou pelo ombro.
— Vejo que ainda têm trabalho a fazer. — Ela até sorriu, desapercebida. — Posso esperar até que terminem se você quiser, Nathan.
Antes que ele pudesse protestar, seu pai disse:
— Não precisa esperar; o Nathan estava acabando de me dizer que ficará até a hora do jantar.
— Claro! Voltarei logo para me juntar a vocês, então — ela concordou, e Nathan quase nem conseguia respirar, quem dirá protestar.
— Até mais tarde — seu pai se despediu, e Nathan foi deixado à mercê da própria sorte. Seria emocionalmente esmagado, ele sabia. Deveria ter gritado, mas onde estava sua voz?
— Nathan — o homem chamou. — Respire, menino — seu pai urgiu, e foi como se uma azaração tivesse sido levantada. — Isso mesmo. Acalme-se. — Uma lágrima escapou do olho de Nathan. — Não, não — seu pai disse com alguma frustração —, não há razão para lágrimas. — Isso só fez Nathan se inundar com elas, e braços o envolveram, abraçando-o gentilmente. — Shhh, calma, Filho. Não precisa chorar. Shhh.
— Dormir Sem Sonhar — Nathan ofegou.
— Shhh. Eu não vou tomar.
— Não? — Nathan olhou para cima. — Não vai?
— Não, eu não vou, seu menino bobo. Está se preocupando por nada. Típico de grifinório — seu pai disse a última parte bem baixinho, um tom de irritação transparecendo.
Nathan se sentiu bobo mesmo e tentou se recompor, secando o rosto e se afastando do homem.
— Ajude a engarrafar isso para que possamos ir.
Nathan tentou ajudar, mesmo com as mãos meio bobas, mas seu pai acabou fazendo a maior parte do trabalho. Logo eles deixaram o laboratório e foram direto para os aposentos do professor.
— Você devia beber alguma coisa.
Nathan abriu a boca para recusar, mas uma xícara conjurada de chá foi colocada em suas mãos antes que pudesse. — Obrigado — disse automaticamente. Tomou alguns goles e se sentiu surpreendentemente melhor.
Seu pai deixou o corpo cair pesadamente no sofá e suspirou. Nathan o observou massagear os olhos com as pontas dos dedos e se sentiu mal por ter reagido daquele jeito. Sentou-se na ponta do sofá e esperou... olhando para a xícara e esperando, olhando para as botas do pai e esperando, olhando para as pedras escurecidas dentro da lareira e esperando...
— Por que você precisa daquela poção? — Ficou cansado de esperar.
— Vejo que finalmente está calmo — seu pai observou.
Entretanto, não era a resposta.
— Pai...
— Não é para meu uso, como eu já disse.
— Então é para quem?
— Para outra pessoa.
— Quem? — Nathan insistiu.
— Alguém que não sou eu — o homem disse secamente, olhando-o com um aviso no olhar.
— É para mim? — Nathan perguntou, mesmo achando que não era. — Porque eu sou outra pessoa, então pode ser para mim. Você quer que eu pare de sonhar porq...
— Pelo amor de Merlin, não é para você!
Parecia que tinha ido longe demais de novo, então ficou quieto, para esperar.
Mais controlado, seu pai começou:
— Eu mantenho essas poções em estoque para quando são necessárias. Eu sou o provedor das poções neste castelo, como tenho certeza que você já percebeu.
Nathan fez que sim com a cabeça. Claro que seu pai estava preparando a poção para o estoque da escola. Ele estava, não é? Sim, estava. Nathan tomou mais um gole de chá e deixou que ele o esquentasse. Assustou-se quando seu pai se levantou e desapareceu quarto adentro. Ele logo voltou, mas não para o sofá. Ao invés disso, ele se ocupou com alguma coisa na mesa, murmurando palavras que Nathan não conseguia decifrar de onde estava, e ele não se atreveu a sair do sofá.
Depois de algum tempo, as intenções de seu pai ficaram claras, mas Nathan ainda estava confuso. — Um tabuleiro de xadrez? — perguntou quando viu o que seu pai trazia consigo para a área de estar. Observou o homem limpar a mesa de canto e colocar o tabuleiro ali.
Seu pai estendeu uma mão para ele. — Se você já terminou...
Nathan lhe entregou a xícara, desconfiadamente observando as ações do pai. O homem sumiu com ela e depois se sentou na poltrona ao lado da mesa de canto.
— Escolha seu exército — o homem pediu.
~o0oOo0o~
Hermione bateu à porta de Severo e esperou ser atendida. Deixara Nathan com ele não mais que duas horas atrás, e embora eles tivessem passado mais que isso sozinhos antes, ela ainda estava um pouco apreensiva. Severo não estava agindo como ele mesmo este fim de semana.
Ela bateu novamente, e a porta se abriu sozinha. Empurrou-a e entrou, procurando por Severo e Nathan. A cena que a recebeu aqueceu seu coração e derreteu sua apreensão: pai e filho estavam debruçados sobre um tabuleiro de xadrez.
