O verdadeiro Severus



Capítulo XXVII – O verdadeiro Severus

Os olhos do Diretor cintilaram mais uma vez.
- O que quer dizer com… - falou Dumbledore, mas interrompeu a si mesmo – Espere só instante, Severus está voltando. Tenha paciência com ele, - aconselhou serenamente – e compreensão. Ele normalmente volta um pouco… digamos… diferente.
O bruxo murmurou uma série de feitiços e encantamentos e então, com o barulho de uma chicotada, Snape surgiu no meio do escritório. Um cheiro acre de sangue e algo podre veio junto com ele e Diana sentiu seu estômago virar de cabeça pra baixo. Respirou fundo.
- O que ela faz aqui? – sibilou Snape venenosamente para Dumbledore ao se aproximar da mesa. Tinha o rosto duro e inspirava medo. A bruxa involuntariamente encolheu-se um pouco ao vê-lo.
- Diana veio aguardar por você junto comigo. – falou o diretor de forma calma.
- Sabe que não deveria ter feito isso. Mande-a embora. – Snape falava como se não quisesse se dirigir a mulher sentada ao seu lado. Ou como se os dois não se falassem.
- Ela irá. – Dumbledore continuava o mais sereno possível – Junto com você. Mas antes meu menino, nos conte o que aconteceu. Irá lhe fazer bem.
- Contarei se ela for. – rosnou.
- Não Severus. – foi a vez de Diana falar. Sua voz era suave, mas tinha o tom de inflexibilidade – Eu vou ficar. Você pode continuar fingindo que eu não ouço o que fala. Mas eu vou ficar. Conte o que aconteceu. Não irei te atrapalhar.
- Você quer saber o que aconteceu? – ele sibilou de forma gelada – Quer realmente saber o que aconteceu? – sussurrou olhando-a nos olhos por um momento. A bruxa olhou dentro dos olhos negros dele e o que viu ali a assustou. Via maldade. Crueldade. E prazer de ser assim. Snape desviou o olhar – Vou lhe contar. – disse andando pelo escritório – Um grupo de mais ou menos vinte comensais, os mais íntimos do Lord das Trevas, dentre quais eu estou, saíram esta noite para dar um passeio com ele. E com mais cerca de quinze dementadores. – falava sibilando, com a voz arrastada e insensível. Diana sentiu um frio na espinha, mas não deixou transparecer – Andamos por muitas vilas de trouxas e de bruxos que em sua maioria são mestiços. E até que foi divertido sabe? No início é meio ruim. Mas depois a gente acostuma. Eles têm cheiro de sangue estragado e carne decomposta. Não dá nem para definir direito como é. – ele parou e coçou o queixo por um momento como se ponderasse o que tinha acabado de falar – Não. Dá para definir sim. É exatamente o cheiro de um animal morto que é largado à beira da estrada. Sob sol e chuva, e atacado por aqueles vermezinhos repugnantes e por fungos asquerosos.
Diana sentiu seu estômago dar outra cambalhota, e esta tinha sido particularmente pior que a primeira. Respirou fundo e continuou a tentar olhar dentro dos olhos do bruxo, mas ele sempre desviava.
- Severus, - falou Dumbledore ainda de forma calma – não precisamos ouvir isso.
- Ora, vocês não queriam saber o que aconteceu? – zombou – Estou contando… Nos mínimos detalhes. Bom, como eu disse, nós andamos por muitos lugares. Deixando para trás um rastro de névoa e pesadelo. As estrelas sumiam do céu. As luzes das ruas se apagavam. Até a lua que era cheia foi escondida por uma grande quantidade de nuvens. Dava para ouvir as crianças chorando alto, assustadas com o sono interrompido por pesadelos com monstros e tantas outras coisas que tanto temem. Acho que amanhã as pessoas acordarão bem tristes e mau-humoradas sem nenhum motivo aparente… E a discórdia irá reinar em suas casas. Irmãos contra irmãos, cônjuges brigando entre si, filhos gritando com pais… E todos sem saber por que motivo a região acordou sem um pingo sequer de sentimentos bons. – deu um sorriso mau. Diana estava apreensiva, era aterrorizante imaginar uma coisa dessas acontecendo.
– O problema – continuou o bruxo em tom monótono – é que todos à volta são afetados. Revivi os piores momentos de minha vida… - a voz dele fraquejou neste momento – Os meus piores pesadelos… E depois de certo tempo junto aos dementadores, você começa a ter alucinações… As mais horríveis que a sua mente nunca se atreveu a imaginar. – os olhos de Diana quiseram se encher d’água, ela os piscou seguidas vezes e não permitiu que isto acontecesse. Estava triste por Snape, mas não podia deixar que ele percebesse, não agora. – Até que eu agüentei bem. Alguns comensais passaram mal, desmaiaram. Mas eu não.
Ele parou de falar por um momento, e um silêncio mórbido reinou no escritório. Então ele recomeçou.
