Emoções à flor da pele



O som de saltos finos no corredor da seção dos aurores fez Vada Peterson erguer seus olhos da pilha de pergaminhos que estava a sua frente. Não foi a única pessoa a perceber o ruído inconfundível. Um bruxo que conversava com Tonks virou-se para trás, atento à porta do departamento. A qualquer minuto, ela iria se mover. Um cartaz anunciava de modo bem claro: entre sem bater. A maçaneta girou e um rosto bonito surgiu na fresta.

- Bom dia, aurores – disse uma voz jovial e cristalina.

- Como vai, senhorita Peterson?

- Oh, que cerimonioso, Murphy! A gente pode se tratar pelo primeiro nome – sorriu a moça de belos olhos verdes e cabeleira negra, entrando na sala e se dirigindo à dupla de aurores com a mão estendida. – Tudo bem, Tonks? Você esteve viajando, não é?!

- Irlanda. Mas foi alarme falso – respondeu a bruxa, que ajeitava os cabelos rosados com uma mão, enquanto na outra sustentava um copo de café. – Fiquei fora uma semana e é como se fosse um mês.

- É. Esta é uma semana de ausências. Ronald Weasley está fora e o Harry teve de dar um pulo na Alemanha ontem.

- Eu estive aqui o tempo todo – murmurou Murphy, com as pupilas fixas em Pinsky.

- O Harry, na Alemanha? O que ele foi fazer lá? – perguntou Tonks, derrubando café na roupa. – Oh, por Merlin, por que essas coisas sempre acontecem comigo?

- Limpium! – apressou-se Vada, que deixara sua mesa para dar um beijo na sobrinha. – Não sei o que se passou, Tonks, mas ele foi até o Ministério da Magia que, na verdade, estava procurando o Rony. Como vai, querida? Não ia cumprimentar sua tia?

- Claro que ia. O Harry ainda não chegou? Eu tive de passar no andar de cima e aproveitei para vir aqui e avisá-lo que, se puder, a ministra gostaria de falar com ele ainda nesta manhã. Hoje vai ser um dia cheio!

Estavam conversando ali, paradas, vendo os aurores chegarem. Subitamente a presença de um deles espantou a secretária.

- Rony?! Não está de licença?

Tonks sorriu largamente e abraçou o companheiro, dando-lhe os parabéns pela filha. “Não tive tempo de vê-la ainda, mas amanhã espero dar um pulinho na sua casa”, comentou. O ruivo abriu um sorriso ainda maior. Enchia-se de orgulho da sua nova família.

- Valeu, Tonks. Você precisa ver como ela é linda. Nasceu com os cabelos vermelhos. Olá, Pinsky. Oi, Vada. Eu realmente teria de voltar só na segunda, mas os planos mudaram. Cadê o Harry?

- Fiz a mesma pergunta – acrescentou a moça.

- Humm, veio atrás dele, é?

- Sim. A ministra quer trocar umas palavrinhas.

- Já tão cedo? Acho que esse é o recorde – brincou Rony, encaminhando-se para sua mesa e empurrando para um lado a pilha de mensagens que se acumularam naqueles dias.

- Ah, Rony. Ontem veio uma coruja para você do Ministério da Magia da Alemanha. O Harry foi para lá no seu lugar. Deve ter se demorado em Berlim e por isso ainda não chegou. Eu imagino – ponderou Vada.

- Sim, deve ser isso mesmo – palpitou a sobrinha.

- E foi. Eu estive no ministério também. O Harry me chamou em casa – esclareceu o auror, colocando as mãos atrás da cabeça e espichando os pés sobre a mesa.

- Você também foi para Berlim? Então a coisa foi quente. Vai demorar para contar do que se trata? – intrometeu-se Tonks, empurrando os pés de Rony de volta para o chão e arrumando um canto para se sentar na mesa do amigo.

- Ei, não posso botar os pés na minha mesa? – protestou. – Bom, vamos esperar o Harry. É melhor que ele conte.

Mal terminou a frase e a porta se abriu novamente, dando passagem a Harry e Sirius. Foi uma surpresa geral. Era a primeira vez do menino no departamento. Os olhos azuis do garoto brilhavam e seu rosto trazia a alegria estampada. Não foi necessário mais nada para conquistar os aurores. Choveram comentários, tapinhas nas costas de Harry, risos e ofertas de doces para o filho do chefe.

- Cara, você trouxe um auror novo para a seção? – tripudiou Rony, abrindo os braços para receber Sirius. – E aí, garotão? Cadê aquele abraço de dragão?

Sirius apertou o tio fortemente e deu dois soquinhos nas costas de Rony, uma brincadeira que ele tinha com o sobrinho e o filho.

- Quem é esse menino lindo, Harry? – derreteu-se Pinsky.

Ele não abriu a boca. Limitou-se a sorrir e puxar o filho gentilmente em direção à jovem.

- Olá. Meu nome é Sirius James Potter. Muito prazer. Como você se chama?

- Pinsky Peterson. O prazer é todo meu. Então, você é o filho do Harry?

- E da Gina Weasley – completou o menino, ajeitando a alça de sua mochila. – Você conhece a minha mãe? Ela também é auror.

- Sim – respondeu Pinsky, com uma cara séria. – Harry, não sabia que seu herdeiro era tão bonito. Quer dizer, tendo os pais que têm, certamente seria.

