A falta que faz uma penseira
Uma mulher de cabelos louros tão claros que pareciam brancos se distraía com as páginas de fofoca de uma revista bruxa alemã quando o som de alguém aparatando a fez erguer a cabeça. Viu um homem jovem de cabelos escuros ligeiramente desalinhados ajeitar os óculos sobre o nariz. Isso a fez deduzir que o visitante fizera uma viagem longa. Os óculos deveriam ter escorregado com o deslocamento. Ele arrumou a capa antes de se dirigir até a mulher, que continuava com a revista aberta, aparentemente sem maior interesse em sua figura.
- Olá. Eu gostaria de ver o chefe da seção de aurores – começou num alemão sofrível. – Estou vindo de Londres. Do Ministério da Magia.
- Pode falar no seu idioma, se preferir – afirmou a mulher com um inglês correto. – Mas devo alertar o senhor que nosso horário de funcionamento já se encerrou.
Harry olhou para o relógio da portaria do Ministério de Magia da Alemanha. O ponteiro indicava que faltava um minuto para as seis horas.
- Ainda tem um minuto. E o que tenho a tratar é urgente. Veja, este pergaminho mostra que herr Binder aguarda um retorno “o mais rápido possível”.
A mulher pegou o papel em suas mãos. Viu que era, de fato, a assinatura do chefe dos aurores e lançou um olhar perscrutador sobre o visitante. Súbito, deu-se conta de que conhecia o homem diante dela. Ao menos, pelas fotografias.
- Aqui diz “Ronald Weasley”. E o senhor não é Ronald Weasley – murmurou num tom bestificado. – O senhor... o senhor é... Harry Potter?!
O bruxo balançou a cabeça. Às vezes se sentia incomodado em ser reconhecido tão facilmente. Naquela hora, porém, aquilo lhe vinha bem a calhar.
- Sou, sim. Venho em nome do senhor Weasley. Sou chefe dos aurores do Reino Unido. Pode liberar meu acesso agora?
- Entenda, não é por mim, senhor Potter. Tenho de seguir regras – e dizendo isso, puxou um pergaminho de uma pasta sobre a escrivaninha onde ainda repousava a revista. A mulher loura bateu com varinha sobre o papel, que se cobriu de letras. Em seguida, um carimbo se materializou do nada e estampou com tinta preta “Portaria Central”. O pergaminho se enrolou sozinho e a funcionária do ministério alemão o colocou dentro de um tubo transparente que ficava às suas costas. Uma corrente de ar o carregou com velocidade. – Se puder esperar um pouco, logo sua entrada será liberada. Herr Binder não está em sua sala. Disso eu sei. Enquanto isso, permita-me examinar sua varinha.
Harry sacou a varinha das vestes e a entregou para a mulher. Ela a depositou numa balança, que tremeu durante breves segundos até que um papel pequenino se soltou no ar. A funcionária o capturou prontamente e o leu com atenção.
- Agora, por favor, coloque-se nesta marca. Sem se mover – instruiu. – Se tiver alguma dúvida, meu nome é Sônia – e estalou os dedos.
Do alto, um jato de luz incidiu sobre ele de maneira rápida, circundando-o como se fosse criar uma redoma. Entretanto, logo se extinguiu. Antes que Sônia falasse qualquer coisa, outra mulher surgiu. Tinha cabelos vermelhos, cuja tonalidade se assemelhava a do batom. Devia ter a mesma idade que a funcionária da portaria. Algo em torno de 40 anos. Carregava em suas mãos um livro. E exibia um ar completamente parvo.
- Mein Gott, é ele mesmo – deixou escapar. Em seguida, estendeu sua mão trêmula. – Mu-muito prazer, senhor Ha-harry Potter. Nu-nunca pensei que um dia fosse ver pessoalmente o grande herói bruxo de nossa era...
