O Ascensor



Capítulo 14 – O Ascensor
Em princípio, Draco achou que o estábulo estava vazio. Ficou feliz por isso, assim ninguém o atrasaria. Até que se lembrou que não sabia selar um cavalo.
Será que era tão difícil?, perguntou-se silenciosamente, tentando se reassegurar. Deveria ser bem complicado, de qualquer forma, se ele não soubesse nem ao menos onde as selas eram guardadas.
- Sua Majestade?
Draco conseguiu não pular de surpresa, apenas cerrou os dentes. Virou-se e viu a mesma garota suja que havia o ajudado há alguns dias.
- Eu... eu não esperava que alguém viesse aqui – disse ela rapidamente, notando o corpo tenso dele de tanta irritação – Pensei que o castelo estivesse fechado... pelos guardas...

- E está – disse Draco imediatamente – Vá preparar Jack para mim, sim?
Ela engoliu em seco, inquietando-se mas não fazendo nenhum movimento para o obedecer. Claramente em um dilema sobre o que deveria fazer, ela disse suavemente:
- Sua Majestade Lavinia deu ordens a todos para não deixar nenhum membro da família real sair dos terrenos do castelo...
- Ela não é mais a Rainha – bradou Draco. Seu tom foi mais cruel que pretendera, e a jovem hesitou. Aquietando-se um pouco, ele continuou: - Ou você não ficou sabendo? Gina é a Rainha agora. Eu sou o Rei. Eu anulo tudo que Lavinia diz.
Ela começou a fazer uma referência meio desajeitadamente.
- Sim, Sua Majestade, mas...
Ele a interrompeu pela terceira vez, perdendo a pequena paciência que sobrara.
- Vá logo fazer o que eu disse! – ordenou aos gritos.
A garota arfou e deu um pulo por causa dessa raiva abrupta, e então concordou imediatamente. Em um segundo deu a volta nos calcanhares e desapareceu em uma das celas no final do estábulo.
Draco sentiu uma pontada de culpa enquanto ela ia embora. Não era culpa dela se Lavinia era uma megera – apenas estivera transmitindo as ordens que recebera. Além do mais, ela não merecia ser mandada. Era tão magra que parecia que iria voar a qualquer brisa mais leve.
Então ele repreendeu-se. “Estou amolecendo” percebeu, notando a simpatia que estava sentindo. Era assim que as coisas funcionavam; ele abrira seu coração para uma pessoa, e agora dezenas de outras tentavam entrar.
Era tudo culpa de Gina. Se ela não tivesse conseguido um lugar na alma dele e se fixado ali, como uma mancha irritante numa nova vassoura, então nada estaria errado. Bem, na verdade, um monte de coisas ainda estaria errado, mas pelo menos Draco teria controle sobre seus sentimentos. No mero pensamento de que Tom estivesse fazendo algo para machucá-la, ele tinha vontade arrancar os pulmões dele fora. Toda vez que imaginava o que Harry descrevera (Tom carregando um pacote branco nos ombros), seu coração acelerava e sua mente se focava em apenas uma coisa: trazer Gina de volta para a segurança do castelo. Não importa o quanto Draco se esforçasse para contradizer-se, claramente isso era um sinal de que ele se preocupava com ela. A ruiva arruinou tudo que ele apoiara e representara, e não havia nada que pudesse fazer.
A garota do estábulo voltou alguns minutos depois trazendo uma sela que parecia pesar o dobro de seu peso. Ela fez esforço para carregá-la, e Draco – maldito coração mole – apressou-se para ajudá-la. Ela lançou-lhe um pequeno sorriso de agradecimento e conduziu a sela para Jack.
- Mostre-me como fazer – disse Draco, referindo-se a como selar um cavalo.
Ele começou a se arrepender do pedido quando a garota começou a selar bem mais lentamente do que teria se não estivesse demonstrando. Até explicou um pouco sobre as rédeas. No final, provavelmente levou cinco minutos, mas o tempo valia muito e cada segundo perdido aproximava Gina de sua morte.
Finalmente a tarefa foi completada. Draco deu um último olhar à garota enquanto ela acariciava o pescoço de Jack gentilmente. Era realmente cadavérica, e com as roupas surradas e sem sapatos que usava devia estar com frio.
Amaldiçoando-se, Draco pegou um punhado de moedas que carregava do bolso. Mesmo nesse mundo tinha que andar com dinheiro. Fazendo um grunhido para chamar a atenção dela, ele gesticulou para que estendesse sua mão. Sua boca caiu enquanto obedecia, observando com olhos arregalados o tamanho dos galeões que ele deixava cair em sua palma.
- Sua... Sua Majestade, eu não posso... – ela começou a murmurar.
- Compre uns sapatos – disse ele bruscamente, evitando os olhos dela – Não conte a ninguém que lhe dei isso.
Ela concordou, engolindo em seco, e passou os dedos pelas moedas.
- Então? Vai sair da minha frente? – bradou Draco.
Rapidamente ela foi para o lado, mas ele pôde senti-la sorrindo quando montou na sela sem a mínima dificuldade. Esperava que estivesse finalmente pegando o jeito de subir e descer de cavalos. De qualquer forma, era uma habilidade inútil, e ele não tinha vontade nenhuma de voltar ao seu mundo e ter aulas de montaria.
Draco posicionou seus calcanhares nas alas de Jack e o cavalo saiu do estábulo, de volta ao ar frio de dezembro. A noite estava caindo rapidamente – parecia que o garoto tinha uma tendência de ir salvar Gina quando estava prestes a escurecer. Era um hábito que teria que dar um jeito de se livrar, sabia. Ou melhor ainda, um hábito que ele nunca gostaria de ter tido.
Agora que tinha um cavalo e podia deixar o castelo, não tinha certeza por onde ir. Tom podia ter ido por qualquer caminho e facilmente ter coberto seu rastro. Contudo, Draco decidiu voltar para a saída que não estava guardada, esperando encontrar algum tipo de pista por onde Tom escapara.

Por sorte, ele achou pegadas de cascos na neve na borda da floresta perto da porta secreta. Ele seguiu a trilha com os olhos, e descobriu que ela adentrava a floresta.
Até então, parecia um bom plano apenas seguir as pegadas e ver aonde levava.
Apertando as rédeas em seus dedos congelados e tentando cobrir mais o pescoço dentro do colarinho, ele levou Jack a galope, esperando que o percurso não fosse tão longo.

