Lanches da Meia-noite e Conver
Nota da Tradutora: Nossa, esse capítulo realmente demorou... perdoem-me! Mas aqui está, afinal. Nada a de especial a declarar, aguardem mais ação nos próximos capítulos.
Draco passou a noite no castelo de Gina. Quando perguntou à Elle quanto tempo eles ficariam ali, ela jogou os cabelos para trás e enrugou o nariz:
- Ficaremos por, pelo menos, uma semana – contou, como se ele já devesse saber – Os nossos pais precisam discutir o casamento em detalhes. Faltam só três semanas, sabe?
“Infelizmente” pensou ele, mas não disse nada.
Depois do jantar, Draco recusou o convite de sentar e conversar com os homens e pediu licença. Uma jovem empregada, cuja cabeça batia nos ombros do príncipe, correu para o seu lado para mostrar o quarto.
A moça tagarelou o tempo todo, mas Draco a ignorou, tentando memorizar o caminho. Não ouviu-a dizer boa noite, pois logo bateu a porta na sua cara alegre, sem notar que havia feito algo tão rude.
O quarto era escuro e elegante – combinando muito com ele. As cortinas pesadas das janelas e da cama de dossel eram feitas de um azul escuro, e o carpete era quase preto. Na ponta da cama havia um baú, e quando deu uma olhada apressada ali dentro, descobriu que alguém devia ter desfeito a sua mala e selecionado as roupas que usaria durante a semana. Ele rezou para que houvesse alguém para vesti-lo, pois nunca saberia como ajeitar os complicados botões e amarrações das vestes que eram solicitadas.
O aposento era iluminado por fracos candelabros na parede, propagando feixes mínimos de luz na escuridão. Draco suspirou alto e sentou na cama. Levou quase cinco minutos para conseguir tirar suas botas – embora não fossem complicadas, havia milhões de botões para desfazer. Quando finalmente ficou só com as meias cinzas apertadas, voltou sua atenção para as roupas.
A capa era fácil demais, parecido com desabotoar robes, mas com o resto todo ele teve dificuldade. A primeira camada era um tipo de suéter listrado, tão apertado que não conseguia passar pela cabeça. Esforçou-se por alguns minutos, se sentindo estúpido. Finalmente, desistiu, praguejando em voz alta.
- Vou ter que dormir nas minhas malditas roupas – murmurou entre um fôlego e outro. Quando virou-se para deitar, a porta do quarto abriu.
Harry entrou.
Draco sentou-se rapidamente, escondendo a surpresa do rosto com um olhar de desdém.
- Não saber bater, Potter? – reclamou.
- Estou aqui para vesti-lo com as roupas de dormir – disse ele sem nenhuma
expressão.
Draco ficou aliviado por finalmente se ver livre de suas roupas pesadas, e horrorizado por Harry estar prestes a despi-lo.
- Não – interrompeu – Posso fazer eu mesmo.
- Acho que não – disse Harry secamente, fixando seus olhos verdes nos cinzas de Draco – Tendo crescido sendo vestido por outra pessoa, é impossível saber fazer sozinho.
Draco pôs-se em pé. Sentiu-se levemente idiota já que a capa não estava mais cobrindo suas várias camisas, que faziam seu peito e ombros parecerem bem maiores do que realmente eram. Ele pareceu injustamente dividido, e por um instante pensou em deixar Harry o ajudar. Mas a idéia logo ficou fora de questão.
- Só porque nunca fiz isso antes, não quer dizer que eu não saiba – disse friamente.
- Ótimo – disse Harry, e virou-se para sair.
Draco o observou, e antes que pudesse evitar, disse:
- Espere!
Harry virou-se novamente para ele, franzindo as sobrancelhas e olhando-o de forma assassina.
- Só tire esse suéter de mim, está bem? – resmungou Draco, mais uma vez se sentindo imbecil. “Ele é um empregado” lembrou-se “Não o Potter que conhece. Ele espera que você não saiba se despir.”
Mas ainda assim se sentiu imensamente tolo.