Hermione se aproximou em silêncio, não querendo quebrar o alto nível de concentração em que os jogadores pareciam estar envolvidos. Severo moveu o cavalo preto, que derrubou com estardalhaço um peão branco. Nathan assistiu a cena com a testa franzida, depois olhou para Severo com uma expressão de confusão e recebeu uma sobrancelha erguida como resposta. A atenção de Nathan voltou para o tabuleiro, mas Severo a observava. Ele parecia olhar para ela como se ela não pudesse vê-lo pelo modo como tinha a expressão aberta e um tanto distante. Ele olhava para ela quase que curiosamente, talvez desejoso, se ela não soubesse que não.
Hermione arriscou um sorriso, e Severo desviou o olhar para o tabuleiro quase que timidamente.
— Aceita uma bebida? Vinho, talvez? — ele perguntou às peças de xadrez.
— Vinho seria bom, obrigada — ela respondeu, e ele deixou Nathan com o jogo e foi atrás da bebida, voltando logo com duas taças de vinho tinto. Ela aceitou a que ele lhe ofereceu e tomou um gole, observando Severo fazer o mesmo, seus olhares se encontrando para uma conversa, embora ela não tivesse plena certeza do assunto. Um guerreiro gritou, e a conversa terminou antes que ela pudesse entendê-la. Severo retomou seu lugar na poltrona e assistiu o cavalo preto teatralmente dar seu último urro ao redor da espada do rei branco.
Nathan não tirara os olhos do tabuleiro.
Severo moveu um bispo preto três casas para a esquerda e proclamou:
— Xeque mate.
Nathan ainda correu os olhos sobre o tabuleiro, provavelmente tentando encontrar uma maneira de salvar seu rei, mas eventualmente admitiu a derrota e tombou o monarca branco. — Tomado por peões — lamentou.
— Nunca subestime os guerreiros silenciosos — Severo lhe disse, e Hermione sentiu a verdade de suas palavras lhe atingir o coração.
Ele saberia — pensou. Ele saberia...
— Podemos jogar mais uma? — Nathan perguntou esperançoso.
— Talvez uma outra hora — Severo respondeu. — Sua mãe está aqui, e acredito que esteja quase na hora do jantar.
— Podemos jogar depois do jantar, então.
— Nathan. — Ela teve que usar seu tom de aviso. Hermione sabia que Nathan tinha que estar excitado por compartilhar algo como xadrez com Severo, mas ele deveria saber que não devia ser inconveniente.
— Outro dia — Severo concordou.
Hermione fora atraída pela biblioteca de Severo enquanto eles guardavam o jogo. Ela nem notou a aproximação de Severo e ficou surpresa em encontrá-lo tão perto quando ele ofereceu:
— Mais vinho, Hermione?
O jeito como ele a tratou assustou Hermione um pouco. Ele estava sugando ela para ele novamente; ela estava achando tão difícil esquecê-lo, e ele a seduzia com vinho e seu nome dito em tons aveludados. Ela piscou e lhe deu as costas, recusando a oferta educada: — Não, obrigada. — Porque Hermione era mestre em transformar tudo que ele fazia com educação em paquera, e Severo não era bruxo de paquera, especialmente não com ela.
A noite passou estranhamente devagar depois daquilo. O fato de Hermione saber que tinha que lutar contra os charmes de Severo transformou o que seria um jantar extremamente agradável na companhia dele em um teste de sanidade. Cada vez que percebia que estava gostando um pouco demais da situação, ela se sentia mal e depois deslocada. Ele era amigável, tentando deixá-la confortável por causa do Nathan, e ela recebia seus sinais e os interpretava usando o código errado. Severo deve ter notado seu desconforto, porque encerrou a noite mais cedo, logo depois que a sobremesa fora servida.
— Vocês tiveram um dia cheio e devem estar cansados.
Hermione estava exausta quando finalmente deixou Nathan na Torre da Grifinória e foi para os seus aposentos. O jeito como Severo olhara para ela esta noite tornou quase impossível não mergulhar naqueles olhos e entregar seu coração. Ela estava extremamente cansada de dizer a si mesma que não era apreciada a cada vez que o bruxo parecia tão receptivo a seus comentários e idéias. Mais cedo, todos os olhares, e Hermione isso, Hermione aquilo... Deus deve estar provocando-a.
Hermione deixou a cabeça cair no encosto do sofá e fechou os olhos. Tão cansada...
Um tremor correu de sua orelha esquerda, por sua espinha, e ela prendeu o ar de repente, abrindo os olhos. Talvez não fosse apenas sua mente que estivesse cansada, mas seu corpo também. Preparar a base precisara de encantamentos complexos e precisão, e Hermione podia sentir sua magia pedindo descanso. Bem, por que lutar contra o cansaço quando o sono podia levar aos sonhos, e os sonhos ao...
Hermione suspirou com sua completa incapacidade de controlar seus pensamentos.
— Durma, Hermione. Acabe logo com esta tortura — resmungou enquanto ia para o quarto para se preparar para ir para a cama.
N. A.: E enquanto ela dorme… *rs* Tempos interessantes esses, não? ;0)
No próximo capítulo… Severo se vê vivendo uma vida dupla novamente, e Nathan está prestes a ser introduzido à sociedade bruxa.
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