- Eu sou a Vada. Acho que já ouviu falar de mim.

- Já! Pai, qual é a sua mesa?

Sirius olhava para todos os lados, curioso em saber onde se sentava o bruxo.

- Ela fica na minha sala. Vamos pra lá...

- Ahn, Harry – cortou Pinsky. – A ministra gostaria de falar com você o mais rápido possível.

- Eu sei o nome da ministra. É Charlotte – interferiu Sirius.

- Hum, gosto de meninos espertos.

- Você tem de conhecer meu primo James. Ele é muito esperto. – emendou o garoto.

- Ok, Sirius, fique um pouco comigo e deixe seu pai conversar – chamou Rony, permitindo que Vada e sua sobrinha falassem com Harry com calma.

Sirius ajudou Rony a abrir as mensagens e jogar o que não interessava no lixo. Para a criança, aquilo era divertido. O auror, entretanto, prestava atenção à distância ao diálogo entre Harry e as duas mulheres. Pinsky se despediu em seguida e saiu da sala, atraindo os olhares de alguns bruxos. Quando Vada retornou a sua mesa, Rony se levantou e pediu um minutinho para o sobrinho. Harry terminava de pendurar a capa que ficara carregando nos braços enquanto falava com a secretária.

- Como foi com elas?

- Normal. Queriam saber o que aconteceu ontem. Escuta, por que veio hoje? Pensei que ia direto para a Alemanha cuidar da sua parte na missão.

Rony pegou um peso de papel da mesa do cunhado, que era de cristal e tinha no interior uma réplica de coruja branca. Deu uma sacudida para fazê-la voar.

- Eu imaginei que iriam te procurar logo de manhã. Não tão cedo, como aconteceu. Por isso, resolvi passar aqui e me oferecer para fazer um relatório prévio e te deixar livre para o resto das suas ocupações. Quer minha ajuda?

- Não precisa. Eu vou para a sala da Charlotte daqui a pouco e depois abro a investigação com o auxílio da Vada. Mas uma coisa em que você seria fantasticamente útil é cuidar do Sirius agora, enquanto eu estiver com a ministra.

- Isso me leva ao segundo fato que me fez vir correndo para sua sala. O que o Sirius está fazendo aqui?

Harry fez uma careta. Jogou-se em sua cadeira e encarou Rony com muita preocupação.

- Eu contei tudo para a Gina. Aquela história...

- Não! – exclamou Rony, boquiaberto.

- Sim - suspirou. – Ahnn, eu não sei exatamente o que está acontecendo. Ela ficou furiosa. Tão furiosa que não falou comigo. Era como se eu não existisse. Até jogou um feitiço silenciador sobre mim para não me ouvir mais. Foi... horrível.

- Não falou com você? Então, ela está morrendo de raiva. Capaz de não querer te ver nunca mais.

- Obrigado por trazer tanto conforto para mim – ironizou Harry. Ficou quieto por um segundo. – É exagero seu, não é?

- É mais uma maneira de me expressar. Você me conhece. E o que mais ela fez?

- Uma bolsa de viagem. Dispensou o Dobby e a Winky por hoje e deixou o Sirius por minha conta. Depois, sumiu. Não sei para onde. Talvez ela tenha ido para a Toca.

- Acho que não. Já vi a Gina brava assim uma vez. Brigou com o Fred ou com o Jorge. Sei lá qual dos dois. Ou pode ser que tenha brigado com ambos. Enfim, ela passou uma semana sem falar com eles. Minha mãe se meteu no meio para resolver a situação. E daí a Gina também ficou sem falar com ela. Mal saía do quarto. Cara, minha irmã às vezes é super geniosa. Bom, é por isso que eu calculo que não irá para a Toca. Minha mãe tentaria interferir. Entende?

Harry enfiou os dedos na cabeleira.

- Entendo. Agora sim estou bem tranqüilo – afirmou com sarcasmo. – Não sei o que esperar. Enquanto isso, preciso tomar conta do Sirius. Aliás, vou chamá-lo para conhecer minha sala e depois você fica com ele por alguns minutos, até eu voltar da reunião com a Charlotte. Err, se ele comentar qualquer coisa, lembre-se disso: a Gina brigou comigo porque eu não comi todo meu cereal. Foi isso que disse para ele.

- Uau, o que será que acontece se você não comer legumes? Tá bom, tá bom. Não me olhe assim. Traga logo o garoto...



*****


Assim que entrou no gabinete da ministra, Harry foi recebido com um sorriso caloroso. Pinsky quis falar sobre qualquer bobagem, mas ele a alertou que tinha pouco tempo. A jovem secretária mordeu o lábio e murmurou que avisaria Charlotte que ele tinha acabado de chegar. Num sofá, um funcionário do departamento de finanças pigarreou.

- Desculpe-me, mas o caso é realmente urgente. Mais alguns minutos e poderá apresentar sua pesquisa à ministra.

Embaraçado, Harry colocou a mão nos bolsos e desviou o rosto. Não gostava de receber tais privilégios. Quando fora nomeado subchefe, até achara graça em ser atendido na frente de algumas pessoas, especialmente dos chatos que costumavam bajular o poder. Aos poucos, porém, essa sensação foi substituída por um crescente mal estar. Quase nunca pedia uma conferência com Charlotte. Era invariavelmente ela quem o convocava. Pinsky surgiu e o convidou a entrar na sala espaçosa e repleta de flores. Aqui e ali, vasos com diferentes espécies enfeitavam o ambiente. Numa poltrona de couro, havia uma almofada de estampa florida sobre a qual descansava um cão minúsculo que levaria uma surra de Bichento, caso o gato de Hermione não estivesse muito velho.