* * *

Os sentidos de Gina voltaram lentamente, e, em princípio, a sua visão não estava clara. Tinha a sensação de estar tremendo para cima e para baixo, quase desajeitadamente, e perguntou-se que diabos estava acontecendo com ela.
Custaram-lhe alguns segundos para perceber que estava em um cavalo em movimento, sentada, com as duas pernas para um lado, e encostando-se no peito firme e quente de alguém. Sem recordar totalmente a razão de estar ali, deixou suas pálpebras fecharem novamente, sentindo uma falsa segurança.
Quando acordou mais uma vez, entendeu o que estava acontecendo e expulsou a sonolência de seus olhos rapidamente, piscando. Esfregou o rosto, pensou por um instante na sua última recordação e sentou-se apressadamente.
O quarto estava escuro por não ter velas, e apenas a escuridão penetrava pelas janelas. Conseguia enxergar facilmente, contudo, pois seus olhos ajustaram-se rapidamente.
Estava em uma cama grande que não tinha cobertores – era só o colchão. Contra a parede ficava um armário enorme, e oposta a ele, havia uma mancha bem feia na parede de pedra, como se alguém absurdamente forte tivesse feito um buraco e ainda tentara o concertar rudemente. Entretanto, isso não incomodava Gina de forma alguma, pois a garota estava muito mais preocupada em saber onde estava e como sairia dali.
Ela sentou-se na borda da cama, olhou para baixo e descobriu que ainda estava usando seu ridículo vestido de casamento. O corpete apertava sua cintura irritantemente.
Tentando clarear a mente dos efeitos colaterais da poção, levantou-se e deu alguns passos pelo quarto grande e vazio. A vertigem perturbou-a apenas por alguns instantes, e teve a esperança de que isso significasse que os ingredientes da poção que Maria lhe dera tivessem perdido o efeito.
“Maria!” lembrou Gina de repente. E tinha sido a sua aia o tempo todo! Havia se submetido a dores de cabeça terríveis tentando descobrir quem diabos ajudaria Tom a cometer tais odiosos crimes, e Maria nunca passara por sua mente. Nem sequer uma vez. Nem ao menos remotamente.
A única pessoa que ela achara poder confiar nesse mundo estivera apunhalando-a pelas costas o tempo inteiro. E agora Gina estava ali, nesse quarto, e – tentou a porta – trancada; aprisionada. Tom a mantinha bem onde podia usá-la e não tinha chances de escapar.
Havia apenas duas janelas no quarto, ambas ao alto, pelo menos meio metro acima da cabeça de Gina. Ela subiu na cama para ver o exterior, mas só o que pôde ver foi o céu totalmente negro. Quando o vento soprava, alguns galhos voavam e batiam no vidro.
Bem, então estava bem ao alto. Não necessariamente que não pudesse, de alguma forma, sair pela janela e pular... “e quebrar as duas pernas, ficar toda torta e jogada no frio” adicionou vulneravelmente. Mesmo que conseguisse achar algo para quebrar o vidro, seria difícil subir até o peitoril.
As janelas eram definitivamente uma opção que teria que riscar de sua lista.
Saltando da cama, conseguindo não tropeçar na saia, retornou à porta e tentou abri-la novamente. A maçaneta estava trancada firmemente e não cedia não importa quão forte ela tentasse girá-la. Naquele momento queria a sua varinha mais do que nada nesse mundo.
A maçaneta era outra opção que podia riscar também. Colocou as mãos na madeira pesada da porta e empurrou, apenas para testar o quão forte e vigorosa era. Parecia pedra. Não se movia um milímetro.
Frustração e medo tomaram conta de sua garganta, e ela soltou um grito curto. Cerrando os punhos, deu um soco na madeira, ouvindo as pancadas suavizarem-se e silenciarem-se na profundidade da porta.
Por que nada estava dando certo? Ou ela seria um peão no perverso tabuleiro de Tom Riddle, ou seria assassinada. Ali. Longe de sua família – em um planeta completamente diferente, onde a única pessoa que mostrara o mínimo de preocupação por ela era aquela que ela desprezava mais em toda a sua vida: Draco Malfoy. Por que isso estava acontecendo com ela?
Não tinha feito nada para merecer isso. Apesar do fato de saber que não podia ser melhor que seus irmãos mais velhos por eles terem feito tudo e qualquer coisa que pudesse ser considerada uma honra a Hogwarts, ela havia se esforçado o máximo na escola, e se saíra bem o bastante. Não fora nomeada monitora ou Monitora Chefe, não participara do time de quadribol da Grifinória, e não era loucamente popular por algum motivo. Mas fizera alguns bons amigos e estava perfeitamente contente. Não machucara ninguém de propósito, nem mesmo aqueles sonserinos que ainda se divertiam ridicularizando-a por ser uma Weasley. Havia feito tudo como deveria, e ainda assim estava na pior situação imaginável.
E não havia esperança alguma de libertar-se. Até seria melhor se Tom a matasse.
Gina distanciou-se da porta e se jogou na cama, mergulhando o rosto no colchão enquanto deixava cair todas as lágrimas que contera nas últimas três semanas. Quase ajudava a aliviar a dor e a tristeza que sentia – quase.
Estivera chorando tão alto que não ouvira a porta abrir. Sentiu uma onda de vento frio e percebeu a presença de alguém no quarto, sentando-se bruscamente. Tom entrara trazendo uma vela em um candelabro, com Maria atrás. Contrariando a expressão que estivera no rosto da aia quando deixara Gina com a poção, agora ela parecia absolutamente apavorada. Seus olhos negros reluziram com um brilho malévolo, e os cantos de sua boca estavam curvados em desprezo.
Como podia mudar tão de repente?
Gina sentiu-se sem energias. Sentou-se frouxamente e fitou-os, esperando que dissessem algo. A porta permaneceu aberta atrás de Maria, mas a garota não fez menção de correr e passar por eles. Seria inútil.
Maria obviamente achou que ela pudesse tentar escapar, então fechou a porta com pressa quando percebeu que ainda estava entreaberta.
- O que está acontecendo? – perguntou Gina afiadamente – Se você vai me matar, acabe logo com isso.
- Não irei matá-la – respondeu Tom instantaneamente. Ele, também, parecia satisfeito e tinha no rosto o que parecia ser um sorriso. – Se eu quisesse lhe matar, teria mandado Maria fazê-lo séculos trás.
Os olhos de Gina voltaram-se para Maria, que ainda estava em seu uniforme de aia. De alguma forma, ela parecia maior agora, perigosa... nem o uniforme ajudava a esconder o fato.
Tom também olhava para Maria, ordenando:
- Saia.
Ela concordou, lançando um último olhar duro a Gina, e deixou o quarto.
- Trouxe-a aqui porque você precisa me ajudar – disse Tom assim que a porta se fechou firmemente. Deixou o candelabro ao lado do guarda-roupa, atravessou o quarto e sentou ao lado dela na cama. O colchão afundou com o peso adicional, fazendo Gina deslizar um pouco mais para perto dele. Colocando as mãos para baixo, ela distanciou-se, não apreciando a sensação do corpo dele tão perto do dela. – Você e Draco, ambos – adicionou ele diretamente.
Gina arqueou as sobrancelhas, e não pôde evitar ficar levemente interessada a ponto de perguntar:
- Ele está aqui? Você trouxe-o para cá também?
- Não – respondeu Tom, e o relampejo de esperança morreu no peito dela – Mas ele deverá chegar em breve. Certifiquei-me de deixar pistas suficientes para ele nos seguir.
Gina sentiu-se culpada por querer Draco ao seu lado, por querer que ele fosse posto em perigo com ela, mas não podia evitar. Rezando para que ele realmente estivesse a caminho, foi em frente e demandou:
- Onde estamos?
- Outro castelo – disse Tom simplesmente – Não é muito longe do que você esteve morando. Mas trouxas podem vê-lo.
Ao som da palavra familiar, o coração de Gina saltou levemente.
- Trouxas? – repetiu – Nós somos... eu sou bruxa?
- É claro – contou ele, parecendo quase bravo por ela não ter pensado nisso antes – Nem eu posso tirar a mágica do seu corpo e do de Malfoy. Só certifiquei-me que vocês não tivessem suas varinhas nesse mundo com vocês.
- Mas... – prosseguiu Gina, incerta de como expressar seus sentimentos. Se era bruxa, então por que as sobrancelhas de Lavinia não desapareceram quando Gina ficara furiosa com ela? Por que seu vestido não pegara fogo? Por que os pequenos sinais, os sinais que cresceram com ela antes de comprar sua varinha quando menor e que provavam que era de fato uma bruxa, não ocorreram? – por que nada aconteceu? – finalizou fracamente, esperando que Tom entendesse o que ela queria dizer.
Ele entendeu. Sorrindo quase serenamente, disse:
- Posso controlar alguma de sua mágica. Sempre estive por perto, Gina, quando você não tinha conhecimento. Principalmente quando estava com sua mãe. Eu sabia que você era hostil a ela. Garanti que a mágica estimulada pela raiva fosse mantida sob controle.
Gina mordeu o lábio inferior, desapontada. Bem, o que importava? Não tinha varinha – de qualquer maneira não havia como fazer magia grande para se salvar. Contudo, dava-lhe calafrios pensar que Tom estivera sempre observando-a.
- Por que você não conta logo – começou ela – por que trouxe Draco e eu aqui? Acho que é bem injusto manter-nos aqui sem sabermos.
- E quem falou alguma coisa sobre ser justo? – disse Tom. – Não existe justiça. Só existe o que eu faço. Você não pode mudar nada, e o destino não pode mudar nada. Apenas eu. Aqui, no meu mundo, você pertence a mim.
Foi quase como se Gina tivesse sido assaltada por uma sensação repentina de ter onze anos novamente, escrevendo em seu diário perfeito e conversando com o perfeito Tom. Ele a dominara então, ela pertencera a ele, e nem ao menos soubera. Agora sabia, e não havia nada que ela – ou qualquer outra pessoa –pudesse fazer. Era pior saber que agora era mais velha e mais capaz de tomar conta de si mesma, e que não tinha como fazer tal coisa. Era como se uma cobra estivesse percorrendo-a por dentro, a ponto de fazê-la ter vontade de vomitar.
A náusea passou, e Gina forçou-se a encontrar os olhos de Tom novamente. Ele estava sorrindo propositalmente para ela, brincando com sua mente e tentando fazê-la acreditar que podia ver dentro de sua cabeça e ler seus pensamentos. Ela tentou não acreditar.
- Apenas diga logo por que estamos aqui – disse ela em um sussurro rouco.
- Bem, daria uma ótima história – disse Tom, levantando e voltando-se para encará-la. – É uma das minhas brilhantes jogadas, eu acredito, bem como o diário que você teve sorte o bastante de achar em seu primeiro ano.
- Isso não tem nada a ver com o diário – protestou Gina, apenas torcendo para que o que estava dizendo fosse verdade.
- Não diretamente – disse Tom delicadamente. – Mas é uma idéia semelhante.
“Quando eu estava ganhando poder,” começou ele, fixando sem expressão um ponto da janela acima, “durante o quinto ano de Harry Potter, eu sabia que havia uma grande chance de ser reduzido ao que fui por anos. Como é evidente, Gina, não tenho desejo de retornar àquele estado de... de fraqueza. Então, para evitar tais acontecimentos, criei uma das coisas mais complexas da história mágica – a mais complexa, na verdade. Ninguém nunca a fez, e ninguém provavelmente vá fazê-la novamente. Ninguém é poderoso o suficiente.”
- O que é? – interrompeu Gina, impaciente.
Tom ignorou-a.
- Levou uns bons dois anos para completá-lo totalmente. Tive sorte de executá-lo antes que Harry Potter me executasse na realidade. É claro, quando o criei, não tinha percebido que podia morrer. Apenas suspeitei que pudesse perder meu corpo por algum tempo.

