O menino que sobreviveu duas v

O menino que sobreviveu duas v



Capítulo nove: O menino que sobreviveu duas vezes

O garoto andava até Cho, enquanto ela andava até ele, até que os dois se encontraram. Silêncio. Para Harry, parecia que haviam se passado dez minutos desde que haviam se encontrado ali, mas na verdade, o primeiro minuto ainda estava por se completar. Mas era um minuto longo, extenso, que se arrastava. Não pôde afastar o pensamento de que, talvez, se ele estivesse com outra pessoa—leia-se Gina—ele provavelmente nem teria percebido o minuto passar. Nem os seguintes. O fato é: quando você está perto de quem gosta, não sente o tempo passar. Não era assim?
—Harry, eu...—Começou Cho
—Cho...
De repente, os dois pararam. Pareciam ter se esquecido de como se faz para falar. Até que a garota recomeçou:
—Quando eu... te vi na loja, eu... percebi que, bem, eu me lembrei... você se lembra de quando saiamos juntos?
Harry assentiu com a cabeça, e sorriu. É claro que lembrava! Ela, na verdade, foi seu primeiro amor... mas por algum motivo não queria dizer isso a ela. Talvez porque sabia que ele não havia sido o primeiro amor dela. Ou então porque o “namoro” dos dois foi meio turbulento... quem sabe era porque ela provavelmente sabia... ou simplesmente fosse porque fazia, afinal, muito tempo.
A garota esperava que ele dissesse alguma coisa, mas diante do silencio dele, resolveu continuar:
—Eu percebi, bem... que não fui legal com você. Mas eu vim aqui porque... acho que fiz tudo errado. Eu era uma adolescente, e tinha um namoro feliz com Cedrico, quando de repente ele entra no torneio.. e todos sabíamos que era perigoso, mas sabe aquele tipo de coisa que nós sabemos que pode acontecer mas nunca pensamos que vai acontecer?
Harry concordou com a cabeça novamente, e desta vez tentou sorrir o melhor que pôde. Mas não conseguia evitar: apesar de já fazer bastante tempo não gostava de falar sobre a morte de Cedrico.
—Foi como a morte dele... eu fiquei chocada! Mas então eu comecei a me envolver com você, gostar de você... mas achava isso um insulto a memória de Cedrico, e... bem, achava que só deveria ficar com você se você fosse realmente... bom. Melhor que ele. Por isso as comparações...
Cho percebeu o desconforto de Harry, então logo emendou:
—Mas sei que estava errada! Eu brinquei com seus sentimentos, Harry... e sei que nada do que eu fizer vai servir como desculpa.
—Você não precisa.. er..—Harry sabia que ela estava errada, mas, por alguma rezão, não gostava de vê-la pedir desculpas a ele.
—Eu sei. Mas eu quero.—Cho disse, e sorriu amigavelmente—Harry, eu quero começar de novo. Como se estivéssemos nos conhecendo agora. Eu sou uma nova Cho. Esqueça a antiga. Conheça a nova.
Harry achou tudo aquilo muito estranho. Mas um estranho bom. Engraçado. Não pôde conter o riso, mas depois se envergonhou de ter rido, afinal, aquilo não era um momento para rir. Mas, para seu alívio, Cho entendeu a risada como uma coisa positiva, e então levou a mão para frente, como se quisesse cumprimentar Harry, e falou:
—Prazer. Meu nome é Cho Chang. E você?
Harry apertou sua mão. Ainda achava aquilo tudo estranho, mas continuava a sorrir. Resolveu entrar na brincadeira:
—O prazer é todo meu. Sou Harry Potter.
Fazia bastante tempo que não era apresentado, ou se apresentava a alguém. E mesmo sendo essa “apresentação” de brincadeira, ele não pôde deixar de lembrar do que as pessoas falavam logo após tomar consciência do seu nome, e realmente torceu para que Cho não encenasse aquilo. Mas...
—Oh! O famoso Harry Potter!