- Como vai, madame Jones? – cumprimentou o bruxo.

- Você sempre muito educado. Já te disse que te dou o direito de me chamar de Charlotte quando estivermos na companhia de gente confiável. Estou ótima. E você?

- Pensei em te encaminhar mais tarde um relatório a respeito do que fiz ontem à noite, mas posso fazer um ao vivo.

- Sim, sim, rapaz. Estranhei bastante essa viagem. Mandei perguntar a Vada do que se tratava. Por Merlin, por que não enviou o Weasley para isso? A carta originalmente estava destinada para ele.

- Tinha meus motivos.

E gastou meia hora para explicar tudo o que ocorrera. Ao final, Charlotte se ergueu de sua cadeira e deu alguns passos pela sala.

- Diga-me: o que achou do ministro alemão?

- Nada demais. Para ser sincero, não gostei apenas do chefe dos aurores. Dos demais, não tenho muito a dizer.

- Ele é um homem muito jovem para ser ministro. É solteiro e... farrista! Não me surpreenderia se não estivesse endividado. Alguém de posse dessa arca pode negociá-la com qualquer mercador ilegal e faturar um bom dinheiro.

- Ele não me pareceu “farrista”. Como sabe disso?

- Harry, eu era encarregada das relações exteriores antes de virar ministra. Conheço todo mundo!

- Ok – respondeu, sem vontade de continuar. Raciocinava que o “conhecimento” de Charlotte não se devia exclusivamente a essa experiência. Lembrou-se das fichas irritantes a que se referira Binder. – Tenho de ir. Preciso abrir a investigação e retornar para a Alemanha para fazer umas perguntas.

- Deixe isso com Tonks!

- Ela acabou de voltar da Irlanda. E, Charlotte, eu realmente estou interessado em trabalhar nesta missão.

- Você é chefe dos aurores. Se mergulhar numa missão, como dará conta de suas outras tarefas?

- Confie em mim – disse, categórico. E já ia se levantando quando ouviu um comentário que o atiçou.

- Se você quiser, pode ir à recepção que farei a uma comitiva de bruxos americanos que está chegando esta noite. Para minha grande satisfação, virá o próprio ministro. Ele me enviou uma coruja agora há pouco, avisando-me. Encomendei um belo jantar.

- Não é para essa recepção que você convocou a Gina?

- Sua mulher? Oh, sim. Gosto muito de tê-la presente. É uma auror discreta. Nunca se ouve a voz dela. É incrível – sorriu. - Mas ela tem um ar determinado tão marcante que dá sensação de segurança. Em geral, a Gina vai para ocasiões mais formais. Como desta vez é um jantarzinho, pedi para que ela viesse com uma roupa sem a cara de evento oficial. O que ela vai usar?

- Não sei – e completou rapidamente, antes que Charlotte fizesse mais perguntas. – É surpresa. Err, posso mesmo dar um pulo lá?

- Evidente que sim, Harry. Eles vão adorar conhecer o bruxo que derrotou Você-Sabe-Quem – encerrou, entregando para o auror um pequeno pergaminho onde se lia o endereço da residência da ministra.

- Perfeito. Estarei lá.

Harry despediu-se com um movimento da cabeça. Guardou o papel nas vestes e saiu com a esperança de, ao reencontrar mais tarde com Gina, poder falar com ela. “Tomara que a raiva tenha passado”, pensou.



*****



À beira de um lago, uma figura vestida de negro da cabeça aos pés mirava com obsessão uma caixa aberta. Nada enxergava em seu interior. Seus dedos magros pressentiam que a arca estava lá. Entretanto, não conseguiam tocá-la. Já tentara fazer o objeto ressurgir. Utilizara diversos feitiços. O último deles acabara de fracassar. Um frêmito de fúria escapou de sua garganta.

- É melhor ir atrás do bruxo que protegeu a arca – disse uma voz feminina, às suas costas.

Era uma mulher de aspecto gélido. Os cabelos tão louros que pareciam brancos se confundiam com as vestes alvas. O rosto pálido, no qual se destacavam olhos azuis cristalinos, permaneceu impassível diante da figura que era seu oposto.

- Não quero perder mais tempo.

A resposta soou áspera. Porém, no fundo, o ladrão da arca já sabia. Teria de procurar o rapaz de cabelos vermelhos para arrancar dele o segredo que revelaria a arca. Rilhou os dentes. Não queria atrair atenção. Seu plano não podia ser descoberto. Não até que pudesse tirar proveito da pedra filosofal que estava escondida no baú que pertencera à Ordem dos Inseparáveis. Assim que a tivesse nas mãos, então, partiria para seu objetivo principal. Sorriu. Mesmo que viessem em seu encalço teria condições de criar obstáculos com os quais jamais os aurores tinham sonhado. Afinal, ninguém estava preparado para o desafio. “Ninguém, exceto eu”, murmurou.

- Mas você está certa. Terei de fazer uma viagem a Londres. Já sabe como posso localizar esse bruxo?