“De qualquer forma, esse mundo que criei serve para o intento. Custaram-me alguns meses para decidir quem usaria como jogadores no meu Jogo, como gosto de chamá-lo.”
“Jogo?” pensou Gina fracamente. “Isso é um jogo para ele?”
- Escolhi você, Gina, porque já havia controlado-a antes – disse ele realmente, a frieza de sua voz correndo pelo corpo de Gina como gelo – E como já foi controlada antes, é bem simples fazê-lo de novo. Você foi uma escolha fácil.
- Mas no que se refere a poder, você não possui nenhum. No mundo mágico, ninguém a teme ou a respeita. Seu nome é raramente reconhecido. Então eu precisava de outra pessoa, alguém que pudesse apoiá-la e ajudá-la – ou melhor, ajudar-nos – em nossa jornada para ter poder sobre tudo e todos no mundo.
Até então, ele não estava fazendo sentido algum. Gina quase o interrompeu, mas decidiu que ele parecia próximo ao final, e deixou-o terminar.
- Então, um dia, a solução me ocorreu. Ela estivera o tempo todo embaixo do meu nariz. Um dos meus seguidores mais fieis e úteis tinha um filho que estudava em Hogwarts e em breve se formaria. Ele seria iniciado como Comensal da Morte, mas esse era um plano para seu vigésimo aniversário.
- Eu não contei a ninguém da criação do meu mundo, é claro, e meu Comensal da Morte não precisava saber que eu usaria seu filho. Estou acostumado em conseguir o que quero, Gina, sem obter permissão. - A garota achou que ele estava declarando o óbvio, mas não respondeu. - Então agora que eu tinha meus jogadores, e meu mundo estava sendo bem criado. Consegui terminá-lo antes daquela noite de 1998 quando Harry Potter escapou de minhas artimanhas uma última vez, tomando minha vida. Foi sorte eu ter o completado, porque agora, é minha única ferramenta para reconquistar o poder.
Houve um longo intervalo de silencio, e Tom continuou fixando o olhar à janela. Agora Gina estava ainda mais confusa. Ele não explicara nada que fizesse algum sentido.
- Não entendo – disse ela, simplesmente.
Ele mirou seu olhar a ela, sua expressão indecifrável. Parecia distante, perdido em seus pensamentos.
- Como você criou esse mundo? Como pôde nos colocar aqui? – indagou rapidamente. Quase gostava dele bravo, porque pelo menos assim não ficava encarando-a daquela maneira esquisita, como se estivesse enxergando através de sua alma.
- Magia Negra – disse Tom silenciosamente – Meses e anos de Magia Negra difícil, complexa e de quebrar a cabeça que ninguém a não ser eu, como Lord Voldemort, podia fazer. Quando finalmente havia criado uma atmosfera inteira, um lugar inteiro onde alguém pudesse viver e não saber a sua diferença com o mundo real, adicionei meus jogadores. Minhas peças. Incluindo você, Draco, eu... e Maria.
- Maria? – Gina quase se esquecera dela – Ela é uma bruxa também?
Tom deu uma risada curta, e seus olhos focaram-se nela um pouco mais.
- Não, ela não é real. Eu a criei especificamente. Todos nesse mundo, exceto Harry Potter, foram feitos ao acaso. Maria, de qualquer forma, serviu para um propósito. Ela me ajudou, sem saber quem eu sou realmente, a pegar você. Ela ainda acha que você é uma rainha, na verdade.
A cabeça de Gina estava girando, fazendo até uma dor de cabeça começar a surgir a partir das palavras dele.
- Então... por que ela está lhe ajudando? Porque você está controlando-a?
- Não, ela está fazendo tudo voluntariamente. – disse ele com um sorriso torcido – Ela odeia você, Gina.
Mas... por quê? Maria parecia amá-la, tanto quanto era permitido um empregado amar seu superior. Por que então agia tão diferente de seus sentimentos?
- Maria acha que esse mundo é o seu mundo, e que não há outro – disse ele.
- Quando construí esse mundo, – adicionou ele – fiz um universo completo que parece realidade a quem vive nele. As pessoas que realmente vivem aqui e pensam que isso é tudo que existe... elas foram criadas por acaso. Consegue entender?
Gina encarou-o, tentando compreender. Sua cabeça ainda estava pesada da poção que tomara. Ainda assim, conseguiu processar o que ele estava dizendo:
- É mais ou menos como quando você quer uma certa cor, azul, por exemplo, e não importa se o azul é Royal ou claro, desde que seja a cor azul?
Tom concordou lentamente.
- Quase. Compreendo a conecção que está tentando fazer. Criando esse lugar, usei minha mágica para criar dois reis, uma rainha, e uma jovem princesa. Como eles se desenvolveram não foi obra minha. Suas personalidades, suas feições... puro acaso.
Gina achou que compreendera. Não era racional, mas fazia sentido de alguma forma.
- Quanto a Harry Potter, eu o adicionei a esse mundo apenas para deixá-lo mais... difícil – continuou Tom – Me lembro muito bem do quanto você o adorava em seu primeiro ano. Eu sabia que se ele a odiasse, tudo seria mais complicado. Não queria que você ficasse muito confortável em sua posição de realeza.
Gina bufou em descrença. Mesmo sem Harry sua situação não teria chegado perto de ser fácil.