Harry deu um sorriso irônico que dizia “eu já sabia” e caminhou através do quarto. Agarrou o botão do suéter e começou a puxá-lo.
Mas então parou:
- Você tem que levantar os braços – disse ele.
Draco obedeceu, tentando pensar em algo esperto para responder.
- Você sempre despe homens? – conseguiu finalmente.
Harry puxou o suéter por cima da cabeça de Draco e jogou a peça no chão. Não encontrou os olhos do príncipe, mas eles estavam irradiando fúria.
- Eu certamente não dispo mulheres – respondeu depois de um minuto, ocupado com a macia camisa branca que estava atrás do suéter.
- É claro – disse Draco – Potter, o virgem.
Dessa vez Harry o encarou, piscando em assombro. O loiro só sorriu ironicamente para ele.
- Você não é? – perguntou.
- Não é da sua conta – respondeu Draco, mesmo sendo realmente virgem ainda. Mas isso não era algo que ele fosse revelar à alguém, muito menos à Harry.
O empregado voltou sua atenção para as roupas, mas o dono deu um passo atrás.
-Isso é tudo – disse – Não preciso mais de ajuda. Pode ir – Não foi preciso dizer duas vezes. Harry girou e correu para fora do quarto, batendo a porta atrás de si. Draco conseguiu tirar o resto de sua camisa, permanecendo nas calças. Não queria colocar outra camisola feminina – preferia muito mais ficar como estava.
Atravessou o quarto e apagou todas as lâmpadas, desejando ter sua varinha para que pudesse fazer isso da cama. Sabia que a vida não seria fácil sem ela. Como os trouxas sobreviviam?
Finalmente, o quarto estava totalmente escuro, e ele refez o caminho para a cama de dossel. Depois de bater a perna na margem pontuda de um móvel não identificável e praguejar alto, ele finalmente alcançou-a. Precisou de alguns segundos para abrir os cobertores, os quais estavam enfiados tão apertado no colchão que quase aderiam a ele. Pelo menos conseguiu deitar, olhando o topo da cama de abóbadas.
Não estava totalmente cansado. Não fazia idéia de que horas eram, mas parecia ainda ser cedo. Provavelmente pelas oito horas. Seus pensamentos voaram de volta à sua época normal, no futuro. O que estava acontecendo lá? Estavam sentindo sua falta? Será que um elfo doméstico foi acordá-lo, e não o achou? Sua mãe estava preocupada?
“É claro que não” pensou. “Ela provavelmente nem se importa.”
E como voltaria? Ele nem ao menos sabia como havia sido transportado para o passado, primeiramente. Não fazia sentido. Claro – Um vira-tempo poderia ter sido usado enquanto estava dormindo – mais uma vez, talvez uma brincadeira de mal gosto da parte de seu pai. Mas não havia possibilidade em que ele tivesse, de alguma forma, terminado como um príncipe, onde todos claramente o conheciam seu nome e personalidade. O mesmo para Gina – estavam ambos em algum tipo de Universo Paralelo. Nada fazia sentido. Como viriam eles ser os únicos, enquanto Harry e até Dumbledore estavam presentes, que sabiam que eram do futuro?
O que iria acontecer se eles nunca voltassem? Ele teria que casar com Gina e... ter filhos com ela? Mas a resposta para essa pergunta era óbvia – a não ser que acordasse de repente em casa na manhã anterior ao Natal. Sim, ele teria que se casar com ela.
Casamento. Era algo que vagamente passava por sua cabeça. Ele nunca planejou casar, acomodar-se e ter uma família. A sua própria era um completo fracasso! Por que a dele seria diferente? Não sabia como ser um bom marido, muito menos um pai carinhoso. Ninguém iria querer se casar com ele, na verdade.
“Mas Gina tem de casar”, pensou, rolando para o outro lado. Ele quase se sentiu mal por ela, pelo seu ponto de vista. Se fosse ela, não iria querer se casar consigo também.
Por horas Draco rolou e virou-se, pensando e repensando em maneiras de voltar, em como se livrar do casamento. Mas nada veio à mente, e só estava ficando com fome e dor de cabeça. Perturbado, sentou-se e passou uma mão pelos cabelos, olhando ao redor do quarto escuro.