Os olhos azuis da mulher brilharam.

- Ja. Sou tão convincente que arranjo todas as informações de que necessito. Vamos sair daqui.

Após essa afirmação, ela bateu com sua varinha na caixa e a ergueu no ar, fazendo com que ela a acompanhasse numa trilha que mal se via no bosque que circundava o lago. A mulher de branco embrenhou-se na mata e foi seguida pela sombra negra que ansiava pela revelação da arca.



*****


- Não, não! Sirius, não mexa aí – disse Harry, assim que ergueu seus olhos do último relatório do dia que recebera dos aurores.

O menino abrira um armário e puxava o bolso de uma capa para colocar ali alguns desenhos que fizera. Murphy, que estava discutindo o relatório com o chefe, deu uma risadinha ao notar que o garoto a derrubara.

- Mas é que eu quero guardar os desenhos de dragão que eu fiz, pai.

- Só que não foi essa a capa que eu trouxe. Ela está pendurada ali, olha – e apontou um mancebo num canto da parede.

- Essa não é a sua capa de invisibilidade, chefe? – perguntou o auror.

- Hammm, posso ver, pai?

- Outra hora, Sirius. Um dia eu levo para a casa. Agora estou ocupado. Espere-me na mesa do Rony. Seu tio está fora mesmo.

Sirius fez um biquinho, porém obedeceu ao pai. Estava deixando a sala quando viu que o tio retornara na companhia de um homem de olhos avermelhados. Ambos caminhavam para o lugar onde estava. E Vada veio à frente, quase atropelando o menino.

- Cuidado, Sirius – disparou, empurrando o garoto para fora da sala. – Harry, este senhor...

Harry se ergueu da cadeira. Murphy, sem entender o que se passava, também se levantou.

- Oi, Rony. Como vai, Binder? Deixe, Vada. Eu conheço esse senhor. Murphy, pode me dar licença?

A secretária soltou um muxoxo, desaprovando a maneira como Binder se portava, olhando tudo com curiosidade. Ficou tão aborrecida que não notou que Sirius retornou na hora em que Murphy saiu. O garoto correu a se esconder no armário.

- Aqui é muito diferente da minha sala – observou Binder. – Minha mesa é menor, mas tem bem menos papéis sobre ela.

- O que mais te trouxe aqui, Binder, além da necessidade de comentar minha sala?

- Vim me queixar, ora! Pensei que, por uma questão de delicadeza, vocês iriam chamar um auror alemão sempre que fossem interrogar gente da minha terra. E não foi isso que aconteceu.

- Nós combinamos ontem à noite que eu iria até a família do ministro Hambúrguer – interrompeu Rony.

- Herr Hamburg! – rosnou Binder. – Sim, isso foi combinado. Mas estava implícito que nós participaríamos da investigação.

Harry apertou os lábios. Fazia sentido, mas isso lhe escapara inteiramente. Olhou para Rony, que fingia vomitar. Binder não viu o que o auror ruivo fazia e se limitou a puxar um cachimbo das vestes. “E então?”, perguntou, soltando baforadas e empesteando a sala.

- Ok. Vamos proceder dessa maneira na próxima vez. Aliás, eu teria de procurar a família de Dietrich, só que tive alguns contratempos hoje. Então, quem sabe amanhã eu vá a Berlim. Tem idéia de quem pode me auxiliar? – perguntou, esforçando-se para ser gentil, embora se irritasse com a fumaceira.

O cheiro do cachimbo desagradou Sirius. O menino resolveu pegar a capa de invisibilidade, que ainda estava no lugar onde derrubara, e sumir debaixo dela para sair da sala sem que o percebessem. Tinha consciência que seu pai ficaria bravo em vê-lo ali. Cobriu-se e esperou uma ocasião para poder abrir a porta e escapulir de fininho.

- Qualquer um pode te auxiliar. Nosso time de aurores é excepcional. Nosso teste de aprovação é o mais duro da Europa. Por isso, contamos com os melhores!

- Que bom, Binder – replicou Harry, sem sorrir. – Espero que não tenham massacrado nenhum candidato. Talvez sejamos menos rigorosos do que vocês, mas também contamos com os melhores.

- É. Temos algumas diferenças – disse Binder, soltando mais outra baforada. – Nossas regras, por exemplo, não permitem certas... aberrações. Diga-me: vocês contratariam também lobisomens?

- O quê? – estranhou Harry.

Rony se retesou, ruborizado. As narinas dilatadas denunciavam sua raiva.

- Acredito que não. Ter lobisomens é demais – desdenhou o alemão. – Mas ter metamorfomagos na seção não é algo recomendável. Aquela Tonks é metamorfomaga. Eu descobri quando chegamos. Ela estava deixando o ministério e eu a vi espirrar. Os cabelos dela mudaram de cor e o nariz cresceu.

- Desculpe. Mas ainda não captei o ponto.

- Nessas horas é que a gente se lembra que você foi criado por trouxas. Para muitos bruxos, metamorfomagos são aberrações.

Sirius se assustou com aquilo. Em seu entender, aberrações eram monstros. Criaturas terríveis que viviam nas histórias que Dobby contava para ele às escondidas. O menino gostava dessas narrativas, porém naquele momento seu coração se apertou. Achavam que ele era metamorfomago. Isso queria dizer que era um monstro?