- Então eu tinha meu próprio mundo feito completamente por magia, e tinha aquelas pessoas que queria colocar nesse mundo, que não sabiam como haviam parado aqui. No momento em que Potter me matou, meu espírito deixou o mundo real e veio para cá, tomando minha forma humana, corpo de Tom Riddle. Gastei o verão e os meses seguintes desenvolvendo minhas habilidades mágicas, tornando-me tão poderoso quanto fora como Lord Voldemort no mundo real.
Ele fez uma pausa e encarou Gina, forçando-a a olhar diretamente para ele.
- Eu sou o único nesse mundo que pode fazer mágica, Gina – disse suavemente, e esticou a mão para seu bolso da calça. Um instante depois removeu sua varinha.
Gina ficou boquiaberta àquilo quase com afobação. Parte dela desejou pular em Tom e lutar para tirá-la dele, mas sabia que perderia. E se realmente vencesse, então o que faria? Não conhecia nenhum feitiço que pudesse tirá-la desse mundo. Estava presa.
- Mesmo estando morto no mundo real, – disse Tom, prosseguindo a história – estou vivo aqui. Era apenas uma questão de tempo até que você e Draco viessem juntar-se a mim.
Gina apressou-se para interromper:
- Mas e quanto à época antes de virmos? Quem estava em nossos lugares? Quando viemos aqui, as pessoas nos reconheceram como Princesa e Príncipe, mas se esse mundo já estava existindo antes de chegarmos, então como...
- Outro truque mágico que fui capaz de executar – respondeu Tom com um sorriso apertado – Quando finalmente consegui me tornar novamente mais poderoso magicamente, eu tive condições de trazê-los para dentro desse universo na data que desejei.
- Sim, tudo isso está bem correto, mas você ainda não respondeu minha pergunta – contou-lhe ela afiadamente.
Tom não reagiu ao tom irritado dela, mas enfim respondeu-lhe:
- Já que todos aqui são obras minhas, minhas criações, posso controlar suas mentes, o que devem pensar e o que devem se lembrar. Uma noite mandei-os dormir, seus pais pensando que não tinham filhos, e todos nesse castelo achando que tinham apenas um Rei e uma Rainha para cuidar. Eles então acordaram com uma memória completa de quem você é e como é. O mesmo se aplica ao Sr. Malfoy. Não foi fácil; irei admitir para você, Gina. Ninguém que não fosse muito poderoso poderia ter feito isso. E nesse caso, eu acabo sendo o único que se encaixa no padrão.
- Então você simplesmente colocou pensamentos falsos na cabeça das pessoas? – reclamou Gina. Na verdade, estava bem impressionada. Seus irmãos Fred e Jorge sempre estiveram procurando formas de incluir magicamente conteúdos de Poções em seus cérebros para que assim soubessem tudo nas provas, mas eles – ou qualquer outra pessoa, na verdade – nunca foram capazes de fazer tal coisa. Pelo que Gina ouvira falar, era impossível.
Mas Tom basicamente o fizera.
Ainda assim, ela tinha que perguntar:
- Se você pode controlar todo mundo aqui, então por que ficou com tanto medo que eu fizesse magia na frente de Lavinia? Se eu tivesse feito, você não poderia ter simplesmente apagado isso da memória dela?
- É claro que eu poderia, mas mudar o que uma pessoa pensa e lembra leva tempo. E eu não tenho tempo a perder. – adicionou Tom um pouco dramaticamente demais – Era mais fácil me certificar que ela não testemunhasse nenhuma mágica.
- E você não revelou a Maria o que você realmente é? – pressionou Gina – Você não a deixa testemunhar sua mágica também?
Tom sorriu secamente:
- Ela deverá descobrir em breve. Sei que irá. Mas até agora está funcionando bem sem ela saber de coisa alguma, então estou satisfeito.
Gina franziu o cenho para ele, mas deixou-o continuar.
- No dia seguinte ao que eu trouxe você e Draco para cá, estava planejando alguma maneira de entrar no castelo sem ser um empregado. Então as notícias se espalharam rápido de que você estava doente, e era a desculpa perfeita para vir vê-la – Tom pareceu incrivelmente satisfeito com algo, talvez com si mesmo.
- Você fez as pessoas acreditarem que haviam ouvido falar de você como um doutor famoso internacionalmente? – pressionou ela.
- Sim. E é claro que se eles pensassem que me conheciam, e que haviam ouvido falar muito de mim, então o Rei e a Rainha ficariam ansiosos para deixar-me entrar no castelo e permanecer, mesmo após ter a curado.
Gina concordou, mas ainda tinha um milhão de outras coisas que queria perguntar. As coisas estavam se tornando mais claras, mas nem tudo estava evidente ainda.
- Por que essa época da história? – ela acabou dizendo primeiro.
- Se eu fosse colocá-los em um mundo de trouxas – disse Tom suavemente – não queria que fosse no século vinte. Queria algo antigo, primitivo, onde os trouxas não tivessem veículos motorizados ou eletricidade... também queria colocá-la em um papel de poder supremo. Essa época da história pareceu a melhor para o que eu pretendia conquistar.