Ele nunca iria pegar no sono. Mas podia se levantar e pegar alguma coisa para comer. Seria provavelmente a única vez que estaria sozinho no maldito castelo, pois algum empregado estaria sempre ao seu lado. Felizmente todos estavam dormindo agora, já que era meio da noite.
Sem se preocupar em vestir uma camisa, ele pegou sua capa e deixou o quarto, rezando para que não se perdesse no caminho para a cozinha.
* * *
Gina não conseguia dormir também. Toda vez que fechava os olhos, abria-os de repente, assustada com a possibilidade de se casar com Draco. Então ficava animada com a idéia de acordar em Hogwarts na manhã seguinte, e não queria que nada perturbasse seu sono.
Ela passou a maior parte da noite pensando no que havia acontecido durante o dia. Por que estava ali? Havia uma razão?
De repente, uma idéia horrível passou pela sua cabeça: E se esse fosse o seu mundo real, e o outro – aquele que ela pensava que era de verdade – não? E se ela devesse casar com Draco na vida real e tudo que se lembrava, tudo que sabia, fosse falso?
Mas isso não justificava nada. Se esse mundo era real, então como acreditava que outro também era?
Ela chacoalhou a cabeça e sentou. Estava se tornando complicado, tentando decidir o que era real e o que não era. Talvez uma volta pelo castelo pudesse clarear suas idéias...
Estendendo suas pernas para fora da cama, procurou pelos chinelos brancos que vira Maria colocar ali mais cedo. Depois de calcá-los, dirigiu-se para a porta. Sua camisola era longa, escura (uma cor vermelho sangue) e grossa, o que a manteria suficientemente aquecida. Cuidadosamente, fechou a porta atrás de si, certificando-se que só fez um click. Olhou para os dois lados do corredor, como que esperando alguém vir. Não fazia idéia onde o próximo quarto ocupado ficava, mas certamente não queria ser pega rondando à noite.
“Melhor prevenir do que remediar.” O ditado que sua mãe sempre a dizia passou pela cabeça, causando a Gina um sorriso triste. O que sua mãe estava fazendo agora (mesmo que se esse mundo que estava era real, sempre consideraria Molly Weasley sua verdadeira mãe?) Seria possível que enquanto ela estivesse vivendo sua vida no futuro, as pessoas do passado estivessem convivendo com uma réplica sua? Será que era o mesmo acontecia com as pessoas do futuro?
Gina passou por uma porta familiar, percebendo que dava na cozinha. Estava ligeiramente entreaberta, então só deu um pequeno empurrão e entrou, fechando-a firmemente atrás de si.
“Agora” pensou, espreitando na escuridão absoluta “como vou achar uma vela?”
Tentou lembrar a planta da cozinha pela visita da manhã. Se caminhasse em linha reta, iria alcançar um canto isolado, e se fosse à direita, iria em direção ao fogão à lenha antigo. Se dobrasse à esquerda, iria bater na longa mesa onde os empregados comiam. Na parede perto do fogão havia armários – certamente teria que ter velas e fósforos em algum lugar ali.
Havia uma janela na cozinha, e uma luz pálida a atravessava. Mas suas pupilas ainda não tinham se ajustado, e ela podia meramente enxergar a forma dos móveis. Se afastou da luz e foi em direção aos armários. Não notou que alguém estava no meio do caminho até que colidisse com quem quer que fosse.
* * *
Os olhos de Draco só se ajustaram o bastante para ver o que estava fazendo, e estava tão concentrado na tarefa de descascar sua maça (não podia comê-la com a casca – irritava-o de alguma forma), que não ouviu ela entrar. Então quando bateu nele, deixou cair a faca de volta à bancada com um barulho.
Gina soltou um longo e alto berro.
Perturbado, Draco tapou rapidamente a sua boca com a mão, silenciando-a. Sabia que era ela – podia dizer pelo cabelo fogoso que passava dos ombros – mas obviamente, ela não sabia que era ele. Agarrou o braço da ruiva com a sua outra mão e ela lutou para se libertar.