- Err, obrigado – respondeu, desconfortável. E dirigindo-se para a funcionária da portaria, continuou – Tenho mais alguma norma de segurança a cumprir? Posso ver herr Binder agora?
A loura deu de ombros e apontou a recém-chegada com a cabeça.
- Eu sou a se-secretária de herr Binder. Ele está numa reunião com o ministro e co-co-como não estava esperando sua visita, senhor P-po-potter...
- Pode me chamar de Harry – apressou-se. E deu mais suavidade à voz para tranqüilizar a mulher. – Hum, qual o seu nome?
- Oh, é Teresa Müller – encantou-se. Ela sorriu, recuperada do ataque de nervosismo que sofrera assim que vira seu ídolo em carne e osso. – Sempre soube! O senhor é realmente simpático como o livro dá a entender.
Sem compreender o que ela queria dizer com “livro”, Harry prosseguiu.
- Você é muito gentil, Teresa. Mas se puder avisar já ao seu chefe que estou aqui, serei bastante grato.
- Ele está com o ministro neste momento – respondeu, maravilhada em ouvir seu nome ser pronunciado por Harry.
- Acredito que o ministro não irá se opor a me receber, caso a reunião não seja absolutamente sigilosa. É até melhor que a conversa seja com ele também.
- Claro! Só tenho de enviar um memorando. Não posso fazer nada sem comunicar antes – falou de modo afetado. – São as regras.
Teresa bateu com sua varinha no monte de pergaminhos da escrivaninha e todos eles se cobriram de palavras em alemão. Atenta ao que se passava, Sônia pegou apenas um, entregando-o para a colega e com um feitiço devolveu a brancura aos demais. A secretária de Binder tratou de colocar o pergaminho no tubo transparente e ele foi imediatamente sugado. Harry achou que era um bom método de encaminhar recados. Ao menos, eles não ficavam voando sobre as cabeças das pessoas, como ocorria em Londres.
- Esse tubo leva recados para qualquer parte do ministério?! Interessante – sorriu.
A secretária derreteu. Aquela situação começava a perturbar o bruxo. Virou-se para a bruxa da portaria, que assistia de camarote a babação da colega.
- Posso recuperar minha varinha?
- Ah, Sônia! Deixa que eu devolvo... – interrompeu a aparvalhada secretária. Ela segurou a varinha com o rosto extasiado. E em meio a risinhos se dirigiu ao seu ídolo. – Espero que não me ache maluca, Harry. Esta é uma oportunidade de ouro.
- Maluca? Não! Só está te achando a maior boba da face da terra – resmungou a funcionária da portaria, tomando a varinha e finalmente devolvendo-a ao dono. – O senhor tem de desculpá-la. Há muito tempo que ela é sua fã.
Uma mulher normal teria se envergonhado de ser denunciada dessa forma. Era o que calculava o bruxo. Mas Teresa puxou seu livro e o estendeu para Harry. Era uma biografia não-autorizada escrita por um estudioso alemão. Que não fizera bem a lição de casa, notava o retratado ao ler alguns trechos por alto.
- Por favor, assine meu livro. Eu já sei toda sua história de cor. Adoraria ter seu autógrafo – despejou.
- Meu autógrafo?! Ele é inútil – desculpou-se, tentando tirar essa idéia da cabeça de Teresa, que demonstrou seu desapontamento com uma cara muito triste. – Escute, este livro não é fiel como você pensa. Por acaso, diz aqui que já morei em Berlim por um tempo?
- Já? – perguntaram as duas ao mesmo tempo.
- Estão vendo – respondeu, triunfante. E entregou o volume a Teresa.
Enquanto a resposta de Binder não chegava – o que Harry considerou um disparate e o fez concluir que o sistema do ministério inglês era melhor –, Teresa e Sônia folhearam o livro, repleto de fotos retiradas do Profeta Diário e de outros jornais bruxos. A secretária estava tão acabrunhada que seus olhos marejaram. O bruxo percebeu e pigarreou, chamando a atenção de ambas.
