Jack, Pó de Flu, e Lucio Malfo



Algo suave e molhado roçou a bochecha de Draco. Em princípio ele pensou que fosse um sonho. Custou-lhe um momento para se dar conta de que aquela coisa estava obviamente tentando acordá-lo, e ele despertou de um sono profundo.
Agora ele sentia o cheiro de algo desagradável.
Piscou as pálpebras pesadamente, mas a coisa suave e molhada ainda esfregava sua bochecha com força, cutucando-o. Ele olhou em direção à coisa e por um instante maluco pensou que tinha visto um cavalo, com o focinho comprimido em seu rosto e o bafo fedorento enchendo suas narinas, e também que estava de volta a Mansão Malfoy.
Então o instante maluco transformou-se em realidade insana. Draco soltou uma exclamação e de repente, bem acordado, rolou para o outro lado da cama. Rapidamente pôs-se em pé e virou-se apressadamente para encarar o cavalo que se encontrava em seu quarto, parecendo incrivelmente deslocado e enchendo o lugar com um forte odor de cavalo.
- Que diabos? – reclamou o garoto, secando sua bochecha úmida.
Levou um minuto completo para processar a idéia de que era Jack.
Draco fitou ao seu redor depressa, e descobriu que estava definitivamente de volta ao lar; não em um castelo, e sim no seu moderno dormitório em que dormira desde que nascera. A única coisa diferente era o cavalo parado bem ao lado da cama, balançando o rabo, agitando as orelhas, e relinchando vez que outra.
Baixou os olhos para olhar a si mesmo, e descobriu que não estava mais vestindo calças e uma camisa apertada – e sim um par de calças dele próprio e uma camiseta escura na qual pegara no sono na noite anterior à de acordar em 1607.
Se ao menos Jack não estivesse ali; então Draco poderia ter acreditado que a coisa toda não acontecera. Mas ali estava o maldito cavalo, tão real como a vida, e obviamente o animal não desapareceria sozinho.
Draco praguejou e coçou a bochecha novamente.
- Fique aqui – disse severamente para Jack, e deixou o quarto.
Dirigiu-se a sala de jantar, onde supunha que sua mãe estaria, tomando o café da manhã. Precisava saber em que dia estava.
O que tinha acontecido afinal? A pergunta continuava a insistir em sua mente. A última coisa que recordava era estar parado no corredor com Gina antes de Tom estuporá-lo. E então... Acordara em casa.

Ou Tom decidira de repente ser gentil e deixá-los retornar à sua época, ou... bem, Draco não conseguia pensar em outra teoria. Nenhuma fazia sentido.
Contudo, por que Tom o estuporara? Teria estuporado Gina também? Draco continuava sem entender por que ele tinha os levado àquele mundo. Não tinha certeza absoluta da razão pela qual estuporá-lo melhoraria as coisas, se Tom precisava deles por algum motivo, mas tudo era possível. Talvez Tom estivera planejando matá-lo depois.
Mas se esse era a caso, então por que Draco estava em casa?
“E o que isso importa?” Uma voz perguntou.
Bem, o ponto era que estava em casa. E não havia sinal de Tom por perto. De fato, Draco tinha certeza que ele nem existia. Então por que precisava se preocupar com isso? Por que tentar questionar algo que desejara por semanas que acontecesse?
Quando o garoto entrou na sala de jantar, achou sua mãe com um prato vazio a frente, lendo um livro. Não levantou o olhar quando ele entrou, mas arqueou uma sobrancelha e disse:
- Boa tarde, Draco.
- Que dia é hoje? – perguntou Draco, pegando um lugar ao lado dela.
- É quase uma hora – respondeu Narcisa com distração.
- Não, que dia é hoje? – repetiu um pouco grosseiramente.
Finalmente, sua mãe encarou-o, baixando o livro:
- Que dia? Acho que é dia cinco.
- De dezembro?
- Não, Draco, de junho – comentou Narcisa secamente. Parecia ter notado a expressão dele e arfou, mirando seu rosto com atenção, os olhos frios azuis dela levemente entortados – Você está bem?
- Ótimo – disse Draco através de dentes cerrados. – É dia cinco de dezembro, então?
- Sim, Draco – suspirou ela, parecendo levemente irritada.
- Então eu não estive ausente – declarou com simplicidade.
- Não que eu tenha ciência – disse ela sem percalços, retornando ao seu romance.
- Tem um cavalo no meu quarto – adicionou o garoto, esperando chamar a atenção dela novamente.
Apenas recebeu uma sobrancelha arqueada em resposta; um traço que herdara.
- Draco, por favor. Estou tentando ler.
Com um suspiro longo, levantou-se e saiu. Então as coisas estavam ainda mais confusas agora. Como as três semanas anteriores poderiam ter acontecido se ele não estivera ausente nem por doze horas?
Mas obviamente haviam acontecido. Como Jack estaria em seu quarto então?
“Talvez não seja Jack” pensou. Poderia ter ficado tão chocado por ter um cavalo em seu quarto que poderia nem ter notado sua aparência. Quem sabe fosse apenas uma brincadeira.
Só havia o fato de que não conhecia ninguém que acharia engraçado colocar um cavalo em seu quarto.
Draco estava confuso, e não gostava disso. Sempre sentira a necessidade de saber tudo, de entender o que cada coisa significava. Mas ultimamente parecia que nada fazia sentido, e não conseguia compreender coisa alguma. Por que ninguém explicava para ele?
De volta ao quarto, o cavalo não se mexera. Continuava ao lado da cama.
Draco fechou a porta e se aproximou da criatura. Bem, certamente parecia Jack.
Até tinha a pequena mancha branca na ponta da orelha, quando o resto do pêlo era preto. Infernos – até a sela parecia familiar.
- Como você veio parar aqui? – perguntou Draco, segurando as rédeas e acariciando o focinho de Jack.
A orelha manchada de Jack agitou-se.
O garoto não tinha certeza do que faria com o animal. Não tinha um celeiro, e não conhecia nenhum por perto. Definitivamente não podia deixá-lo no seu quarto. Quem saberia quando Jack teria que fazer suas necessidades?
Ele sentou-se na cama e tentou raciocinar. Precisava organizar as idéias, apesar de ser difícil, pois estava incerto do que pensar. Continuava completamente sem compreender nada.
Primeiro os primeiros: Gina. Fora seqüestrada por Tom. Ele poderia ter explicado as coisas para ela. Talvez ela soubesse o que estava acontecendo.
É, bem, mesmo que soubesse, Draco não sabia se devia mandar uma coruja. Provavelmente ela estava de volta a Hogwarts, e de certo não queria ouvir notícias dele novamente.
Tudo bem para ele. Não queria saber dela também.
Ou... Talvez quisesse. Só queria saber que diabos estava acontecendo – por que tinham ido para o ano 1607, por que tinham voltado. Se ela não soubesse, ótimo; então simplesmente não responderia. Mas se soubesse, ele a faria contar.
Foi até a escrivaninha e tirou da gaveta um pergaminho novo. Passou quase cinco minutos fitando-o antes de decidir como se dirigir a ela. Querida Gina parecia íntimo demais, e Weasley parecia... infantil demais. Finalmente colocou apenas Gina e prosseguiu escrevendo a carta.
Quando terminou, enrolou-a, mas hesitou antes de descer e anexá-la à sua coruja. E se Gina não tivesse idéia do que ele estava falando? E se não se lembrasse de nada?
Isso não seria justo, contudo. Quem quer que tenha trazido-os de volta não teria deixado apenas ele com a memória do ocorrido. Ou teria?
Sentiu-se humilhado só de pensar em Gina recebendo a carta e não tendo a mínima idéia do que significava. Talvez seria melhor ir a Hogwarts simplesmente, e observar a reação dela ao vê-lo...
Draco amassou o pergaminho e jogou-o fora.
“Talvez seja melhor eu simplesmente esquecer isso” disse a si mesmo amargamente.
Jack bufou e pisou pesadamente pelo chão, quase como se protestasse.
- Ah, como se você soubesse de alguma coisa – bradou Draco, passando a mão pelo rosto.
Então suspirou pelo que parecia ser a milionésima vez, percebendo que o cavalo idiota estava certo – não havia poder suficiente nesse mundo que pudesse fazê-lo esquecer o que ocorrera. E muito menos que pudesse fazê-lo esquecer o que sentia quando estava perto de Gina Weasley.

* * *

Por sorte, Gina não teve que procurar na sala de Dumbledore; o almoço já começara, e ele estava no Salão Principal comendo. Tão logo a viu se aproximando da mesa dos professores, educadamente pediu licença à conversa com o professor Flitwick, e acenou para que ela o seguisse para fora do Salão, onde poderiam conversar a sós.
Gina soube na hora que Dumbledore tinha ciência do que ocorrera, e provavelmente fora ele quem os salvara.
Ela nunca amou tanto o velhinho.
- Vamos conversar em meu escritório, sim, Gina? – convidou Dumbledore gentilmente, seus olhos cintilando em cumplicidade.
Ela aceitou, pois realmente não queria que ninguém ouvisse o que eles falariam. Seguiu-o silenciosamente para a torre onde seu escritório ficava, e educadamente fingiu não ouvir a senha (“barras de chocolate de cereja”), que fez a gárgula dar passagem. Gina nunca estivera na sala do diretor antes; silenciosamente subiu na escada em espiral que se movia e entrou no grande escritório circular sem comentários. Sorrindo gentilmente a ela, ele a convidou a pegar um lugar em frente à sua mesa, e ele próprio se sentou.
Houve um longo intervalo de silencio em que Gina, sentindo-se constrangida, olhou ao redor e fingiu estar interessada nos retratos dormentes dos diretores e diretoras anteriores. Em fim Dumbledore falou:
- Há algo que eu possa fazer, Srta. Weasley?
Ela encontrou os olhos dele e descobriu a sombra de um sorriso.
- Hum, sim – respondeu.
“O que o retrato de mim e Draco – Draco Malfoy... o que está fazendo na minha cama?”
Dumbledore uniu as pontas dos dedos e pressionou-os, parecendo surpreso.
- Retrato?
Por um segundo passageiro, um momento assustador, Gina pensou que talvez Dumbledore não soubesse o que ela estava prestes a contar-lhe.
- Eu achei que talvez apreciasse uma lembrança – prosseguiu ele antes que ela pudesse se levantar e sair correndo de vergonha. Ele sorriu misteriosamente.
