Armadilha
Eu mal podia acreditar naquilo. Acordei sentindo um frio muito intenso. Isso só significava uma coisa. Estava nevando. Dei um pulo da minha cama e corri até a janela. Quase gritei de alegria quando vi os pequenos flocos de neve caindo lentamente.
-NÁTYSI! ÁSIS – gritei – ESTÁ NEVANDO!
As duas se levantaram em um pulo. Correram até a janela também. Eu abri a janela e deixei que o vento gelado entrasse no quarto. A neve me fascinava.
Eu simplesmente adorava aquele frio, o vento gelado. Os lagos congelados, que forneciam ótimas pistas de patinação, outra coisa que eu amava.
-Gente nós temos que ir patinar. Já! – eu disse.
-Claro. Vamos garotas – as meninas também adoravam patinar.
-Vamos nos arrumar.
Coloquei calça jeans, duas blusas de frio e um sobretudo marrom. Coloquei botas de cano alto e peguei meus patins brancos.
-Vamos chamar os meninos.
Todas estavam devidamente agasalhadas. Fomos em direção ao dormitório dos meninos. Assim que chegamos lá, percebi que ninguém estava acordado. Todos dormiam encolhidos.
-Vamos garotada...Levantando! – gritamos.
A única coisa que recebemos de volta foram travesseiros. Ficamos mais uns dez minutos insistindo.
***
Hermione levantou tremendo de frio e viu que não passava das sete da manhã. Se cobriu e voltou a dormir. Estava feliz. Tinha sonhado com Harry a noite toda.
***
O frio estava insuportável, não dava para ficar nas masmorras. Eu sequer tinha dormido, mas a noite tinha sido bem proveitosa com Olívia. Resolvi dar uma volta pelo castelo, ver se alguém estava acordado, mas isso era bem improvável.
Hoje o trem de Hogwarts partia para levar os alunos de volta a Londres. Depois de duas semanas é que eles voltariam apenas.
***
Ficamos patinando quase a manhã toda. Quando estava perto da hora do almoço voltamos, pois as meninas tinham que arrumar suas malas para ir viajar. Me lembrei que hoje eu tinha encontro com o Malfoy.
-Gina você tem certeza que vai ficar aqui? – Ásis perguntou enquanto fechava suas malas.
-Claro que sim. Não tem problema. Eu preciso descansar. Provas demais, trabalhos demais. Vou dar uma adiantada em tudo também.
-Minha mãe disse que adoraria que você fosse lá pra casa – Nátysi disse.
-Vocês não querem mesmo que eu fique aqui hein? Mas eu juro que não tem problema. De verdade.
-Você é louca...E sua mãe?
-Não para de me encher – disse simplesmente – Agora andem logo que em meia hora as carruagens partem.
-Certo.
***
-Você vai mesmo ficar por aqui Malfoy? – Trey perguntou.
-Não sei ainda. Talvez vá pra casa...Vai ter um baile e tal.
-Eu queria ficar...Minha mãe que começou a chorar – Dean disse desanimado – Estava pensando em entregar a lista com os nomes para a Weasley e quem sabe né? - ele disse feliz.
Só pude rir. A Weasley jamais beijaria alguém como ele. Não mesmo. Me lembrei que tinha encontro com ela.
-Vamos? – Trey perguntou.
***
Harry, Hermione e Rony esperavam as carruagens. Kristin estava se despedindo de Richard logo atrás.
-Eles não vão parar nunca? – Rony perguntou visivelmente irritado.
-Calma. Daqui a pouco – Harry disse rindo – Hermione, sua mãe não ficou brava por você passar o Natal na Toca?
-Não...E Pansy?
-Também não... – ele disse sem graça – Na verdade nem a vi hoje.
-Certo...Olhe as carruagens chegaram! – ela apontou.
Harry sentiu um arrepio.
***
Caroline corria feito uma louca. Essa seria a oportunidade perfeita para seu plano. Ela não estaria na escola e por isso ninguém poderia culpá-la de nada. Ela tinha apenas cinco minutos.
Foi até o lago que Gina sempre patinava. Ela sabia que isso era a coisa que a menina mais amava fazer em todo o mundo. Correu até lá e com a varinha fez uma rachadura no lago, ninguém perceberia.