- Se faz mesmo questão, autografo um pergaminho – afirmou, sentindo as orelhas esquentarem por ceder. “Vão pensar que estou me achando o máximo”, resmungou para si.
Rabiscou algumas palavras e assinou o papel ainda se sentindo idiota por ter de agradar dessa forma a secretária de Binder. Teresa voltara a sorrir e agora desfazia do livro.
- Eu deveria ter desconfiado. Aqui diz que você quase não teve namoradas. E deve ter tido aos montes. Só tem duas fotos. De uma garota oriental num concurso de Miss Magia e da sua esposa na festa de casamento. Ah, pode me dizer que feitiço ela usa para ficar com esse tom de vermelho nos cabelos? Tentei imitar, mas não deu muito certo.
O barulho do pergaminho de resposta batendo no tubo atraiu os olhares das duas bruxas, impedindo-as de ver Harry boquiaberto.
- Gina não pinta os cabelos!
- Senhor Potter, o chefe dos aurores e o ministro o aguardam na sala de reuniões – anunciou Sônia.
- Não pinta? Ah, o livro sugere que ela pintou porque essa era a cor dos cabelos de sua mãe, não é?
Harry ficou mudo, tão escandalizado estava.
- O elevador à direita o levará para a sala – continuou a funcionária da portaria.
- Posso te acompanhar, Harry, para que você não se perca.
- Oh, não, obrigado. Vocês... já me ajudaram bastante – disse, exasperado.
Caminhou apressado, ansioso para se afastar. Antes de a porta do elevador se fechar ainda ouviu as duas trocando impressões. “Ele é mais bonito do que nas fotos”. “Achei que ele fosse mais rigoroso. Francamente, te deixar chamá-lo pelo primeiro nome foi o fim”. “Isso se chama simpatia, Sônia. Que homem incrível! A esposa dele deve estar muito orgulhosa”.
*****
Harry chegou a um corredor comprido. Do outro lado do elevador, havia uma porta de madeira ricamente entalhada. Só podia ser da sala de reuniões. Não havia ninguém na entrada. No entanto, ela se escancarou assim que se aproximou. Mal entrou foi recebido por um rapaz franzino e de olhos grandes como os de coruja.
- Por aqui, herr Potter. Sou o secretário do ministro – disse em alemão, levando-o da ante-sala onde se encontravam para um ambiente bem maior e confortável.
Havia uma imensa mesa rodeada de cadeiras e dois largos sofás de couro onde estavam instalados dois homens que eram o oposto um do outro. Um homem loiro e corpulento de olhos muito claros e injetados estendeu sua mão forte e pesada para cumprimentá-lo primeiro. O outro, moreno e magro, cuidou das apresentações.
- Como vai, senhor Potter? – perguntou em inglês. – Sua visita nos honra. Prazer, Klaus Wieman. Sou o ministro da magia. E este é Andreas Binder, o chefe dos aurores.
- Eu esperava que o senhor Weasley aparecesse por aqui – disse Binder, fazendo força para esconder o sotaque.
- Ele está de licença-paternidade. Volta na semana que vem. Tomei a liberdade de abrir a correspondência dele porque somos muito amigos. E porque sou o chefe da seção.
- Há um mês, correto?! Conhecemos sua história, senhor Potter. Especialmente eu. Sou um homem bem informado. E minha secretária é sua fã número 1 – comentou Binder, em tom de pilhéria. – Mas houve uma justificativa especial para encaminharmos a mensagem para o senhor Weasley. Não nos interprete erroneamente. É que desapareceu do departamento de mistérios um objeto que já esteve nas mãos do seu amigo.
- Eu sei. A carta fala na Arca da Ordem dos Inseparáveis. Vim porque eu também conheço um pouco de seu conteúdo.
Binder cofiou os fartos bigodes loiros. Seus olhos se estreitaram, formando um amontoado de rugas em seu rosto.