Gina relaxou instantaneamente na cadeira, percebendo que estivera agarrando o encosto do braço.
- Então... o senhor me trouxe de volta? Eu e Draco?
Dumbledore, agora parecendo sério, concordou logo.
- Sim – respondeu simplesmente.
Gina sentou-se, um milhão de perguntas surgindo em sua mente. “Como?” era a que mais queria perguntar, mas ao invés dela, decidiu começar pelo início.
- O senhor estava lá? O tempo todo?
- Estava – contou-lhe com um sinal de afirmação.
- Tom não sabia da sua presença?
- Não, não sabia – disse Dumbledore, e aquele sorriso misterioso vacilou em seu rosto de novo.
Gina surpreendeu-se correspondendo ao sorriso:
- Várias vezes eu poderia tê-lo visitado e não o fiz. Pensei que, se Tom tivesse criado aquele mundo, saberia que o sr. estava lá. Por que ele não sabia?
- Ele não esperava que eu fosse capaz de me transportar para lá. Tom estava tão seguro de seus próprios poderes que se esqueceu de considerar que poderia haver outros não muito atrás dele. – Dumbledore inclinou-se para trás, seu rosto sem emoção, sorriso chegando aos olhos. – Ele não estava ciente de que eu sabia que ele estava criando aquele mundo.
- Você sabia? – interrompeu Gina – Então por que não o impediu de levar eu e Draco para lá?
Imediatamente ela se arrependeu se soar tão ingrata – afinal, se não fosse por Dumbledore, Lord Voldemort estaria em seu corpo nesse exato momento.
- Eu não podia fazer isso – respondeu gravemente – Não sabia como fazê-lo, para ser completamente honesto. Tudo que podia fazer era segui-los naquele mundo.
- Mas... – parou Gina, levemente frustrada. – Se o sr. estava lá o tempo todo, por que não nos deixou ao menos saber? Eu não achei que poderia confiar no sr.
- Eu não podia. Devo admitir, Gina, que Voldemort era mais poderoso que eu antes de Harry matá-lo. Eu tinha conhecimento de que ele estava fazendo aquele mundo, e sabia que iria levar alguém de Hogwarts para lá, mas não sabia como impedi-lo. Nada similar a isso aconteceu antes. Tudo que eu podia fazer era ir a esse mundo, e mal consegui fazer isso.
A idéia de que Voldemort fora mais poderoso que Dumbledore gelou Gina, e ela ficou imensamente agradecida por ele não estar mais por perto. Conteve um calafrio e esperou que Dumbledore continuasse.
Quando ele simplesmente encarou-a com aqueles olhos brilhantes e gentis, ela adiantou-se e perguntou:
- Então o sr. basicamente não podia nos deixar saber que estava lá para nos ajudar?
- Eu tentei – admitiu – Pedi que Draco retornasse com a srta. Não sabia que era você naquele ponto, é claro. Não tinha idéia do que estava acontecendo naquele mundo. Só sabia que Draco era um príncipe, e consegui imitar a façanha de Voldemort, implantando na mente da jovem princesa Ellen o conhecimento de eu ser o médico da família. Daí eu só pude ter a esperança de que ela passasse a informação adiante.
“Mas havia uma coisa que eu não podia fazer: entrar na Inglaterra”.
Ela esperou um pouco impaciente quando ele parou para limpar seus óculos de meia lua com a manga de seus robes.
- Por quê? – não conseguiu se conter e perguntou, enquanto ele recolocava os óculos no rosto.
- Tom me descobriria – disse ele, como se fosse simples daquela forma – Ou, pelo menos, eu supunha que ele descobriria. Para prevenir, permaneci em Gales. Esperava que Draco fosse levá-la consigo, mas vocês dois nunca apareceram.
Gina, não pela primeira vez, amaldiçoou-se por não tê-lo visitado quando teve a chance.
- Então... então como o sr. nos trouxe de volta? – bradou, avidamente. Essa era a pergunta que mais queria saber a resposta.
- Antes de entrar no mundo, eu sabia dos planos de Tom, na maior parte – começou, levantando os olhos para o teto enquanto falava – Não sabia quem ele estava usando, mas tinha conhecimento de que voltaria para cá no corpo de outra pessoa. Eu tinha meus espiões – que descobriram toda a informação para mim – que deram o máximo de si para encontrar alguma evidencia do tipo de feitiço que Tom usaria. Eles conseguiram botar as mãos num papel em que ele escrevera, e o copiaram, trazendo a cópia para mim.
“Um pouco idiota de Voldemort deixar coisas daquele tipo por aí, mas calculo que ele estava tão confiante em si mesmo que nem pensou que alguém suspeitasse de seus planos”.
Dumbledore então ficou em silêncio, ainda fitando o teto sem expressão, perdido em seus próprios pensamentos.
- Hm, sr? – disse Gina cuidadosamente.
- Hmm? – ele murmurou agradavelmente, encarando-a novamente – Oh, sim. Bem, no papel ele tinha basicamente escrito um feitiço complexo que se usa para tomar o corpo de outra pessoa, fazendo alguns ajustes para servir para seu próprio uso. Era realmente engenhoso – mesmo eu fiquei bem impressionado com o seu esplendor. De qualquer forma, foi muito idiota da parte dele ter deixado tal evidência por aí. Então eu fiquei sabendo que feitiço ele executaria, e comecei a trabalhar no meu próprio simples feitiço.
- Que feitiço é esse? – perguntou, antes que ele tivesse a chance de explicar.
- Suponho que não é tão simples assim – respondeu rapidamente – Eu tive que levá-lo comigo ao mundo criado por Tom para terminá-lo. Se não fosse por isso, tentaria chegar a vocês. Estava ocupado demais trabalhando numa forma de trazer ambos de volta para nossa época, e destruir o mundo que Tom fizera.
- Trabalhei nele por aproximadamente quatro semanas, duas aqui, e mais duas no mundo de Tom. Eu raramente dormia, e sabia que havia um grande risco de Tom estar ciente de toda a mágica que acontecia lá. Felizmente, não estivera esperando nenhuma magia além da sua, então estava distraído. Finalmente, fui capaz de executar o feitiço e então podia apenas rezar para que funcionasse.
Gina mordeu o lábio para evitar que repetisse a pergunta e aguardou-o elaborar mais.
Ele sorriu abertamente à óbvia ansiedade dela.
- A melhor forma de descrever o feitiço é com uma palavra: gatilho. Assim que Tom lançasse seu feitiço, aquele que iria sugar a alma do seu corpo, o feitiço que eu lancei despertaria uma destruição. Destruiria o mundo de Tom; ele deixaria de existir, assim como as pessoas que viveram lá e o espírito não-bem-real de Tom. De qualquer forma, enviaria você e Draco de volta ao dia que deixaram em 1998 – o que por acaso foi ontem. E estou feliz de contar que funcionou.
Gina encarou-o com uma expressão de descrença, choque, felicidade e medo.
- Como o sr. criou tal feitiço? – disse calmamente.
Dumbledore encolheu os ombros.
- Meu próprio esplendor continua a impressionar-me, Srta. Weasley.
Gina deu uma risada pigarreada, mas seu sorriso desapareceu logo a seguir.
- Obrigada, senhor. – disse, suavemente – Eu... bem... nós... agradecemo-lo.
- Disponha, Gina – respondeu ele alegremente – Mais alguma pergunta?
- Er, sim. Aquelas famílias assassinadas. Por que Tom deu-se ao trabalho de se incomodar com tal coisa?
Os olhos de Dumbledore escureceram a menção dos crimes.
- Eu tenho duas teorias, mas não posso ter certeza de nenhuma. Uma é que ele estava tentando alertá-la da sua presença, deixando-a prevenida de que ele estava lá e era poderoso o bastante para machucar alguém. A outra é que ele simplesmente ficou entediado, e precisava matar alguém. Talvez ele tenha cometido os assassinatos pelas duas razões.
- De qualquer forma, Gina, – adicionou ele – nenhuma daquelas pessoas realmente existiu. Mesmo que possa parecer terrível, e é, não foi real, portanto na realidade ninguém foi ferido.
Isso foi mesmo um alívio. Contudo, Gina ainda conseguia se lembrar daquelas pobres crianças bem como as vira... pobres crianças, cujas vidas haviam sido destruídas apenas porque Tom estivera entediado...
- Algo mais? – Dumbledore sondou gentilmente.
Gina pensou por um instante.
- Tiago e Lílian. Por que eles estavam lá? Tom criou-os especificamente também?
- Receio que tenha que dizer sim. Essa é a única explicação cabível, não acha?
Gina não achava lógica nenhuma das explicações que recebera, mas compreendia. Respirando fundo, fez a pergunta que estava em sua mente a dez minutos.
- E quanto a Draco?
- O que tem ele? Está a salvo em casa, e acredito que seu novo amigo também. – os olhos de Dumbledore pareceram cintilar de forma travessa.
- Amigo? – repetiu Gina, confusa. Não acreditava que Draco tinha amigos em 1998, quanto menos em 1607.
O diretor sorriu para ela.
- Suponho que possa chamá-lo de “lembrancinha” própria de Sr. Malfoy.
Gina se deu conta de que não queria saber o que Draco ganhara, mas então outra pergunta surgiu em sua mente:
- Se você não sabia muito sobre o mundo, então como sabia do retrato? E sobre a “lembrancinha” de Draco?
- Fofocas existem em todos os anos e sociedades, Gina – respondeu ele misteriosamente – As mulheres galegas do século dezessete pareciam especialmente interessadas no tipo de cavalo que Príncipe Draco montava, e qual artista pintara o retrato de casamento dos novos Rei e Rainha.
- Cavalo? – repetiu, então jogou a cabeça para trás e riu – Cavalo! Você deu um cavalo a Draco?
O diretor apenas sorriu, mas a expressão de seu rosto indicava claramente que estava sendo sincero.
Gina sentiu um impulso, e quis pular a mesa e abraçá-lo bem forte por ser tão inteligente e esperto, mas então se lembrou que ele estava bem velhinho e ela não queria machucá-lo – ou assustá-lo com sua repentina demonstração de afeto.
Ao invés, lançou-lhe o seu sorriso mais alegre e levantou-se:
- Obrigada, Professor, acho que entendi tudo agora.
- Ótimo. Por que não retorna ao Salão Principal agora? Creio que ainda estão almoçando.
Ela sorriu e concordou, então deixou o escritório.

