Sobre Corações Partidos
Descrever o quão ruins foram os dias que se seguiram àquela fatídica discussão no banheiro da Murta seria, para Gina, tarefa árdua num futuro não tão distante. Ela estava sentindo-se terrível, ou pior, destroçada. Aquele confronto aparentemente definitivo com Luna deixara a caçula Weasley completamente em farrapos. Meramente se alimentava, e fazia o possível para ficar sozinha. Mas nem mesmo o isolamento era capaz de lhe proporcionar algum conforte.
A companhia de Harry lhe causava incômoda agonia, de modo que foi com um suspiro exausto que Gina atendeu ao chamado do rapaz, naquela manhã fria de Sábado. Ele indicou um lugar ao seu lado à mesa da Grifinória para que ela sentasse para tomar café junto dele.
- Bom dia – Harry saudou quando Gina puxou a cadeira.
Ela não respondeu. Lançou um olhar furtivo à mesa da Corvinal procurando, sem sucesso, identificar a figura de Luna. Não estava lá novamente. Há dois dias que Gina não a via, nem durante as refeições ou freqüentando as aulas que suas casas assistiam em conjunto. A garota imaginava se Luna estaria se ausentando propositadamente, para evitar encontrar com ela. Não era uma possibilidade tão remota, considerando que Luna dissera com todas as letras que não queria nunca mais ter que olhar na cara dela – Gina pensava com amargura.
Sabia que não podia culpá-la, quando ela própria estava enjoada consigo mesma. Covarde, vadia, falsa – essas eram as palavras que uma vozinha maldosa sussurrava incansavelmente dentro da sua cabeça. Gina sabia, atormentada, que aquela era a sua alma reprimida implorando por liberdade. Saber que Luna lhe tinha desprezo era uma certeza com a qual não conseguia conviver. Era simplesmente doloroso demais.
- Gina – a voz um pouco elevada de Harry despertou-a de seus devaneios.
- Sim? – ela respondeu ainda atordoada.
Espiou a entrada do salão – Luna ainda não chegara.
- Em que planeta você está? Hermione falou com você – Harry disse, erguendo uma sobrancelha.
- Desculpe – Gina murmurou. – O que você dizia, Hermione?
- Eu só estive observando – Hermione disse, procurando parecer displicente ao passar uma camada generosa de creme de amendoim numa fatia de pão – que nos últimos dias você não tem se alimentado nada bem. Isso não é bom para a sua saúde, sabe...
- Eh – “Sua vaca. É sua culpa. É tudo sua culpa”, Gina pensou. – Desde quando você se preocupa com o meu bem estar?
- Eu sempre me preocupo com a saúde dos meus amigos, Gina...
- Amigos? Você sinceramente me considera sua amiga? – Gina perguntou, sarcástica.
- Sim, eu considero – Hermione respondeu, erguendo uma sobrancelha.
Harry observava a conversa, parecendo bastante confuso com a reação arredia da namorada a Hermione.
- É mesmo? Então deixe que eu lhe diga uma coisa sobre amizade – Gina falou com irritação. – Amigos apoiam uns aos outros em qualquer situação, e ajudam naquilo que for possível. Mas, acima de qualquer coisa, amigos desejam a felicidade uns dos outros.
- Eu desejo a sua felicidade – Hermione falou.
Gina ficou de pé, batendo os pulsos com força na mesa e causando a queda de alguns talheres no chão. Apertou os olhos para Hermione e disse, sob o olhar espantado de Harry:
- Você não sabe nada a respeito da minha felicidade. Você não sabe absolutamente nada.
- Gina...
- Você me considera sua amiga? Pois bem, deixo claro aqui que o sentimento certamente não é reciproco – a ruivinha sibilou, e fez menção de se afastar.
Harry a conteve, segurando seu pulso.
- Ei, relaxa, Gina – ele disse, sério. – Já foi longe demais.
Gina respirou fundo, sem encará-lo.
- Me solta, Harry – ela falou pausadamente. – Me SOLTA!
Gina puxou o braço com força, e saiu do salão principal a passos largos, com Harry em seus calcanhares.
- Espere aí, Gina! – ele berrou, irritado. – Precisamos conversar.
