Mentiras e Enganos
Era muito bem de tarde quando Maria tirou Gina de um sono profundo e tranqüilo. Ela não dormira bem nos últimos dias desde que chegara, então ficou relutante em abrir os olhos.
- Almoço, Alteza – sussurrou a aia – Venha, comida é o que você precisa. Acorde, querida.
Comida. Isso era o suficiente para fazê-la levantar. Vagarosamente, a ruiva sentou-se entre os muitos travesseiros que estavam encostados na sua cabeceira, vacilando levemente quando pôs pressão sob sua mão cortada. Examinando-a, viu que estava enlaçada firmemente em uma faixa branca. Não precisaria mais se preocupar com isso – estava morrendo de fome agora. Permitiu que Maria colocasse a bandeja prateada em seu colo. Esfomeada, começou a devorar tudo, mastigando e levando a comida a boca de uma maneira imprópria a princesas.
Havia algo perturbando sua mente, entretanto. Algo que não deveria estar esquecendo...
Então se lembrou, fazendo seu estômago dar voltas e a comida pareceu ser pedra em sua boca.
Harry.
“Preciso tomar uma atitude em relação a ele” percebeu. Em um segundo, havia se decidido. Deixando a bandeja de lado, começou a tirar os montes de lençóis de cima de si, observando Maria. Um olhar estranho estava estampado no rosto da aia, um que Gina não conseguia decifrar. Antes que pudesse tentar descobrir, a expressão já havia desaparecido, substituída por um sorriso amável e olhos negros brilhantes.
- Sentindo-se melhor, querida?
- Mais ou menos – admitiu, jogando suas pernas para fora da cama. Não havia nem se preocupado em colocar uma camisola; na noite anterior, tinha apenas tirado sua saia imunda e espartilho, e dormido apenas de roupa de baixo. De alguma forma conseguira pegar no sono apesar dos piniques das rendas. – Chame Harry aqui, por favor – ordenou, abruptamente.
A cara gentil de Maria tornou-se surpresa.
- Mas você não está decente, Alteza...
Um pouco irritada, Gina concordou.
- Sim, eu sei. Mas todas as partes que precisam estão cobertas, então não há nada de errado que ele venha. Apenas mande-o aqui imediatamente.
- Como... como queira, Sua Alteza – a aia fez uma saudação antes de dar a volta e deixar o quarto.
Assim que ficou sozinha, Gina levantou-se e começou a caminhar. Havia uma sensação inquieta dentro de si, porque sabia que era tolice mandar buscar Harry se ele era, de fato, o assassino. Ele poderia matá-la sem pensar duas vezes.
Mas então, isso seria burrice. Se ele a matasse, todos saberiam que foi ele, pois teria sido o único que estava no quarto com ela.
Contudo, uma pequena parte dela estava perguntando-se por que simplesmente não contava aos seus pais sobre a faca. Não havia provas para condená-lo por assassinato, é claro, mas tinha certeza que era contra a lei um empregado ter uma arma, principalmente na presença da realeza. Se seus pais soubessem, certamente o mandariam para a cadeia. Podia até imaginar sua mãe reclamando que sua vida estivera em perigo porque um humilde empregado possuía um facão. Não seria mais fácil delatar Harry, e tê-lo encarcerado, incapaz de matar?
É claro que seria, sabia disso, mas havia uma grande chance do rei e da rainha reagirem de forma exagerada. Poderiam matar o garoto por causa disso. E se ele morresse, e os assassinatos continuassem, provando que não era ele quem estava provocando-os, ela nunca se perdoaria. Certamente no fundo do coração ela ainda acreditava que ele fosse inocente, que não podia ser capaz de ser tão brutal e frio. Precisava vê-lo, e dá-lo uma chance de se defender.
“Saberei se ele está mentindo ou não.” Pensou. “O Harry do futuro nunca foi bom em esconder seus sentimentos; esse Harry também não pode ser.” O garoto claramente tinha problemas em esconder sua raiva e ressentimento em relação a ela, se isso servisse de pista do quão bom ele era em conter suas emoções.
Então poderia fazer perguntas. Descobriria se ele era culpado ou não. E quando, apenas quando, tivesse certeza que ele o era, ela contaria a seus pais da faca que tinha em sua posse. E certificaria-se que ele fosse apenas preso, não morto.
Era um pouco estranho a maneira pela qual ela ainda se importava com ele, mesmo que ele odiasse-a e talvez estivesse fazendo mau a crianças e famílias. De alguma forma, Gina nunca conseguiria ter aversão ou desprezo por Harry Potter.
O que o verdadeiro Harry Potter estaria fazendo agora, no futuro? O tempo ainda estava correndo a trezentos e noventa e um anos dali? A Terra continuava a girar, e ela estava presente lá? “Talvez,” pensou, franzindo as sobrancelhas “a Gina Weasley que todos nesse mundo pensam que sou eu, está no futuro agora, no meu lugar.”
Era isso que estava acontecendo? A princesa da Inglaterra havia trocado de identidade com ela? Seus mundos estariam completamente distorcidos, trocados de alguma forma? E seria possível que a verdadeira princesa não se parecesse nem um pouco com Gina, e nem tivesse seu nome, e sim que as memórias daqueles que conheciam-na estivessem modificadas, e feitas para acreditar que ela se parecia verdadeiramente com Gina?
A garota suspirou. Era tudo tão complicado. Inúmeras coisas poderiam ter acontecido com ela no futuro. Também era possível que tivesse desaparecido inteiramente, que estivesse sumida e sua família e amigos estivessem procurando-a.
“Eles nunca me encontrarão” contou a si mesma com uma risada seca e sem humor. “Não aqui.”
Então outro pensamento ocorreu-a. Talvez ela simplesmente não existisse no futuro. Quem quer que tivesse feito isso com ela, quem quer que tivesse mandado-a para essa época, poderia ter apagado sua existência da face da Terra no século vinte. Ainda vivia uma família Weasley, talvez, mas não havia uma irmã menor. Ainda permanecia uma Câmara Secreta, mas que nunca fora aberta, pois ninguém encontrara o diário de Tom Riddle e usado-o para abri-la.
Imaginar que ela não existia era tão deprimente que sentiu seus olhos irromperem em lágrimas. E se ela conseguisse voltar ao futuro, e sua própria mãe não a reconhecesse? E então o quê? O que faria? Viveria numa época em que não era nem um indivíduo? Quando não tinha tipo algum de existência, família ou identidade? Isso seria até pior que morar aqui, ela disse a si mesma. “Talvez seja melhor nós continuarmos aqui. Pelo menos Draco está presente.”
O conhecimento disso era definitivamente mais confortante do que seria a uma semana. Mas ainda não a fazia sentir-se quente e feliz.
“Não serei feliz até estar de volta a 1998” pensou, fungando e secando seus olhos. “Se minha família não me reconhecer, então irei infiltrar-me de alguma forma na vida deles. Irei fazer minha mãe ter pena de mim, e me tornar uma parte deles novamente. Não vou deixá-los não saberem que existo.”
E talvez ela estivesse exagerando. E nunca saberia realmente, a menos que achasse um jeito de voltar.
Alguém bateu na porta de Gina, e ela correu para secar seus olhos e respirar fundo.
- Entre – anunciou, grata pela sua voz estável.
Harry apareceu, e começou a fechar a porta atrás de si, quando a viu. Imediatamente olhou para o chão e murmurou:
- Perdão, Alteza. Esperarei até se vestir...
Franzindo a testa, ela disse antes que ele tivesse chance de sair.
- Não faz mal – disse a ele – Quero apenas falar contigo por um minuto. Estou coberta o bastante, e se não me importo que me olhe, então você não deveria se importar também.
Ele manteve os olhos no chão, mas concordou e fechou a porta. Não fez menção de dar mais passos para dentro do quarto.