Em sua mesa, Harry cerrou os maxilares. Aquilo era uma afronta a Tonks e a seu filho.

- E você está entre esses bruxos, Binder? – perguntou com a voz sufocada pela ira.

- Não tenho receio de metamorfomagos. Só que conheço um caso que mostra que é preciso muito cuidado com eles. Depois dessa história, tenho de concordar. Não se pode confiar inteiramente neles. A facilidade que têm em se modificar predispõem essa gente à mentira, à fraude, à traição. Um dia, são seus amigos. No outro, cortam sua garganta!

O menino tremeu um pouco. Não queria cortar a garganta de ninguém.

- Um caso? Sua convicção se baseia num único caso? – insistiu Harry, contendo a fúria.

- Eu vi o caso de perto. E foi o inferno. Era uma metamorfomaga que acabou com a vida de uma boa mulher! Essa monstruosidade traiu a própria mãe.

Ao ouvir isso, os olhos de Sirius ficaram amarelos. Estava chocado. Rony também estava, só que de outra forma. Foi até a porta e a escancarou com violência.

- Harry, tenho algo muito importante para fazer agora: respirar ar puro! – disse, nervoso.

Sirius esgueirou-se pela parede e se retirou protegido pela invisibilidade. Não ouviu a seqüência da conversa.

- Não, Rony, quem vai sair daqui é herr Binder – e virou-se para o alemão. – Monstruosidade é o senhor quem comete com esse preconceito estúpido.

- Não quis dizer que sua agente é dessa laia, Potter. Se ela te inspira confiança, que seja! Mas é prudente manter os olhos bem abertos.

- Sim. É isso que estou fazendo neste exato momento! – vociferou, fuzilando Binder com os olhos.

- Por Merlin, você ficou zangado de verdade – riu Binder, tentando encontrar apoio em Rony. Entretanto, viu-se diante de um rosto tão carrancudo quanto o de Harry. – Ah, você também...

- O senhor ofendeu uma grande amiga nossa e também me ofendeu. Meu filho é metamorfomago – prosseguiu, entre dentes. - Só não o expulso daqui a pontapés pela consideração que tenho pelo seu ministro. Por isso, acho bom o senhor partir já, herr Binder. Não é mais bem-vindo à minha sala.

Binder não teve alternativa. Afastou-se em silêncio. Harry e Rony fecharam a porta e gastaram longos minutos xingando o auror com nomes feios. Enquanto isso, Sirius se trancou num banheiro, completamente apavorado com a idéia de que poderia se transformar numa criatura capaz de ferir sua mãe. Subitamente, ouviu pancadas à porta.

- Sirius, você está aí? – berrou Vada, do outro lado.

O menino abriu a porta no mesmo segundo. Queria mostrar que era um bom garoto.

- Tô, sim – murmurou, timidamente.

Vada se surpreendeu.

- Menino, o que você fez? Que olhos amarelos são esses?! E o seu cabelo?

- O que é que tem? – gritou, querendo esconder a cabeça com as mãos.

- Estão compridos! Dá para fazer um rabo de cavalo.

- Conserta pra mim – pediu Sirius. – Eu não sei o que eu fiz.

- Vou chamar o seu pai, que é melhor.

- Não. Ele não vai gostar – choramingou.

Ele ficou cabisbaixo e grossas lágrimas escorreram pelo rosto. Vada se apiedou. Ajeitou os cabelos do garoto e, sem conseguir alterar a cor dos olhos, convidou o menino a fazer um lanche fora dali. “Vamos dar um tempo, Sirius. Daqui a pouco, tudo vai voltar ao normal”, respondeu. A bruxa o pegou pela mão e avisou um dos aurores que estava levando o menino para comer algo.



*****


Gina Weasley estava parada junto a uma das janelas da sala principal da casa da ministra. Pontual, apresentara-se no momento em que o chefe da guarda, de posse da lista dos funcionários que fariam a segurança do jantar, pronunciara seu nome.

- Oh, que beleza, Gina. Você está no horário. Wow, que beleza mesmo – brincou ao analisar a roupa da auror, um conjunto de saia preta, camisa branca e jaqueta preta que moldava seu corpo com elegância.

- Mais uma palavra nesse sentido e nunca mais trabalharei para vocês – respondeu a ruiva, secamente.

- Humm, você está naqueles dias ou é uma crise de enxaqueca? Sabe, temos poções para isso...

- Ótimo. Faça uso quando você estiver naqueles dias. Vou me postar perto da janela maior – e se afastou sem dar chance de o chefe da guarda fazer outra gracinha.

Aos poucos, os convidados foram chegando. Primeiro surgiram funcionários do ministério americano. Em seguida, apareceu um pequeno grupo no qual se destacava o ministro, Thomas Mitchell. Gina lançou um rápido olhar para a comitiva e voltou a se concentrar num ponto neutro da parede. Sua mente estava ocupada demais para se interessar pelas pessoas. Passara o dia sem comer e mirando uma teia de aranha que crescia no teto de um quarto simplório no Caldeirão Furado. Seu coração já não estava mais tão carregado de fúria. Em seu lugar, ficara um grande vazio. Chorara um bocado à tarde. E quase retornara para casa no desespero de rever Sirius. Mas se controlara. Não queria ver Harry tão cedo. Seus lábios estremeceram, dividida entre a decepção e a raiva.