Gina concordou novamente e olhou para o chão. Foi então que se deu conta que ele não contara o mais importante de tudo – por que escolhera ela e Draco para vir a esse mundo com ele. Quando lhe perguntou isso, os olhos dele assumiram aquele olhar vidrado novamente, e ele falou vagarosamente:
- Eu estou morto, Gina. Na época e no mundo que preciso estar estou morto. Preciso de um corpo para usar, para prosseguir nos planos que nunca tive a chance de terminar. Ainda preciso matar Harry Potter, e ainda tenho que reinar o mundo. E estando morto, não posso fazer isso sem ajuda.
- E você espera que eu o ajude? – zombou Gina.
- Você não tem escolha – disse Tom maldosamente, olhando com desprezo – Meu poder ultrapassa qualquer coisa que você possa imaginar.
Sua voz era tão fria que era como engolir gelo. Gina tentou não se arrepiar.
- Não tenho mais um corpo no futuro – disse Tom, continuando sua explicação – Não tenho espírito nem qualquer tipo de existência. Mas aqui eu tenho. Aqui, sou quase humano. E trouxe-a aqui especificamente para me ajudar a ter uma existência na época que preciso: quase há quatrocentos anos daqui.
- Colocarei minha alma e minha vida no seu corpo, Gina – disse Tom friamente – Quando a controlei através de meu diário, usei sua força para ajudar a formar meu próprio corpo. Mas já que estou morto, isso não funcionaria dessa vez. Agora, para poder sobreviver no futuro, deverei usar você. De certa forma, você estará morrendo. Com minha alma dentro de seu corpo, Virginia Weasley não existirá mais, mas eu sim. E bem como fiz para erguer-me ao poder, usarei mágica para me transformar – ou melhor, o seu corpo – em uma criatura aterrorizante, que todos os bruxos, bruxas, sangues-ruins e trouxas temerão. Serei Lord Voldemort mais uma vez.
Gina meramente conseguiu perguntar, em uma voz tremida:
- Por que eu?
Tom deu de ombros friamente.
- Já lhe disse isso. Já a controlei antes. No instante em que minha alma entra no seu corpo, a sua alma – que já foi enfraquecida por mim seis anos atrás – desaparecerá, bem como uma chama sendo apagada. Qualquer um, qualquer outra pessoa que eu não tivesse conquistado ainda, iria lutar para viver por pelo menos um ano. Eu estaria dividindo o corpo com eles, e prefiro não fazer isso. Você é a melhor escolha, e com a ajuda do jovem Sr. Malfoy, você definitivamente servirá para o propósito certo que tenho.
Gina piscou, pensando por um instante que a visão turva era um dos efeitos colaterais da poção, mas descobriu que eram lágrimas. Horrorizada de chorar na frente de Tom, apressou-se para limpá-las com as mãos.
- Como Draco ajudará? – perguntou ela silenciosamente, fitando seu colo para evitar o olhar dele.
- Ele tem mais poder que você, Gina – disse Tom, quase em um suspiro – As pessoas encolhem-se quando ouvem o nome Malfoy, não é? Seu pai é respeitado por todos os meus seguidores mais fieis, e o único motivo por qual não escolhi trazer Lúcio foi justamente por saber que Draco tinha muito mais disposição, muito mais energia para fazer o que desejo.
- Mas como ele pode ajudar? – repetiu Gina fracamente.
- Você não é nada extraordinária – disse Tom, quase emitindo as palavras como se fosse algo com que se envergonhar – Sozinho, com seus poderes medíocres em minha posse, não chegaria a lugar algum. Draco me ajudará a me tornar tão grande quanto eu era como Lord Voldemort.
- Draco não fará isso – disse Gina, usando uma leve força, apesar de não acreditar completamente no que estava dizendo – Ele não é como o pai.
- Ele me ajudará – disse Tom suavemente – se acreditar que é o que você quer.
Gina levantou sua cabeça para encará-lo, e ele sorriu friamente.
- Ele se apaixonou por você, não percebe? – sussurrou Tom – Ele fará o que eu mandar, se acreditar que é você quem está mandando. Quando perceber o que está acontecendo, será tarde demais. Então serei capaz de continuar crescendo em termos de poder sem a ajuda dele, e o matarei.
O coração de Gina pulou desagradavelmente. Foi então que começou a desejar desesperadamente que não tivesse exigido saber a explicação do por que ter sido tirada de seu mundo para vir até ali. A verdade era um milhão de vezes pior que a dúvida e a imaginação.
Ela levou um minuto para tentar engolir o grande nó que tinha na garganta, preparando-se para perguntar mais inúmeras vezes, mas Tom dirigiu-se à porta.
- Irei mandar Maria entrar – disse ele, com a mão na maçaneta – mas lembre-se, ela não sabe de nada.
Com um final sorriso irônico por cima dos ombros, ele saiu do quarto, deixando Gina apenas com seu coração aos pulos e seus pensamentos deprimentes.
Antes que pudesse pensar mais profundamente no assunto, Maria precipitou-se, fechando a porta. Houve um barulho da maçaneta sendo trancada do lado de fora, e Maria, satisfeita, dirigiu-se e parou em frente a Gina, bem como Tom fizera anteriormente.