- Shh – assobiou ele de mau humor – Sou só...
A garota jogou-se para trás com uma expressão atônita, mas Draco estava segurando tão forte o braço, que ela o puxou junto, fazendo-o pisar na bainha da camisola, tropeçando. Ela perdeu a segurança e caiu de costas no chão, e mais uma vez fez o movimentou de arrastá-lo junto. O príncipe desabou bem em cima dela, e pôde sentir a forte respiração contra o seu rosto, causada pelo impacto.
Ambos precisaram de alguns segundos para entender que havia acontecido, e quando o conseguiram, Draco não fez um só gesto para se levantar.
- Eu. – terminou ele, a encarando preguiçosamente.
O coração de Gina começou a bater fortemente quando lembrou que não estava usando uma camiseta por cima da camisola – só uma capa jogada sob seus ombros e atada na garganta. A cabeça dele estava tão próxima da dela que os longos cabelos platinados encostavam na sua bochecha, e seus olhos pareciam brilhantes na fraca luz do ambiente.
Gina se forçou para dizer alguma coisa:
- Sai de cima de mim, Malfoy – disse quase histérica.
Surpreendentemente, ele obedeceu, e ficou de pé em menos de um segundo. Ela sentou e aguardou que fosse oferecida uma mão para ajudá-la, mas Draco havia voltado à bancada e estava terminando de descascar sua maçã. Resmungando baixinho, ela levantou-se por si própria, coração ainda batendo loucamente tanto pelo medo, quanto por ter estado em contato tão próximo com o corpo dele.
- O que está fazendo aqui? – exigiu ela.
- O que parece que estou fazendo? – respondeu – Estava com fome. Então vim aqui para comer.
- Às três da manhã?
Ele virou-se para encará-la, se apoiando na margem da bancada e calmamente mordendo sua maça. Falou com a boca cheia:
- Ah, então eu não tenho o direito de estar aqui e você tem.
- É o meu castelo – observou. Vendo ele comer estava começando a deixá-la com o estomago vazio – Onde você conseguiu isso?
- É a última – disse vagamente, e voltou ao assunto anterior – Esse castelo é tão meu quanto seu. De fato, quando nos casarmos, será meu. O rei fica com tudo, não a rainha.
Ela se sentiu um pouco enjoada.
- Eu espero ter ido embora antes de nos casarmos – respondeu.
- Embora para onde? Você, fugindo? – mesmo no escuro, dava para ver ele sorrindo ironicamente.
- Você sabe para onde – repreendeu – Para o futuro.
- Você sabe como voltar?
- Não – admitiu – Mas vou encontrar uma maneira.
Depois o único som vinha de Draco mastigando em voz alta sua maça, deixando Gina constrangida com o silêncio. Finalmente ele disse:
- Então você vai embora, e simplesmente vai me deixar aqui?
A pergunta a pegou desprevenida:
- Hãn?
- Acabou de dizer que esperava que você tivesse ido embora antes do casamento – lembrou ele, sem sorrir ironicamente mais. Sua expressão era indecifrável – Quer dizer que você vai ir e eu vou simplesmente ficar aqui?
- Bem – disse lentamente – Eu não sei.
- Maravilha – disse secamente, e se dirigiu à porta. Gina sabia que Draco estava indo, e estava levemente irritada por ele não ter nem ao menos se desculpado por assustá-la, ou dito boa-noite.
- Malfoy – chamou atrás dele.
Ele não se virou, mas parou na metade do caminho.
- Se eu descobrir um jeito de voltar, certamente você voltará comigo – disse e corou furiosamente. Pela primeira vez, saudou a escuridão.
E então algo voou de volta para ela, e bateu no seu peito. Ela meramente tentou pegar. Era úmido e pegajoso...
- Pode terminar – disse Draco, obrigando-a a encará-lo. Tinha aberto a porta e estava olhando sob seus ombros, sorrindo ironicamente para ela.
Gina fitou o que estava nas suas mãos. Chocada, olhou novamente para a porta e viu que ele tinha desaparecido.