Gina respirou fundo, e foi direto a sua primeira pergunta.
- Onde você conseguiu aquela faca?
- Que faca? – perguntou o garoto, distraidamente, fitando fixamente o tapete.
As bochechas dele ficaram vermelhas, e isso foi o bastante para Gina. Como ele seria culpado de assassinato quando corava ao olhar apenas para seus pés e braços nus?
- Você sabe a que faca estou me referindo – disse calma e friamente, seu tom contido e curto – Aquela de punho preto que você usou na carruagem.
- Onde o consegui? – repetiu o garoto, ainda olhando para baixo. Estava evitando os olhos dela porque estava tentando mentir, ou estava realmente envergonhado de fitá-la?
- Sim.
- O que importa?
Ela suspirou, um pouco frustrada. Por que ele simplesmente não podia responder a pergunta? Enrolou seus dedos do pé no tapete, e foi direto ao ponto:
- Você matou-os?
Ele levantou a cabeça, finalmente encontrando seus olhos. Ela contemplou fundo aqueles olhos verdes, tentando esconder a decepção que sentia. O rosto do garoto estava sinceramente surpreso pela pergunta, mas suas pupilas estavam enevoadas. Com que tipo de emoção? Por que ela não conseguia julgar? Era uma mistura de muitas, percebeu. Choque, ódio, tristeza e... piedade? Se era pena, então tinha que ser por si mesmo.
- Matei quem? – perguntou. Estava confuso, ela podia dizer pelo tom de voz, mas era apenas para mascarar algo mais? Podia notar um toque de malícia por trás?
- Falamos sobre isso ontem, na carruagem – respondeu Gina, surpresa pela sua maneira sistemática – Antes... dos ciganos.
A face de Harry relaxou em entendimento, e seus olhos reviraram-se.
- Ah sim, eu me lembro. Você pensa que matei todas aquelas pessoas.
- E você matou?
- Não! – não houve hesitação, apenas uma resposta direta de indignação e teimosia. Por tudo que ela podia julgar, ele estava sendo sincero.
- Então por que você tem a mesma faca que foi usada para assassinar aquelas famílias? – bradou.
Ele piscou, perplexo.
- Eu não tenho. – respondeu suavemente, sem muita determinação. Era a primeira pista forte que provava que ele não acreditava no que estava dizendo.
- Você tem sim – ela pressionou seus lábios em uma linha fina – E você sabe disso. Eu sei. Então se tens a arma do assassinato... – deu alguns passos na direção dele, esperando que talvez pudesse ler melhor sua expressão - ...Então estou achando que você matou as pessoas. Diga-me a verdade, Harry. Você assassinou ou não aquelas famílias?
Quando Gina se aproximou, ele deu um passo atrás e bateu as costas na porta. Com o rosto rude, mas seus olhos quietos e calmos de forma incomum, ele sussurrou:
- Eu não assassinei. Estou dizendo a verdade, Alteza. Não mentiria sobre algo assim.
Oh, como ela queria acreditar. Ele soava tão... sincero. “Mas se ele não matou, por que tem a faca?” sua mente gritou, lembrando-a de não desistir. Não podia deixar seus sentimentos por ele interferir em seu julgamento.
- Então me diga outra verdade... onde conseguiu aquela faca? – estava bem na frente dele agora, dando-o nenhuma chance de contorná-la. – Me diga, Harry, e não me enrole.
Os olhos dele de repente acenderam-se de fogo.
- Você quer saber, Alteza? Está bem, eu vou contar. Consegui do doutor.
Gina franziu suas sobrancelhas em confusão. Certamente essa não era a resposta que esperava.
- De Tom?
- Thomas – corrigiu ele, relaxando seus músculos tensos e suavizando seu olhar – Ele me deu a faca antes de sairmos de carruagem ontem.
- Por... por quê? – Gina tinha dúvida da razão de seu coração estar batendo tão rápido. Tinha quase certeza que Harry podia ouvi-lo.
- Não tenho convicção absoluta – respondeu, e ela logo sabia que estava dizendo a verdade. – Quando me deu, ele disse “Use isso para proteção. Você e a princesa talvez precisem.” Ele estava com uma expressão estranha, uma que eu não confiava, mas não pude recusar, pois ele é de mais classe que eu. Então aceitei.
“Ele sabia. Tom sabia que os ciganos nos atacariam.” Gina tentou acalmar sua respiração. “Tem de ser por isso que deu a faca a Harry.”
Provavelmente Riddle foi quem convenceu os ciganos a atacarem-na. Devia ter dito a eles onde interceptar a carruagem.
Oh, como pôde, mesmo por um segundo, pensar que devia temer Harry? Era Tom, exatamente como havia pensado no começo! Enquanto estava ponderando ali, ele podia estar a solta matando pessoas. E estava perdendo tempo com Harry. Como pôde ser tão tola?
Sem pensar, Gina desmoronou em cima Harry, enlaçando seus braços em volta do pescoço dele. O garoto enrijeceu ao seu toque, mas ela não se importou; abraçou-o forte, descansando sua bochecha nos ombros dele, e tentou evitar que as lágrimas brotassem.
- Desculpe – disse silenciosamente, fechando os olhos e respirando a fragrância dele. Oh, ele cheirava exatamente igual ao Harry do futuro... o mesmo tipo de sabonete. Era a coisa mais reconfortante que sentira em anos.
Foi tão maravilhoso ter alguém a quem se apoiar que ela nem se importou que ele não estivesse correspondendo, que seus braços estivessem parados ao longo do corpo e estivesse tenso e imóvel. Ela estava abraçando-o, e isso era o bastante. Apesar que abraça-lo não fosse igual a abraçar Draco, – Draco era erótico, assustador e perigoso – cingir Harry era quase... fraternalmente. Era como abraçar um de seus irmãos, e Deus, como ela sentia falta disso.
- Desculpe-me por todas as coisas que fiz para você – disse ela, sua voz grossa pelo choro – Sou uma pessoa idiota, uma estúpida, e sei disso. E sei também que você nunca me perdoará. Mas apenas saiba que sempre estarei disponível para você, Harry, se precisar de mim. Se você ou seu pai precisarem de algo, você pode vir direto aqui. Nem pense duas vezes, apenas venha.
Ela soltou-o e deu um passo atrás, olhando para baixo enquanto secava suas bochechas com as mãos. Harry estava encarando-a com um rosto fechado, duro, e até seus olhos estavam indecifráveis. Não sabia se ele acreditava nela, mas não importava, pelo menos não no momento. Teria que lidar com Harry depois; agora, precisava ver Draco.
- Você pode ir – disse silenciosamente, dando as costas a ele. O garoto não precisava ver suas lágrimas patéticas.
Ele não me moveu por um longo período. Finalmente, quando Gina estava prestes a gritar para que fosse embora, ele disse calmamente:
- Meu pai diz para não confiar em você.
A delicadeza na voz dele fê-la dar a volta. Seus braços estavam cruzados firmemente no peito, e podia sentir seu coração batendo fortemente debaixo de suas costelas.
- Não posso ser culpada pelo que meus pais fizeram – sussurrou ela, quando uma lágrima irritante caiu. Deus, como odiava chorar na frente dos outros. Sabia que fazia-a parecer lamentável.
Os olhos dele indicaram compaixão quando respondeu:
- Não podemos escolher nossa família. Eu não a culpo pelo o que aconteceu.
Antes que Gina pudesse pensar no que ele significara, Harry deu a volta e deixou o quarto.
* * *
Uma hora depois, Gina estava vestida e sentava na cama de Draco. Havia entrado no quarto, e encontrado-o dormindo, então o acordara. Eles precisavam conversar, e seriamente.