Sorriu, satisfeita consigo mesmo e saiu de lá. Chegou no saguão no mesmo momento em que as carruagens surgiam. Perfeito!, pensou.
***
Eu e Stephen estávamos nos despedindo no saguão de entrada. Ele me beijava tão desesperadamente que parecia que o mundo iria acabar.
-Você tem certeza que quer ficar? – ele disse – Você poderia ir para casa.
-Certeza absoluta.
Fui até os outros me despedir. Dei um abraço nas meninas e nos meninos. Desejei feliz Natal e pela centésima vez disse que eu tinha certeza que iria ficar em Hogwats. Depois me despedi de Rony, Hermione, Harry e Kristin.
Logo depois eles foram. Fiquei lá na porta até todos terem sumido de vista. Me senti sozinha, mas eu precisava ficar um tempo sem a agitação toda de Hogwarts.
***
Faltavam duas horas para o encontro com a Weasley. Eu nem acreditava, mas hoje não teria que me preocupar com horários e poderia dormir no quarto secreto sem problema nenhum. Eu mal acreditava nisso.
Resolvi dar uma passada nos jardins. Não tinha nada pra fazer mesmo e não teria por mais duas semanas. Agora era só dizer ao meu pai que iria passar o feriado com os pais do Trey. Rumei para lá sem me preocupar com nada, mal sabia o que me esperava.
***
Apesar do frio, o vento tinha parado, então eu poderia patinar sem problema nenhum. Enquanto deslizava pelo gelo me esqueci completamente de coisas que não me deixavam dormir a duas semanas.
O nome dessas coisas era Malfoy, Stephen...Traição. Isso me corroia cada vez mais. Eu não suportava mais. Se ao menos eu amasse o Malfoy, isso explicaria muita coisa, mas eu não podia usar essa desculpa.
“Crack”, foi à última coisa que ouvi antes de despencar para dentro do lago, na água gelada.
***
Vi ao longe a Weasley patinando, ela já tinha feito isso com as amigas a manhã inteira. Porque tinha que continuar? Será que ela não sabia que ir patinar sozinha era perigoso demais?
Um segundo depois dela dar um giro e erguer sua perna ela simplesmente desapareceu. Esperei uns dez segundos, ela não apareceu, então disparei em direção ao lago. Eu tinha certeza, ela tinha afundado.
***
Apesar de doer, abri meus olhos. Uma placa de gelo acima de minha cabeça mostrava a superfície do lago. A água parecia perfurar meu corpo como milhares de facas. Eu lutava para não engolir a água, se fizesse isso estaria perdida.
***
Fui direto para o local do buraco. A cabeça dela estava visível há uns trinta centímetros dali. Comecei a chutar o gelo desesperadamente. Precisava fazer um buraco lá.
Joguei a minha capa no chão e continuei chutando. O gelo começou a ceder. Eu já podia avistar o braço dela.
***
Vi alguém acima de mim. Um pequeno sorriso se formou nos meus lábios. Aquele cabelo era simplesmente inconfundível. Meus pulmões pareciam prestes a explodir, pedindo ar. Não pude evitar e engoli água.
Minha visão começou a escurecer. Porque ele estava demorando tanto? Desmaiei um segundo depois.
***
Enfiei minha mão na água e peguei o braço dela. Puxei-a com força. O frio estava de matar ali. Eu já estava começando a achar que ela estava morta. Deitei-a sobre o gelo e observei os batimentos cardíacos bem lentos. Seus lábios estavam roxos.
Coloquei minha capa em volta do corpo dela e me pus a correr. Não sabia bem o que fazer. Eu estava em pânico.
***
-Pão – Kristin falou vitoriosa.
-C – Harry disse enquanto olhava em um papel.
-Comida – Hermione falou.
-Não vale. Tem que ser uma comida – Rony disse mal humorado.
-O Rony só está estressado porque, como ele disse mesmo? – Kristin fingiu pensar, depois abriu um enorme sorriso – Ah, claro! Claro que eu e o Harry vamos ganhar. Nós somos os melhores – ela imitou a voz do Rony.
-Não enche Kristin – ele disse irritado.