* * *

Mais tarde daquela noite, Gina deitava na cama, um sorriso bobo estampado em seus lábios. De modo geral, o dia havia sido agradável. Enviara uma coruja a cada membro da sua família, apenas com cumprimentos e explicando como sentira falta deles. Sabia que ficariam um pouco confusos, mas não se importava. O fato de que eles estavam por perto a deixava segura, confortável e extremamente contente.
Não fizera nada mais no resto do sábado além de comer e perambular pelo castelo, vestindo roupas confortáveis. Era bom poder usar o que bem entendia.
Mas agora, já que não havia ninguém para conversar como fizera durante todo o dia, deixou seus pensamentos vaguearem livres. E eles se focaram em uma pessoa: Draco.
Ele estava em casa, e obviamente sabia que o que acontecera com eles fora real. Tinha um cavalo real para prová-lo. Só de imaginar a cara dele quando se dera conta de que havia um cavalo em casa fazia-a rir, e tinha que abafar seu rosto no travesseiro.
Mas então – por que não tentara entrar em contato com ela? Devia estar curioso sobre o que acontecera e por que acontecera. Pelo que ouvira falar sobre ele, Draco não era muito fã de Dumbledore. Então, basicamente isso significava que se ele não queria falar com o Diretor, então – antes de tudo – deveria tentar falar com ela. Ou pelo menos mandar uma coruja. Se estivesse no lugar dele, ela estaria morrendo de vontade de saber tudo. Iria de bom grado engolir o orgulho e esquecer o rancor contra a família dele para ter algumas respostas.
Por outro lado, era de Draco que ela estava falando. Ele preferiria engolir cobras vivas a engolir seu próprio orgulho.
Gina virou-se na cama, abrindo um pouco a cortina e olhando para a janela. A lua estava brilhante – sua luz azulada caía sobre o peitoril. Ouvindo pelas respirações e roncos que suas colegas do sétimo ano estavam dormindo, saiu da cama e foi até a janela. Apoiando a cabeça contra o vidro frio, viu que todo o céu estava coberto por nuvens pesadas – menos a lua. Ela espreitava entre o céu nublado, cintilante e cheia, varrendo a terra com sua suave claridade, iluminando a neve na grama, faiscando na água fria do lago.
De repente ela se sentiu triste, como se houvesse um peso no seu peito. Como se uma parte dela tivesse ido embora para sempre, como se as coisas nunca mais pudessem voltar a ser o que eram antes. Ela suspirou profundamente, e fechou os olhos. Após um momento, abriu-os novamente, e viu que as nuvens haviam coberto a lua – estava agora escondida, e o mundo ficou escuro.
A melancolia dentro dela ficou mais forte. “Até a lua pode ser conquistada” pensou, franzindo as sobrancelhas.
Ela permaneceu ali por alguns minutos, sua respiração abafando o vidro, pensando em nada específico. Então, começou a nevar – tão suave e superficialmente no início que Gina nem percebeu.
Vagarosamente, os flocos começaram a engrossar e ficar mais fofos, e de uma vez por todas Gina soube por que se sentia como se uma parte sua houvesse sido roubada.
Era porque fora. E essa parte, um pedaço da sua alma, estava na posse de Draco Malfoy.
Ela ignorara seus sentimentos por ele, esperando que fossem sumir, e ainda acreditava que, com o tempo, sumiriam. Não estava certa sobre suas idéias sobre o amor – se uma pessoa estava destinada a apenas uma outra pessoa, uma alma gêmea, então o que aconteceria se essa alma gêmea morresse? Como essa outra pessoa ficaria então? – mas sabia que se não visse Draco outra vez, se arrependeria com a dúvida para sempre. Pelo resto da sua vida, mesmo que crescesse e se cassasse com um bom homem que não parecia querer sempre insultá-la e fosse feliz com ele, sabia que uma hora pararia pra pensar: E se fosse Draco?
Um rápido olhar ao relógio informou-lhe que era apenas onze horas. Se se apressasse, poderia pegar uma vassoura do armário e voar para Hogsmeade em menos de uma hora. Então poderia usar pó de Flu para chegar à casa de Draco. As chances eram de Draco estar acordado, então não seria um problema. De qualquer forma, só podia supor – ou melhor, esperar – que as lareiras dele estivessem conectadas à Central de Pó de Flu. Se não estivessem, então isso seria realmente um problema.
Se não estivessem, então... bem, teria que esperar até o período de férias chegar e reservar um dia para voar o caminho inteiro até lá de vassoura.
Determinada e bem desperta, correu ao seu baú para vestir algo quente. Também pegou um punhado de galeões que sua mãe lhe dera, alertando-a para usar apenas em emergências extremas. Bem, esse caso não era exatamente uma emergência, mas seria bom levar dinheiro apenas para prevenir.
Quando ficou pronta, deixou o dormitório silenciosamente, e esgueirou-se para o Salão Comunal. Estava escuro e silencioso, o fogo reduzido a restos de madeira carbonizados. Sabia o caminho de saída bem o bastante para não precisar de muita luz.
A mulher gorda abriu seu retrato para ela sem perguntas – estava meio dormente e murmurou algo incoerentemente. Gina afastou-se depressa antes que ela percebesse o que fizera e acordasse por inteiro.
Apenas uma vez Gina teve que se esconder atrás de uma grande tapeçaria quando Filch passou – felizmente sem Sra. Norris. Ele estava murmurando consigo mesmo, e quando sua voz sumiu completamente, ela saiu e correu até a escadaria mais próxima, desejando deixar aquele andar o mais rápido possível.
As portas principais estavam trancadas, e um simples Alohomora não as abriria. Gina franziu o cenho, e praguejou baixinho. Havia diversas outras saídas – “têm que haver”, pensou – mas não sabia onde ficavam.
Achava que provavelmente haveria uma na cozinha. Uma vez, no ano anterior, Rony a mostrara onde a cozinha ficava, e como se chegava lá. Valia a pena tentar; os elfos domésticos eram tão amigáveis que poderiam não se importar se ela decidisse sair do castelo. Além disso, era quase meia noite. Por que estariam cozinhando a essa hora?
Para sua surpresa, o lugar não estava vazio, mas cheio de elfos domésticos adormecidos. A maioria estava no chão, enrolados em um grande cobertor, e alguns estavam sentados nas cadeiras, dormindo. Um estava roncando, babando em cima de uma mesa. Gina desesperadamente esperou que, se aquela fosse a mesa em que preparavam as refeições, a limpassem antes de colocar qualquer coisa em cima.
Seus olhos contemplaram o aposento, procurando outra porta. Havia uma do outro lado da cozinha. Podia apenas rezar para que desse para o exterior.
Atravessar o local era um grande desafio. Parecia que em todo lugar que queria colocar o pé havia algum membro de um elfo doméstico. Acabou passando na ponta dos pés entre eles, as mãos esticadas em cada lado do corpo para manter o equilíbrio. Uma hora errou o passo e acabou pisando no rosto de um elfo, mas ele só roncou e se virou, ainda adormecido.
Finalmente, depois do que pareceu a eternidade, ela alcançou a porta. Também estava trancada, mas então ela murmurou “Alohomora” e ela abriu instantaneamente.
Aparentemente, nenhum aluno saíra do castelo pela cozinha antes.
Ela saiu escondida, o ar frio batendo-lhe o rosto ferozmente. Amarrando a capa mais firme em volta do corpo, tentou distinguir em qual direção o campo de quadribol ficava. Nunca saíra por este lado do castelo e não sabia ao certo o caminho a tomar.
Não lhe custou muito para descobrir. Com a respiração saindo em pequenas nuvens, apressou-se pela grama escorregadia e coberta de gelo, rezando para que nenhum professor com insônia estivesse olhando pela janela naquele momento.
O armário de vassouras também se abriu com um “Alohomora”, e Gina teve motivos para acreditar que a razão pela qual pegar uma vassoura era tão fácil era porque estavam todas enfeitiçadas com um Feitiço Rastreador. Bem, não importava; estaria de volta antes do amanhecer, então não haveria motivo para a seguirem.
Acendeu a varinha com um “Lumus” e deu uma olhada às suas opções de vassouras. É claro, todas eram bem antigas, a marca mais velha sendo a mais abundante: Comet 260’s. Havia algumas Nimbus, umas 2000, outras 2001. E também havia duas Twigger 90’s. Gina não era boba – ouvira falar o bastante sobre vassouras de seus irmãos, e sabia que a Nimbus 2001, sendo a mais recente, era a melhor opção.
A garota pegou a Nimbus 2001 e montou-a. Levantou vôo e subiu até a estar alto o bastante para ver as luzes de Hogsmeade à distância. Então dirigiu a esse ponto o mais rápido que a vassoura permitiu, o ar frio adormecendo seu rosto e seus dedos.
O vôo durou apenas dez minutos, mas quando chegou lá estava congelada até os ossos. Desembarcou diretamente na frente de Dervixes e Bangues, uma loja de equipamentos mágicos.
Lá dentro estava escuro, e havia uma placa pendurada na porta onde se lia Fechado.
O estomago de Gina caiu em desapontamento. Tivera a esperança de que um dos departamentos da loja ainda estivesse aberto, apesar da hora...
De repente, teve uma idéia ousada. Sabia que nunca teria a chance de voltar ali quando a loja estivesse aberta, então poderia muito bem tentar entrar naquele momento e terminar logo com aquilo.
Iria arrombar a loja.
Gina ficou parada ali no frio congelante e tentou todos os feitiços que conhecia. Tentou fazer o vidro da porta desaparecer, mas obviamente ele fora enfeitiçado para repelir a magia. Empreendeu uma azaração de entortamento na porta, para que a afastasse para o lado quando entrasse. Em vão. Então, pegou a vassoura nas duas mãos e arremessou-a contra o vidro, batendo firmemente, achando que pudesse repará-lo se quebrasse. Mas, novamente, estava protegido, e nem tremeu à força que ela usou.
Finalmente ficou desesperada o suficiente para transfigurar uma vareta que havia por perto em um grampo de cabelo, para que tentasse a fechadura. Foi então que percebeu que não havia uma fechadura; a porta era trancada por mágica, não por um simples artifício trouxa.
Conteve um grito de frustração.
“Não desista” disse firmemente a si mesma.
Tinha que haver uma madeira de entrar. Gina podia não ser uma bruxa poderosa, como Tom dissera, mas era bem esperta. Poder não era nada; era preciso cérebro para usar o poder. Gina achava, ou talvez tinha a esperança, que possuía miolos bastante para encontrar uma solução.