Ela observou o empregado magricelo vesti-lo, sem sentir-se nada envergonhada por estar presente. Desde que ele estivesse usando algo nos quadris, isso era o bastante para ela. Como sempre, o príncipe estava vestindo um monte de roupas, como todos nesse maldito mundo. Ela pensou em como era grande a diferença que quatrocentos anos podiam fazer.
- Irei mandar trazer Alexandria aqui – disse Gina a Draco, mordendo a parte interior de sua bochecha para esconder o gracejo ao vê-lo tentar entrar em suas calças apertadas. Apressadamente, antes que pudesse matar-se de rir, continuou – Talvez ela saiba como nos fazer voltar.
- Não faria mais sentido chamar Dumbledore? – perguntou o príncipe. Ele deu um tapa na mão do empregado e abotoou suas calças sozinho.
- Sim, mas antes eu queria ver a mulher primeiro.
Draco deu de ombros, tirando os cabelos dos olhos e encontrando os dela.
- Tanto faz, desde que realmente vejamos Dumbledore.
- E desde que ele venha até aqui. Não me arisco a me aventurar em uma carruagem agora. – Ela riu para ele. “Eu deveria vir mais enquanto ele está se vestindo” pensou. Era a coisa mais divertida que observara em o que parecia ser anos.
Ele pegou-a rindo, levantou uma sobrancelha e sorriu com ironia:
- Tudo bem, estou feliz que esteja gostando desse pequeno show, mas talvez não seria melhor você ir agora e mandar chamar essa mulher feiticeira?
Levantando-se, ela começou a sair, mas então algo lhe veio a mente. Parando, olhou-o, perguntando-se se deveria falar o que estava passando pela sua cabeça. Draco e seu empregado estavam ocupados arrumando o grande colarinho, mas o príncipe pôde sentir em si os olhos dela e perguntou:
- O que foi?
Ela sentou-se, mordendo o lábio inferior.
- Ontem, quando você me salvou daquele cigano...
Quando ela não continuou, ele pressionou:
- Sim...?
- Por quanto tempo você esteve ali?
- O que você quer dizer? – ele lançou um olhar a Gina, seu rosto demonstrando apenas interesse e não outra emoção.
- Bem, estou grata pela hora que você apareceu... – hesitou – Mas você poderia ter sido útil três minutos antes. Eu gritei muito, não é? Você não me ouviu?
- Eu ouvi – disse ele lentamente.
Constrangida, Gina tentou pensar em um jeito de expressar a dúvida. Correu uma mão pela testa e disse:
- Então por que você demorou tanto para me resgatar?
Agora ele desistiu em ajudar o empregado a vesti-lo, e parou quieto enquanto o jovem garoto continuava trabalhando. Draco soprou o ar pelos lábios, olhando em direção a porta, antes de retornar seus olhos para ela.
- Bem, parcialmente porque eu não estava por perto na maior parte do tempo. Estava a alguma distância, tentando achar meu cavalo.
Essa não era a resposta que ela esperava ouvir. Umedecendo os olhos, perguntou:
- O quê?
Ele encarou-a por um momento, depois caminhou e sentou ao lado dela na cama, ignorando o fato de que seu empregado ainda estava vestindo-o.
- Eu fiquei lá pensando por alguns minutos, e conclui que teria uma chance bem maior com meu cavalo, agora que todos estavam sentados e não se movendo pela área. Então sai apenas por algum tempo, quando ouvi-a gritar, e tentei voltar. Custou-me aproximadamente um minuto, porque é quase impossível correr na neve muito funda. Quando cheguei lá, você estava de pé e correndo, mas com uma aparência diabólica pois tinha sangue por tudo. Era bem asqueroso, na verdade.
Ela fitou-o.
- Desculpe por enojá-lo. – repreendeu – Se você tivesse sido inteligente e trazido seu maldito cavalo antes, teria tirado o cigano fedorento de cima de mim a tempo, e eu não precisaria golpear a cabeça dele com uma pedra e ter derramado sangue em mim.
Ele levantou uma sobrancelha para ela.
- Você bateu-o na cabeça com uma pedra?
- Era uma questão de matar ou morrer, Draco. Ele estava me estrangulando até a morte.
- Você matou uma pessoa? – obviamente ele estava tendo dificuldade em acreditar nisso.
- Não sei se o matei – replicou ela, sentindo-se irritada pela reação dele – Talvez ele tenha apenas problemas cerebrais para o resto da vida.
Vagarosamente, Draco gracejou.
- Você, da Grifinória, matou alguém de verdade. Esse mundo deve estar realmente desordenando sua mente.
Ela levantou-se, seus olhos ainda revirados para ele.
- Estou indo agora. Irei mandar alguém trazer Alexandria aqui. E se você continuar a me provocar sobre o acidente da pedra, irei com certeza sozinha para casa.
Draco balançou a cabeça, ainda rindo.
- Nah, você não faria isso. Você prometeu que iria me levar junto, e mesmo que tenha matado alguém, ainda é da Grifinória, e não iria quebrar uma promessa. Você é leal demais – ele fez a palavra soar estúpida, tola.
- Quer calar a boca? – aquela irritação familiar estava começando novamente, e ela tinha vontade de dar um tapa na cara presumida dele.
- Há apenas uma maneira de me calar.
- E qual... – começou ela, mas ele estendeu a palma e pegou a mão dela, puxando-a para baixo para que ele pudesse alcançar seus lábios. Assustada, Gina fitou as pálpebras fechadas dele. Então outra emoção familiar tomou conta dela; aquela de felicidade total, e rendição absoluta. Era quase irônico que ela parecia amar o beijo dele tão apaixonadamente quanto odiava sua atitude.
Infelizmente, o beijo foi curto e frio, pelo menos se comparado aos outros que compartilharam. Ele separou-se antes, sorriu com arrogância para ela, e soltou sua mão.
- Está bem, dê o fora daqui. Esse é o meu quarto.
Gina estava grata por ter dado as costas a ele quando saiu, pois assim não veria o sorriso ridículo em sua face.
Rapidamente localizou Richard, o chefe dos empregados, para tirar sua mente de Draco, e deu instruções diretas para ele encontrar Alexandria e traze-la para o castelo.
- Envia-a direto para mim quando ela chegar, certo? – confirmou Gina.
- Exatamente como queira, Sua Alteza Real – disse Richard, fitando-a através de suas pálpebras meio fechadas. Ele sempre parecia que estava prestes a cair no sono.
Mais tarde, Gina procurou Draco novamente, incerta do que eles fariam quando ela o achasse. Mas nem sequer chegou ao corredor do quarto dele; na metade no caminho, sua mãe interrompeu-a, aparentemente aparecendo da parede, mas na verdade apenas saindo de um corredor escuro para o claro em que Gina estava.
A Rainha Lavinia estava corada, sua complexão mediterrânea colorida de vermelho nas bochechas, e deu a Gina uma simples curvatura de lábios, quase um sorriso, quando avistou-a.
- Querida, finalmente encontrei-a. Venha comigo, você precisa contar a mim e a Francis tudo que aconteceu ontem.
Gina mordeu o lábio inferior, tentando evitar um lamento. Realmente não queria descrever o dia anterior. Entretanto, Lavinia já estava segurando seu pulso e conduzindo-a para onde queria que fosse. Sua pressão no braço de Gina era gentil, quase maternal, mas seus dedos longos estavam gelados.
- Ficamos tão preocupados, sabe – disse Lavinia, olhando para frente, sem fazer questão de falar por cima dos ombros. Gina percebeu que sua voz tinha emoção, mas achava que era emoção demais. Muito falsa; muito dramática. – Assim que aquele empregado Gary ou qualquer que seja o seu nome...
- Harry – corrigiu Gina estupidamente.