- Vai cuidar da sua vida – a garota bufou, subindo de dois em dois degraus a escada para o segundo andar.
- É exatamente o que eu estou fazendo – respondeu o garoto, e então apertou o passo para emparelhar com a namorada. – E você me deve alguma consideração, portanto, não me trate desse jeito estúpido. Eu sou seu namorado, e...
- Ah, é mesmo? – Gina disse irônica. – Então talvez eu não queria mais que seja, já que isso implica em ter você querendo se meter em tudo.
Harry colocou a mão no ombro de Gina e empurrou-a bruscamente contra a parede, segurando seus pulsos firmemente contra a pedra fria. Ela tentou se soltar, sem sucesso. Se era o momento de provar quem tinha mais força, Harry estava decidido a ganhar. Os dois sustentaram os olhares desafiadores durante um longo tempo, algumas mechas do cabelo ruivo de Gina mesclando-se na franja negra do rapaz.
- É isso o que você quer? – Harry perguntou, afinal. Estava sendo incrivelmente doloroso para ele fazer aquilo, mas o garoto segurava o olhar com firmeza. – Você realmente deseja acabar?
Silêncio - Gina não sabia o que responder. Ela abriu a boca para dizer algo, mas então mudou de idéia. Suspirou. Era muito mais difícil do que pensara, e Gina viu-se obrigada a desvia o olhar. Harry baixou a cabeça.
- Eu não estou mais certa de que é isso o que quero para mim – ela viu-se murmurando, e ficou espantada ao perceber que mal reconhecia a sua própria voz.
Gina sentiu as mãos de Harry afrouxarem o aperto em seu pulso, e muito lentamente ele se afastou. Durante vários minutos, nenhum dos dois disse nada. Então Harry falou vagarosamente:
- E se eu dissesse... que também não sei se quero estar com você?
Isso, definitivamente, foi uma surpresa para Gina. A princípio, ela imaginou que o garoto estava dizendo isso porque sua dignidade fora gravemente ferida. Quando Harry ergueu os olhos par encará-la, no entanto, Gina teve certeza de que ele estava sendo sincero.
Naquele momento, pela primeira vez em semanas, ela estava realmente prestando atenção nele. Havia uma sombra nos olhos de Harry, algo que não costumava estar ali. E ele parecia exausto, como se tivesse acabado de voltar da guerra. Sua respiração era pesada, e seu rosto exibia as feições de alguém que a vida já castigara o suficiente – primeiro perdera seus pais, depois Sirius... e agora descobria que a única pessoa em quem tinha se apoiado nos últimos meses simplesmente não podia faze-lo continuar em frente.
Gina lia tudo isso na imagem pálida de Harry. Por um momento sentiu seus joelhos fraquejarem outra vez, exatamente como acontecia em seu primeiro ano, quando da admiração infantil nascera uma paixão praticamente platônica. Ela teve um impulso de abraçá-lo, mas conteve-se. Harry recomeçou a falar.
“Eu também estou confuso.”
- Está? – Gina falou suavemente.
- Sinto muito – ele disse, desviando o olhar para o lado. – Eu traí você.
Harry não disse nada durante alguns segundos, obviamente esperando alguma reação de Gina. A garota, no entanto, não se moveu, limitando-se a continuar a observá-lo calmamente.
“Eu beijei outra menina”
- Quem? – Gina perguntou sem se alterar. – Cho Chang?
- Hermione.
Essa resposta decididamente foi um baque para Gina. Ela esperava ouvir qualquer nome, menos o de Hermione. Quer dizer, Gina tinha consciência de que estava sendo uma péssima namorada nos últimos tempos, portanto, não podia culpar Harry por ter procurado companhia mais interessante. Mas Hermione?
- Deixa eu ver se eu entendi direito – Gina falou com uma risada atordoada. – Hermione Granger?
- É, Hermione – Harry resmungou. – Você conhece mais alguma?
Gina sacudiu a cabeça, chocada.
- Não acredito. Você não pode estar falando sério.
- Ora, saiba que por trás daquela tonelada de livros e inteligência existe uma garota perfeitamente beijável – Harry falou, ofendido.