Deu um passo atrás na rua, olhando para o topo do prédio. Eram dois andares, e adivinhava que o nível superior provavelmente era o lar dos donos. Não queria ter que usar esse caminho a menos que não tivesse alternativa.
Mas... Algo prendeu sua atenção. A janela na extrema esquerda. Estava com uma fresta aberta.
Por que alguém abriria a janela numa noite tão fria?
Montou na vassoura, o coração batendo forte pelo entusiasmo do sucesso e pelo medo de ser pega. Pairando abaixo da janela aberta, deu uma olhadela lá dentro. Estava muito escuro para ver algo, mas enfiou a ponta da vassoura na fresta e sussurrou um feitiço. Uma fagulha branca brotou e iluminou o chão, brilhando suavemente. Revelou um pequeno banheiro.
A centelha apagou um segundo depois, mas já vira o suficiente. A porta do banheiro estava escancarada – Gina suspeitava que tanto a porta quanto a janela estavam abertas para livrar o local de um cheiro desagradável. Ela conseguiria entrar sem muito barulho.
Executou um rápido Feitiço Silenciador para que a janela não rangesse, e lentamente abriu-a completamente para que entrasse. Voou mais alto até seus joelhos ficarem paralelos ao peitoril, e enfiou suas pernas para dentro. Um momento depois estava dentro, e apressou-se para pegar a vassoura e trazê-la consigo.
Pronto. Estava dentro. Agora precisava descer até a loja.
Após retornar a janela à sua devida posição – aberta apenas um pouquinho – deixou o banheiro e pisou em um corredor escuro. Para sua esquerda havia uma escada; à direita, o corredor continuava numa série de portas fechadas.
A escada era o que ela queria.
Caminhou na ponta dos pés. Seu coração estava batendo tão forte no peito que achou que pudesse despertar quem estivesse dormindo lá em cima. Contudo, não era um medo aterrorizador ou paralisante. Esse medo era... Excitante. Emocionante. A idéia de que estava fazendo algo tão ousado como invadir uma loja fazia-a sentir-se regozijada.
No fim da escada ficava uma porta. Ela abriu-a e entrou na própria loja.
Gina já estivera em Dervixes e Bangues uma vez antes, e vira uma fileira de lareiras na parede dos fundos. Observara diversos bruxos e bruxas desaparecerem nas chamas, obviamente por pó de Flu. Quando questionara sobre isso, o vendedor lhe dissera que muitas pessoas iam e vinham da mesma forma por pó de Flu. Eram lareiras públicas, abertas a qualquer um que quisesse usá-las.
Ela esperava que ainda pudesse usá-las a tal hora da noite.
Agora, estavam negras e silenciosas. Na abóbada sobre cada lareira se encontrava um pote com pó de Flu.
Os dedos de Gina comicharam em expectativa. Estivera tão obcecada com a idéia de entrar na loja que nem se lembrara da possibilidade da casa de Draco não estar conectada à Central.
“Não custa nada tentar, agora que estou aqui” pensou secamente.
Acendeu um fogo instantaneamente com sua varinha. O calor e a luz banharam seu rosto.
Como se com medo de que a luz chamasse alguém, olhou por cima dos ombros para se certificar que a loja estava vazia. Enquanto fazia isso, estendeu a mão para o pote de pó de Flu. Calculou mal a posição em que se encontrava, e seus dedos bateram nele pesadamente.
Virou a cabeça de volta bem a tempo de ver o pote tombar da abóbada e se quebrar no chão.
- Opa – disse silenciosa e idiotamente.
O pó era visível entre os pedaços de vidro quebrado, e por um momento, Gina considerou a possibilidade de se abaixar e usá-lo. Mas o contato com o chão deve ter ativado algo, pois duas coisas aconteceram ao mesmo tempo naquele instante.
O pó evaporou no ar, desaparecendo sem deixar evidencia.
E um alarme disparou.
Gina congelou. Deu-se conta de que o barulho devia ter ativado o alarme. O som estridente encheu seus ouvidos, provocando-lhe o instinto de tapá-los com as mãos. No meio do barulho, escutou uma pancada forte lá em cima.
Os donos agora sabiam que ela estava ali.
“Ih... isso não é bom” pensou.
Agora, mais que nunca, rezou para que a casa de Draco estivesse conectada à Central. Sem pensar duas vezes, esticou a mão para mais um pote de pó de Flu, pegou um punhado, e jogou no fogo. Colocou o pote de volta, agarrou a vassoura, e pulou nas chamas verdes.
- Que diabos...? – ouviu uma voz débil dizer sem clareza.
Viu um homem entrar aos tropeções pela porta da escada, e soube que tinha que sair dali rapidamente – antes que ele a identificasse.
“Por favor, Draco, por favor, esteja conectado!” Rezou.
- Mansão Malfoy! – disse com severidade e clareza, mas o mais rapidamente que conseguiu. Só podia rezar para que tivesse dito a coisa certa.
Um alívio imenso percorreu seu corpo quando começou a girar com violência. Estava indo a algum lugar! Naquele instante, qualquer lugar que não fosse aquele seria bom. Trazendo a vassoura próxima do seu corpo, mantendo os cotovelos juntos, fechou os olhos e esperou que os giros terminassem.
Pareceu que ela rodara por um longo tempo, quando na verdade não poderia ter passado de um minuto. Quando ela sentiu que estava prestes a vomitar, parou abruptamente, e tão de repente que perdeu o equilíbrio.
Caiu para frente, fora de qualquer lareira que fosse que tivesse parado, e ficou de joelhos. A vassoura bateu suavemente no carpete que saudava seus olhos.
“Consegui” disse a si mesma com um grande suspiro de alivio. “Saí de lá.”
Seu alívio logo desapareceu. Quando levantou a cabeça, achou-se em uma grande sala, decorada ricamente, obviamente como o escritório de alguém. E sentado atrás de uma mesa, encarando-a com uma sobrancelha arqueada e olhos frios e indagadores, estava Lucio Malfoy.
Gina descobriu-se sem fala. Sua boca caiu aberta, e sentiu-se a maior idiota do planeta. Seu rosto esquentou-se tão claramente que sabia que estava um pimentão.
Lucio Malfoy estivera olhando alguns papeis, e ainda segurava um no ar, fitando-lhe. Parecia esperar que ela dissesse algo. Nada inteligente veio à sua mente.
- Oi – murmurou, e, não acreditando ser possível, sentiu seu rosto arder mais.
- Posso ajudá-la? – perguntou o homem friamente.
O tom de voz dele lembrava Draco, e instantaneamente, sentiu alguma coragem lhe voltar.
“Draco” recordou-se. “Estou aqui por Draco”.
Pôs-se de pé, fingindo estar ocupada limpando sua capa, para que não tivesse que olhá-lo nos olhos. Quando terminou, disse estavelmente:
- Preciso falar com seu filho.
- Tem consciência de que horas são? – ele estava aparentemente a ignorá-la.
- Preciso falar com seu filho – repetiu, ainda tremendo – Duvido que ele esteja dormindo.
Ele não respondeu, e ela teve que olhá-lo novamente para se certificar que ele ainda estava no escritório e a ouvia. Certamente estava, e lhe lançava o olhar mais estranho que ela já recebera na vida. Era algo entre descrença, indignação e divertimento.
- Você quer falar com Draco? – perguntou com um lábio torto, como se alguém tão humilde como ela não fosse considerada boa o bastante para conversar com seu filho.
Gina tinha várias boas respostas para dar, mas engoliu-as.
- Sim – disse, agora um pouco mais em controle.
- Não – respondeu Lucio simplesmente.
- Não? – repetiu tolamente.
- Você não pode falar com ele – Lucio disse, com desdém – Ele não deseja recebê-la. Agora, retire-se, antes que eu chame o Ministério para fazê-lo.
- Não quer me receber? – emitiu, ainda soando como uma idiota total.
- É exatamente o que eu disse – bradou – Precisa repetir? Vá embora.
Ele retornou aos seus papeis.
- Ele disse que não queria me ver? – exigiu ela.
- Eu sei que ele não quer vê-la – disse Lucio sem levantar o olhar – Você tem aproximadamente dois segundos para se retirar sozinha ou eu mesmo o farei.
Determinada, e agora um pouco irritada, Gina disse bruscamente:
- Você nem sequer sabe meu primeiro nome, Sr. Malfoy. Duvido que Draco lhe disse que não quer me ver.
Lucio voltou seus olhos cinzentos a ela, parecendo furioso. Largou seus papeis na mesa.
- Tudo bem, já lhe concedi bastante tempo. Agora terei que lhe tirar da minha casa...
Gina sentiu aquele medo familiar e paralisador correr sob suas costelas quando ele começou a atravessar a sala em direção a ela. Gina, de alguma forma, conseguiu manter a voz firme e respondeu:
- Apenas pergunte a ele. Pergunte a ele se ele não quer ver Gina Weasley. Então eu partirei.
Lucio ignorou-a, e Gina recuou, prevenindo-se caso ele a agarrasse. Ao invés, ele passou reto por ela e foi até a porta. Abrindo-a, gesticulou:
- Vire à direita e depois na segunda à direita. Isso deve levá-la para fora, Srta. Weasley.
Ela sabia então que não receberia ajuda dele. Teria que encontrar o quarto de Draco sozinha.
Ótimo.
- Bem, então obrigada pelo seu tempo – disse Gina, o sarcasmo introduzido em cada palavra.
Não olhou para Lucio quando deixou o escritório. Quando meramente deu um passo fora, ele bateu a porta atrás dela, fazendo-a pular em susto.
Gina virou-se para fitar a porta:
- Cabeça oca.
Ficou parada no corredor, tentando decidir o que fazer. Bem, certamente não iria embora. Havia arriscado o mundo para chegar até ali, e Lucio Malfoy não a assustava; não iria se livrar dela tão facilmente. Não quando havia sido tão difícil chegar ali.
Então... Procuraria Draco.
Provavelmente ele estava em seu quarto, apesar de duvidar que estivesse dormindo. Por alguma razão, Draco aparentava ser uma pessoa que ficava acordada até tarde da noite.
“O quarto dele” pensou. “Se eu fosse Draco Malfoy, e vivesse numa mansão, onde gostaria que meu quarto fosse?”
Não tinha idéia.
A casa era grande, sim, mas teria que procurar em cada quarto para saber se era o dele.
Com cuidado, obviamente – não seria inteligente ir parar no quarto ocupado pela Sra. Malfoy.