- ...veio direto a Robert e disse que você havia sido raptada por ciganos, acho que meu coração quase parou. – Existia um toque de lágrimas em seu tom agora, e por um momento, Gina pensou que talvez tivesse visto a rainha mais cruelmente do que ela realmente era. Mas então continuou: - Não faço a mínima idéia do que iríamos fazer se você não estivesse aqui. Quem tomaria conta do reino? Eu não viverei para sempre, e não pretendo tentar. Especialmente quando não quero reinar para sempre. Estou tão ansiosa para me aposentar; preciso esperar quantos dias mais? Oito? Falta realmente apenas uma semana até o casamento?
O estômago de Gina contorceu-se, apesar de não saber se a sensação era agradável ou não. Em oito dias estaria casada. Em nove dias não mais seria solteira. Teria dezoito anos e estaria casada. “Serei Gina Malfoy” pensou, sua boca secando. “Rainha Gina Malfoy. Sua Majestade Real Gina Malfoy.” Seja qual fosse o seu título, terminaria sempre com as palavras Gina Malfoy.
Por que esse pensamento não era tão horrível quanto havia sido na primeira vez que soubera da notícia?
- Ainda temos muitos planos a fazer – continuou a rainha, agora quase lamentando-se. – Dá para acreditar que as flores ainda têm que ser encomendadas? É uma confusão tão grande. A única coisa que parece estar dando certo até agora é a criação do seu vestido. Mas o que dizer com você quase morrendo doente, e depois raptada por um bando de bárbaros; bem, não há uma só pessoa que se dê conta da aproximação do Natal.
“Se você jogar aquele bastardo que diz ser meu médico na cadeia, então eu asseguro-a que estarei bem.” Pensou furiosamente. Teve que cerrar os dentes para não replicar.
Lavinia soltou seu pulso e fez um sinal graciosamente para Gina caminhar ao seu lado. Ela obedeceu, perguntando-se o que sua mãe pensaria se de repente corresse no corredor para a direção contrária. Provavelmente gritaria “Onde estão suas maneiras?” antes de começar a queixar-se e lamentar-se de como Gina poderia quebrar o pescoço correndo em uma saia tão pesada.
- Estou ávida para ouvir o que aconteceu com você e aqueles selvagens – disse Lavinia, a palavra selvagens saindo de sua língua como se fosse saboroso pronunciá-la. Por um momento, Gina enfureceu. “Ávida?” pensou. “Como se o meu seqüestro fosse uma aventura, algo que daria uma boa história?” – Francis terá que estar presente, é claro, para descobrir o que exatamente ocorreu – adicionou a rainha – Ele se certificará que aqueles idiotas sejam presos pelo que...
- Quem é Francis? – interrompeu Gina distraidamente, nem sequer dando-se conta de que se sua mãe chamava-o pelo primeiro nome, a ruiva deveria saber perfeitamente quem ele era.
Lavinia elevou sua sobrancelha elegante, os lábios enrugados, que Gina achou ser uma expressão estranha.
- Você sabe muito bem quem Francis é – disse com severidade – O pai de Elsabeth.
- Ah, claro – murmurou Gina.
- Elsabeth queria vir também – disse a rainha. Ela parou em frente a um par de portas fechadas, mas não abriu-as. Virando, encarou a filha. – Mas estava ocupada preparando-se para o baile. Talvez ela não apareça por aqui por um tempo...
“Oh não. Não irei a outro baile, não é?” Gina queria lamentar. Mas ao invés disso, perguntou casualmente:
- É para um baile que daremos?
- Não seja ridícula, Virgínia – repreendeu Lavinia – É claro que sim. É o baile que daremos na véspera do Natal; o único que estou ansiosa para ir, devo adicionar. Então haverá outro que devemos comparecer no dia do Natal, antes da cerimonia de casamento. Você sabe que serão muitas festas depois do casamento. Iremos nos dirigir ao Palácio Whitehall no dia vinte e seis. Estaremos ocupadas também em janeiro. Mas chega disso agora – concluiu a mulher – Você devia saber disso; por que está perguntando não sei. Mas venha, Francis está esperando, e você sabe como o querido homem é impaciente...
Gina revirou os olhos em direção ao teto quando Lavinia virou e abriu as portas. Ela entrou primeiro, e Gina seguiu-a.
Era a mesma sala de estar onde a garota havia encontrado pela primeira vez o Príncipe Draco, com suas poltronas de veludo e lareira crepitante.
Duas pessoas estavam na sala – um homem, que era Francis, e a empregada servindo-o chá. Gina reconheceu que Francis era o senhor que parecera importante esperando-os na clareira no dia anterior, que havia convidado Gina a andar no seu cavalo. Ele era um homem atraente, em seus trinta anos, com longos cabelos castanhos e olhos cinza esverdeados. Estava vestindo algo parecido com o que Draco sempre usava – calças apertadas que pareciam leggings, uma camiseta adornada, e sapatos de couro. Entretanto, suas roupas não eram tão finas quanto as de Draco, porque obviamente ele não era da realeza.
Gina teve quase certeza que ele estivera flertando com a bonita – apesar de jovem – serva que estava servindo sua bebida, pois ele estivera sorrindo de soslaio para ela quando elas entraram, e o rosto da pobre garota ficou vermelho. Quando chegaram, Francis levantou-se imediatamente, sorrindo, e a empregada fez uma reverência e apressou-se para a porta.
- Não vá tão longe, Rebecca – censurou a rainha quando ela passou – Posso talvez desejar mais chá.
- Sim, Sua Majestade – fez uma última reverência e saiu.
Gina olhou para sua mãe. Lavinia tinha sua atenção em Francis agora, e estava sorrindo abertamente, fazendo-a parecer mais calorosa e bonita.
- Tenente – disse vagarosamente, estendendo sua mão – Meu coração fica maravilhado ao vê-lo novamente.
Francis – “obviamente um tenente,” Gina pensou – continuou a sorrir e beijou a mão da mulher.
- Assim como o meu, Sua Majestade. Faz quase um mês, não é?
Lavinia azedou, e Gina resistiu a tentação de rir em voz alta só para perturbá-la.
- Eu culpo Robert por mandá-lo por toda a Europa para tratar de assuntos tolos. Não é para isso que ele serve? De qualquer modo, não vamos nos estender em questões sem importância. Vejo que recebeu meu bilhete de encontrar minha cara Gina ontem; agradeço-o de todo o coração. Você é um homem tão querido, Francis...
Gina estava realmente achando que deveria ter inventado alguma desculpa para não ter que ficar perto de sua mãe. Era quase revoltante como ela estava conversando diretamente e docilmente com esse homem, como se eles fossem os únicos na sala. A garota limpou a garganta em voz alta, relembrando-os da sua presença, para que não continuassem.
- E você, Sua Alteza – anunciou Francis, fitando-a. – Parecendo um pouco melhor que a noite passada, não é?
Gina sorriu a força.
- Só um pouco! – concordou com entusiasmo demasiado, e não pôde resistir a tentação de bater palmas. O fato era que, realmente, ela não estava muito melhor que o dia anterior, pois além da maneira como seu rosto e mãos foram lavadas e colocara roupas limpas, seu corpo ainda estava coberto da sujeira e suor do dia anterior.
- Maravilhoso – Francis retornou seus olhos a Lavinia.
- Vamos sentar? – sorriu a rainha claramente demais, envergonhada pelo comportamento de Gina. Sabia muito bem que a sua filha estava zombando do jeito que Francis estava agindo. E a garota sabia que não devia fazer isso, pois ele parecia ser um homem bom, mas foi apenas que, pela maneira que havia falado, ela não conseguira resistir.
A princesa foi a primeira a cair indelicadamente na poltrona, e pressionou os lábios quando Francis sentou ao seu lado, sorrindo.
A mulher sentou na outra poltrona, suas costas tão eretas quanto um poste de metal, seu rosto não demonstrando desconforto algum. Ao invés, ela gesticulou em direção a Gina, a luz do candelabro cintilando nos vários anéis preciosos que usava.