- Naturalmente, como é seu melhor amigo, o senhor Weasley deve ter contado alguns detalhes de sua vida – sorriu. – Mas vamos precisar de muitos detalhes, senhor Potter.
- Não precisa ser tão formal comigo. Os aurores costumam me chamar apenas de Potter.
- Sem formalidades, então – interferiu o ministro, um homem que não parecia ser mais do que 15 anos mais velho do que Harry. E fez surgir três taças de vinho que encaminhou, por magia, à mão dos presentes. – Necessitamos mesmo de muitas informações. Lamento dizer que praticamente nada sabemos da arca.
O comentário espantou Harry. Esperava ser interrogado acerca dos perigos que envolviam os objetos guardados na arca. Ficou mais intrigado do que estava.
- Nada? Bom, devem saber da pedra... Vocês a tiraram de lá e a colocaram em um lugar mais seguro, não é?!
Os dois homens o encararam com assombro e constrangimento.
- Que pedra, Potter? – inquiriu Wiesman.
Desconcertado, Harry apertou os lábios. A situação era mais grave do que imaginara.
- Antes, se não se importarem, gostaria de saber exatamente o que aconteceu.
O auror alemão franziu a testa, estudando o rosto de Harry. O bruxo inglês imaginou que Binder não estava satisfeito em ter de lhe contar o que se passara. Os papéis estavam invertidos. Era Harry quem interrogava, o que incomodou profundamente o louro de olhos injetados. Entretanto ele não o demonstrou de imediato.
- Claro, meu caro colega. Aqui tem um relatório feito pelo chefe do departamento de mistérios – disse, materializando um pergaminho longo. – No entanto, creio que seria mais útil se você nos explicasse agora que pedra é essa.
- Vocês sabem que a Ordem dos Inseparáveis era uma sociedade de alquimistas, não sabem?! Ótimo. O último guardião da arca que continha os segredos da Ordem foi Dieter Gutmann, como o relatório deve dizer.
- Sim, diz – resmungou Binder.
- Gutmann conseguiu produzir uma pedra filosofal. E ela estava guardada na arca. Não tinham conhecimento disso? – inquiriu Harry, que ficou ainda mais estupefato ao notar a surpresa de ambos.
O ministro ergueu-se, com uma expressão indecifrável. Suas mãos apertaram a taça com mais força. E lançou um olhar interrogativo para Binder. O auror alemão cerrou os maxilares. Parecia preste a explodir.
- É melhor chamar o senhor Weasley às pressas para participar desta reunião. A presença dele se tornou imprescindível – disse, com os olhos cada vez mais injetados devido ao nervosismo.
- Perfeitamente. Se puder usar a lareira, peço ao Rony para vir.
- Dê-nos um minuto para reativarmos esta lareira – afirmou Wiesman, com a voz levemente irritada. – Faz tempo que não a utilizamos. Os aurores a fecharam quando eu ainda não era ministro. E eu não calculava que necessitaríamos dela para resolver este assunto.
Binder ficou da cor do vinho e tratou de tomar um grande gole antes de se levantar e se dirigir à ante-sala, onde estava o secretário do ministro. O auror inglês aproveitou o momento para conversar melhor com Wieman.
- Ministro, ahn, confia no chefe do departamento de mistérios? Pelo que estou entendendo, ele não foi levado por quem o atacou. Afinal, fez o relatório.
- Sim, ele escapou. Eu não sei o que pensar disso tudo. Mas Werner Schmidt não está mais no departamento. Foi suspenso.
- Suspenso?
- Não espera que fossemos manter na função alguém que não cumpre as regras de segurança, espera?! – espumou Binder, que retornara da ante-sala. – Como responsável por um departamento altamente visado, Schmidt deveria ser mais cuidadoso e jamais andar por aí sem sua varinha.
- Então foi isso que aconteceu?