Gina perambulou desinteressada, e silenciosamente, constantemente prestando atenção a passos que se aproximassem. A casa gigante parecia abandonada; a maioria dos elfos domésticos e as poucas pessoas que a ocupavam já deviam estar na cama. Ficou grata por isso.
Enquanto dava uma olhada ao redor, teve uma boa idéia do quão rico os Malfoys realmente eram.
Toda a mobília era perfeita; nova; cara. Era incrível como alguém poderia tocar nela, quanto menos sentar ou dormir.
Gina estava evidentemente no primeiro andar, que era bem vago. Quase não havia portas fechadas entre os aposentos – e sim entradas grandes e arqueadas conectadas a salas enormes. O único lugar que estava realmente fechado era a cozinha, e ela sabia que era porque era onde os elfos trabalhavam, e deviam ser mantidos fora de vista.
Encontrou a escada ampla e curva que conduzia ao andar superior, e ficou levemente aliviada. Sabia que o quarto de Draco seria lá em cima.
Agora que estava ali, a apenas alguns minutos de achar Draco, começou a pensar duas vezes. Como ele reagiria quando a visse? Mandaria-a embora? Daria-lhe uma chance de explicar como se sentia?
E se ele lhe desse uma chance, será que ela teria coragem? Dizer na cara dele que estava perdidamente apaixonada por ele, e o queria mais do que jamais quisera alguém antes?
A apreensão borbulhou em seu estômago.
Tentou imaginar como se sentiria se Draco lhe dissesse que não a amava... como ela o amava. Tentou inventar uma resposta inteligente para jogar-lhe se dissesse “Cai fora, Weasley – eu só fiquei com você por que era a única pessoa que conhecia lá”.
Gina descobriu que doía demais imaginar isso, que fazia seus olhos queimarem com lágrimas impertinentes.
Que idiota era por se apaixonar por Draco Malfoy.

* * *



Draco não conseguia dormir. Até então, não conseguira tirar Jack do seu quarto. Oh, sim, seria fácil fazê-lo, mas não tinha idéia de onde colocar o maldito animal. Precisava achar um estábulo, e quando o encontrasse, teria que pagar para o cavalo ficar lá. Não que dinheiro fosse um problema, mas teria que explicar a seu pai onde estava gastando e por que o gastava tão rápido.
E não queria fazer isso.
Não eram os problemas que estavam o mantendo acordado, apesar disso. Era o fedor. O cheiro do cavalo.
Lá fora, ao ar livre, Jack não fora tão mau. Mas já que estivera no quarto o dia inteiro, estava começando a feder quase esplendidamente. E apesar de Jack estar parado apoiado na parede, adormecido, era barulhento – urrava e relinchava várias vezes. Draco teve que fazer um Feitiço Silenciador nas paredes para que ninguém na casa além dele o ouvisse.
E teria que fazer um Feitiço Perfumante no quarto também, se soubesse como. Quando estudara magia, de qualquer forma, aprender como fazer um quarto cheirar melhor não fora sua maior prioridade.
Então agora estava sofrendo as conseqüências.
Com um suspiro profundo, Draco se virou e fitou o relógio. Quase uma hora. Não era a hora mais tarde que já dormira, certamente, mas pela primeira vez realmente queria dormir.
Por mais que fosse um alívio estar de volta em casa, longe de Tom Riddle, não estava tão feliz como deveria. Pelo menos em 1607 tivera uma pequena irmã para brincar. E Gina para agarrar. Aqui... bem, seria fácil arranjar alguém para substituí-la na tarefa, mas tinha mais vontade de jogar cartas. E ele sabia que qualquer ficante substituta seria gentil e o deixaria ganhar. E daí não seria divertido.
Diversão. Ele zombou de si mesmo. Não se divertia de verdade desde que parara de implicar com Potter e seus amigos no sétimo ano. E nem tivera muito desejo de se divertir desde aquela época.
Maldita Gina. Realmente a odiava. Ela fizera ele ter vontade de jogar cartas com ela. Ela o fizera ter vontade de beijá-la, e só ela. Qual era o problema da garota? Será que pensava que podia fazer isso com qualquer um – entrar em suas vidas, e arruinar tudo?
Cerrou os dentes. Deus, ele a odiava.
Contudo, naquele momento, estava desenvolvendo uma grande antipatia por cavalos também. De alguma forma Jack sobrepujava seus pensamentos em Gina, e com um suspiro impaciente, tirou os cobertores e saiu da cama. Não conseguiria pegar no sono nesse quarto – isso era certo.
Draco decidiu dormir em um quarto de hóspedes, e colocaria um Feitiço Trancante na porta de seu quarto para que ninguém entrasse e encontrasse Jack. Parecia um bom plano, mas antes que pudesse ter a chance de começar a pô-lo em prática, alguém bateu na porta.
A batida confundiu-o. Apenas uma pessoa batia na sua porta gentilmente, e essa pessoa era sua mãe. E tinha certeza que Narcisa não estava acordada a essa hora, e, mesmo que estivesse, não estaria incomodando-o. Lucio Malfoy sempre batia na porta e logo entrava sem esperar uma resposta.
Não era sua mãe ou seu pai, e certamente não seria algum empregado. Então, quem estaria batendo na sua porta tão tarde?
O fato de ser uma pessoa, e que queria entrar em seu quarto, fê-lo entrar levemente em pânico. O que faria com Jack?
- Só um minuto – disse Draco, antes de perceber que o lugar estava silenciado pelo feitiço; quem quer que fosse que estivesse do outro lado, não conseguiria ouvi-lo.
Ele não teve tempo para tentar esconder Jack. A porta se abriu para revelar...
Gina.
Draco pestanejou, perguntando-se se estaria tendo alucinações. Custou-lhe dois segundos completos para chegar à conclusão de que, não, não estava imaginando coisas. Gina Weasley estava parada na porta de seu quarto.
A luz do corredor entrou, apenas o suficiente para que Gina pudesse apertar os olhos e ver dentro do dormitório escuro. Seus olhos percorreram a cama desfeita de Draco, o garoto em pessoa, Jack, e finalmente Draco novamente.
Ele encarou-a também, fazendo uma anotação mental do quanto ele queria odiar a juba selvagem que era o cabelo dela; o quanto queria detestar suas sardas; e o quanto queria desprezar aquela capa de segunda mão que ela estava usando... ele queria odiar até a maneira que ela estava segurando a vassoura na mão direita, fazendo a ponta de seus dedos ficar esbranquiçada. Mas pela primeira vez, enquanto pensava no quanto devia odiar tudo isso, simplesmente não conseguia fazê-lo. Pela primeira vez em sua vida, estava mais feliz do que podia compreender por Gina estar parada ali, sem jeito e parecendo cheia de expectativa.
Por que ela estava fazendo isso para ele?
- Há um cavalo no meu quarto – comentou Draco de repente, na falta de outra coisa para dizer.
E Gina sorriu à isso, um sorriso brilhante e humorístico, e então fitou o contorno dormente de Jack.
- Foi um presente de Dumbledore – disse ela suavemente.
- Maravilhoso – desprezou Draco – Você também ganhou um presente espetacular assim?
- Nem tanto – o sorriso dela cessou, e parecia constrangida.
- Bem – disse ele alto – Há uma razão por você estar no meu quarto também?
- Sim – respondeu, prendendo seus olhos nos dele – Podemos conversar?
- O que você acha que estamos fazendo?
Ela olhou com desdém.
- Não, refiro-me a conversa séria.
- Conversa civilizada?
- Estou falando sério, Draco! – explodiu ela.
- Não estou rindo, Gina – retorquiu – Se você quer conversar, ótimo. Vá em frente. Estou ouvindo.
Ela pareceu vacilar, e olhou em volta do quarto. Como se só então percebesse algo, torceu o nariz:
- Está um cheiro ruim aqui.
- É. Bem, geralmente isso acontece quando há um cavalo nas redondezas –disse afiadamente, começando a ficar irritado.
- Não há outro quarto em que possamos ir?
- Acho esse em que estamos ótimo – agora ele estava tentando ser teimoso – Eu ainda gostaria de dormir um pouco essa noite, Gina. Então, tem algo inteligente a me dizer?
Ela suspirou em irritação:
- Ótimo. Ótimo. Mas posso pelo menos me sentar?
Ele apontou para sua escrivaninha.
- Sente o tempo que quiser – disse com um sorriso falso.
- E seria útil ter luz – adicionou, usando mágica para ascender todas as velas em menos de um segundo.
Ela fechou a porta e se dirigiu à escrivaninha, onde se sentou. Removeu sua capa e gastou seu tempo precioso colocando-a organizadamente no dorso da cadeira. Então, levantou-se novamente, encostou sua vassoura contra a parede, e finalmente retornou à cadeira. Parecia que estava acomodada, mas então deu um solavanco como se tivesse se lembrado de algo, e tirou o suéter. Descansando contra a cadeira, parecia que estava disposta a esperar o sol nascer antes de prosseguir falando o que desejava.
- Como eu disse anteriormente, – disse Draco friamente – eu gostaria de dormir por menos uma ou duas horas. Pode se apressar?
Gina lançou-lhe um olhar feroz.
- Cale a boca, sim, Draco? Você terá suas preciosas horas de sono, prometo. Apenas me dê dez minutos.
Ele cruzou os braços contra o peito nu, e sorriu astutamente.
- Estou contando.
Ela preferiu ignorá-lo.
- Primeiro. Você não se interessa em saber por que Tom nos levou para aquele mundo?
- Não muito.
- Mentiroso.
- Me conte.
Ela suspirou, correu uma mão pelos cabelos, e então prosseguiu a contar-lhe tudo que Tom lhe dissera. Levou quase todos os dez minutos prometidos, mas quando terminou, Draco havia esquecido do tempo limite e teve que fazer muitas perguntas que se passavam em sua mente. Ela parecia saber responder tudo que ele indagava, o que o surpreendia.
- Falei com Dumbledore – explicou, obviamente lendo a expressão levemente impressionada dele – Ele me contou tudo que Tom não contara.
- Então foi o velho que nos salvou – disse Draco com um sorriso vaidoso – Devo admitir que meu respeito por ele aumentou um ponto ou dois.
Ela encarou-o, seus olhos castanhos mais escuros pela desaprovação.
Draco parou de sorrir, descruzou os braços, e sentou em na cama.
- Você veio aqui só para me contar isso? – disse lentamente – Quando podia ter me escrito em uma carta?