- E o grupo de jovens que encontramos. Pobrezinhos. – ironizou – Mas também… Aquilo não era hora de ninguém estar fora da cama. Tinham de ser castigados. E os dementadores sentiam-se tão famintos. E agora eram tão livres…
Dumbledore presumiu o que viria e mexeu-se inquieto em sua cadeira. Levou sua mão à de Diana e a segurou fortemente, passando tranqüilidade e paz a ela. Presumindo também o que estava por vir, a bruxa não conseguiu evitar dessa vez que seus olhos ficassem marejados.
- Acho que havia uns cinco. – falou Snape num tom mau e agressivo, amedrontador – E os dementadores os atacaram maciçamente. Então nós presenciamos. – o brilho maníaco de seu olhar aumentou – Eu já vi muitas coisas ruins, mas essa definitivamente é a pior... O dementador se aproxima de sua presa, deslizando como uma pluma negra, e a vítima até corre, mas ele é mais rápido. Crava suas mãos ossudas de dedos decompostos em seus ombros, vira-a de frente para ele, arreia seu capuz, e a visão que se tem é de um crânio negro coberto de carne podre, as órbitas dos olhos são brancas e aquosas, como que cobertas de leite azedo, no lugar da boca há um buraco negro que suga tudo ao seu redor, e os dentes são longos e pontiagudos, como se fossem presas de vampiros. Ele os enfia ao redor da boca da vítima e o grito delas é ensurdecedor, acho que foi ouvido num raio de um quilômetro. O dementador suga tudo de bom que há dentro da pessoa, inclusive sua alma. Dá pra ver quando a vitalidade deixa seus olhos e eles tornam-se brancos, quase iguais aos do ser que os atacou. Ele então larga a vítima e cobre-se mais uma vez com o capuz. A pessoa pende molemente no mesmo lugar. E foi aí que eu entendi direito de onde eles vêm. Impossibilitado de morrer por não ter alma, o destino da vítima é vagar como uma casca vazia, à procura de algo que nem ela sabe, talvez as almas de outras pessoas, na esperança de que possam ocupar o lugar da sua e livrá-la desta maldição. Seu corpo, sem alimento, desnutre-se e depois de um tempo começa a decompor-se. Nem morto nem vivo, seu destino é apodrecer de corpo e mente, perder sua identidade, e tornar-se mais um dementador.
Enojada de imaginar tudo que Snape contou, Diana sentiu sua janta vir à boca. Por sorte a comida não foi parar no assoalho do escritório. Enjoou-se muitas vezes e algumas lágrimas desciam involuntariamente de seu rosto. A visão que formara em sua mente da cena descrita era simplesmente a mais atemorizante possível. E não chegava nem aos pés da cena real. E quando o bruxo abriu a boca para voltar a contar o que aconteceu. Dumbledore o interrompeu.
- Chega Severus.
- Ora, mas a minha historinha ainda não terminou. – zombou.
- Chega. – falou o diretor de forma firme – Está assustando-a. De propósito. É isso que quer?
Snape olhou para Diana como se só agora percebesse que ela está no escritório. O rosto lívido, dois caminhos de lágrimas sobre as bochechas sem cor. A mão dela apertava a de Dumbledore. Os olhos verdes escurecidos de tristeza. O bruxo virou-se de costas.
- Eu falei para não deixá-la aqui… - murmurou com a voz já mais suave.
- E o que ela fará das próximas vezes? – falou Dumbledore instigando-o - Esconder-se até seu “outro lado” resolver ir embora? Diana tem que se acostumar Severus. Ela pode lhe dar forças para ir em frente. Pode te ajudar.
- Ninguém pode me ajudar… - murmurou o bruxo.
Snape levou as duas mãos ao rosto. Diana olhou para o diretor, e ele fez um leve aceno com a cabeça para ela. A bruxa então se levantou e lentamente se dirigiu a Snape. Chegou bem perto, e então pôs suas mãos nas costas dele. O bruxo sentiu o calor dela invadir seu corpo frio. Mas afastou-se de Diana.
- Não toque em mim. – rosnou com a voz gélida.
Ela se aproximou mais uma vez, encostou seu corpo no dele.
- Este não é você. O Severus que eu conheço não é assim… - falou docemente – O Severus que amo…
O bruxo fechou os olhos ao ouvir que ela o amava. E uma chama de contentamento surgiu em seu peito, correu todo o seu corpo e afastou os pensamentos ruins e pesadelos que ainda reinavam em sua mente mesmo estando longe dos dementadores. Virou-se de frente para ela, mas não conseguiu olhá-la nos olhos.
- Foi horrível… Sinto-me horrível…
- Você não é assim. – ela segurou as mãos geladas dele. – Eu sei que não. Não foi culpa sua. Olha pra mim Severus. Olhe pra mim.
Ele relutou um pouco, mas levantou a cabeça. Seus olhos negros estavam opacos. Pelo menos o brilho mau havia se afastado.
- Eu me sinto tão sujo… - murmurou apertando os dedos dela entre os seus – Tão desprezível… Eram só crianças… Quinze, dezesseis anos talvez… Poderiam ser meus alunos… Como não pude evitar?