- Gina, querida, poderia explicar ao Francis exatamente como esses... bárbaros se pareciam?
A garota piscou, encarando Lavinia por um longo momento.
- O que você quer dizer com como eles se pareciam? Quando fui resgatada ontem, havia, tipo, cinqüenta rapazes com espadas e flechas que correram atrás deles. Você está me dizendo que não capturou o grupo inteiro?
Ela estava surpresa, tentando não demonstrar, mas os olhos frios de Lavinia lançaram adagas de fogo a Gina, provando que não apreciava o tom que a filha estava usando. A garota mexeu-se e fixou sua contemplação em Francis, que ainda sorria, apesar de ter perdido um pouco do esplendor. Escolheu ignorar a maneira que sua mãe estava encarando-a.
- Você se importa de me explicar isso, Tenente? – perguntou Gina, esperando que soasse um pouco mais gentil que antes. Não pretendera soar tão grossa; aparentemente sua mãe estava encarando dessa forma, e a julgar pela forma como o sorriso de Francis perdeu o brilho, ele também pensava que ela estava sendo rude.
- Matamos muitos deles – respondeu facilmente, apesar de sua face estar preocupada. – Mas alguns fugiram. Mais que alguns, de fato. Aproximadamente metade do bando. Ordenei que nenhum fosse morto, pois seria uma forma muito simples de morte para essas... bem, acho que “criaturas” seria a forma correta de chamá-los... que ousaram fazer mau a você. Eles pareceram correr mais rápido que meus homens – não é fácil correr de armadura. E não é fácil atirar flechas com um monte de árvores na frente. Em resumo, eles conseguiram fugir. Estou quase tão chateado quanto você, Sua Alteza.
- Bem, nenhuma perda, eu suponho – Gina deu de ombros, parecendo indiferente, mas por dentro sentia-se um pouco preocupada. Tom iria usá-los novamente para tentar matá-la? Se usasse, certamente eles a matariam sem pensar duas vezes, pois havia não somente matado seu líder, mas também era responsável por metade de seus homens serem atirados por flechas.
“Não dará em nada me preocupar com isso” disse a si mesma. “Já é ruim o bastante viver nesse mundo – não vou piorá-lo ficando paranóica todo o tempo.”
- Bem... Gina, por que não explica o que aconteceu, então – sugeriu Lavinia lançando outro sorriso doce a Francis.
Ele sorriu de volta, mas Gina pôde ver que era apenas para ser educado. Podia até simpatizar com ele; não suportava a rainha também, ela viu.
Só contou a história porque Francis queria ouvi-la, e porque poderia ajudar a capturar os ciganos. Mas deixou muitas coisas de fora. Explicou que ela e Harry estavam indo a cidade para comprar presentes de Natal – e interiormente rezava desenfreadamente para que eles realmente comprassem mimos nesse época, mas já que ninguém interrompeu-a e fê-la perguntas, continuou – quando os ciganos haviam aparecido e matado os guardas da carruagem. Então disse a verdade na maior parte, apenas excluindo a parte de Alec beijando-a e deitando em cima dela, e de ter quase arrebentado a cabeça dele com uma pedra. Meramente disse que quando não estavam prestando atenção, ela conseguira correr para longe do acampamento, topara com Draco na floresta, e foi então que os ciganos descobriram que estava sumida e correram atrás dela.
- Oh – suspirou Lavinia quando Gina terminou – Minha pobre querida; não percebera quão perigoso havia sido.
“E foi ainda mais perigoso do que eu contei, amor” pensou, tentando não revirar os olhos.
- Foi tanta sorte que Sua Alteza estivesse lá, né? – disse Francis, sorrindo calorosamente para a princesa. Ela teve que permitir um cuidadoso sorriso em resposta.
Por que não podia ter um pai como Francis?
Então sentiu raiva por pensar algo assim. “Eu tenho um pai... que é mil vezes melhor que Francis” disse a si mesma firmemente. “Preciso apenas voltar à época que ele existe.”
Abruptamente, a rainha mudou de assunto. Gina sabia que ela não podia ficar dez minutos falando sobre algo que não fosse si mesma. Enquanto Francis ouvia pacientemente, e Lavinia tagarelava, Gina saiu do ar e não pensou em nada em particular. Estava ficando inquieta – quando iriam dispensá-la para que pudesse tratar de Alexandria?
- Você gostaria disso, Sua Alteza?
- O quê? – irrompeu Gina de seus pensamentos e olhou para Francis. Mais uma vez, podia ver pelo canto do olho sua mãe encarando-a, brava porque ela não estava prestando atenção.
- Eu disse, você e o príncipe se importariam de unirem-se a Elsabeth e eu para a apresentação de amanhã a noite? – repetiu ele, soando levemente divertido.
- Que tipo de apresentação? – perguntou Gina.
- Você não estava ouvindo? – repreendeu Lavinia.
- Não há problema algum, Sua Majestade – disse Francis com um gracejo – Eu também sonho acordado freqüentemente. Estava falando sobre a peça de Shakespeare que estreará amanha a noite no Robertian Theather. Acredito que William em pessoa estará presente.
Gina estava incrédula.
- William...? – disse, esperando que ele continuasse.
Francis deu um olhar estranho a ela, finalmente percebendo que estava agindo de maneira incomum.
- Shakespeare – finalizou ele diretamente, indicando em seu tom que ela era um pouco lenta para não perceber a quem ele se referira.
A primeira reação da garota era dizer “Seu idiota, Shakespeare está morto”. Mas então lembrou-se que não estava no século vinte, e que havia uma grande possibilidade dele estar vivo. Isso surpreendeu-a, mas descobriu que estava animada, também. Ir ver uma peça de Shakespeare com o escritor lá em pessoa? Quantas pessoas da sua época poderiam dizer que haviam feito isso?
- Nossa, eu adoraria – disse sinceramente – Qual é a peça?
- Sonho de uma noite de verão, se não estou enganado – respondeu Francis, parecendo satisfeito e assustado pela expressão dela.
Pelo menos havia uma coisa para se estar ansiosa a ir. Estava agora mais ávida ainda para sair e ir contar a Draco. Mesmo que fosse improvável que ele se importasse.
- Cuthbert Burbage não irá atuar amanha a noite? – perguntou Lavinia.
- Acredito que os três irmãos Burbage estarão na apresentação... – começou Francis.
- Posso me retirar? – interrompeu Gina, incapaz de se conter. Não estava disposta a sentar-se por mais uma hora com sua mãe.
Lavinia lançou à filha outro olhar mortal, elevando suas sobrancelhas brevemente para dizer que estava obviamente furiosa por ela ter cortado a conversa tão indelicadamente.
- Você pode ficar aqui e conversar conosco, Virgínia – ela falou cuidadosamente e calculadamente, e havia apenas um toque frio de sua raiva na voz.
Francis riu.
- Devo ir agora de qualquer forma, Sua Majestade – anunciou ele, levantando-se. – Agradeço-a por nunca recusar sua hospitalidade, e espero vir novamente logo. Vejo você amanha a noite, Sua Alteza – adicionou, olhando para a princesa. Ele fez uma reverência, beijou a mão estendida de Lavinia, piscou para Gina, então deu a volta e saiu da sala.
- Suas maneiras foram absolutamente pavorosas – repreendeu a rainha assim que as portas foram fechadas atrás dele – Nunca fiquei tão envergonhada de você em toda a minha vida. Você foi tão desengonçada! E roendo as unhas; oh, não consigo nem suportar imaginar o que Francis pensa de você. Que demônio a possuiu, Virgínia?
A garota, despreparada para esse ataque verbal, encarou-a por um segundo.
- Desculpe – disse depois de uma longa pausa, encolhendo os ombros. Realmente não se importava com o que a rainha pensava dela. Mas realmente estivera roendo as unhas? Nem percebera.