- Eu não estou dizendo que ela não é beijável, é que... simplesmente – Gina não conseguia encontrar palavras para explicar o quão absurdo aquilo lhe parecia. – Hermione foi a pessoa que mais, como eu poderia dizer, contribuiu para o começo do nosso relacionamento.
- Eu sei – Harry concordou com um suspiro. – Mas ela disse que gosta de mim... Acho que é coisa recente, sei lá. Não faço idéia do que fazer.
- Você gosta dela?
- É óbvio, ela é minha amiga – Harry respondeu.
- Você sabe que não é desse jeito que eu estou falando.
Harry revirou os olhos.
- Eu não sei. Gostei do beijo, sinceramente falando. Me deu arrepios...
- Poupe-me dos detalhes – Gina interrompeu, irritada.
- Desculpe. Mas, como eu dizia, gostei de ficar com ela... Se bem que não sei se poderia chamar um único beijo de ‘ficar’. De todo modo, Mione me escreveu uma carta. Quer ler?
Gina franziu o cenho. Não era muito ético ler coisas pessoais dos outros, mas levando em conta o fato de que se tratava de uma carta da garota que arruinara a sua vida para o seu namorado...
- Quero.
Harry meteu a mão no bolso e estendeu a carta para Gina. A garota desdobrou o pedaço de pergaminho e passou os olhos rapidamente pelas palavras escritas na letra caprichada de Hermione.
- “De repente eu acordei e percebi que você era muito mais especial para mim do que um simples amigo, e eu fiquei apavorada com essa idéia”, que tocante - caçoou Gina. – “Estarei esperando por você na Torre de Astronomia essa noite... E então você poderá me dizer se existe alguma chance de nós dois, você sabe, darmos certo.”
Oh, Hermione, sua grande vaca, Gina pensou. Ergueu os olhos para Harry, que parecia muito interessado em alguma coisa no chão.
- E então, você vai?
- Vou aonde? – perguntou o garoto, surpreso.
- Encontrar com ela na Torre de Astronomia.
- Ah – Harry disse. – Ah, na verdade... isso aconteceu há uma semana... Mas eu não fui ao encontro, antes que você pergunte.
- Por que não?
- Porque eu já tenho uma namorada – Harry disse simplesmente. – Ou tinha, como preferir. E, há uma semana atrás, eu não achava que estava prestes a levar um chute.
- Você não levou um chute – Gina revirou os olhos. – Não ainda...
- E suponho que isso seja uma tentativa de fazer com que eu me sinta melhor? – Harry zombou.
Gina sacudiu a cabeça, ignorando-o.
- Ok, agora eu estou realmente confusa. Então você e Hermione se beijaram há uma semana atrás, ela marcou um encontro para decidir as coisas e você não foi... O que, de certa forma, significa que você deu um magnífico gelo na garota. Mas, ainda assim, ela continua agindo como se nada tivesse acontecido. Isso é muito estranho.
- Não, não quando se trata de Hermione – Harry disse, encolhendo os ombros. – Ela está fazendo de conta que nada aconteceu e, pessoalmente, eu prefiro que continue assim.
Gina resmungou, mal humorada. Não entendia o que Hermione podia estar querendo. Realmente não entendia.
- E eu achava que tinha problemas – Gina murmurou.
Durante vários minutos eles não trocaram nenhuma palavra, até que a sineta indicando o início da primeira aula soou, e os dois voltaram a aterrizar na realidade.
- Nós teremos que terminar essa conversa mais tarde - Harry disse calmamente.
- Eu sei – Gina assentiu.
- Qual é a sua última aula hoje?
- História da Magia.
- A minha é Defesa Contra as Artes das Trevas. Acha que dá para escapar?
Gina fez que sim com a cabeça.
- Fácil, fácil.
- Perfeito. Então a gente se encontra na frente da biblioteca. Tudo bem?
Gina concordou, e cada um seguiu sem rumo com a certeza de que aquele seria um longo dia.
***
- Lovegood – Gina ergueu o rosto ao ouvir Snape pronunciar o nome de Luna durante a chamada. – Lovegood – ele repetiu mais alto, sem obter resposta.