- Olá, Sua Majestade – falou Maria, lentamente.
Como Gina pôde não notar antes como seus olhos eram negros? Parecidos com os do professor Snape, só que... mais cruéis. Frios, profundos, maliciosos... perfeitamente iguais a pedaços circulares e frios de uma rocha preta.
- Creio que Sua Majestade esteja perguntando-se sobre muitas coisas agora – disse Maria com uma expressão carrancuda de dar nojo – Talvez por que estou ajudando o seu doutor a matá-la?
Gina imediatamente assimilou que a única razão por qual Maria estava seguindo o plano de Tom era porque pensava que eles apenas a assassinariam. E estava tremendamente enganada, pois Gina poderia apostar dez galeões de que assim que tudo tivesse sido feito, Maria também morreria.
- Ele não é médico nenhum – debateu estupidamente a garota, sabendo que era inútil tentar convencê-la – Ele é um bruxo.
- Ele é brilhante – disse Maria facilmente, não compreendendo o que Gina significara com “bruxo” – Estou surpresa por ele tê-la mantido viva por todo esse tempo. Eu, pessoalmente, teria deixado-a morrer daquela doença. Mas dessa forma também funciona. Irei amar cada segundo de vê-la morrer.
Gina não estava assustada por essas ameaças, sabendo que um destino bem pior a aguardava. Ela seria a razão da morte de Draco, e seria o seu corpo que colocaria em prática o maléfico plano de destruir o mundo mágico. O que sua família dirá? Pensariam que foi realmente ela?
Contudo, ainda estava levemente confusa do por que de Maria ter agido tão gentilmente para com ela, quando na verdade tinha vontade de cortar sua garganta enquanto dormia. Então, perguntou com rouquidão:
- Por que você me odeia?
Maria jogou a cabeça para trás e riu, uma risada mais alta e tão fria quanto à de Tom. Encontrou os olhos de Gina novamente e respondeu:
- Ódio não é uma palavra forte o bastante, Gina. Não há palavra nessa língua que eu possa usar que descreva o mínimo do que sinto por você.
- Então por que você foi tão boa comigo? – disse a garota histericamente.
O rosto de Maria endureceu, e ela pareceu consideravelmente como um velho bulldog amassado. Gina sempre a achara agradavelmente rechonchuda, mas nunca repulsiva.
- Que pergunta idiota, sua garota estúpida. Você teria corrido para contar a mamãe e ao querido papai sobre como eu não estava a tratando como uma princesa. E eu teria sido despedida em um estalar de dedos.
- Irei contar-lhe isso, Gina – se não fosse pela consciência de que um dia eu me vingaria de você, eu não teria permanecido por aqui. Desde o momento em que você aprendeu a falar, você me insultou, às vezes dando ordens aos cozinheiros para não me darem comida porque eu não tinha colocado seu vestido adequadamente e tinha feito minúsculas pregas na seda. Eu odiei. Apenas permaneci com você porque... – ela fez uma pausa, adquirindo um nebuloso olhar, antes de fechar as pálpebras rapidamente como se tivesse se dado conta de que estava falando demais – Bem, o ponto não é o por que de eu ter ficado – disse precipitadamente, apesar de Gina discordar, pois achava que aquele era exatamente o ponto – mas o que você me fez fazer. Você só piorou e piorou a medida que crescia. Finalmente, eu não podia mais suportar.
- Foi então que conheci Tom. Ele também queria vingar-se de você, e juntos formamos um plano incrível que não falhará. Culparemos Draco Malfoy pela sua morte. Será perfeito. Finalmente poderei fazer o que esperei por anos.
Maria finalizou, sorrindo orgulhosamente. Então ficou sóbria, notando a expressão entediada de Gina. Nada que a aia pudesse dizer a afetaria. Nada que dizia importava.
- E apenas para constar – adicionou Maria em um tom baixo e frio – fui eu que matei Lílian Potter.
O comentário foi tão inesperado que Gina sentiu sua expressão vazia transformar-se em interesse, e Maria, vendo que prendera sua atenção, continuou:
- Não foi Lavínia. Eu menti e disse isso, e por uma estranha razão, você acreditou. Eu pensei que você conhecia sua mãe. Ela pode ser incrivelmente esnobe, parecida com você, mas nunca mataria alguém. Fui eu que levou Lílian comigo para a floresta, e consegui, enquanto não prestava atenção, flechá-la. Ela demorou para morrer, e chorava por causa da morte de seu bebê, e não por sua causa... essa é a forma patética de Lílian ser, sempre pensando nos outros antes de si mesma... mas finalmente ela morreu, e eu fiquei satisfeita. Feliz por ela ter partido.
Gina, muito pálida e chocada, agarrou um punhado de seu vestido de noiva. De todas as coisas... nunca pensara que ouviria isso. Achara que já fora surpreendida todas as vezes possíveis para um dia... infernos, tinha se casado há menos de sete horas... e agora estava ouvindo Maria dizer que ela tinha assassinado a mãe de Harry.

- De qualquer forma, todos acreditam que foi Lavínia quem a matou – disse a aia – Tive o cuidado de usar flechas iguais às dos guardas do castelo. Ninguém suspeitou de mim. Assim como ninguém suspeitará de que eu a matei.
Gina de repente sentiu uma raiva fervente dominá-la, e não quis nada além de cravar suas unhas bem fundo na pele frágil e gorducha do pescoço de Maria. Antes que fizesse qualquer coisa do gênero, perguntou amargamente entre dentes:
- Por que você a matou? Você a odiava, também?
- Eu simplesmente abominava a perfeita Lílian! – gritou a aia, sua voz alta fazendo Gina pular. – Ela tirou tudo que eu tinha de valor! Quando tive certeza de que seria contratada como a criada pessoal da Rainha, Lily acabou ganhando o cargo! E tudo que fizera foi ser uma simples empregada da copa, enquanto eu fizera trabalhos por todo o castelo! Então ela casou-se com Tiago e tiveram um filho e se tornaram a família perfeita... e então, o Rei escolheu-a ao invés de mim! Ele deve ter ficado cansado de mim, e decidido que Lily seria mais um desafio, mas ela nem o queria…
Maria interrompeu-se repentinamente, mais uma vez com a impressão de ter falado demais.
Gina elevou as sobrancelhas, imaginando se não teria se enganado o tempo todo sobre seus pais – talvez devesse desprezar seu pai, e não sua mãe. A idéia de que ele era do tipo que dormia com criadas causava-a náuseas.
- De qualquer forma, nada disso importa – disse Maria, estremecendo – Em poucos minutos você estará morta, e eu estarei livre de você.
Então ela levantou-se abruptamente e dirigiu-se à saída, batendo na porta. Lançou um último olhar ameaçador a Gina antes de Tom abrir a porta e deixá-la sair. Se a garota tivesse tido energia, poderia ter tentando escapar, mas se sentia como um bobo débil. Segundos após, ficou sozinha e novamente trancada dentro do quarto.
Sentou-se e fitou a parede, tentando repassar tudo que já aprendera. Depois de alguns minutos suas pálpebras caíram pesadamente, ameaçando conduzi-la a um sono pesado. Mas não podia permitir-se pegar no sono; precisava permanecer acordada e alerta. Não importa o que acontecesse, Tom não invadiria seu corpo sem ela dar-lhe um bom trabalho.
Contudo, tentou lembrar a si mesma, teria mais forças se dormisse...
Levantou-se e começou a andar de um lado para o outro, piscando furiosamente e tentando refletir. Ainda havia tantas perguntas a serem respondidas... como, por que Dumbledore estava ali? Gina suspeitava que talvez Tom não soubesse dele. Não tinha explicado nada sobre isso. Talvez ela deveria tê-lo procurado quando teve a oportunidade.