- Saia da minha vista – disse Lavinia severamente – antes que eu perca a paciência e mande decapitá-la. Deus sabe que não posso matar minha única herdeira...
- Certamente você não se importa de matar um dos seus servos inocentes – murmurou Gina ameaçadoramente, fitando-a. Levantou-se quando a rainha continuou a sussurrar para si mesma, antes de ouvir o que Gina dissera.
Lavinia sacudiu a cabeça e contemplou a filha. Ela manteve seus olhos nos da mulher por um momento antes de começar a andar na direção da porta.
- O que você disse, Gina? – reclamou sem fôlego.
A ruiva parou na metade do caminho, dando a volta e sorrindo ironicamente.
- Você gostaria que eu repetisse? Eu disse “certamente você não se importa de matar um dos seus servos inocentes” – falou, lentamente e com clareza.
Lavinia parecia surpresa por um instante antes de seus olhos tornarem-se duros e frios.
- Não sei do que está falando – disse calmamente – Agora você está realmente começando a me irritar.
Gina encarou-a por um longo minuto, apesar da rainha já estar olhando para a janela e falando consigo mesma. Por muito tempo tivera muitas, muitas coisas horríveis a dizer, todas na ponta da língua. Estava prestes a soltar todos os seus pensamentos verdadeiros de como via sua mãe, mas conseguiu controlar-se, de alguma forma. “Só vai me enfurecer mais.” Ponderou. “E a briga não vai trazer a mãe de Harry de volta.”
Algum outro dia. Antes de deixar essa época e retornar para casa, diria todas as verdades que Lavinia precisava ouvir.
Mas não agora. No momento Gina tinha que achar Draco novamente, e esperar que Alexandria chegasse.
Após perguntar a um empregado onde ele estava, a garota descobriu que se encontrava com Elle na biblioteca. E realmente estava lá, sentado no meio da mesa redonda, na frente da irmã. Eles estavam jogando cartas.
- Você não pode fazer isso, Draco – Elle censurava-o, franzindo para as cartas na mesa. – É contra as regras e você sabe disso!
- O quê? – perguntou o garoto, parecendo levemente confuso – Nem sei o que fiz errado. Eu disse; não sei jogar esse maldito jogo.
- Que jogo vocês estão jogando? – perguntou Gina, entrando no salão e fechando a porta atrás de si. Os dois irmãos viraram suas cabeças, sem terem notado antes que ela havia chegado.
- Nem me lembro – disse Draco, soando irritado.
- Trunfo – disse Elle. Ela sorriu para a chegada da princesa. – Draco está sendo um fracasso; é como se ele tenha se esquecido como se joga. Você quer participar e lembrá-lo como é feito?
A ruiva caminhou e sentou em uma cadeira.
- Não sei como se joga também – admitiu.
- Sério? Pensei que sabia – Elle levantou sua sobrancelha esquerda por um momento, como Draco fazia, e pareceu quase suspeita – Ah bem, vou ensiná-la então, e você e eu podemos ganhar e tirar a camisa de Draco.
- Não sei como. Estou usando muitas sobreposições.
Gina mordeu seu lábio para não rir. Elle deu as cartas, que eram muito diferentes das que a ruiva conhecia. De fato, os desenhos eram bem perturbantes, quase sinistros. Muitas ilustrações pareciam ser de reis, mas as outras não sabia do que se tratava.
- Que tipo de cartas são essas? – perguntou Gina, elevando suas sobrancelhas e fazendo uma cara enquanto examinava-as.
- São francesas – responderam Elle e Draco ao mesmo tempo.
Draco sorriu com ironia.
- Eu perguntei a mesma coisa. Aparentemente, cartas francesas são meio... diabólicas.
- Como se ninguém soubesse – disse a menina, seu tom indicando claramente que era a coisa mais óbvia do mundo. Então ela começou a explicar o jogo, que era bem simples. Após alguns minutos, Gina pegou o jeito. Era realmente um entretenimento, que manteve sua mente ocupada por alguns minutos.
- Vamos a uma peça amanha a noite – comentou a princesa a Draco, de repente lembrando-se.
- Estou emocionado – disse o garoto estupidamente, colocando na mesa uma de suas cartas.
- Seu imbecil, Draco, você não pode fazer isso – disse Elle, pelo que parecia a vigésima vez desde que Gina chegara. – Fique com esse rei... não, você não pode colocar esse na mesa também. Abaixe o valete... isso. O que aconteceu com o seu cérebro, irmão? Você sempre me ganhava nesse jogo. Os ciganos bateram forte demais na sua cabeça?
- Há ha – disse Draco com um rosto duro. Gina notou que ele estava sério, e sabia que era porque estava perdendo tremendamente para a sua pequena e irmã e ela. Era quase divertido como ele parecia irritado.
- Você não vai acreditar em que tipo de peça é – continuou Gina, colocando um de seus reis na mesa.
- E você não vai acreditar em como eu não importo com que tipo de peça é – replicou ele, parecendo grosseiro quando Elle abaixou uma de suas cartas e gritou em triunfo. Ela ganhou a rodada – de novo.
- Bem, acho que a peça em si não importa – admitiu Gina – É Sonho de uma noite de verão. Mas Shakespeare vai estar lá.
- Em pessoa? – Draco elevou uma sobrancelha, concentrado em distribuir as cartas.
- Sim. Vamos amanha a noite.
- Oh, Shakespeare – disse Elle, espreitando as suas cartas – Eu fui ao Romeu e Julieta há alguns anos. Não entendi sobre o que se tratava, é claro, porque eu só tinha cinco anos, mas o figurino e o cenário eram maravilhosos; bem, pelo menos eu acho que eram. Tudo que me lembro é um monte de cores. Acho que você foi também, Draco, não foi?
- Não – respondeu diretamente o garoto como se nem tivesse considerado a pergunta, e então desdenhou suas cartas. – Merda, sempre pego as piores cartas.
- Tenha cuidado com sua boca, Draco – repreendeu Elle.
- Não posso; vem junto com meu rosto. Olha, vê as minhas cartas? – continuou sem respirar – Não tenho nada. Nada. Vou perder novamente.
- Bem, é claro que vai perder se continuar nos mostrando o que você tem – disse Gina, revirando os olhos.
Draco deu a ela um olhar sarcástico mas não comentou.
Eles jogaram por mais duas horas, desistindo do Trunfo e partindo para outros jogos: Primero, Gleek, e outros que Gina não se lembrava do nome. Nunca ouvira falar em nenhum deles, mas sabia que havia uma possibilidade de serem jogados na sua época.
Finalmente, cansado de perder todas as partidas, Draco jogou suas cartas na mesa e levantou-se.
- Meu Deus, isso é irritante. Vocês duas me vencem cada vez. Vou pegar algo para beber.
Gina lançou um sorriso para Elle, que correspondeu. A ruiva se divertira jogando com eles – havia realmente rido algumas vezes com Draco perdendo. Às vezes até ele abrira um pequeno sorriso, mas não um que chegasse aos seus olhos.
- Eu volto já – Gina contou a Elle, levantando-se e indo atrás de Draco. Teve que correr levemente para alcança-lo no corredor, o que foi difícil em suas saias. Assim que chegou ao lado do príncipe, comentou: – Mandei chamar Alexandria. Ela deve estar chegando agora. Na verdade eu a esperava há uma hora.
- Maravilhoso – respondeu ele distraidamente, depois encarando-a – Então é por isso que está me seguindo?
- Por isso – sorriu ela – e também porque estava imaginando se você gostaria de jogar xadrez comigo. Vou pedir um tabuleiro a Elle. O xadrez foi inventado nessa época, não foi?