Com isso, o olhar dela caiu para o colo e pareceu interessada em roer uma unha. Estava nervosa com alguma coisa, e por algum motivo, isso fez Draco se sentir preocupado.
- Eu também tenho algo mais para... para lhe dizer – murmurou, evitando olhá-lo nos olhos.
Jack relinchou em seu sono.
Gina voltou sua atenção ao animal, e deu um meio sorriso.
- Você realmente precisa tirar esse pobre cavalo daqui.
- Você acha mesmo? – perguntou Draco seriamente com um rosto completamente sombrio.
- Eu também recebi um presente de Dumbledore – anunciou abruptamente, ocupada novamente com as unhas.
- Sim, você me disse – ele certificou-se de soar impaciente e entediado.
- Não foi um animal – insistiu – Foi o nosso... nosso retrato de casamento.
Draco teve que se esforçar um pouco para manter a expressão branca.
- Aquele que levou três horas?
- Não, o outro – explodiu Gina sarcasticamente, lançando-lhe um olhar que claramente indicava que o considerava um idiota.
Ele preferiu ignorá-la.
- Ainda estou confuso, Gina – falou lentamente e meticulosamente, botando um dedo no queixo – Você veio aqui no meio da noite para explicar por que fomos mandados ao passado, e então diz que ganhou nosso retrato de casamento... quando poderia ter simplesmente explicado isso tudo por carta?
Ela corou furiosamente, e ele então teve que dar um sorrisinho.
- Não é óbvio por que estou aqui? – reclamou grossamente.
- Não. Na verdade, não – disse ele asperamente.
- Nossa, você é um canalha – resmungou ela, e pressionou a palma das mãos nos olhos fechados. Balançou a cabeça, abriu os olhos, e respirou fundo – Tudo bem, vou dizer então. Vim aqui para discutir a nossa relação.
Bem. Agora ele se sentia realmente idiota. Deveria ter adivinhado, pela forma que ela estava agindo. Talvez ele não quisesse admitir para si mesmo.
“Acho que não tem mais como evitar” pensou ele. Ela queria conversar sobre a possibilidade de um relacionamento entre eles, e ele teria que ouvir.
- Ótimo. – foi tudo que ele disse.
- Ótimo? – repetiu fracamente – Ótimo... tudo bem.
Houve uma longa pausa, na qual Gina se levantou e foi acariciar o flanco de Jack, e Draco observou-a. Não tinha certeza se ela estava esperando que ele dissesse algo primeiro, mas se estava, teria que esperar um longo período.
- Então o que você acha? – disse ela finalmente.
- Sobre o que?
Ela desviou os olhos de Jack e lançou a Draco um olhar feroz.
- Pare de ser idiota, Draco – disse diretamente.
Ele respirou fundo.
- Não pensei muito nisso – disse a ela, mentindo um pouco. Definitivamente havia pensado neles, mas não chegara a nenhuma conclusão ainda.
- Bem, talvez você devesse começar – disse ela furiosamente, revirando os olhos.
Novamente, houve uma pausa de silencio. Gina suspirou diversas vezes, o olhar duro em seu rosto suavizando-se em algo que se assemelhava derrota. Deu um último tapinha em Jack, e então foi se sentar ao lado de Draco na cama.
Não era bom para ele ficar tão perto dela. Principalmente quando estava usando apenas a calça do pijama.
Definitivamente nada bom.
- Está bem, eu vou dizer então – disse ela, sua voz vacilando um pouco.
Ela encontrou o olhar dele, e ele descobriu que não conseguia desviar. Gina estava fazendo aquilo de novo – quebrando suas defesas, fazendo-o sentir coisas que não devia. Fazendo-o sentir coisas que não queria.
- É realmente difícil – admitiu ela suavemente, sua boca curvando-se num sorriso.
Ela levou o rosto para perto do dele, como se sentindo um momento de paixão. Os narizes se tocaram.
O coração batendo forte, ele tentou desesperadamente pensar em algo esperto antes que perdesse todos os sentidos completamente.
- Bem, – disse ele roucamente – desde que você não confesse que na verdade é um homem, pode me contar qualquer coisa.
Ela irrompeu um sorriso largo e deu uma pequena risada.
- Não, não sou um homem – disse sem perder a expressão divertida.
Ele não conseguia responder. Estava com medo que se abrisse a boca, a beijasse.
“Oh, Deus, se afaste de mim” pensou desesperadamente.
Ela não se afastou. Lentamente seu sorriso cessou, e seus olhos vagaram pelo rosto dele, como se estivesse tentando gravá-lo para sempre na memória. A respiração dele estava curta, mas ela não pareceu notar. Levantando a mão, gentilmente percorreu a mandíbula dele com a ponta dos dedos, e parou nos lábios.
- Nossa, você é lindo – sussurrou ela.
Draco perdeu o já pouco controle que tinha, e inclinou-se para frente para beijá-la.
Os braços dela enlaçaram o pescoço dele, e os dele foram para a cintura dela, puxando-a para mais perto. Ela obedeceu, movendo-se de forma que ficasse sentada no colo dele. Sem romper o contato, ela posicionou os dois palmos no peito dele e facilmente deitou-o na cama.
Oh não. No fundo da mente, Draco teve bom senso o bastante para se dar conta de que ali estava, beijando Gina Weasley novamente, e que definitivamente não deveria estar fazendo isso.
De qualquer forma, quando as mãos de Gina passearam pelo peito nu dele, de algum jeito conseguindo encontrar espaço entre os corpos pressionados, ele percebeu que não se importava.
Iria aproveitá-la, e não iria se preocupar.
Os lábios de Gina deixaram os dele para percorrem sua bochecha, seu pescoço... sem pensar, ele encontrou a barra da blusa dela e arrancou-a, jogando-a em algum lugar ao lado.
Ela levantou a cabeça apenas brevemente para ele tirá-la, e logo retornou aos seus pequenos beijos, agora indo ao ombro direito. Ela segurou-o forte pelas costelas, como se estivesse tentando mantê-lo parado enquanto começava a descer pelo peito dele...
Passando o umbigo...
Descendo...
Antes que ele começasse a entender o que estava acontecendo, Gina parou no elástico da calça de pijama dele. Então, obviamente incapaz de se conter, ela pressionou os lábios abertos firmemente contra a pele dele e assoprou.
Ele desatou a rir, sem conseguir evitar. Ninguém nunca fizera isso a ele antes, e achou estranhamente hilário. Ela olhou para cima e encontrou os olhos dele, sorrindo mais uma vez com seus olhos brilhantes.
O sorriso de Draco cessou vagarosamente.
Então, tão graciosa como um gato, ela rastejou de volta para cima para que pudesse se sustentar com as mãos, e encarou-o. Por um longo período, não disse nada; seu rosto estava inexpressivo, mas seus olhos castanhos ficaram ainda mais escuros de paixão.
Ela calmamente abaixou-se para se aconchegar no refugio dos braços dele, inclinando a cabeça de modo que sua respiração ficou quente no pescoço e bochecha dele. Gentilmente, virou a cabeça dele para que os lábios se encontrassem. Ao invés de se prensar contra ele, ela apenas roçou os lábios nos dele, fazendo-o conter um estremecimento.
Então, ela sussurrou em um tom lento e franco:
- Eu te amo.
Ele endureceu involuntariamente, mas ela não pareceu notar. Agora se sentia levemente ridículo. É claro que fora isso que ela quisera lhe dizer. Como poderia ter sido tão burro de não perceber?
O olhar dela estava nos traços dele, esperando uma resposta. Ele teria que dizer algo – diabos, ficaria feliz se conseguisse pronunciar até a palavra banana.
Finalmente, engolindo em seco e então umedecendo os lábios, ele sussurrou em resposta:
- Ama mesmo?
Interiormente, ele contraiu-se. Ama mesmo? Que tipo de pergunta retardada era essa? Ela acabara que dizer que o amava, por que mudaria de idéia um segundo depois?
Mas Gina pareceu não ter observado a estupidez dele.
- Sim. – respondeu quase sonhadoramente.
Sim. Era como se casar com ela tudo de novo... como água gelada dando um banho nele. Acordava-o quase dolorosamente de seu estado de espírito, e a sua pessoa habitual libertou-se.
Sentou-se abruptamente, a pele contra a qual Gina estivera pressionada há um minuto tornando-se fria instantaneamente.
- Não, não ama – disse ele sem firmeza – Você acha que ama.
“Você não pode me amar” adicionou. “Não deve”.
Mas por alguma razão, não conseguia pensar no por que dela não poder. Com a vida que tinha, não conseguia entender por que era uma coisa tão ruim. E pela primeira vez na vida, perguntou-se se estava com medo.
Com medo de deixar alguém ficar tão próximo dele. Com medo de mostrar a alguém que era de fato... bem, humano.
Podia senti-la encarando-o, e então ouviu um gemido abafado de frustração.
- Ohhh. Você é de fato um cretino, Malfoy – declarou ardentemente, levantando-se – Você não tem noção do que eu penso ou sinto.
Ele não queria olhar para ela, mas viu pelo canto do olho que estava procurando avidamente a blusa. Observou-a quando enfiou os braços pelos buracos e passou a gola pela cabeça. Então ela deu a volta nos calcanhares, atravessou o quarto, escancarou a porta e saiu correndo.
- Argh – Draco gemeu.
Ele enterrou o rosto nas mãos e caiu de costas na cama. É claro que ela havia se irritado – ele ferira seus sentimentos. Não era raro ele ser frio dessa forma, mas, pela primeira vez, sentiu-se realmente arrependido por isso.
Foi então que se lembrou que ela deixara seu suéter, capa e vassoura no quarto dele.
Sentou-se e fitou os itens, perguntando-se se ela voltaria para buscá-los.
Um instante depois, ela estava de volta ao quarto, a fúria irradiando quando se abaixou e pegou suas coisas rapidamente. Então, tentando acalmar-se, virou para Draco sem encará-lo.
- Como saio desse lugar? – disse em uma voz controlada.
Ele soltou um suspiro, percebendo que teria que auxiliá-la. Pondo-se de pé, respondeu:
- Há uma escada nos fundos que os elfos domésticos usam, e uma porta que raramente está trancada. Irei mostrar-lhe.
A ultima frase saiu como um resmungo.
- Posso achá-la sozinha – disse ela teimosamente.
- Há. Não, não pode – afirmou ele com sinceridade – Qualquer pessoa não convidada na Mansão Malfoy não consegue achar uma saída. Semana passada encontramos um idiota que estava tentando nos roubar, usando o banheiro. Esteve na casa por uma semana.