Bem, era tarde demais agora. Se ele estava ali para ajudá-los, a única esperança que tinha agora era a de que ele viesse e a salvasse. Contudo, essa expectativa não a deixava muito confiante.
E o que estava ocorrendo no futuro? Estariam todos notando sua falta? Como Tom explicaria sua ausência de quase três semanas?
“Não posso ficar sentada aqui imaginando” disse a si mesma decididamente, tentando “levantar a poeira”. Teria que fazer algo. Que utilidade teria ficar pensando sobre coisas que não podia responder?
Deu uma olhada geral no quarto, novamente explorando suas opções. Janela – muito alta. Porta – muito pesada e trancada. Paredes – muito sólidas para quebrar, e nenhum material para fazê-lo. Mas então havia aquele pedaço de assoalho... por que era de assoalho, de qualquer forma?
Gina colocou seu pé nele, apertando os dedos em volta da ponta de uma das taboas de madeira. Não eram muito grandes – aproximadamente do comprimento de seu braço, e apenas um pouco mais largas – mas estavam pregadas firmemente na parede. Uma taboa estava cruzada na frente das outras, horizontalmente, tornando bem mais difícil o processo.
Cerrou o cenho. Se estavam presas tão fortemente, teriam que estar escondendo algo importante, não teriam?
Puxou o pedaço de cima de madeira, usando o máximo de força que podia. O assoalho moveu-se apenas levemente. Gina tentou novamente. Mexeu-se um pouco mais.
Levou quase dois minutos para arrancar a taboa de cima, e tudo que aparecia era mais quatro taboas e três farpas em seus dedos. Contudo, sentia-se orgulhosa de ter conseguido arrancar essa taboa, e começou a fazer o mesmo em outra.
Várias vezes interrompeu o processo pois pensara ter ouvido passos vindo em direção a porta. Sabia que da próxima vez que Tom ou Maria viessem, eles executariam o “assassinato”.
Assim que Gina arrancou a taboa da ponta, viu que estava de fato cobrindo um buraco na parede, mas não um que alguém havia perfurado. Era quadrado ou retangular – podia ver pelos cantos visíveis. Com esperança dominando-a, continuou.
Mais três minutos... a terceira taboa saiu, e só restavam mais duas. Dentro, o buraco era preto e ela não podia enxergar nada. Teria que arrancar o resto e colocar a vela ali para ver o que havia dentro.

Mais cinco minutos passaram, e finalmente, Gina arrancou a ultima taboa. Deixou-a no chão, apertando os olhos para ver melhor devido a pouca luz. Suas mãos estavam sangrando – podia sentir – e estava com muitas felpas. Entretanto, tinha conseguido fazer o que pretendera, e estava agora fitando um retângulo na parede que se assemelhava a um compartimento.
Gina pegou o castiçal e a vela que Tom colocara em cima do armário e voltou. Enfiou a vela no buraco e iluminou-o. Custou-lhe um segundo para se dar conta do que era.
Era um ascensor, um pequeno elevador de carga. Havia uma polia e cordas perto da entrada, e ela tirou a vela do buraco e inclinou uma mão para pegar uma das cordas. Olhando para baixo, não podia ver nada além de uma escuridão sem fim. Em cima, viu rocha sólida. Devia estar no andar mais alto do castelo.
Começando a sentir algum entusiasmo, deixou o castiçal no chão ao seu lado e começou a puxar a corda. Houve um ranger e um barulho de ferrugem; evidentemente não fora usado por um tempo, e parecia protestar à possibilidade de ser útil novamente.
Alguns segundos depois, Gina trouxe a superfície e alinhou-a diretamente ao peitoril da abertura, apenas a polia separando-os. Soltou a corda, e ela não caiu – teve que empurrar as cordas bem forte para que se movessem.
Ela inclinou-se para trás, e deu uma olhada no quarto novamente. O ascensor era sua única chance de escapar. Tom havia lacrado-o, e esperançosamente não planejara que Gina arrancasse as taboas e o usasse. Uma parte sua achava que Tom não seria idiota o bastante para não perceber uma coisa dessas; se ele não quisesse que ela o utilizasse, teria colocado magicamente taboas ali para que não pudessem ser removidas de jeito algum. Mas de qualquer forma, sair do quarto era melhor que ficar sentada esperando, e tinha que ao menos tentar. Quando pensava em como simplesmente perdera a chance de ir até Dumbledore, tomara uma decisão: não deixaria outra oportunidade passar só porque suspeitava que Tom tinha algo a ver com ela.
O ascensor era amplo o bastante para ela entrar, mas apenas isso. Sabia muito bem que teria que deixar seu gordo vestido de casamento para trás.
Rapidamente, sentou na cama e tirou os sapatos achatados e de bico quadrado. Feito isso, tentou, com os braços para trás, desabotoar o corpete. Teve que tentar cinco vezes antes de alcançar os botões, e quando o fez, viu-se numa posição tão desconfortável que não conseguia desabotoá-los. Frustrada, sabendo que tempo precioso corria, apelou para algo que desejou não ter precisado – rompeu o corpete para que os botões saltassem. Após vários rasgões, conseguindo finalmente tirá-lo, o espartilho revelou-se.

Levemente triste, Gina deixou seu corpete arruinado cair no chão, e então, tirando isso da cabeça, dirigiu-se à saia. Era mais fácil – havia apenas um fecho, e, abrindo-o, a saia frisada deslizou para o chão. Por baixo restava a armação, que também foi fácil de remover. Não havia mais nada a contendo, mas achou que seria mais fácil de se mexer se tirasse os calções que tinha como roupa de baixo e o espartilho.
Os calções tinham uma cintura elástica muito fáceis de tirar; entretanto, o espartilho era mais trabalhoso. Maria sempre o colocara e o tirara para ela. Havia muitos laços para fazer sozinha, mas descobriu que, assim que desfez o inferior, as fitas deslizaram pelos seus furos e o espartilho saiu.
Finalmente conseguia respirar.
Ficou então com uma blusa rendada branca de algodão e grossas meias compridas brancas, que eram presas numa irritante cinta. Achou melhor permanecer com isso - estava frio no castelo, e elas mantinham-na de alguma forma aquecida.
Após calçar os sapatos novamente, o sangue de seus dedos feridos manchando o cetim branco, ela retornou ao ascensor. Abaixou um pouco a superfície para que pudesse passar pela abertura e entrar. Teve que se esticar – o peitoril era mais ou menos da altura de sua cintura – mas conseguiu, e dentro de minutos estava sentada na tábua do ascensor, segurando as cordas com força para evitar que o elevador despencasse com seu peso.
Gina lançou um último olhar para a porta e escutou. Silêncio. Era agora ou nunca.
Respirando fundo, começou a puxar as cordas. O andaime grunhiu e guinchou, movendo-se vagarosamente, mas parecia ser capaz de agüentar seu peso facilmente o bastante. Logo, a luz do quarto em que estivera foi desaparecendo de vista, e o cubículo em que entrou ficou no breu.
Não tinha certeza de para onde estava indo. Parte sua rezava para que o elevador não cedesse e ela despencasse para a morte, e a outra parte rezava para que não parasse em um quarto em que Tom e Maria estivessem.
Gina descobriu que nem todas as passagens para aposentos estavam abertas – algumas estavam obturadas e trancadas. Ela não estava prestando muita atenção e quase passou reto pela primeira passagem. Custou-lhe alguns instantes para se dar conta de que os tampões estavam bloqueando luz.
Parando, segurou as cordas e ouviu. Não havia sons vindo do quarto. Seria seguro dar uma olhada?
Bem, ela iria arriscar de qualquer forma. Tirou os tampões e abriu a passagem, simplesmente. O quarto estava vazio, e parecia ser inutilizado por tempos. A mobília estava coberta por lençóis brancos fantasmagóricos, dando um ar estranho ao lugar.