Draco deu para ela o miolo da sua maça meio comida.
* * *
Para completo desapontamento de Gina, na manhã seguinte acordou sendo sacudida por Maria. Estava ainda no quarto grande, antigo e usava a longa camisola que havia vestido na noite anterior. Ainda era uma princesa vivendo no século dezessete.
E ainda iria se casar com Draco.
Quase lamentou alto quando pensou nele. Sua cabeça pesou e seu estômago estremeceu ao mesmo tempo relembrando a noite passada, quando tinha jogado fora imediatamente o resto da maça que havia recebido. Uma questão que havia a mantido acordada por quase toda a noite foi o por quê dele ter demorado tanto para sair de cima dela.
É claro, provavelmente só porque estava tentando irritá-la. Por alguma razão, havia causado a reação exatamente oposta – ela quis ficar em baixo dele, seu peito pressionado contra o dele, suas coxas espremidas contra as suas...
Tremeu como se tivesse repentinamente tido um calafrio, mas Maria estava abaixada, calcando-lhes os chinelos e não pareceu notar.
Ambas ficaram em pé na mesma hora, e a empregada sorriu calorosamente para ela (Gina sendo quase uma cabeça mais alta).
- Majestade, Draco não foi tão horrível assim ontem, foi? – perguntou, seu sorriso se transformando de alguma forma perverso.
Gina ponderou brevemente: Sim, tinha sido bem horrível, já que ele ainda era uma pessoa asquerosa e arrogante. Mas era o único com quem podia conversar sobre quão terrível era a situação deles, e como eles poderiam escapar. Porém, só deu de ombros para Maria sem dizer nada.
Maria ainda estava sorrindo propositalmente quando colocou Gina em um simples vestido azul claro. Dessa vez, a princesa arrumou seu próprio cabelo, embora tivesse deixado a maior parte dele solto, só prendendo algumas mechas para que não caíssem incontrolavelmente no seu rosto. Olhando-se no espelho, fingindo estar ocupada com os cabelos, ela pensou profundamente.
Esse mundo não iria durar só um dia. Então o que significava? Desde o início soube que não era um sonho. E não haviam usado o Vira-Tempo nela porque não tinha como voltar ao verdadeiro passado e ser uma princesa que todos conheciam. Era simplesmente impossível.
E se continuasse aqui o bastante para realmente se casar com Draco? Poderia, de alguma forma, se livrar do casamento?
“Não.” Franziu as sobrancelhas ao fitar o reflexo no espelho. “Pelo jeito que nossos `pais` estavam conversando no jantar da noite passada... eles querem muito que nos casemos, e não poderiam sequer pensar em cancelar a cerimônia. Eu não conseguiria convencê-los a fazer isso.”
Ela ponderou sobre a hipótese de fugir. Mas para onde isso a levaria? Todos estariam procurando por ela – não haveria nenhum lugar seguro. Sem mencionar que, se tentasse esconder seu rosto do mundo, nunca teria a possibilidade de descobrir como voltar ao futuro novamente.
“Eu prometi também que voltaria com Malfoy”, pensou com mau-humor. “Deus, que constrangedor. Não acredito que eu disse isso.”
O café da manhã foi muito parecido com o do dia anterior. Gina se concentrou em comer, perdida em seus próprios pensamentos. Estava cansada de se preocupar no noivado com Draco, então fixou sua mente no dilema com Harry.
Como poderia melhorar o relacionamento se não sabia nem ao menos o que havia acontecido? Tudo que sabia era que estava relacionado com a morte de Lílian. E se não a matou, então por que Harry a odiava tanto?
Suas idéias foram cortadas quando uma das empregadas correu para sala de jantar, sem fôlego.
- Majestades – disse rapidamente – Há uma emergência. Precisamos de vocês.
De alguma forma, seus pais sabiam exatamente a quais “majestades” a mulher estava se referindo. Os Reis da Inglaterra se levantaram imediatamente e a seguiram, deixando Elle, Draco, Edward e ela sozinhos na mesa. Ficou silêncio por um longo tempo, um silêncio incômodo que pareceu ecoar nas orelhas de Gina.