- Mais ou menos – rosnou o auror. – Escute, em instantes você poderá entrar em contato com seu amigo Weasley. A lareira será reativada. Mandei um dos meus homens trazer Schmidt para cá. Desde o ataque ele está encerrado em sua casa, aguardando minhas instruções.
- Boa idéia convocá-lo – respondeu Harry, que insistiu no ponto que o angustiava. – Perdão, é que não me conformo que vocês não soubessem da pedra. Esse Schmidt deveria saber. Como chefe do departamento...
- Na Alemanha, todos os mistérios são investigados por aurores – cortou Wieman, com delicadeza. – Schmidt é um funcionário de carreira e foi designado apenas para cuidar do departamento e fazer os registros.
- Mas até para fazer registros seria necessário estudar a arca. Ela tinha uma série de objetos, de livros e pergaminhos essenciais para a Ordem dos Inseparáveis.
- Não há dúvida que falhamos, senhor Potter – respondeu o ministro, com uma expressão soturna, enquanto fazia as taças se encherem de novo. – Creio que temos aqui um excesso de burocracia. O senhor entenderá depois por que digo isso.
Mortificado pelo que acabara de escutar, Binder se sentou com o rosto contorcido. Harry sentiu que o ar se tornara mais pesado. O auror exalava mau-humor pelos poros. Isso levou Harry a pensar que deveria haver mais problemas. Ele pegou o relatório e bateu os olhos num parágrafo. Deu um salto no mesmo instante.
- Há um engano. O relatório diz que a arca chegou ao departamento há cerca de cinco anos.
- Foi o que Schmidt nos reportou – começou Binder.
- O filho de Rony vai fazer cinco anos em breve. E na época em que a arca veio para cá ele não era sequer casado. Ou há um erro grosseiro nas datas ou alguém está tentando enganar vocês – pontuou.
O ministrou soltou um longo suspiro. Depositou sua taça na mesa. Apoiou as mãos no espaldar de uma cadeira e manteve a cabeça baixa por segundos até que se dispôs a contar toda a verdade.
- Não adianta mais, Binder. Teremos de ser francos se quisermos recuperar a arca – disse. Em seguida, limpou a garganta e se dirigiu a Harry. – A pedido do chefe dos aurores, tentei esconder nossas inúmeras falhas neste caso. Mais por motivo de orgulho. Não é nada pessoal. Só que isso não é mais possível. Estamos encurralados e precisamos da ajuda dos aurores ingleses. Especialmente desse seu amigo, Weasley. Pensei em convocar também Alvo Dumbledore, mas fui desaconselhado pelos meus assessores...
- Por quê? – inquiriu Harry, interrompendo o ministro.
- A ficha que tenho aponta que ele está senil.
- Ficha???
- Sim. Chefes aurores costumam compartilhar fichas dos departamentos de outros países. E assim também fazem os ministros de magia. Não sabia disso? – alfinetou Binder, doido para fazer Harry experimentar a péssima sensação que a ignorância de um assunto importante causa.
- Não! – exclamou Harry.
- Dawlish consultava nossas fichas. E eu sempre consultei as dele. Há fichas de todos os bruxos importantes de nosso tempo. Inclusive a sua – replicou, intimamente satisfeito por dar o troco. – Mas é claro que você não sabia. Ainda é novo para entender totalmente a rotina dos aurores. E é novo demais para ser chefe. Eu, por exemplo, fui promovido a este cargo depois de 30 anos de serviço. É provavelmente mais tempo do que você tem de vida – acrescentou, amargo.
Harry ferveu por dentro. Porém não queria mais se desviar do assunto.
- Continue, ministro. O senhor estava contando que não convocou Dumbledore, o que é um enorme erro porque ele é o maior bruxo que existe hoje! E não está senil, ao contrário do que pode constar em... “fichas”.