Gina pareceu esquecer a raiva temporariamente.
- Verdade?
- Sim. Agora vamos, e rápido.
Os olhos dela apagaram-se enquanto apertou os lábios, mas seguiu-o com obediência. Draco quase podia sentir o quão tenso o corpo dela estava quando caminhavam o mais silenciosamente possível ao longo do corredor escuro. Ele meditou se devia ou não dizer alguma coisa. Descobriu que não havia nada que pudesse falar que parecesse correto. Tudo que podia pensar era melado demais, fora de moda... não combinava nem um pouco com ele.
“Ela vai embora” pensou. “Irá embora e sairá da minha vida, e nunca mais a verei”.
Isso deveria animá-lo; deveria motivá-lo a acreditar que a esqueceria e tocaria a vida, deixando para trás (como recordação ruim) sua breve atração por ela. Mas apenas fez sentir-se como se seu estomago fosse feito de chumbo, e seu coração bateu quase insuportavelmente no peito.
“Meu Deus, apenas esqueça ela” disse a si mesmo duramente, tendo o impulso repentino de se jogar contra a parede. Bem forte. Para que pudesse golpear qualquer coisa que estivesse errado com ele.
Eles chegaram à escada dos fundos e conduziu-a pela passagem estreita, discutindo consigo mesmo dentro da cabeça. Nunca esteve num dilema parecido antes... não um como esse. E perturbava-o a fundo.

* * *

A mente de Gina estava acelerada, pensando em muitas coisas ao mesmo tempo. Imaginava se Lucio a deixara sair do escritório na esperança de ela se perder na casa, se o que Draco disse era verdade. Perguntava-se se já estivera mais furiosa com Draco Malfoy antes.
Mas acima de tudo, ponderava se já se sentira tão miserável antes. Oh, havia inúmeras coisas em sua vida de que se arrependia – seu primeiro ano, aquela vez em que estivera tentando ajudar os gêmeos em algo e acabara explodindo acidentalmente a vaquinha de dinheiro economizado para a loja de logros – mas de alguma forma, agora era diferente. Sabia que conseguiria superar Draco; sabia. Mas de certa forma ainda doía incrivelmente.
Como Draco poderia fazer ela se sentir pior que em seu primeiro ano?
Parecia impossível, e, contudo, estava acontecendo.
Não conseguia explicar também. Era isso que a frustrava tanto. Como poderia uma pessoa que não era da sua família afetá-la tanto assim?
Quando o beijara na cama, há alguns minutos, fora como se estivesse no paraíso. Tinha sido exatamente como estivera sonhando desde a última vez que haviam se beijado. E então ela havia revelado que o amava, e ele fora tão cruel ao não perceber o quão difícil havia sido para ela. Dissera que ela não o amava, como se tivesse tido um desejo aleatório de dizer essas palavras a ele.
Como se soubesse como ela se sentia.
Era isso que estava enlouquecendo-a.
Eles chegaram ao fim das escadas e começaram a caminhar por um corredor longo e estreito. Gina suspeitou que essa era uma parte da casa que os convidados normalmente não usavam. Não estava tão ricamente mobiliada como o resto da mansão.
- O escritório do meu pai é logo ali – contou Draco silenciosamente sob os ombros, seu tom de voz inexpressivo. Apontou para uma porta pouco a frente e à direita. – Então, não faça barulho.
- Eu estive fazendo barulho? – sussurrou para ele.
Logo naquele momento, o que Draco obviamente temia aconteceu: a porta do escritório de Lucio abriu.
Gina parou, paralisada, e Draco por pouco não seguiu o exemplo. Ela observou a porta como se tudo houvesse repentinamente virado em câmera lenta... o que ele faria se flagrasse Draco com ela...?
O garoto conseguiu tirá-la da ilusão de ver tudo vagarosamente. Tudo então pareceu acontecer numa rapidez estonteante. Ele se virou com astúcia, abriu a porta mais próxima, agarrou o braço de Gina, e puxou-a junto dele. Então ele girou e entreabriu a porta só o suficiente para que pudesse ver lá fora.
Gina ficou parada, um odor estranho chegando às suas narinas. Era cheiro de...
Ela olhou para trás, e viu que havia uma piscina bem grande no local.
Cloro.
Estava escuro ali dentro, mas quase todo o lugar era repleto de janelas, então a lua iluminava o bastante para Gina ver a piscina tranqüila. Momentaneamente perguntou-se o quão rico os Malfoy seriam, se tinham uma piscina dentro de casa, mas descobriu que não importava.
Retornou sua atenção a Draco quando ele fechou a porta completamente, sem fazer barulho. Ele virou-se para encará-la.
- Ele não a ouviu – disse, seu rosto sem expressão, mas sua voz um tanto severa, apesar de quieta. – Estava saindo do escritório e então de repente se lembrou de algo, evidentemente. Agora a porta está aberta e temos que esperar ele sair. Não podemos arriscar.
Gina olhou com desdém, um traço bem diferente dela.
- O que, com medo do que seu pai pensaria se nos visse juntos?
- Medo não é a palavra – explodiu ele – Se você desejar, posso muito bem retornar ao meu quarto e deixá-la vagueando pela casa até ser achada por alguém.
- Você sabe que não é isso que desejo – retorquiu ela, cruzando os braços sob os peitos e fitando a piscina.
- Não fale tão alto – disse ele, olhando para a porta novamente – O escritório dele é bem ao lado.
- Essas janelas abrem? – perguntou Gina de repente, gesticulando para uma delas – Eu poderia sair por alguma.
Draco olhou-a de cara feia.
- Não. Há uma porta ali... – Gina contemplou a direção que ele olhava e descobriu que havia de fato uma porta de vidro que dava ao exterior que ela não percebera, absorta com todas as janelas – mas essa é uma das portas mais protegidas da casa, por ser feita de vidro. Eu levaria horas para descobrir como abri-la sem acordar a mansão toda.
Gina franziu as sobrancelhas. Ótimo.
- E então? Vamos ficar caminhando em volta da piscina até seu pai fechar a porta? – perguntou irritadamente.
- É uma ótima piscina – deu de ombros, sem responder diretamente.
Ela tentou não encará-lo. Na verdade, tentou nem olhar para ele. Mas era difícil, quando cada um de seus nervos estava latejando de vontade de tocá-lo novamente.
Como pôde ter se permitido se apaixonar por ele? De todas as pessoas! Sua cabeça devia ter dito ao coração que ele não era o tipo de homem que correspondia sentimentos. Devia ter sabido que acabaria se machucando. Mas obviamente ela não o fizera, e agora estava trancada na Mansão Malfoy. Não apenas poderia ser punida severamente – suspensa, talvez – se não retornasse a Hogwarts antes de alguém dar por falta dela, como também alguém poderia somar um mais um e descobrir que fora ela quem envadira Dervixes e Bangues.
Isso definitivamente não podia acontecer.
Com um suspiro, Gina largou suas roupas e vassoura no chão, cansada de segurá-los. Quem sabia quanto tempo Lucio poderia demorar.
Draco abriu a porta novamente e espiou. Um segundo depois anunciou:
- Ele está falando com alguém... provavelmente alguém do Ministério.
Como se ela se importasse. Suspirou pesadamente de novo, desejando que houvesse uma cadeira para se sentar.
O cheiro de cloro estava começando a afetá-la, e a grande umidade também não ajudava muito.
Draco devia ter notado a irritação dela, pois adicionou:
- Se ele não sair ou fechar a porta em cinco minutos, sairemos escondido. Voltaremos ao caminho por qual viemos. Tudo bem?
- ‘Tá. – respondeu com tristeza.
Estava sendo azeda, e sabia. Mas no momento não tinha forças para corrigir sua atitude.
Houve um longo e constrangedor silêncio depois disso. Ela não tinha idéia do que dizer a ele, e sabia que ele não queria falar com ela.
Logo que ela havia formado essas palavras na sua mente, Draco as falou:
- Você honestamente pensa que poderíamos nos casar nesse mundo também?
Foi tão inesperado que Gina não conseguiu esconder o choque quando virou para encará-lo.
- O-O quê? – gaguejou.
O rosto dele estava uma pedra, seus braços cruzados casualmente sob o peito. Encostando-se contra a porta, respondeu:
- Você praticamente me disse isso – hesitou levemente – Ao me contar o que contou.
À isso, Gina teve que sorrir friamente.
- Você não consegue nem dizer, Draco? Não consegue dizer que eu contei que te amava?
A expressão dele não mudou.
- Eu não queria – disse ela amargamente – Sabia que você nunca sentiria o mesmo que eu.
Ele entortou os olhos, e arqueou a sobrancelha suavemente.
- Então por que veio?
Pergunta justa. Ela sabia o por quê, mas não sabia como lhe contar. Não podia dizer que precisara vir, esperando que houvesse uma pequena chance dele a querer de volta. Não podia dizer que nunca se perdoaria se não tivesse certeza que ele não a amava também.
E definitivamente não podia dizer que sentira saudades de vê-lo.
Ele encarou-a duramente, esperando que respondesse, e ela fitou brevemente o cabelo louro platinado que estava caindo sobre sua testa e olhos. Contemplou o peito liso e nu, e se lembrou da sensação de passar a mão por ele. Então retornou aos olhos dele e deu de ombros sem cuidado, como se não importasse o por que dela ter vindo.
Draco pareceu encará-la, seus olhos cinzas brilhando, e passou por ela, parando na ponta da piscina. Olhou para a água por um minuto, claramente pensando em algo antes de se virar novamente.
- Gostaria de lhe informar umas coisas, Gina – começou Draco, como se estivesse prestes a dar uma aula – Toda vez que estamos a menos de 350 metros, arranjamos uma forma de azucrinar o outro. Os seus seis irmãos me odeiam. Eu os odeio também. Meu pai provavelmente cometeria suicídio para não ter que suportar a vergonha que teria se eu alguma vez desse a entender que queria me envolver com você.
“E isso me leva ao ponto de partida: estamos sempre brigando. Que tipo de casal seríamos se brigássemos por qualquer coisinha?”
- Poderíamos dar um jeito, Draco – disse ela, dando um grunhido como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
- Poderíamos, – concordou ele – se conseguíssemos parar de discutir pelo tempo suficiente.
- Não discutimos o tempo todo! – insistiu ela.
- Certo. – ele sorriu ironicamente e um pouco friamente – Vamos contar as vezes que não brigamos. Quando eu te salvei daqueles ciganos. E quando estamos nos beijando. E isso é... o quê, dez por cento do tempo que passamos juntos discutindo?