- Em que planeta você está, Gina Weasley?

A ruiva se assombrou. Draco Malfoy estava ali, segurando um copo de uísque e vestindo um terno escuro e camisa azul sem gravata.

- O que você está fazendo? – prosseguiu.

- Estou trabalhando. Fui designada para ser a auror que reforça a equipe de segurança da ministra em ocasiões como esta.

- Não sabia que éramos assim tão perigosos.

- Não sou eu quem determina este reforço – respondeu, amuada.

- Hummm, senti uma ponta de crítica.

Gina deu de ombros. Mas voltou a olhá-lo.

- E o que você está fazendo? O jantar é para uma comitiva de americanos. E até onde sei, você é inglês. Nacionalizou-se?

- Jamais – murmurou. – Acontece que este grupo é formado por gente do ministério e alguns bruxos considerados influentes. Fui convidado a me juntar a eles porque tenho feito muitos negócios por lá, estou aumentando minha fortuna... e isso é sempre bom aos olhos de um americano... e porque sou inglês. Eles queriam uma espécie de guia - riu. – Conta também o fato de ter virado amigo da família do Mitch.

- Mitch? É desse jeito que você chama o ministro?

- Eu e mais todos os bruxos americanos. Ele é conhecido desse jeito. Não é um homem muito formal. Olhe, a filha dele vem vindo para cá.

Uma moça de cabelos loiros e lisos se aproximou.

- Draco! Fiquei te procurando.

- Estava conversando com minha amiga Gina Weasley. Gina, quero te apresentar Nicole Mitchell, a filha do ministro.

- Prazer. Você é parente da Charlotte?

Gina suspeitou que no fundo a jovem quisesse perguntar a razão de ela estar ali, na casa da ministra da magia. Talvez sua figura, afinal, não estivesse tão elegante assim.

- Não. Estou aqui cumprindo minhas funções de auror.

- Auror? Que engraçado! Achei que aurores fossem velhos, meio gordos e carecas. Em casa, a gente só vê auror com essa aparência – riu, exibindo dentes perfeitamente alinhados. – Deve ser porque eles não fazem praticamente nada, não é?! Desde que Você-Sabe-Quem sumiu da face da Terra, não há nada realmente preocupante...

- Bem, não é tão simples – observou Gina. – Ainda há perigos por aí. Dementadores, bruxos das trevas...

- Sério?! Então, que sorte a sua estar aqui. Oh, por Merlin, não gostaria que ninguém na minha família fosse auror. Felizmente, a nossa tradição é ter um ministro da magia. Meu pai é. Meu avó foi. E um tio-avô também. Está vendo, Draco, querido?! Você se dá com gente de estirpe – sorriu, agarrando o rapaz pelo braço. – Vamos voltar para o coquetel. Logo vão nos chamar para a mesa.

- Vou num minuto. Aguarde-me, por favor.

Nicole tirou o sorriso do rosto por um segundo. Mas recuperou rapidamente o ar radiante e se afastou.

- É a sua namorada?

- Suspeito que ela queira ser. Só que no momento ando ocupado demais para pensar nisso.

- Certo. Muitas viagens no veleiro, presumo.

- Na verdade, estive procurando uma casa em Londres. Decidi ter um lugar aqui de novo.

- Ah, é?! Nem vou perguntar o motivo.

- Se perguntasse eu responderia – provocou. Mas Gina não se alterou. – Já que você falou no meu veleiro, vamos continuar no tema náutico. Quero ter um porto seguro. Acho que chegou a hora de lançar âncora e sossegar. Viajei demais.

- Que ótimo, Draco. Espero que a filha do ministro não se importe de ter de viver em Londres. Ela parece ser muito americana.

- E Nicole é realmente americana até a raiz dos cabelos. Ela sente orgulho da sua terra. Especialmente do lugar ensolarado de onde veio. Mitch é meu vizinho em Key West.

- Flórida?! Nossa, será uma mudança e tanto para ela.

- Gina, quem disse que Nicole vai se mudar para cá? – perguntou, depois de sorver o último gole de uísque. – Não é ela que imagino como... “timoneira” da minha vida.

- Draco, ela está fazendo um sinal para você - interrompeu. – Creio que quer te contar algo. Ande. Não se deixa uma moça como ela esperando...

O rapaz agradeceu baixinho pela conversa e voltou ao grupo. Gina aprumou o corpo. Não conseguia afastar a sensação de desconforto que tivera ao reencontrar o ex-namorado.



*****


Pinsky conversava com o chefe da guarda quando viu Harry aparatar na entrada da casa da ministra. Seus olhos verdes piscaram. Ajeitou o cabelo antes de falar com ele.

- Você veio! A ministra comentou que te chamou, mas nós não sabíamos se você iria aparecer. Isso nunca aconteceu nas outras recepções.

- Ahnn, é que eu não sou um sujeito que se dá bem em eventos sociais. Bailes, recepções... sou um fiasco. Err, cadê a Gina?

- Ela está fazendo a última ronda. Não tem nada de errado, só que você sabe. É de praxe verificar o jardim antes de os convidados partirem. Ah, Harry, você chegou no final da festa! Eles já estão no café.