- Acredito, Potter, acredito – disse Wieman, honestamente. – Dumbledore veio à minha cabeça porque ele estava junto com seu amigo. Havia uma auror também, Tonks, conforme aponta o relatório de Schmidt. Mas eu a descartei porque é sabido que ela não acompanhou a reunião com o ministro da época. Reunião a que estiveram presentes Ronald Weasley e o então chefe dos aurores, Hans Dietrich, e na qual se discutiram os acontecimentos daquela noite. Estava relatando nossas falhas. Pois bem. Nossa outra grande falha de segurança foi termos perdido todos os registros que tratavam desse encontro.
- Como? – estranhou.
- Alguém, em tese a mesma pessoa que roubou a arca, apagou os registros. Alguém que conhece o funcionamento do ministério. O único meio de informação que nos restou foi a memória de Schmidt. Que o senhor acaba de revelar que não é perfeita – respondeu o ministro, com uma visível expressão de contrariedade. – Agora teremos de nos fiar também nas lembranças de Ronald Weasley. O ministro que se reuniu com seu amigo morreu há três anos. E Dietrich se foi deste mundo há dois meses. Como vê, estamos encurralados.
Binder afundou no sofá, os olhos tão injetados que qualquer um pensaria que o homem sofria de conjuntivite. Wieman torceu os lábios, esperando pela réplica de Harry. O bruxo inglês consultou o relógio. Estava certo agora que não encontraria Gina acordada. Pela segunda noite seguida. Suspirou, porém não havia tempo para seus assuntos pessoais. Não diante do exposto.
- Err, o ministro ou Dietrich tinham penseiras?
- Não o ministro. Não há uma penseira no ministério inteiro – afirmou Wieman.
- Dietrich não era homem de posses. Penseiras são objetos raros. E caros – sublinhou Binder.
- Penseiras fazem falta em horas como essas – ponderou Harry. – Aconselho a avisarem suas famílias que vão demorar esta noite. O Rony virá logo. Vou até a portaria para aparatar na casa dele. Pedirei que venha imediatamente. Mas para eu trazer Dumbledore vocês terão de ser mais pacientes. Ele não é mais diretor de Hogwarts, só que continua morando lá. E não é possível aparatar no castelo. Terei de ir até Hogsmeade, uma aldeia vizinha, e vou precisar de alguns minutos até chegar a sala dele. E outros minutos para voltar para cá com ele. A aparatação para lugares distantes, humm, na idade dele...bem, ela não é aconselhável.
- Desculpe. Acho que perdi a parte em que concordamos que a presença de Dumbledore é necessária – disse Binder, com azedume, lembrando-se do que dizia a ficha que levantara e que determinava que o mago estava senil.
- Não perdeu. Não discutimos isso – respondeu, sem se importar com a cor arroxeada que surgira no rosto do auror. – Mas você vai ver que ele fará a diferença. Dumbledore tem uma penseira. E acontece que eu sei que ele guardou as lembranças daquela noite.
- Como pode ter certeza disso?
- Ele me contou uma vez que guardou todas as lembranças relativas ao tempo em que estive... rodando o mundo, digamos assim. Entre elas, as memórias da época em que vivi aqui, em Berlim, na companhia do Rony, do meu mestre Thelonius McKinley e de herr Gutmann.
- Você viveu em Berlim?! E com Gutmann?! – assombrou-se o auror alemão.
Harry abriu um sorriso debochado.
- Você "acha" que conhece tudo a meu respeito. Caso tenha confiado no livro da sua secretária ou nas “fichas” que compartilha por aí, lamento desapontá-lo, mas a verdade é que da minha vida poucos sabem.
E saiu com ligeireza, fazendo as vestes esvoaçarem.
No capítulo seguinte, Dumbledore entra em ação. E Gina volta à cena. Este cap. precisava explicar algumas coisas, que serão definitivamente esclarecidas na semana que vem (ou quase, hehehehe). Obrigada pela leitura e pelos comentários. Bjs, K.
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