Gina voltou os olhos para a sua mesa. Luna não se encontrava lá outra vez. Gostaria de saber onde ela estava passando todo o tempo dessas aulas que estava cabulando. Na Torre de Astronomia, talvez? Fazia sentido, pois era um dos melhores lugares para alguém ficar quando não queria ser encontrado – Filch raramente subia até lá, pois a escadaria era longa, íngreme e cansativa.
De todo modo, estava começando a se preocupar. Luna era bastante inteligente, mas teria sérios problemas com notas se continuasse a faltar às aulas daquela maneira. Especialmente porque ela não tinha o costume de estudar, e valia-se de sua memória excelente para conseguir bons resultados nos testes.
A garota sentiu seu estômago apertar, e afundou na cadeira. Gostaria de falar com ela, mas não tinha coragem. Temia ouvir mais coisas dolorosas como as que Luna dissera no banheiro da Murta. Talvez pedisse para alguém conversar com ela... mas quem? Ninguém ali parecia fazer caso se Luna estava viva ou morta, e Gina sabia que a garota não daria atenção a conselhos de pessoas que considerava estranhas em sua vida.
Snape acabou de fazer a chamada, e a aula começou a correr normalmente. Gina desejou que houvesse alguma janela na sala para onde pudesse olhar e se distrair. Aquela era a penúltima aula do dia, e dentro de alguns minutos estaria encontrando com Harry diante da biblioteca. Mas o que ia dizer? Ainda não sabia.
Aquela história de Hermione, apesar de bastante surpreendente, não modificava em nada a situação que estavam vivendo – pelo menos não para Gina. Ok, terminaria com Harry. Mas o que faria a seguir? Procurar Luna? Implorar seu perdão? Era uma possibilidade... No entanto, a sombra da ameaça de Hermione ainda pairava sobre a sua cabeça. E se ela realmente contasse para Rony? E se todos viessem a descobrir? Mesmo que Mione não dissesse nada, sempre existiria a chance de alguém encontrá-la aos beijos com Luna, exatamente como acontecera com Padma e Hannah.
Gina pensou nas meninas com um sentimento quente de simpatia. Elas eram tão corajosas, enfrentando a tudo e a todos para poderem viver seu amor em paz, sem precisar esconder nada... Gina gostaria de ser como elas.
Mas não era.
Distraída com seus pensamentos, a garota teve um de seus piores desempenhos durante uma aula de poções naquela semana. Snape, é claro, não deixou passar nenhum descuido, de modo que quando a sineta anunciando o final daquela aula tocou, Gina já havia perdido 35 pontos para a Grifinória.
Ela apanhou seu material rapidamente, atirando penas e pergaminhos sem muito cuidado na mochila. Deixou as masmorras apressadamente, seguindo estrategicamente um grupo de colegas. Quando não tinha nenhum monitor a vista, esgueirou-se pelo corredor à direita, e chegou sem problemas na biblioteca. Harry ainda não estava ali.
- Que ótimo – Gina resmungou em voz baixa. – Atrase mais um pouco e Madame Pince vai começar a desconfiar que eu não tenho a menor intenção de comparecer à próxima aula.
Já estava começando a amaldiçoar toda a primeira geração de descendentes de Harry quando ouviu a voz do garoto chamando às suas costas.
- Gina... Gina...
Ela se virou, identificando a cabeça do garoto espiando atrás de uma armadura. Correu para ele.
- Você está atrasado – sibilou.
- Eu tinha ido pegar isso – Harry falou, e só então Gina percebeu que o corpo do rapaz estava invisível. Ele abriu espaço para ela entrar debaixo da capa de invisibilidade, e então os dois rumaram sem pressa para fora do castelo.
- Aonde estamos indo? – Gina perguntou.
- Para a cabana do Hagrid. Sempre fica vazia a essa hora, porque ele está dando aula. Achei que era um bom lugar para conversar, sem muita interferência.
Gina não disse nada. Eles caminharam em silêncio até a cabana, que exalava fumaça pela chaminé. Imaginou se o bruxo não estaria mesmo em casa, e expressou essa sua dúvida em voz alta para Harry.
“Ele não está. A fumaça é da água que ele deixa esquentando para molhar os pés, depois de um longo dia de trabalho. Ajuda a relaxar, sabe.”
- Claro – Gina disse. – Só fico imaginando o tamanho da bacia...