Finalmente, após a refeição, ela foi procurar Maria. Quando a achou, a empregada não tinha idéia do que se tratava a emergência. Frustrada e curiosa, foi para seu quarto.
“O que as pessoas fazem para se divertir nessa época?” ela perguntou-se irritada, encarando o retrato de si mesma na parede. Estava perturbada pois não sabia o que estava acontecendo com Harry, nem sobre o que era a emergência, e principalmente pois parecia impossível que algum dia fosse voltar ao futuro.
O tempo se arrastou lentamente. Gina achou um livro muito chato e confuso que tentou ler, mas não conseguiu se concentrar. Estava seriamente pensando se devia ou não procurar Draco, pois, pelo menos, brigar era um passatempo. Foi quando Maria entrou.
Gina sentou-se rapidamente na cama, deixando o livro de lado.
- O que aconteceu? – perguntou avidamente.
- Houve um assassinato – respondeu de forma sóbria – Uma família de dez pessoas foi encontrada massacrada na sua casa essa manhã.
- O quê? – Gina sentiu-se muito gelada. Se levantou e atravessou o quarto na direção de Maria – Como eles morreram?
- O assassino usou uma faca - disse a empregada, secando seus olhos – O mais novo tinha só dois anos.
- Quem fez isso? – Gina quase gritou.
- Não sabemos ainda. – disse Maria, aspirando com seu nariz entupido, e depois apontando, com seus ombros, para a porta – Vamos agora, é hora do chá. A senhorita irá acompanhada de Alteza Draco.
Forçando o assunto do assassinato para bem fundo da sua cabeça, Gina tentou não gemer quando disse:
- Sozinhos?
Maria forçou um sorriso cintilante.
- É melhor aprender a gostar dele antes de vocês se casarem, ou depois? – respondeu de volta.
Elas deixaram o quarto e começaram a caminhar lentamente para o salão, lado à lado.
- Nenhum dos dois – disse Gina com teimosia – Não quero gostar dele. Ele é horrível.
- Me perdoe por estar dizendo isso, Majestade, mas você está fazendo uma tempestade em um copo d’água – disse – Ele realmente é uma boa pessoa. No fundo do coração.
- Bem no fundo do coração – resmungou a princesa, revirando os olhos – Tão no fundo do coração que, de fato, talvez nunca vejamos um Dra – uh, Malfoy bom.
Maria arqueou sua sobrancelha duvidosamente na referência à ele, mas não disse nada.
Quando Gina chegou no salão em que tomariam chá juntos, Draco ainda não estava lá. Maria saiu para chamá-lo, e a ruiva sentou-se na mesa que só podia acomodar duas pessoas, uma em frente à outra. Era um aposento gelado, e estava começando a desejar ter uma xícara de chá, onde poderia colocar suas mãos ao redor. Mas a bebida não havia sido servida ainda, e provavelmente não seria até Draco vir.
Ele chegou cinco minutos depois, particularmente um longo tempo para quem estava sentado sem fazer nada. Junto veio Maria, carregando uma bandeja com um bule, açúcar e leite. Draco sentou-se pesadamente em frente à Gina, e enquanto a empregada os servia, nenhum dos dois falou. Quando deixou o salão, houve um longo silêncio enquanto Gina preparava uma xícara para si mesma, e ele a observava.
Sem olhá-lo, perguntou:
- O que é?
Podia quase ouvi-lo sorrir sarcasticamente.
- Eu não gosto de chá.
Surpresa, ela olhou para cima e encontrou os olhos dele. Apesar de estar sendo irônico, é claro que estava dizendo a verdade sobre a sua preferência.
- Não gosta?
- Não acabei de dizer que não gostava?!
- Você é estranho – disse ela, se apoiando na cadeira com a xícara – Todo mundo gosta de chá.
- Todo mundo quem, todo o mundo que você conhece? Bem, tenho novidades para você, Weasley. Você não conhece todo mundo.
- Obrigada, Draco, eu honestamente não sabia.