- Não poderia. – falou Diana de forma doce – Sabe que não.
- Isso não diminui o peso da culpa em meus ombros… - ele olhou dentro dos olhos verdes dela – E eu vejo tristeza em seus olhos… - murmurou – Está triste comigo… Está triste pelo que fiz… Sabia que um hora ou outra iria descobrir o monstro que sou…
- Não. Estou triste por você. Ninguém deveria passar pelo que passou esta noite Severus… Mas você não pode se entregar a eles. Não é como eles… Não é este monstro que diz… Tem que se lembrar do que está dentro de você… De quem realmente é. E eu estou aqui para ajudá-lo com isso.
Snape fechou os olhos e Diana o abraçou. Ele simplesmente se deixou abraçar.
- Deixe cair sua máscara Severus… - ela falou docemente – Dispa a armadura de insensibilidade que usa para se proteger… Aqui, ao meu lado, você não precisa temer nada, não precisa representar nenhum papel… Pode deixar vir à tona o verdadeiro bruxo que por tantas vezes tem de se esconder no fundo de sua mente e fugir de seu coração…
Snape respirou fundo e a abraçou forte segurando a cabeça de Diana contra seu ombro. Podia sentir o coração da bruxa batendo junto ao seu, no mesmo ritmo, como se fosse um só.
- O… O-obrigado… - falou lentamente, como se não tivesse costume de usar esta palavra – Obrigado por estar aqui.
Dumbledore, que observava tudo de sua mesa, sorriu. Seus olhinhos azuis sorriam de contentamento. Agora tinha certeza. Nada, nem ninguém, a não ser talvez a morte, poderia separar os dois.
- Eu acho, - falou suavemente e Diana e Snape pareceram sair de um transe, desfazendo o abraço – Que agora já podem ir dormir. Mas antes, penso que você tem algo a nos contar, não é Diana?
A bruxa engoliu a seco.
- Não é melhor deixar para outra noite Alvo? – falou nervosamente.
- Não minha menina. Severus precisa saber o quanto antes.
- Do quê? – perguntou o bruxo perdido na conversa.
- Vamos Diana, fale.
A bruxa foi até a mesa de Dumbledore e se sentou na cadeira em que estivera antes. Snape veio junto com ela e parou ao seu lado.
- Severus… Eu… Acho que…
O bruxo estava apreensivo pelo quê de tão importante Diana tinha para contar. Analisou-a por um momento. Seu corpo, seu rosto, olhou em seus olhos.
- Não… - murmurou – Não me diga que… Não Diana. Há quanto tempo está atrasada?
A bruxa baixou os olhos.
- Tempo suficiente para eu saber que não é um atraso qualquer.
Snape custava a acreditar.
- Mas além de ontem, nós só tivemos uma noite juntos…
- E é preciso mais de uma pra se fazer um filho Severus? – inquiriu Dumbledore.
- Merlin… Filho… Um filho… Tem noção da magnitude do problema que isto pode nos causar?
- Não vou tirá-lo Severus… - falou Diana apressadamente, levando uma mão ao ventre de forma involuntária – Não seria capaz de uma coisa dessas… Posso senti-lo vivendo dentro de mim…
- Você acha que eu seria capaz de lhe pedir um absurdo desses? – falou olhando para a bruxa com tristeza.
- Desculpe… É que eu tive medo…
- Diana… - disse Snape com cautela, havia ainda mais uma opção. – Você… Tem certeza de que é meu?
Foi a vez da bruxa olhá-lo com tristeza.
- Tá. - falou ele – Esquece. Falei besteira. Mas e agora? Ninguém pode saber que você e eu… Que a gente…
- Que vamos ser pais… - completou Diana – Se não podem saber nem que estamos juntos… Quanto mais que estou grávida de um filho seu… E quando a barriga começar a crescer?
- Nós daremos um jeito. – falou Dumbledore – Por ora, é melhor vocês dois irem dormir. Têm que acordar daqui a pouco mais de quatro horas para dar suas aulas.
Os dois se despediram do diretor e saíram do escritório. Caminharam em silêncio e quando chegou o corredor no qual deveriam se separar para ir cada um ao seu respectivo aposento, Snape pediu:
- Dorme comigo? Não queria passar esta madrugada sozinho…
Diana sorriu e seguiu-o para as masmorras. E apesar de ter sido Snape quem pediu para que ela o fizesse companhia, foi a bruxa quem dormiu primeiro. E o bruxo se pegou então deitado ao lado dela, com uma mão em seu ventre, sentindo medo do que estaria por vir, clamando mentalmente para que todas as forças que pudessem os ajudassem, e pedindo a Merlin que, pelo menos, o bebê não nascesse com o seu nariz......

N/A: Putz, nem deu pra adivinhar neh?????? rsrsrsrssrsrrs...... Es pero ke vcs tenham gostado da "surpresa"....... To adoranu os comentarios viu??????????? Continuem comentando!!!!!!!!!!!
Beijoooooooooossssssssss

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