- Você está brincando Gina, o xadrez foi inventado há séculos – contou Draco – E claro, eu vou jogar, pois sei que posso vence-la nisso.
- Há, eu não ficaria tão confiante – avisou ela – Eu aprendi com o melhor.
- Oh, isso mesmo – disse o garoto com desdém – O seu irmão foi quase derrotado até a morte em um tabuleiro gigante de xadrez no primeiro ano, não é? Nossa, ele deve ser um verdadeiro profissional.
Gina lançou um olhar impaciente.
- Draco, você só está com ciúmes porque você não foi salvo naquela vez.
- Deixe-me apenas começar a contá-la o quão ciumento estou por não ter quase morrido quando tinha onze anos – falou ele vagarosamente, dando a ela um olhar irritado – Droga, algumas pessoas são tão sortudas. Seu maldito irmão roubou meu sonho.
- Cale a boca – repreendeu ela. Por que ele tinha que fazer uma observação sarcástica a tudo que dizia?
- Aonde você vai afinal? – perguntou Draco, parando e fitando o corredor. – Estamos dando voltas.
Gina pausou também, e encolheu os ombros.
- Primeiro quero achar Richard e ver se Alexandria pôde vir – respondeu. Então se virou para a direção das cozinhas, esperando que o homem estivesse lá. Draco seguiu-a, murmurando algo a si mesmo.
Felizmente, Richard estava supervisionando as coisas na cozinha, praticamente respirando no pescoço de uma mulher que cozinhava uma sopa. Quando avistou Gina, ele endireitou-se e lançou a ela uma curta reverência.
- Há algo que desejas, Sua Alteza?
- Sim – disse ela, franzindo – Alexandria; eu mandei você buscá-la há algumas horas.
- Ah sim, Sua Alteza, e eu o fiz – disse ele concordando – De qualquer forma, com todo o respeito, a senhorita está enganada, pois não existe alguém com o nome Alexandria na cidade.
Gina piscou, pega de surpresa. Atrás de si, ela ouviu Draco bufar, em um tom impaciente.
- O quê? – perguntou estupidamente.
- Não há ninguém chamado Alexandria na cidade – repetiu Richard lentamente e com clareza, achando que ela não ouvira direito – Mandei um dos mensageiros mais rápidos para a cidade, e ele anunciou que perguntou a quase todas as casas se ali morava alguma Alexandria, ou se conheciam alguém com o nome. Ninguém sabia de nada.
Gina estava inacreditavelmente confusa. Não existia uma Alexandria? Só podia ser impossível. Maria havia mencionado-a, e Harry havia dito que tinha ouvido falar dela antes... era possível que tivesse entendido errado o nome? Talvez fosse Alexandra, ou... mas não, Alexandria não era um nome fácil de equivocar-se.
“Bem, acho que não faz mal” pensou a garota, tentando aliviar seu estômago turbulento. “Dumbledore é quem realmente preciso, certo?”
Gina girou nos calcanhares e caminhou para fora da cozinha abafada rapidamente. Não importava – mas ainda estava perturbando-a. Por que Maria havia falado de uma pessoa que não existia? E por que Harry dissera que ouvira falar dela? Talvez Maria estivesse se referindo a alguém de fora da cidade. Devia ser isso. Mas se Alexandria era a feiticeira mais próxima da cidade, então por que ninguém a conhecia? Certamente ela tinha que ser popular.
- Suponho que sua pequena aia é meio desinformada – disse Draco, logo atrás dela quando caminhou pelos corredores frios. Podia senti-lo sorrindo ironicamente por suas costas.
- Ninguém dá a mínima para o que você supõe, Draco – replicou Gina ilicitamente – Vou perguntar a ela agora mesmo.
Draco permaneceu com ela enquanto procurava no castelo por Maria, finalmente achando-a sentada em um aposento que a princesa nunca estivera antes. Ela estava costurando com outras aias, e rindo quando Gina entrou.
- Olá, Alteza. Há algo que possa conseguir para você? – Maria interrompeu imediatamente seu trabalho e olhou para Gina com um sorriso caloroso.
A garota conseguiu sorrir de volta.
- Sim, Maria. Posso falar com você por um minuto, lá fora?
- É claro – Ela parecia levemente ansiosa, surpresa, e deixou seu bordado na cadeira quando levantou-se, e seguiu Gina de volta para o corredor, fechando a porta. Ela olhou para Draco, então retornou seus olhos ao rosto da princesa, obviamente perguntando por que ele estava ali.
- Ignore-o – disse Gina com um pequeno sorriso irônico, e depois ficou séria. – Preciso perguntar uma coisa.
- Sim?
- Por que não existe uma Alexandria? – lançou a pergunta imediatamente, esperando surpreende-la completamente.
Maria encarou-a sem expressão por um momento, então sorriu em entendimento.
- Oh, a feiticeira. Mas o que você quer dizer com ‘não existe uma Alexandria’?
- Eu mandei alguém até a cidade para traze-la ao castelo – respondeu – Não há alguém de nome Alexandria, e ninguém nunca ouviu falar dela.
- Oh, querida, pensei que soubesse. Ela mudou-se para fronteira entre Gales e Inglaterra há alguns dias – disse Maria com um sorriso – Ninguém nunca precisava de seus serviços aqui, então ela foi embora.
- Então ela realmente morou em nossa cidade, correto?
- Sim. De fato, ela mudou-se no dia em que você declarou estar saudável novamente. Irônico como você perdeu-a por pouco. – Maria sorriu, seus olhos brilhando calorosamente.
Gina deu um riso falso.
- Ahãn, realmente irônico. E você sabe o que mais é irônico? – sua voz estava perspicaz demais – Como ninguém nunca ouvir falar na mulher, apesar dela ter se mudado há três dias! Absolutamente hilário!
Draco bufou, enquanto Maria perdeu sua felicidade, seu rosto aparentando estar chateada.
- Sua Alteza, você acha que eu menti sobre Alexandria?
Imediatamente Gina sentiu-se terrível, e seu sorriso desapareceu de seus lábios. Maria era a única amiga que tinha nesse mundo; o que estava fazendo ao falar com ela dessa maneira? Provavelmente estava agindo da forma que a verdadeira Princesa Gina má agiria.
- Não – disse Gina calmamente, com pressa – Eu não acho. Mas apenas penso que é estranho – não, curioso, que ninguém nunca ouviu falar de uma feiticeira, que é uma profissão incomum nesse mundo, que vivia aqui apenas há alguns dias.
- Não sei a resposta para isso, Sua Alteza – disse Maria suavemente – Desculpe. Eu não menti para a senhorita; havia sim uma feiticeira chamada Alexandria. Tenho certeza que várias pessoas no castelo ouviram falar dela...
- Sim, realmente, Harry me disse que sabia dela – contou Gina rapidamente, esperando se redimir. Ainda estava sentindo-se culpada pela aparência magoada que havia causado em Maria. – Não acho que você mentiu, Maria. Realmente, não acho.
Ela sorriu, mas era um sorriso ausente e distante.
- Obrigada, menina. Devo retornar ao meu bordado; se precisar de algo, me diga. – e sem olhar novamente, entrou no aposento.
- Bem, isso explica tudo – disse Draco sarcasticamente.
- É – disse Gina distraidamente – Acho que não importa mais, de qualquer forma; a única coisa que estava me perturbando era que eu achava que Maria havia mentido. Agora que sei que ela não mentiu, – Draco mordeu sua língua, mas ela ignorou-o e continuou – podemos nos preocupar apenas com Dumbledore. Vamos enviar alguém para buscá-lo; você tem certeza que ele existe, não é?
- Sim – respondeu o garoto severamente – Eu vi o homem com meus próprios olhos.
- Tudo bem, perfeito – disse Gina, suspirando lentamente. Ela bateu as palmas, contemplou Draco e sorriu. – Vamos jogar xadrez agora para que eu possa derrotá-lo pela qüinquagésima vez hoje.