Houve mais um minuto de silêncio e Gina não soube o motivo. Encarou o seu chá, e então suas palavras ecoaram. “Oh Deus, eu acabei de chamá-lo pelo primeiro nome!” Seus olhos levantaram-se para encontrar os dele, e não pôde ler sua expressão, o que a aborreceu sem razão.
Constrangida e corando sob seu olhar, ela rapidamente adicionou mais açúcar ao seu chá, mesmo já tendo tanto que nem todos os cristais pudessem se dissolver.
- Então – finalmente Draco quebrou o silêncio – Descobriu um jeito de nos tirar daqui?
Ela revirou os olhos para ele.
- Durante a noite? Não, não descobri.
- Ah sim, esqueci – sorriu Draco sarcasticamente – Você é da Grifinória. Grifinórias não conseguem fazer planos decentes nem se suas vidas dependem deles.
- Então por que você não pensa em algo?! – explodiu Gina na defensiva – Não ouvi você sugerir alguma coisa.
- É porque estou começando a acreditar que não há nada que possamos fazer – respondeu simplesmente, cruzando seus braços – Nós não nos trouxemos aqui. Como nós poderíamos nos levar de volta?
Gina mordeu o lábio superior e pensou por um momento.
- Maria mencionou uma senhora que é bruxa – lembrou – Talvez ela possa nos dizer alguma coisa.
- Provavelmente ela é uma farsa – resmungou Draco.
- Quem, Maria?
- Eu nem ao menos sei quem diabos é Maria, então como poderia estar me referindo à ela? – repreendeu Draco.
- Desculpe. Se soubesse que você iria arrancar minha cabeça, teria ficado de boca fechada.
- Essa é a coisa mais esperta que você já disse, Weasley.
- O que há de errado com você, seu bastardo? – reclamou ela, colocando sua xícara na mesa. Ele abriu a boca para responder, já zombando, mas ela o cortou – Além de mim.
- Nada demais – Draco deu à ela um sorriso torto. Gina estava levemente surpresa: raramente havia o visto sorrir, apenas debochar com ironia ou desdém – Só você.
- Obrigada – respondeu sarcasticamente – Agora, acha que podemos ter uma conversa civilizada pelo menos uma vez?
- Acho que não. Nunca tive uma conversa civilizada com um Weasley antes.
- Bem, você nunca falou comigo antes – declarou cruelmente.
- E estou começando a desejar que não tivesse.
Gina o olhou furiosamente por um longo período, frustrada além de tudo. Ele tinha que ser o ser humano mais irritante do planeta. “E eu sou sortuda o bastante para ficar presa aqui com ele” pensou irada.
- Você ouviu por que, uh, meus pais saíram durante o café dessa manhã? – perguntou. Esse assunto certamente o deixaria sério, ou pelo menos desviaria sua mente de quão irritante ele era.
- Não, e quer saber? Eu me importaria menos.
- Dez pessoas foram assassinadas – contou ela de qualquer forma – Uma delas era uma criança de dois anos.
Draco a encarou por um momento, sua expressão novamente indecifrável.
- Que horror – disse sem muita emoção – Mas eu me lembro claramente de ter declarado que não me importo.
Os olhos dela aumentaram. “Como pode alguém ser tão frio?” perguntou-se.
- Seu maldito... insuportável... – bradou ela, incapaz de achar outras palavras que o descrevessem.
- Eu poderia sentar aqui, beber chá, e ter conversas civilizadas com você o dia todo, Weasley – disse de forma particularmente educada, se levantando – Mas temo que preferiria executar a Maldição Crucio em mim mesmo.
Ela se levantou de forma que ficasse próxima ao nível do olhar dele. Não era tão mais alto, e Gina sempre quis se casar com alguém que fosse quase uma cabeça maior, alguém que a carregasse em seus braços e a levasse para a cama... “O que é logo outro motivo porque não posso me casar com Malfoy” pensou, o fitando irritada. Ele a encarou, um sorriso divertido em seus lábios, e não tentou sair.
- Vamos nos divorciar em um mês – disse ele.