- Esse é o meu ponto – murmurou Gina, feliz por ter achado o primeiro quarto vago e assim saído do ascensor barulhento.
Foi um esforço sair, tentando se desvencilhar das cordas e segurá-las ao mesmo tempo para que o elevador não despencasse com parte dela dentro, mas conseguiu. Caiu desajeitadamente no chão, mas não importava – estava tão feliz como nunca estivera nesse mundo. Havia escapado do quarto trancado, estava viva ainda após a descida perigosa no elevador, e talvez pudesse sair do castelo a tempo de encontrar Draco no meio do caminho e alertá-lo.
Tentou esquecer o fato de que, mesmo que isso acontecesse, ainda não estaria a caminho de casa, e ficaria trancada nesse mundo onde Tom constantemente estaria atrás dela.

* * *

As pegadas na neve conduziam a um castelo escuro, além da floresta. Draco fitou-o, seu contorno quase invisível contrastando com o céu escuro, e sorriu maliciosamente. Que maravilhosamente perfeito.
Ele foi quase capaz de deslizar sua perna da sela graciosamente e saltar de Jack, se seu pé não tivesse ficado preso no estribo e ele desabado no chão. Conteve um palavrão alto, com medo que alguém pudesse ouvir, e mirou ao alto seu pé ainda no estribo, com Jack balançando a cabeça e bufando como se zombasse dele.
- Isso, ria bastante – disse Draco sem fôlego, levantando e sentindo-se secretamente agradecido por não ter torcido o tornozelo ou o se machucado fatalmente.
Deixou Jack à base das escadas, torcendo para que ele não fugisse, e dirigiu-se a porta principal. Ela era pesada e de madeira, bem como muitas portas no mundo. Para sua surpresa, estava aberta.
Draco parou em frente ao solado da porta, pensando se deveria levar Jack consigo. Seria mais fácil montar em um cavalo e talvez, quem sabe, atropelar Tom antes que ele conseguisse lançar feitiços mortais... não, Draco pensou, percebendo como isso soava absurdo. Além disso, não queria colocar Jack em perigo, pois apesar do animal idiota ter rido dele quando caíra, havia adquirido um certo afeto por ele.
Então Draco prosseguiu sozinho, fechando a porta cuidadosamente atrás de si. Acabara de entrar em uma enorme sala de espera, muito maior que a que tinha na Mansão Malfoy... esta até competia com a do palácio de Gina. Contudo, era escura, fria, e vazia de qualquer móvel ou sinais de vida.
O garoto encontrou-se correndo para atravessá-la.
Não fazia idéia de onde ir primeiro. Pelo que sabia, poderia dobrar em uma esquina e dar de cara com Tom. Não tinha o menor desejo de fazer isso; tinha certeza que Riddle mataria-o instantaneamente. Ou será que não?
“Talvez,” deu-se conta “Riddle deixou aquelas pegadas na neve com a intenção de que eu as seguisse.”
Bem, isso era óbvio. Tom não teria sido tão idiota e cabeça de vento a ponto de apagar uma evidencia desse gênero se não quisesse que ninguém soubesse.
Draco continuou, agitando a cabeça e murmurando consigo mesmo.
Caminhou por quase dez minutos, corredor vazio após corredor vazio, sem ouvir nem ver nada. Esporadicamente olhava dentro de um aposento, mas sabia que se não ouvisse nenhuma voz do interior, era porque estava deserto.
Bem quando estava prestes a parar e anunciar sua chegada ao castelo inteiro com um grito, dobrou em uma esquina e de fato teve um encontrão. De qualquer forma, não em Tom. Em Gina.
Ela soqueou o peito de Draco uma ou duas vezes antes de perceber que era ele. Furioso, o garoto agarrou os pulsos dela firmemente em suas mãos e disse, com raiva:
- Acalme-se, Weasley, sou apenas eu.
O rosto pálido dela abriu em um sorriso aliviado:
- Bom – disse sem fôlego, mas sua expressão feliz logo cessou.
Draco não prestou atenção. Soltou os pulsos dela e baixou os olhos para observá-la.
- O que está fazendo de calcinha? – perguntou, sua mente de repente cheia de pensamentos maliciosos sobre Tom.
- É só um avental – disse Gina distraidamente, sem elaborar melhor. Parecia mais com uma camisola folgada, se perguntassem a Draco. – Vamos, Draco, temos que ir antes que Tom perceba que escapei. Ele esperava que você viesse...
Ela pegou a mão dele e começou a conduzi-lo pelo corredor, de volta pelo caminho que ele viera.
- Pensei que ele esperasse mesmo – contou-lhe – Ele ainda não percebeu a sua ausência? Como você conseguiu fugir dele?
- É uma longa história, Draco, e prometo que irei contar-lhe assim que dermos o fora daqui – disse Gina rapidamente, virando em outra esquina – Esse é o caminho para a saída?

- Não sei – respondeu ele honestamente – Perdi a noção de direção.
Gina lançou-lhe um olhar irritado sob os ombros.
- Ótimo. Você veio a cavalo?
- Não, vim voando de vassoura – ridicularizou, contendo o riso.
Ela virou a cabeça novamente e abriu a boca para dizer algo, mas não teve chance. Parou de caminhar e olhou para cima dos ombros de Draco, seus lábios caindo em desapontamento e seus olhos tornando-se mais escuros. O garoto soube quem era sem nem ter que se virar; mas virou-se, e como imaginara, Tom estava parado no fim do corredor. Com a aia de Gina, Maria.
- Que bom que veio, Draco – disse Tom friamente, uma varinha em mãos. – Mas receio que não precisamos de você no momento.
Gina apertou a mão de Draco com mais força, e involuntariamente deu um passo para junto dele. Ele teve de admitir que estava sentindo algo muito raro: medo.
- Estupefaça! – sibilou Tom, a varinha apontada para o peito de Draco.
O garoto não teve tempo de reagir. Em um segundo sua mente esvaziou, sua visão falhou, e ficou inconsciente antes mesmo de tocar o chão.




N/A: Mais aventura, e novamente, mais um capítulo sem D/G romance. Mas pelo menos agora você entende a maior parte do que está acontecendo.

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