- Queria ter chegado antes. Mas o Sirius estava inquieto. Quero falar com a Gina sobre isso. Ele não queria dormir. Ficou agarrado em mim um tempão. Não sei o que houve. Acho que vou procurar minha mulher agora.
Tentou sair, porém Pinsky o segurou pela mão. Com a cabeça, apontou a sala de jantar, de onde saiam algumas pessoas.

- Não agora. Fale primeiro com a ministra. Vê. Parte dos convidados vai tomar café na sala de estar. Outros, como o ministro, terão uma conversa mais privada. Você tem de participar também. Tenho certeza que é isso que Charlotte quer. A Gina logo vai retornar e eu aviso que você está aqui. Além do mais, vocês podem discutir em casa o que houve com Sirius!

Harry não teve o que contestar. Não diria que, por acaso, Gina não estava falando com ele e que, por sinal, também não estava em casa. Seguiu Pinsky que o introduziu na sala de jantar. Mal entrou, Charlotte chamou a atenção dos convidados para a presença do chefe da seção de aurores. Ao dizer seu nome, os bruxos americanos se viraram em sua direção, o que o embaraçou um pouco. Abaixou os olhos. A ministra fez surgir uma cadeira perto dela e insistiu para que tomasse um café com eles. Sua vontade era sair correndo e encontrar Gina. No entanto, caminhou até a cadeira, imaginando-se um condenado dirigindo-se à guilhotina. Uma xícara a sua frente se encheu de café perfumado. Um prato cobriu-se de biscoitinhos. Não pegou nenhum. Sentia que continuava na mira das pessoas, sendo estudado. Vieram perguntas. Ele as respondeu com frases curtas. Muitas vezes, Charlotte completava suas sentenças. “Vão achar que sou antipático. Ou tapado. Ah, dane-se”, disse para si. Mas uma pergunta o assombrou.

- Você estudou em Hogwarts na mesma época de Draco Malfoy, não é?!

- Sim, ministro – respondeu, erguendo as sobrancelhas. – O senhor o conhece?

- Ele é meu amigo. Somos vizinhos em Key West. Quer dizer, desde que virei ministro não passo muito tempo lá, mas sempre que pinta uma brecha faço questão de ficar em casa. Tenho um bom barco. E ele também. É nosso hobby!

- Certo – afirmou, querendo encerrar o assunto.

- É um grande sujeito. Tem tino para os negócios. Fez crescer sua fortuna como se tivesse usado a poção Agigantum – riu. – Não sei se eu seria capaz de fazer uma, já que ela é muito complicada. Só que, pelo que Draco conta, ele se dava bem nas aulas de Poções.

- É verdade. O professor gostava muito dele – replicou com uma pitada de ironia.

Nesse instante, uma moça loura surgiu na sala pedindo desculpas por atrapalhar. Entrou sorridente e deu um beijo no rosto do ministro.

- Pai, nós, a ala jovem... – e deu um risinho, forçando o tom de pilhéria -... vamos dar uma saída. Queremos conhecer a casa nova do Draco. Ele nos convidou...

Harry se mexeu na cadeira. “Casa nova?! Será que o cara-de-fuinha está voltando para Londres?! Hmpf. É claro que o Draco tentaria virar amigo dos poderosos”, comentou para seus botões. “Babaca!”

- Você nos perdoa, não é, Charlotte?! Eu sabia. Você compreende os jovens porque tem a mente jovem – brincou.

Foi só então que reparou na presença de Harry. Apresentou-se. Ele retribuiu a gentileza, declinando somente seu primeiro nome.

- Essa modéstia dele às vezes me irrita – cortou Charlotte. – Nicole, ele é o Harry Potter, nosso chefe dos aurores. Não sei por que não se identifica como o bruxo que todos sabem que venceu Aquele-que-não-deve-ser-nomeado.

Os olhos castanhos de Nicole se arregalaram.

- Engraçado! Eu disse esta noite que imaginava os aurores como bruxos meio velhos, um pouco gordos e carecas. Você é o extremo oposto disso. Eu nem me lembro quando vi sua foto pela última vez. Mas não devia ser uma foto muito boa. Você realmente impressiona. Faz boa figura.

- Obrigado – agradeceu. Em seu íntimo, entretanto, se aborreceu com a garota. E não era porque pintara na cabeça os aurores como velhos, gordos e carecas. Mas sim porque demonstrara não se interessar nem um pouco por essa categoria de bruxos.

- Ei, quer se juntar à “ala jovem” e dar um passeio?

- Sinto muito – mentiu Harry. – O chefe dos aurores sempre fica ao lado da ministra.

- Que pena! Bom, voltamos mais tarde. Até já combinei, Charlotte, com a sua secretária a presença de um segurança. Tenho de ir! Draco está esperando pela gente no jardim.

- O quê?! Draco está AQUI?

O ministro americano fez um gesto de pesar.

- Que lapso o meu! Desculpe, Harry. Falei do Draco e nem comentei que ele veio conosco. Nós o convidamos porque, como inglês, poderia nos levar a lugares interessantes nas nossas raras horas de folga. Afinal, esta é a terra dele. Draco está sendo excelente companhia para minha filha, não é, Nicole?

- Uhum! Agora, vou. Até.

Harry desejou sair também. Mas tinha acabado de recusar o convite para se juntar ao grupo. Ficou quieto o tempo todo, angustiado com a presença do rival. “Não acredito! Ele, de novo! E justo quando a Gina brigou comigo!” O destino estava sendo cruel com ele.