- Nós não vamos nos casar! – exclamou ela, e então se sentiu um pouco estúpida pela sua explosão. Diminuiu o tom de voz e continuou – Como eu expressei anteriormente, espero estar de volta à Hogwarts antes do Natal chegar.
- Boa sorte – disse Draco, virando e começando a caminhar até a porta. Os olhos de Gina o seguiram, encolhidos com raiva.
- Você quer que nos casemos? – gritou ela, impaciente – É isso o que você quer? É por isso que você simplesmente não se importa?
Ele virou-se, na metade do caminho. Gina podia ver que havia o provocado; seus olhos estavam bem mais escuros.
- É claro que eu me importo. Não quero me casar com você. Toda essa situação é tremendamente ridícula. Mas não há nada que eu possa fazer. Então por que deveria sentar aqui e me lamentar como você está fazendo?
Como ela pôde ter gostado de ficar embaixo dele? Agora ela queria bater nele. Queria o bater tanto que seu punho fechou em antecipação. Só porque ela era quase da altura dele não queria dizer que era mais forte. Com aquele olhar, fazendo os olhos escurecerem de cinza aço para cinza escuro, ele parecia capaz de tudo, furioso o bastante para fazer qualquer coisa. Ela sentiu um pouco de sua própria frustração se misturar com algo parecido com medo, mas sabia que não podia ter medo de Draco Malfoy. Não poderia se permitir.
Ele finalmente rompeu seu olhar com Gina e virou, continuando o resto do caminho para a porta. Quando estava de costas para ela, de modo a não ver-lhe a expressão, ela se sentiu corajosa.
- Eu te odeio! – berrou, consciente de quão infantil estava sendo, mas não ligou – Vá para o inferno, Malfoy!
Ele bateu a porta sem nem ao menos confirmar que havia a ouvido. Gina jogou-se na cadeira, tão brava e frustrada que poderia gritar. “Se não me acalmar logo, vou acabar arrancando meus cabelos” pensou, respirando com dificuldade.
Mas não conseguiu se acalmar. Tudo estava tão perdido e enlouquecido... ela iria se casar com alguém que não suportava olhar, não tinha ninguém para desabafar e reclamar, não sabia como voltar ao tempo normal, e a única pessoa que esperava que pudesse conversar não suportava olhar para ela.
Toda a raiva borbulhou dentro de si até que não pôde agüentar mais. Agarrou sua xícara e a jogou na porta com um grito agudo. Mesmo que ele estivesse longe o bastante para não ouvir, ela berrou novamente:
- Eu te odeio!
A xícara quebrou em milhões de pedaços e caiu no chão, chá respingando na porta. Gina observou por um momento, então levantou-se e saiu do salão, sem se preocupar em limpar a bagunça que tinha feito. Quem se importava que os empregados teriam um motivo a mais para odiá-la, limpando a sujeira de uma xícara que havia quebrado de propósito? Ela só precisava sair do castelo antes que enlouquecesse.
Não se importou em pegar um casaco; foi diretamente para os jardins. O frio pareceu maravilhoso batendo nas suas bochechas rosadas, e estar fora do asfixiante e confinado castelo fez ela se sentir bem mais calma. Atravessando a neve, Gina cruzou seus braços fortemente em volta de seu peito e olhou para baixo. Estava usando pequenos sapatos baixos, fazendo neve entrar, e mais uma vez ela não se importou.
As lágrimas que esteve contendo pelas últimas vinte e quatro horas finalmente vieram. Deixou que elas escorressem no seu rosto, sem se preocupar em enxugá-las.
Gina passou um longo tempo ali fora, caminhando e realmente não observando nenhuma das plantas dormentes que tinha no jardim. Quando finalmente decidiu voltar, interiormente se sentia muito melhor, até calma, apesar do fato dos seus pés, nariz e dedos estarem duros de tão congelados.
Voltou para seu quarto e deitou na cama, encarando o teto. Sabia que logo seria hora do almoço, e então teria que ver Draco novamente.
E estava temendo esse encontro.
No próximo capítulo: Como já diz o título, o mistério sobre Harry será descoberto. Por que será que ele trata Gina tão mal, mesmo ela não tendo matado Lílian?
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