Berrador e batizado

Já amanhecia e Harry não sabia o porque de se sentir tão... estranho. Sua visita à casa dos Dursley, o sumiço deles, havia mexido com ele de forma inesperada.

Fora invadido por um sentimento de ganho e perda, ao mesmo tempo. E lembrou-se vagamente do dia em que Tia Petúnia havia recebido o berrador... “Lembre-se da última, Petúnia”. Por mais que Dumbledore houvesse se esvaído em explicações sobre o poder mágico do amor e dos laços consangüíneos, jamais houve explicação plausível ou convincente para a interpretação desse “maldito berrador”. Harry não soube explicar nada, apenas pressentiu que precisaria voltar à Rua dos Alfeneiros imediatamente.

Levantou subitamente, procurando não acordar Ron. Mal percebera que o amigo não havia pregado os olhos a noite toda.

- Onde é que você pensa que vai hein? Ron conhecia demais o amigo, sabia quando as idéias surgiam num lampejo na mente dele.

- Putz Ron, que susto, tá maluco é?

- O “Potter pirado” é você, não eu...

Harry não podia deixar de rir com a piada, lembrando do Pirraça, o poltergeist de Hogwarts que lhe dera o apelido.

- Ron, eu preciso voltar pra casa dos Dursley. Tem alguma coisa lá que eu deixei pra trás, afinal de contas, Dumbledore não queria que eu fosse até lá só por causa da minha tia e aquele lance de proteção... eu sei que tem alguma coisa que eu deixei pra trás.

Ron achou que Harry não conseguiria sair dali tão facilmente. Depois de todos esses anos com Harry, sabia que não poderia demovê-lo da idéia de ir até Surrey, mas no meio da madrugada, sem proteção...

- Ron, eu sei. Sei que ninguém vai querer que eu saia agora, desse jeito, com essa pressa e sozinho...

- Sozinho não meu, eu vou com você. Se você aprendeu algo nos últimos tempos, sabe que não pode ir sozinho, certo? Não vou discutir os seus motivos, já cansei de ver o quanto você está certo sobre algumas coisas, mas não posso deixar de acompanhar você. Isso não é negociável, entendeu?

Como discutir tais argumentos? Ron era realmente um amigo sem igual, compreendia-o como ninguém.

- Você vai aparatar?

- É mais fácil, estou com pressa e seus pais vão demorar uns segundos pra ouvir.

Ron não tinha passado em seu teste, será que poderia?

- Você aparata comigo Ron, teremos tempo de praticar isso depois pra que você possa fazer isso sozinho. Além do mais, nessa altura dos acontecimentos, Scrimgeour se vira com o fato de eu ser menor e não ter licença...

Ron deu o braço ao amigo, fez uma careta e...

CRAQUE.

Estavam na Rua dos Alfeneiros, número 4.

As luzes da rua estavam fracas. O calor era ameno, apesar da época do ano. Harry chegou perto da porta de entrada, varinha na mão, assim como Rony, o pensamento fixo em vigiar algum curioso que pudesse estar à espreita. Até mesmo a velha Sra. Figgs parecia estar dormindo, as luzes todas apagadas. Tudo tranqüilo e sereno.

A porta da frente estava do jeito que Harry a havia encontrado no dia anterior: destrancada, mas sem sinais de arrombamento. Não foi um assalto que tirou os Dursley dali. Adentrando a casa, Harry sentia um formigamento, uma sensação estranha, de que tinha algo a procurar dentro da casa. Não tinha a mínima idéia de por onde deveria começar. Apenas sentia que acharia, seja o que fosse.

Foi até seu quarto. Nada demais. No quarto do Duda. Nada. Quando se aproximou do quarto dos tios, sentiu que deveria entrar e procurar algum sinal do passado, de seus pais. Seus olhos foram de encontro a um velho baú, todo empoeirado e gasto, em cima do guarda roupa.

Sua cicatriz, que há muito não parava de doer pelo constante perigo, deu uma pontada mais forte e parou de doer instantaneamente. Que estranho! Pensou consigo mesmo. Abriu o baú, que tinha sinais de ter sido arrombado há pouco tempo, revirou seu conteúdo com cuidado.

Cartas antigas, fotos, lembrancinhas de casamento, batizado, um convite para o batizado de Harry....

Convite para o batizado de Harry? Lacrado e intacto.

Correndo o risco abriu.

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