*****


Gina tinha dado uma volta completa pelo jardim. Se alguma vez sentira tédio num dos eventos sociais da ministra, agora tinha certeza que tinha sido fichinha perto daquele. Prometeu-se não aceitar mais nenhum do gênero. Principalmente naquele momento em que avaliava os rumos de sua vida. De um modo geral, até então tinha sido feliz. Tinha uma bela família e amava seu marido. Torceu o nariz nesse instante. Continuava amando Harry, só que estava tão irritada que lembrar dele dava-lhe vontade de sair quebrando coisas. Ainda não entendia por que tinha feito aquilo com ela. De repente recordou-se de Hermione dizendo que Harry e Rony podiam ser ótimos, mas que não eram bons para perceber sutilezas femininas. “Ou nós somos claras ou eles não vão perceber nada daquilo que a gente insiste em dar pistas”. Podia ouvir a cunhada falando isso. Suspirou.

- Você continua fora do planeta.

- É impressão minha ou você veio atrás de mim, Draco?

- Eu não poderia simplesmente querer dar uma olhada no jardim?

- Se você diz, fique à vontade – disse, encaminhando-se para a casa.

- Espere...

Draco assobiou levemente enquanto observava uma flor aqui, um arbusto acolá.

- Pronto – continuou. – Já olhei. Vim te convidar para dar um pulo na minha casa.

Gina fez uma cara intrigada.

- Não! Quer dizer, eu vim te convidar, mas também estou convidando algumas pessoas que estão hospedadas aqui, na mansão da ministra. É que Nicole manifestou interesse de ver minha casa. E ela queria ver agora. Então, pensei que, em nome da nossa amizade, poderia te mostrar o lugar que escolhi para “lançar a âncora”.

- Ah! – exclamou a mulher. – Em nome da nossa amizade, acho melhor não. Sabe, não convém...

- Ninguém sabe da nossa história, Gina. O Profeta Diário, por exemplo, nunca nos citou.

- Evidente! – replicou, vermelha. – Eu nunca “citei” coisa alguma! Muito menos o Harry.

- Nem eu – falou sem jeito. – Nem no passado. Quando nós estávamos juntos não saiam notinhas a meu respeito...

- É. Você tinha gente a quem pedir esse tipo de favor – respondeu de chofre.

- Minha mãe pedia – explicou.

A lembrança de Narcisa Malfoy entre eles surtiu um efeito inesperado. Draco empalideceu. Gina notou-lhe os olhos tristes.

- Ah, eu... – começou a auror, buscando algo para dizer.

- Eu lamento... Toda a vez que penso nisso, fico mal – sorriu nervosamente. – Gostaria de te compensar de alguma forma. Só não sei como...

Gina endireitou o corpo. Tirou a jaqueta e a segurou nas mãos.

- Err, se tiver uma xícara de chá, bom, uma xícara de chá não fará mal. Meu trabalho já terminou. Essa foi minha última ronda. Se vão mesmo todos até sua casa...

- São cinco pessoas. Seis com você. Então, aceita meu convite?

Ela balançou a cabeça. Draco pediu que esperasse ali um minuto que voltaria com o grupo e de lá todos aparatariam para sua casa. Gina viu o chefe da guarda e comunicou que estava de partida. O bruxo, ao saber que a auror partiria com a pequena comitiva, perguntou-lhe se ela poderia prestar o serviço de segurança. Era um abuso, mas ela não se incomodou. “Eu só quero uma boa xícara de chá para encerrar este dia”, justificou-se. Quando Nicole se deparou com ela, a moça loira apresentou outro de seus sorrisos. No entanto, não ficou satisfeita. Sentira que Draco dava muita atenção a auror.

Enquanto isso, Harry pedia licença para ir ao banheiro. Estava doido para rever sua mulher. Enxergou Pinsky anotando algo que um bruxo americano estava ditando. Dirigiu-se até ela em busca de informações. Antes de se aproximar, entretanto, vislumbrou Draco Malfoy se encaminhando para a saída. Partiria em seu encalço se o mesmo bruxo que ocupara a atenção de Pinsky não o tivesse chamado.

- Harry Potter! Puxa, sempre quis te conhecer, meu rapaz.

- Oh! Ah! E-eu preciso... – gaguejou, procurando se desvencilhar.

- Harry, sua mulher! Não esqueci dela, não. Mas é que a Gina ainda não voltou do jardim – emendou Pinsky.

O chefe da guarda, que vinha do jardim, meteu-se na conversa.

- Olá, senhor Potter. Ela não voltará. Foi até a casa do senhor Malfoy junto com o grupo da senhorita Mitchell. Acabaram de desaparatar. O senhor Malfoy, que é um cavalheiro, a convidou a conhecer sua nova moradia e eu aproveitei para pedir que fizesse a segurança do grupo. Fiz bem, senhor?

Harry não respondeu. Tinha a impressão que não conseguia mover um músculo sequer. Estava atônito.


















Oh-ho! Capítulo longo!!! Bom, optei por escrever um texto grande assim porque nesta segunda-feira retomo aquela rotina: tempo escasso, correria, olho no relógio, compromissos mil. Ou seja, terei menos condições de escrever a fic. Vou tentar postar um capítulo novo a cada domingo. Vamos ver se vai dar certo. Bjs. K.

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