Os dois riram, e por alguns momentos a sensação entre eles foi de descontração. Gina até sentiu a mão de Harry roçando levemente a sua, como se ele tivesse a intenção de segurá-la. Mas não o fez, pois a consciência do real motivo pelo qual estavam se dirigindo à cabana de Hagrid acabou depressa com aquela vontade repentina.
Quando chegaram diante da construção de pedra, Harry abaixou-se ao pé do degrau e apanhou a chave, que estava escondida em uma caixa sob um vaso de barro quebrado. O rapaz, então, abriu a porta, e os dois entraram na cabana. Assim que tiraram a capa, Canino voou sobre Harry e derrubou o garoto no chão, lambendo alegremente o rosto dele.
- Ok, Canino, ok – Harry disse, rindo um pouco.
Conseguiu se levantar, e com o cachorro pulando em seus calcanhares, largou-se em uma das poltronas de Hagrid. Canino acomodou-se ao lado dele, abanando o rabo com satisfação.
Gina juntou a capa que caíra no chão, e sentou-se na poltrona diante de Harry. Eles se encararam, percebendo que não sabiam exatamente por onde começar.
- O mínimo de interferência possível – Gina murmurou quando Canino deu dois latidos altos e lambeu a orelha de Harry, que fez uma careta.
- Eu tinha esquecido desse detalhe – justificou-se Harry, empurrando o focinho do cachorro com a mão. – Acho que ele decididamente não gosta de ficar sozinho.
- Nenhum cão gosta – Gina disse, encolhendo os ombros. – É por isso que prefiro gatos. Eles são mais independentes, espertos, e não deixam o seu rosto cheio de baba.
- Eh – Harry disse com um meio sorriso.
Novamente o silêncio. Harry remexeu-se incomodamente em seu lugar. Gina suspirou.
- Então – ele começou, um pouco nervoso. – Você pensou a respeito do que conversamos hoje cedo?
- Pensei – Gina respondeu, cansada. – Pensei muito, o tempo todo.
- E você chegou a uma decisão? – indagou o garoto, ansioso.
Gina o encarou, séria, e muito lentamente assentiu com a cabeça.
- Cheguei.
- Antes de você dizer – Harry falou, apressado. – Eu gostaria de falar algumas coisas... Alguns detalhes em que estive pensando ultimamente. E ficaria feliz se você considerasse para a sua decisão.
- Ok – Gina concordou.
Harry ajeitou-se na cadeira, Canino bafejando em sua orelha.
- Bem – ele disse, parecendo escolher as palavras certas em sua cabeça. – Um relacionamento é algo que... é algo... é...
Gina franziu o cenho.
- Continue.
- Certo, na verdade – Harry falou, desajeitado. – Eu estive ensaiando isso o dia inteiro. Mas agora não consigo lembrar das palavras certas... Então, vai sair bastante ruim.
- Harry, não enrola...
- Eh, certo. Um relacionamento é algo que envolve, principalmente, reciprocidade. É necessário haver... ahn... troca – ele parou alguns momentos, analisando o que acabara de dizer. – Esqueça. Esqueça, não é isso.
- Harry...
- Ok, ok. Sem frases feitas. Gina, eu não quero terminar com você. Eu gosto muito de estar com você, e eu me sinto muito bem. Falei aquelas coisas sobre a Hermione porque... Bem, eu estava ferido. Eu achei que se fizesse você ficar com ciúmes, talvez...
- Então era mentira?
- Não! – ele disse rapidamente. – Não era. Mas eu não tinha a intenção de contar...
- O quê? – bufou Gina, indignada.
Harry arregalou os olhos, obviamente percebendo que escolhera o modo errado de começar a falar.
- Eu só achei que não tinha necessidade – ele se apressou. – Além disso, você estava meio chateada naqueles dias, e eu pensei que seria melhor...
- Pensou errado – cortou Gina.
- Ok, desculpe – Harry resmungou. – De todo modo, o que eu estou até agora tentando dizer, é que, às vezes, as coisas não saem exatamente como a gente espera. Talvez o nosso namoro não esteja tão legal quanto era no começo, mas é algo que podemos mudar. Isso é tudo uma questão de dedicação.