-Tudo bem...Carne – Hermione falou.
-Brincadeira idiota – Rony reclamou e encostou as costas no banco.
-Então o que você sugere? – Harry perguntou – Nós temos uma longa viagem pelo frente – ele disse enquanto encarava a paisagem.
Estava com a cabeça longe. Pensando em Pansy. Mas não era coisa boa, definitivamente não.
-Já sei – Hermione quase gritou – Brincadeira da Moeda.
-Que diabos é isso? – Rony perguntou, Kristin riu debochada e depois falou.
-A Gina nos explicou, vocês vão a-do-rar.
***
-Você sabe porque ela anda tão distante? – Ásis perguntou a Nátysi.
-Talvez a Caroline, ela fica enchendo a Gina.
-A Caroline nos amola há séculos... É outra coisa. Eu só não consigo...Mas aquele vestido é lindo não?
Ásis disse rindo. Sua mudança abrupta de assunto era resultado da presença de três pessoas. Jim, Matt e Stephen.
Os três se sentaram cheios de doces no vagão. Jim dirigiu um olhar de tédio a Ásis. Depois disse.
-Sempre falando de roupas...Vocês não se cansam?
-Nunca! – elas disseram juntas.
Ah se eles soubessem qual era o assunto.
***
Corri como um louco com ela no colo. Madame Pomfrey iria fazer perguntas demais. Achei uma solução, levá-la para o quarto secreto.
Ela estava cada vez mais fria. Minhas mãos tremiam tanto que eu quase não consegui segurar a varinha. Coloquei ela na cama e fui tirando as suas roupas. Primeiro tirei a capa que eu tinha colocado em volta dela, depois tirei o sobretudo dela e as duas blusas de frio. Ela ficou de sutiã apenas.
Tirei os patins e joguei do lado das botas dela, que eu havia pego do lado do lago. Tirei as meias e a calça jeans. Depois tirei minha camisa. O pouco que eu tinha aprendido na aula era que se estivesse sem recursos médicos o certo era passar o calor do meu corpo pra ela.
Enfiei-a debaixo das cobertas e a abracei. Ela continuava fria. Eu já estava pensando que tinha sido um idiota por não levá-la para a ala hospitalar.
***
Ouvi uma respiração bem perto do meu ouvido. Eu estava me sentindo bem mais quente. Abri meus olhos e vi os olhos dele me fitando. Malfoy estava me abraçando forte. Estava sem camisa e eu sem roupas.
Demorou uns segundos para que eu me desse conta do que tinha acontecido comigo. Ele me abraçou mais forte.
-Você está bem?
-Estou – disse com o pouco de voz que tinha – Mas o que você está fazendo? – perguntei.
-Transferindo o calor do meu corpo para o seu. Você vai ficar aquecida assim e seu sangue não vai parar. Assim você não morre – ele finalizou.
-Obrigada.
Malfoy puxou mais as cobertas, elas chegavam quase no meu queixo agora.
-O que você estava fazendo lá? E sozinha? – ele disse irritado.
Agora sim eu estava reconhecendo o Malfoy.
-Patinando oras. Como eu podia saber que o gelo tava rachado?
-Irresponsável.
-Estúpido!
Disse e me virei de costas pra ele. Mesmo sem querer comecei a chorar. Eu ainda me lembrava da placa de gelo, acima da minha cabeça.
Logo em seguida senti ele me abraçando.
-Me desculpa tá? Mas assim que você estiver melhor eu vou te xingar bastante Weasley. Se prepare.
Eu não disse nada. Continuei de costas.
-Você está chorando? – ele perguntou.
-Não.
-Claro que não – ele disse ironicamente – Eu acredito em você. Você é mesmo uma mimada sabe?
Depois ele me puxou e eu fiquei deitada de frente pra ele. Nossos narizes quase se tocando. Meu olho começou a pesar. Eu estava com sono.
-Pode dormir...Hoje horário não é problema.
-Só uma coisa – perguntei – E as minhas botas?
Ele deu uma risada.
-No canto do quarto. Não se preocupe.
-Obrigada – disse antes de cair no sono.
N/A: Escrevi o cap ouvindo Tomorrow, da Avril Lavigne.
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