As ruínas do passado



Aquele lugar tinha algo de estranho e ele não sabia explicar porque. Talvez fosse a chuva que insistia em cair sobre o tecto prestes a desabar… talvez fosse o vento que ousava soprar por entre as fendas das janelas pendentes, murmurando suspiros que ninguém entendia.

Harry entrara pela porta lateral, forçada, talvez por crianças da vizinha, entrando para deparar com as ruínas do seu primeiro lar.

Encontrava-se numa divisão ampla, de paredes rachadas e lascadas pelo tempo, cujo chão nascia por baixo de pilha de telhas em cacos e pedaços de tecto que não haviam resistido aos dezassete anos de abandono. Era a sala. Á direita, uma outra divisão, abrigada pela escuridão que um tecto esburacado lhe conseguia oferecer.

O vento passou, vindo de trás de si, agitando-lhe os cabelos e fazendo-o baloiçar à sua frente os restos do que fora outrora um berço. Aquilo fora o seu quarto… tudo começara ali. Ali, naquela mesma sala, havia nascido o lendário “Rapaz-que-sobreviveu”, e que agora, dezassete anos depois, e já demasiado cansado de perder todos os que o rodeavam, ali voltava, sozinho e disposto a acabar de uma vez por todas, com aquela maldição que transportava sobre os ombros, queimando-lhe na testa, na forma triste de um relâmpago.

Ele era, Harry Potter, um jovem desejando por ser livre, como era de seu direito. Iria conseguir?
Acabara de pisar os farrapos de um boneco enegrecido. E sem desviar os olhos daquele brinquedo velho, pensou tristemente se iria ter a liberdade que tanto queria, na vida… ou na morte?

Desde que saíra daquela casa, transportado pela mãos de Hagrid, não havia voltado a ali entrar, no entanto, agora que lá estava sentia-se tentado a sair… a voltar para a sua vida normal em Hogwarts, entre os seus amigos, às conversas diante da lareira. Acabara!
Nada voltaria a ser como antes… esses momentos não voltariam a repetir-se até que de uma vez, fosse decidida a sua sorte, e por consequência, a do mundo mágico. Não podia baixar as armas e desistir da luta, por mais desequilibrada que ela fosse, tinha de lutar por viver, para que pudesse mais uma vez, sentar-se à lareira, nos braços de Ginny…

Os seus pensamentos caíram sobre a ruiva… ah… que saudades! E o que daria para tê-la ali consigo, beija-la, abraça-la... mas não! Voldemort conseguira tirar dele, mais uma vez, as pessoas de quem mais gostava… Sirius, Dumbledor. Não… não podia correr o risco de perder Ginny também. Se a amava, teria de se afastar dela, para conseguir mantê-la em segurança.

No exterior da casa, esperavam-no um casal de feiticeiros, demasiado teimosos para abandona-lo à solidão da missão que tinha para cumprir.

Ronald Weasley, continua sardento, magro e alto, mas os seus olhos já não carregavam a inocência com que sempre o conhecera. Brilhava o desespero e a tristeza, de uma família martirizada pelas forças do mal, e a lembrança de um irmão meio lobisomem, de rosto desfigurado, que entraria na igreja envergando as feitas cicatrizes, que contrastariam, para sempre, com a brancura da pele de Fleur, a noiva com sangue de veela.

A expressão de Hermione Granger continuava séria e perspicaz. O seu rosto denotava cansaço dos estudos intensivos e das pesquisas infindáveis que fazia a favor da Ordem da Fénix, agora sem líder. Aquela menina era um elo precioso para a ordem, demonstrando a cada segundo que passava, a importancia que os seus imberbes dezassete anos traziam na luta contra o mal.

-Vamos embora. – pediu a rapariga soltando-se dos braços do namorado e pousando a sua mão sobre o ombro do amigo – Este lugar não te dará qualquer informação.

-Nem lembranças… – murmurou Harry demasiado baixinho para ser ouvido, à medida que entrara no carro que dirigia.

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