É, pode fazer bastante tempo, mas certas coisas não mudam nunca. Mesmo você desejando que elas mudem... Harry nunca mais será só Harry: o garoto de cabelos bagunçados. Ele será, pra sempre Harry Potter: o menino que sobreviveu. Duas vezes. Ele não gostou disso, pois realmente esperava que depois da batalha final perderia um pouco aquela imagem, perderia sua fama. Mas pelo visto o que havia acontecido quando ainda era um bebe, lhe renderia fama pelo resto da vida. Harry ficaria feliz com alguns quinze minutos de fama. Depois, esses quinze minutos acabaram se transformando em quinze anos... que não acabavam nunca. Cho pôde sentir o desconforto estampado no rosto de Harry.
—Oh, desculpa! Deve ser mesmo horrível lembrar...—Harry balançava a cabeça negativamente, como quem diz “não se preocupe”—Desculpa. Por Merlim, será que eu só consigo dizer coisas bobas?
Ela riu, esperando que o garoto a acompanhasse. Ela estava ficando visivelmente sem graça, assim Harry decidiu se juntar a ela, tentando fazer a risada menos falsa que conseguia.
—Harry, eu... eu preciso voltar para a loja... Até qualquer dia...—Despediu-se a menina, já virando-se para ir embora
—Até...
Harry olhava ela se afastar, e de repente, ele se sentiu culpado. Talvez estivesse sendo muito duro com ela, de certo modo. Lembrou-se de como, mesmo depois de passar muito tempo separados, era fácil conversar com Ron, apesar de ambos se sentirem pouco a vontade no início. Isso porque eles sempre foram grandes amigos. Em seguida, lembrou-se de como era fácil conversar com Cho também, quando ele estava no quinto ano, apesar de sentir um pouco de vergonha. Ele pensou que talvez pudesse ainda ser assim. Quem sabe? Ou pelo menos eles poderiam ser amigos. Talvez até como era com Hermione. Amigos. Essa palavra lhe confortara.
—Cho!—Foi a vez dele de chamá-la. Ela se virou quase que imediatamente, como se esperasse que o garoto a chamasse
—Sim?—Ela disse, sorrindo amigavelmente. Ele tentou sorrir também, mas estava nervoso.
—Eu estava pensando... será que gostaria de sair comigo um dia desses?
“Um dia desses?” ele pensou “Péssimo.”
—Claro!—A garota estava muito feliz, mas por algum motivo, tentava se conter. Ela não perguntou quando, nem para onde eles sairiam, como Harry esperava—e para não dizer, queria—que ela fizesse. Então o menino teve que tomar a iniciativa.
—Sábado está bom? Vo... cê prefere alguma coisa de dia... de noite... ou de tarde?
Responda que quer de tarde, pensou. Ele não sabia ao certo o motivo da preferência.
—Sábado está perfeito, a loja não funcionará! Quanto ao horário... acho que prefiro à tarde!
Ele se sentiu aliviado:
—Às quatro passo aí para te pegar, Ok?
—Não seria mais prático nos encontrarmos?
Harry refletiu. Por um lado, era um momento a menos de receio e vergonha iniciais de todo encontro. Mas pelo menos já chegariam no local de encontro menos tímidos... mas ele achou que ela tinha razão. Não queria contraria-la.
—Está certo. Estava pensando em irmos ao parque... quem sabe fazer um piquenique?
—Ótima idéia, Harry! Adoro piqueniques! Tenho certeza de que será uma tarde muito agradável! Vou fazer um bolo de laranja... e também um refresco! E bolinhos primavera, receita especial da família!
Ela sorriu, animada com a idéia. Dessa vez, Harry não pôde deixar de se contagiar. Imaginou que poderia ser, realmente, uma tarde aprazível.
—Então, até sábado!—Ele disse.
—Até sábado!—Ela ia dizer “mal posso esperar”, mas decidiu guardar isso para si. Talvez por causa de todo aquele papo de que as mulheres devem se fazer de difíceis um pouquinho. Ou simplesmente por que cansou-se de falar. Quem sabe?
Ela deu “tchausinho” ao garoto com um movimento de mão e se afastou. Harry se sentiu na obrigação de lhe retribuir o movimento, mas acabou por não o fazer. Talvez ela não esperasse que ele o retribua. E não esperava, mesmo, de modo que nem se incomodou. Harry a observava ir embora, até que se lembrou do que havia combinado com Ron, e seguiu seu próprio caminho, pensando na tarde de sábado.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.