Ele deu uma risada ridícula.
- Sim, você está confiante agora, mas assim que eu vence-la, não estará mais.
* * *
Gina conseguiu dar o xeque-mate em Draco seis vezes antes dele finalmente desistir de jogar. Ela achou-se levemente desapontada, porque estivera se divertindo – ainda mais que jogando cartas. Na metade do tempo ficara cega de lágrimas de tanto rir enquanto tentava fazer seu movimento, histérica pelos resmungos, murmúrios e gritos de frustração dele sempre que ela comia uma de suas peças. E contudo, a princesa ainda conseguia vencer, com as lágrimas, abdômen doendo e tudo.
Depois do sexto jogo, Draco levantou-se e golpeou o pequeno tabuleiro na frente deles, jogando peças de xadrez e a tábua por todos os cantos. Primeiro, Gina ficou levemente assustada, perguntando-se se não havia rido demais dele, se não havia deixado-o bravo. Mas então ele olhou-a, e viu que ele estava sorrindo.
- Eu vi isso em uma ilustração de um livro uma vez, e sempre quis fazer – contou, sentando-se novamente. Agora estavam sentados em cadeiras uma na frente da outra, sem o tabuleiro entre eles.
- Bem, da próxima vez que você quiser fazer algo completamente violento como isso, eu apreciaria se não estivesse por perto – repreendeu Gina, apesar de estar tentando desenfreadamente não rir.
- Violento? – repetiu ele.
- Oh, tabuleiros e peças pequenas de xadrez voando que podiam ferir meus olhos não são violentos? – perguntou com sobrancelhas arqueadas.
- Não. Você devia morar na minha casa um dia em que meu pai estivesse de mau humor; então veria o que realmente é violência. – Ele falou ligeiramente, mas havia um toque de amargura. Ele fitou a janela ao seu lado, que não era feita particularmente de vidro claro. O cenário lá fora baseava-se no ponto em que Gina podia ver apenas branco e manchas marrons; ela adivinhou que o branco era a neve, e as manchas marrons as árvores.
- Eu preferia não morar com a sua família feliz, obrigada – disse Gina, olhando para a janela também. Sentiu os olhos dele em seu rosto, mas não encarou-o.
- Eu também preferia não, para falar a verdade – disse ele depois de um momento – Eu teria comprado meu próprio apartamento logo que meu formei em Hogwarts se meu pai não tivesse me obrigado a ficar em casa.
Gina teve que fitá-lo. Ele encontrou seus olhos e encarou-a com firmeza.
- Por que ele obrigou você a ficar?
- Não me diga que você não sabe o que meu pai é; ou melhor dizendo, era. – disse Draco, com uma sobrancelha elevada – Eu pensei que todos da Grifinória sabiam.
- Sabiam que seu pai era um Comensal da Morte? – perguntou ela, e concordou – Sim, como todo mundo sabe. Mas não tenho idéia de como ele não foi posto em Azkaban depois que Você-sabe-quem morreu, entretanto.
- Não houve provas suficientes – disse Draco com um inteligente sorriso irônico – Foi o que pronunciou o maravilhoso Ministro da Magia, Cornélio Fudge. Todos os outros Ministros do mundo acharam que meu pai era culpado, e que devia ser preso, incluindo o Secretário da Magia dos EUA, e você sabe como os americanos podiam não ter se importado tanto com a caso de Voldemort. Eles pensavam que meu pai era um dos mais poderosos Comensais da Morte, e que se não fosse encarcerado, poderia ocupar o lugar de Voldemort.
Gina fitou-o com atenção. O que havia dado nele para de repente contar o status de seu pai? E ele falava como se odiasse Lúcio Malfoy. Ela sempre imaginara que ele seguiria os passos do pai. Aparentemente estava enganada.
- Que ele pudesse substituir o Lorde das Trevas é burrice, porque meu pai é do tipo que segue ordens facilmente, e não dos que seria capaz de ordenar as suas próprias – continuou Draco, coçando a cabeça – Fudge gosta do meu pai, eu acho; ou isso, ou meu pai subornou-o. Provavelmente o segundo.
Gina esperou que ele continuasse, e quando vários minutos passaram-se, ela deu-se conta que seu discurso acabara.
- E o que isso tem a ver com obrigá-lo a ficar em casa depois de Hogwarts? – perguntou ela.
- Ele quer me ensinar Magia Negra, suponho – disse o garoto dando de ombros, como se não fosse uma grande coisa. – Ele não me forçou a fazer nada ainda, mas sei que vai me prender em casa se eu tentar ir embora.
- Seu pai me parece realmente perturbado, Draco – disse ela, enrugando o nariz.
- Agora você sabe de onde eu herdei isso – Obviamente ele estava tentando caçoar da situação, mas estava evitando os olhos dela, e Gina podia dizer que ele estava meio chateado.
Pela primeira vez, Gina realmente teve pena dele. E entendia de verdade por que ele era tão frio e mau com todos. O garoto nunca tivera um modelo exemplar para ser uma boa pessoa.
“Esse mundo está definitivamente desregrando a minha mente” pensou ela, retornando seus olhos para a janela. “Primeiro eu beijo Draco, depois gosto de jogar xadrez com ele. Agora estou compreendendo-o realmente?
Ela iria precisar de terapia quando retornasse para casa, isso era certo.
Notas do Capítulo: Não existiu um Robertian Theater na verdade. Ele era chamado Elizabethan Theater, porque foi construído quando Elizabeth I reinava (até 1603). O nome escolhido foi devido ao pai de Gina, o atual rei nessa fic.
Os irmãos Burbage eram três atores populares desses dias; não faço idéia de que eles tenham atuado em Sonho de uma noite de verão. Essa parte é totalmente inventada, mas eles eram realmente atores.
Shakespeare é real (duh), assim como a peça. Sonho de uma noite de verão foi publicado em 1600, e estou supondo que foi apresentado muitas vezes no Elizabethan (ou, no caso, Robertian) Theater porque Shakespeare era popular nessa época.
O Palácio Whitehall existiu nesse tempo; li em um desses livros Royal Dairies, o da Elizabeth I. Não tenho certeza de onde ele é localizado, mas encontrava-se em 1544 – então estou supondo que existia ainda em 1607 também.
As cartas francesas eram conhecidas por terem ilustrações particularmente ameaçadoras de reis e valetes. E apesar de ter procurado, não achei nenhuma explicação de como jogar Trunfo. Desculpe!
Estou apenas supondo que o Ministro da Magia dos Estados Unidos seja chamado de Secretário, porque nesse país eles tem o Secretário de Defesa e o Secretário de Tesouro, enquanto na Europa eles são todos Ministros da Defesa e Tesouro. Então foi o que pensei que seria.
Nota da Autora: Novamente, peço desculpas pelo o que parece um capítulo chato e desanimado. E na verdade, é o que ele é. Mas algumas coisas marcantes aconteceram aqui, que podem servir de pista para os próximos capítulos.
Nota da Tradutora: O Trunfo foi uma tradução da palavra original Trump. Como não sei a tradução exata para esse jogo que realmente existiu, então o nomeei Trunfo mesmo.
Achei que não havia necessidade de traduzir o Robertian Theater, que ficaria algo como Teatro Robertiniano, já que é um nome próprio. Digo o mesmo para o Palácio Whitehall.
E já que estou dando explicações da tradução, digo (um pouco tarde, sim) que não resolvi traduzir o nome dos personagens originais criados pela autora da fic (Elle, Francis, Lavinia, Robert, Richard, Maria, etc). Está tudo como no original.
Próximo Capítulo: Eles vão para o teatro, Gina tem uma pequena conversa reveladora com Tom, e provavelmente rolará um amaço entre Gina e Draco. Ou três. :-P
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