“Mas foram os beijos que me fizeram me apaixonar por você” pensou, corando.
Na verdade, isso não era completamente verdade. Foram os beijos que haviam feito-a ver Draco como algo além de cafajeste. Ela tinha se apaixonado por ele. Até por seus comentários sarcásticos, por seus sorrisos frios que nunca chegavam aos olhos, e por suas respostas petulantes. Era ele que ela queria, e estava disposta a conter algumas brigas idiotas e sem sentido para tê-lo.
Draco não, obviamente.
Foi então que lhe ocorreu uma idéia repentina. Por que Draco estava tentando explicar isso para ela? Por que estava se dando ao trabalho? Ele podia facilmente conduzi-la para a rua sem dizer uma única palavra. Ela não precisava saber por que eles não dariam certo. Sabia o que ele diria. Era inútil.
Então, talvez... talvez Draco estivesse tentando convencer a si mesmo tanto quanto a ela.
Talvez tinha algo que se assemelhava a sentimentos positivos por ela, e estava tentando provar para si mesmo que não precisava sentir nada.
Era uma teoria estranha, mas, de alguma forma, parecia fazer sentido. Talvez Draco estivesse... assustado.
- Por que você me salvou dos ciganos? – atirou Gina, afastando-se de seus pensamentos – Poderia ter me deixado lá e... puft! Problema resolvido. Sem Gina, nada de se casar com Gina.
- Honestamente, Gina, – disse ele irritadamente – você realmente acha que eu simplesmente daria as costas e a deixaria lá?
- Por que me seguiu, em primeiro lugar?
Ele fez mímica para ela, esforçando-se para dar a entender que isso não importava.
Tentando controlar o temperamento, ela cruzou os braços novamente e respirou fundo.
- Tudo bem, Draco, – disse, sem pensar – diga de uma vez.
- O que?
Ela revirou os olhos por um momento, e deixou os braços caírem para o lado.
- Diga que me odeia. Vá em frente. Estou ouvindo. Quando falar, irei embora. Nunca mais o perturbarei. Prometo.
O rosto dele enrijeceu, seus olhos vazios e frios, sua boca endurecida.
- Tudo bem, Gina. Eu te odeio.
Ela pestanejou, impressionada, e procurou sinais de emoção no rosto dele. E viu... algo brilhou em seus olhos que ela instantaneamente reconheceu como arrependimento. Talvez dor, se ela se atravesse a pensar.
Perguntou-se por que não acreditava no que ele havia dito. Perguntou-se por que não levava a sério a intenção dele. Perguntou-se por que parecera que ele dissera que a amava.
- Mentiroso – acusou gentilmente.
Ele procurou os olhos dela por um longo momento, e disse então suavemente:
- Você me conhece bem demais.
Pareceu que ela piscou, e de repente os lábios dele estavam nos dela, beijando-a com força. No instante em que a língua dele entrou na sua boca, ela esqueceu tudo que estavam falando, e respondeu pressionando seu corpo contra o dele, querendo ficar o mais perto possível, nunca querendo soltá-lo...
Gina esquecera que Draco estava na ponta da piscina, e não se deu conta de que se apoiara tão forte nele. Ele inclinou-se levemente, e perdeu o equilíbrio.
Rompeu o beijo apenas um segundo antes de começar a cair.
E, estando nos braços dele, Gina foi puxada junto.
Ela deixou escapar um grito de surpresa quando desabou em cima dele. A água estava bem gelada, apesar de não tão insuportável. Sentiu Draco em baixo dela, debatendo-se na água, e levantou a cabeça na superfície. Com o cabelo úmido colando no rosto, flutuou apenas um pouco, antes que seus pés encontrassem o fundo. Draco atingiu a superfície apenas um momento depois, tirando o cabelo dos olhos e parecendo extremamente irritado.
“Ooops” pensou ela, sentindo-se levemente idiota. Estivera tão absorta no beijo que se esquecera completamente dos arredores. Era exatamente isso que ele fazia com ela... Fazia-a se esquecer de tudo, para se concentrar apenas nele.
Draco estava completamente dentro da água, e ela batia na sua cintura. A frustração dele pareceu desaparecer quando observou ela mergulhar o cabelo na água para que pudesse tirá-lo da cara.
- Posso ver através da sua blusa – comentou, sorrindo.
Gina olhou para baixo, e descobriu que ele estava certo. Sua blusa branca estava colada ao seu sutiã e a pele era facilmente vista. Antes que tivesse a chance de sentir vergonha, Draco colocou a mão em volta do pescoço dela e trouxe o rosto para perto do seu em um beijo.
Por mais magnífico que fora sentir a pele dele em contato com a sua no quarto, agora que estava molhada era ainda melhor. Correu suas mãos inconscientemente pelos ombros e costas dele, pensando vagamente que ela nunca se cansaria de tocá-lo. Também pensou no quão maravilhosamente seus corpos pareciam se encaixar, o quão magnífico era ser apertada contra ele.
Se eles eram tão errados um para o outro, então por que tudo parecia tão perfeito?
Os dedos de Draco estavam tirando a blusa pegajosa e ensopada dela e seu toque parecia imprimir marcas de fogo na pele dela. Era como se estivesse a marcando a fogo suave.
Ele tirou os lábios dos dela primeiro, e descansou sua testa contra a dela. Posicionou as mãos nos quadris e disse, levemente sem fôlego:
- Como poderíamos fazer isso dar certo?
- Vamos encontrar um jeito – disse ela firmemente – Você entende o que quero dizer agora? Não importa que nós briguemos na maior parte do tempo. Quando não brigamos, é assim. E estou disposta a arriscar tudo para sentir isso, com você. Não me importo com seu pai ou com meus irmãos. Eles vão superar.
Quando ele não respondeu, ela se esticou e tocou a bochecha dele com a ponta do dedo, largando-a na água logo depois.
- Não estou pedindo para se casar comigo, Draco – disse com zombaria – Não quero me casar também. Mas estou apenas dizendo... a gente pode fazer isso dar certo. – pressionou a boca contra a dele firmemente por um instante – Eu acho que valerá a pena – adicionou num sussurro.
Mesmo estando tão perto, ainda podia vê-lo sorrir maliciosamente:
- É claro que você faria dar certo.
Ela preferiu não levar isso como insulto. De fato, não tinha certeza de como levar.
Draco esticou o braço e pegou uma mecha do cabelo molhado dela, enrolando-o entre os dedos.
- Acho que o seu cabelo é tanto a melhor quanto a pior parte de você.
Ela afastou-se para encará-lo. Agora isso ela consideraria como insulto.
- Como é que é?
Ele sorriu, um sorriso pequeno.
- É esplêndido, mas... todos da sua maldita família o tem. É isso que é ruim.
Ela relaxou e riu.
- Concordo. Bem, pelo menos com a última parte.
Então houve silencio, e apenas desta vez não foi constrangedor. Gina descansou a bochecha no ombro dele, abraçando-o com força pela cintura. Nunca imaginara que uma pessoa pudesse fazê-la se sentir assim; não podia acreditar que estava tão confortável com Draco... e era real, estava acontecendo, e não havia nada que pudesse fazer para evitar.
Draco suspirou pesadamente.
- Bem – disse, preguiçosamente – Acho que é melhor eu dormir um pouco. Amanhã será um longo dia.
Ela levantou a cabeça para fitá-lo, suas sobrancelhas unidas em confusão.
- Será?
- Se você acha que contar a nossas famílias sobre nós dois estarmos num relacionamento será uma coisa fácil, então eu realmente acho que está tendo ilusões – sorriu ironicamente.
Gina sorriu abertamente.
- Não precisamos contar a eles – disse ela – Quero dizer, eles não precisam saber imediatamente, não é?
Ele olhou-a de modo suspeitoso.
- Está dizendo para mantermos segredo?
Ela deu de ombros, tentando parecer séria.
- Não seria tão difícil. Você poderia me encontrar em Hogsmeade ocasionalmente. Diga a seu pai que está fazendo outra coisa qualquer. Minha família nunca descobriria, a menos que fossemos vistos juntos.
Então ele sorriu para ela, um sorriso caloroso e que enchia seu rosto. Parecia torná-lo vinte vezes mais bonito, e fazia a respiração dela trancar na garganta.
Ela nunca se cansaria de tocá-lo e contemplá-lo. Simplesmente nunca, jamais a entediaria, e tinha certeza disso.
- Vocês da Grifinória podem sugerir planos decentes afinal – disse ele finalmente – Tudo bem, Gina. Você venceu. Vamos manter segredo.
Ela não conseguia parar de sorrir, mas então Draco a beijou novamente, e descobriu que conseguia. Deslizando as mãos em volta do pescoço dele, mais uma vez pressionou seu corpo molhado contra o dele, sua mente alegremente vazia.
As mãos de Draco subiram e desceram pelos lados dela, embaixo d’água e abaixo das costas.
Ele interrompeu o beijo, e ela abriu os olhos para encontrá-lo sorrindo maliciosamente.
- Sim, eu terei que dizer que você definitivamente não é um homem – murmurou.
Ela deu uma risadinha, bem ciente de que soava infantil, mas não se importava nem um pouco. Draco inclinou-se para frente de novo, mas ao invés de beijá-la, ele colocou os lábios perto da orelha dela.
- É um longo vôo até Hogwarts – sussurrou, sua respiração quente provocando pontadas em todo o corpo dela – Há muitos quartos aqui.
Gina duelou dentro de sua cabeça. Se ela não estivesse de volta até o amanhecer, notariam sua falta e anunciariam a seus pais. Então ela teria que explicar onde estivera, e por que roubara uma vassoura do armário. Não queria ter que fazer isso.
Mas o convite de Draco era tentador demais para recusar.
- Draco, – respondeu no ouvido dele – eu adoraria ficar com você.
Não conseguiria dormir muito esta noite, e sabia que isso era um fato. Eles teriam sua noite de núpcias, mas dessa vez não haveria nenhuma testemunha.
Seria apenas os dois.


N/A: Já que sou má, vou deixar vocês simplesmente imaginarem o resto.
Como disse anteriormente, há um epílogo saindo depois desse capítulo, então não é exatamente o final. Contudo, obrigada a todos que estiveram lendo até aqui, e obrigada pelas maravilhosas resenhas. Vocês não fazem idéia do quanto me importo de saber noticias de vocês.


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