Harry
Era um dia nublado. Eu estava no pátio nevado de Hogwarts com Edwiges. Já estava na hora dela sair para vôo matinal, e eu havia combinado de encontrar Rony, Hermione e Jane mais tarde.
Soltei Edwiges e acompanhei seu vôo com o olhar até ela se misturar à neblina gelada que pairava. Havia um estranho clima em toda a Hogwarts, algo que misturava magia e estranhos aromas típicos do Natal. Em todo lugar, haviam centenas de guirlandas e enfeites brilhantes, que se misturavam às árvores de natal e ao aroma dos pinheiros. Próximo a cozinha, sempre sentia o perfume de deliciosas tortas de maçã com canela e bolos de frutas confeitados com açúcar. Confeitos estavam dispostos sobre a mesa do café daquela manhã, em sua grande maioria, típicos de natal: haviam Candy Canes¹, doces de abóbora com cravo, maçã verde com calda de açúcar e cones de amendoim e castanhas coloridas.
De repente, uma intensa dor gelada alastrou-se por minhas costas, trazendo-me calafrios. Eu já havia a sentido diversas vezes quando menor, mais os alunos do sétimo ano não costumavam brincar de jogar bolas de neve uns nos outros. Virei-me, procurando ver quem estava vindo em meio a neblina. Eu ouvia risos se aproximando a rápidas passadas, e tinha quase certeza de que já sabia quem era.
- Harry!!!! Você está bem? - perguntou-me ela, com um sorriso matreiro.
Jane estava linda: Usava o uniforme de Hogwarts e uma cachecol vermelho e dourado pendurado no pescoço. Os cabelos estavam presos em uma trança que caía sobre seu ombro e quase alcançava sua cintura. E as maçãs de seu rosto ligeiramente moreno estavam realçadas por causa do frio.
- Ah.. estou sim. - respondi, enquanto me sacudia para retirar os flocos de neve das costas.
- Quer brincar? - perguntou Rony se aproximando com uma bola quase feita nas mãos.
- Vocês não acham isso um pouco infantil?
- Qual é Harry! É natal e nosso último ano em Hogwarts! - começou Hermione.
- E nós temos que nos despedir em GRANDE estilo! - completou Jane, ao apoiar o braço em meu ombro. Eu aproveitei para espiar seu rosto por cima do ombro.
- E algumas bolinhas de neve não vão matar ninguém.... - falou Hermione ao se abaixar e pegar um pouco de neve.
- Não vai de dizer que o grande Harry Potter está com medo!? - desafiou Rony.
Jane mantinha um sorriso maroto nos olhos. Olhou para Rony e piscou. Depois virou o olhar para mim, esperando uma reação.
- Olha que vocês vão se arrepender.... - comecei.
- Ah é? Então me mostra do que o incrível Potter é capaz. - desafiou Jane, que a esta hora já estava cheia de neve nas mãos.
- O.K. vocês que pediram hein.. Depois não vale reclamar.
Jane sorriu entusiasmada e atirou uma bola em Rony, que antes que a devolvesse recebeu uma bolada de Hermione. Ambas riram da cara de bobo que ele ficou.
- Meninas contra meninos! - gritou Jane, enquanto fazia outra bola de neve.
Eu em empolguei e joguei uma bola em Hermione, que estava ocupada demais discutindo com Rony que não haviam regras específicas para um joguinho de bolas de neve. Jane devolveu a bola, mas eu me esquivei. Ela correu para longe e desapareceu na neblina. Outra dor gelada atingiu minhas costas, mais fui rápido o suficiente para devolvê-la em Jane, que perdeu o equilíbrio e caiu no chão. Aproximei-me correndo, enquanto, ainda caída no chão, ela preparava outra bola de neve. Eu segurei seu braço, e encarei seus olhos amendoados e castanhos. Mais uma multidão de bolas de neve despencaram sobre minha cabeça, obrigando-me a soltá-la. Jane jogou uma bola em Rony, que passou a perseguí-la. Hermione preparava outra leva para jogar em alguém
- Não é justo! - protestei. - Hermione, não vale usar magia!
- É mesmo Hermione, não vale! - continuou Rony, com seus cílios ruivos cheios de neve.
Passamos a manhã inteira jogando bolas de neves uns nos outros. Jane, como artilheira do time de Quadribol, tinha uma mira excelente. Sempre que jogava, conseguia acertar. Ela usava a tática de prever para onde o jogador ia se esquivar, assim tinha mais chances de acertar.
Quando me dei conta, estávamos todos caídos no chão. Jane deitou-se e começou a fazer um anjo de neve. Depois de um tempo, estávamos os quatro de pé, analisando nossos anjos.
- O do Rony está mais parecendo um cachorro. - comentou Hermione.
- Não ta nada! Você que não tem visão artística!
Todos rimos, exceto Rony. Não tinha como aquilo parecer um cachorro. Sabíamos que Hermione estava apenas enchendo a paciência de Rony e ele havia mordido a isca.
- Acho melhor subirmos, aqui já está ficando frio demais. - comentou Jane.
- Também acho. - admitiu Hermione.
Eu concordei com um gesto da cabeça, enquanto Hermione e Rony saiam na frente, em uma discussão sobre a semelhança entre cachorros e anjos de neve. Jane e eu os seguimos calados.
Quando os dois já estavam quase entrando no castelo, Jane exclamou: - Veja Harry, que lindo!
Diversos flocos de neve estavam caindo. Ela parou e ficou olhando para o céu. E eu olhei para ela. Ela era muito bonita, não tinha como não reparar. Com esforço, desviei meus olhos para o céu também.
- Vamos ver quem consegue pegar mais flocos de neve? - desafiou Jane, com um sorriso. Eu não conseguia resistir a um desafio. Não dela.
- Certo.
Colocamos nossas línguas para fora. Depois de algum tempo, ela misteriosamente parou. Seu olhar estava vago, como se visse através de mim. Olhei para trás e para os lados, mas não havia ninguém.
- Harry... Com quem você vai ao baile de amanhã? - perguntou-me ela. Se aquilo fosse uma indireta, eu ainda não havia captado a mensagem.
- Hum.. Ninguém, e você?
- Eu não tenho par.
- Mas o Harley não convidou você?
- Hum-Hum! Mas eu recusei o convite.. - respondeu ela, olhando para o chão.
- Sério?
- Sério. Agora eu vejo que devia ter aceitado, pois estou querendo ir mais não tenho par... - continuou ela, com um ar triste e desapontado.
- Sinto muito...
Naquele momento quase me dei um tapa por ser tão estúpido. Finalmente havia percebido a indireta.
- Então... Você não quer ir ao baile comigo? - completei mais que depressa, antes que ela me achasse estúpido o suficiente para desistir da idéia de ser minha acompanhante. Jane era uma menina muito inteligente e bonita, acompanhantes não faltariam para ela.
Subitamente aquele ar triste que a envolvia desapareceu e seu rosto iluminou-se em um sorriso.
- Mas é CLARO! Pensei que você nunca fosse me convidar!
Observações da Autora:
¹Candy Canes = Não existe um equivalente exato para o português. Mas Candy Canes são uma espécie de "pirulito", geralmente - quase sempre - em forma de alça de guarda-chuvas. Possuem a cor branca e tem listras vermelhas espiraladas. São cobertos de açúcar. Aqui no Brasil, usamos enfeites semelhantes para pormos em nossas árvores de natal. A diferença é que são de plástico!
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