Ele parou de falar momentaneamente. Gina piscou.
"Como o fogo, certo? Para manter aceso, você precisa continuar alimentando as chamas com lenha, ou ele simplesmente apaga. Se a gente se dedicar um pouco, as coisas podem ficar melhores! É preciso saber exatamente o que se deseja, sabe. Eu, por exemplo. Eu quero continuar namorando com você. É por isso que eu dei aquele fora na Hermione, é por isso que eu tenho evitado conversar com a Cho Chang... Porque eu sei que são coisas que vão atrapalhar a gente, e eu não quero que isso aconteça. Basta saber se você também deseja isso.
Gina baixou os olhos para o chão, em silêncio. Mordeu o lábio inferior nervosamente.
- Concordo com você, Harry. Mas, às vezes, alguém joga água no fogo... às vezes, simplesmente acaba.
Harry enterrou o rosto nas mãos, cansado. Nenhum dos dois disse nada durante um longo tempo, e o único som que se ouvia era a respiração arfante de Canino.
- Então é isso – Harry disse, afinal. – Acabou.
Gina não respondeu. Ele sacudiu a cabeça, inconsolado.
“Tudo bem. Tudo bem, eu aceito. Mas só gostaria de saber uma coisa: por quê? O que foi que eu fiz de errado?”
- Nada – Gina murmurou. “Talvez um dia você entenda, Harry, que já começou pelos motivos errados”, ela pensou.
- Claro, como sempre, as garotas não gostam de justificar o motivo de estarem dispensando o sujeito. Típico – Harry disse sarcástico. – Talvez eu entenda isso quando precisar dar um pé na bunda de alguém, não é mesmo? O que é, uma espécie de regra do “não faça com que ele se sinta pior do que já está”?
- Pare com isso – Gina suspirou. – Você está agindo como um bebê.
- Eu estou agindo como um bebê? – indagou Harry, exaltado. – Desculpe, mas não sou eu que estou terminando um relacionamento que tem tudo para dar certo só porque apareceram alguns problemas...
- Não é bem assim, e você sabe – Gina retrucou, começando a se aborrecer também. – Não jogue isso na minha cara, porque você está bastante equivocado.
- Quem está equivocado aqui – Harry começou, vermelho.
A discussão provavelmente teria ficado pior e ido muito mais longe se, naquele exato momento, a porta da cabana não tivesse se escancarado com estrondo. Harry e Gina pularam das poltronas, assustados.
- Hagrid, eu... – a profa. McGonagall parou, olhando espantada para os dois.
Perfeito, Gina pensou, agora estavam realmente encrencados. Pegos em flagrante cabulando aula, e justamente pela diretora da Grifinória. O que poderia ser pior?
- Srta. Weasley, que bom que a encontrei – disse McGonagall, e para a total descrença de Harry e Gina, ela parecia aliviada. – Me acompanhe, por favor.
- Professora – Harry precipitou-se. – Não é culpa da Gina. Fui eu que insisti para que ela escapasse da aula...
- Como é? – McGonagall indagou, fazendo descaso. – Oh, não, Potter, sem problemas. – e virando-se para Gina. – Vamos, querida, venha comigo.
- O que aconteceu? – perguntou Gina, apreensiva. – Algum problema com algum dos meus irmãos? Meus pais, eles estão bem?
- Não é nada com a sua família – tranqüilizou-a McGonagall, enquanto praticamente a arrastava para fora da cabana. Harry foi atrás delas mesmo sem ter sido convidado.
- Então eu não entendo... – Gina falou, confusa.
- Afinal, o que é que está havendo? – Harry perguntou impaciente.
McGonagall virou-se para ele, os olhos brilhando estranhamente.
- Potter, nesse ponto sou obrigada a concordar com o prof. Snape: você, de fato, adora meter o nariz em assuntos que não lhe dizem respeito.
- Ora – Harry disse, indignado, mas Minerva o ignorou. Voltou-se para Gina, e a expressão em seu rosto era séria e preocupada. A ruivinha teve o pressentimento de que não gostaria nem um pouco do que estava para ouvir. E acertou.
- A Srta. Lovegood – McGonagall disse tomando fôlego. – desapareceu.
***
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