Epílogo
29 de Junho de 2000.
_ Sev... você me ama?
_ Por que isso agora? _ ele perguntou, a voz soando preguiçosa e abafada contra os cabelos dela.
_ Porque você só me disse isso três vezes em todos esses meses.
_ Tonks _ ele suspirou _ quantidade não significa qualidade.
Snape ouviu-a fazendo um muxoxo e sorriu, olhos ainda fechados, uma mão percorrendo lentamente as costas nuas. Aqueles meses com ela haviam passado num piscar de olhos, como sempre acontece com algo muito bom. No caso, algo muito bom permeado aqui e ali por pequenos desentendimentos, era verdade; mas nada que não pudesse ser relevado. Personalidades absurdamente opostas iam se encaixando, se adaptando uma à outra da melhor forma possível... Ele suspirou. Se a amava? Com toda a certeza, cada dia mais; tanto que se assustava e não sabia muito bem o que fazer com todo aquele sentimento. Era como uma poção que houvesse desandado e criado vida própria. Bem. Ele nunca fora e jamais seria o tipo que faz belas e românticas declarações; então esperava que algum dia Tonks se desse conta de todos os “eu te amo” que ele lhe dizia através de gestos, toques e, principalmente, implicâncias.
_ Certo, então. Quantidade não signifca qualidade _ ela continuou _ O que me diz de reduzirmos nossa noites juntos pra... uma por semana?
Os olhos dele se abriram de súbito; e Snape deu de cara com uma Tonks que tentava a todo custo segurar o riso. Então, ele estreitou os olhos.
_ Você não agüentaria _ ele sussurrou com voz de seda no ouvido dela e depois, fez a língua percorrer todo o pescoço até o ombro, enquanto a mão descia pelas costas, trazendo-a para bem junto de si.
_ Mmm.
Oh, como ele nunca se cansava daquilo... do contato, do toque, da crescente excitação. Chegava a ser até vergonhoso, quem um dia poderia dizer que ele, Snape, passaria tantas horas... bem, daquela forma? Os lábios dela encontraram sua boca e varreram todo e qualquer pensamento de sua mente. Porém, minutos depois, quando sentiu uma mão descendo por seu corpo, controlou-se e a segurou pelo pulso.
_ Depois. Temos o Banquete de Encerramento daqui a quinze minutos; e depois, ainda tenho que corrigir pilhas de exames.
_ Droga _ ela murmurou emburrada _ Como você pode ser tão cruel, Snape?
_ Sendo _ ele respondeu, simplesmente; e os cantos de sua boca se curvaram um nada para cima. Tonks ia replicar mas se interrompeu quando uma coruja surgiu à janela.
_ Talvez eu devesse abandonar, então, alguém tão cruel _ ela disse, enquanto abria a vidraça e deixava a ave entrar.
_ Se conseguir _ ele respondeu se espreguiçando. Então, ficou de pé e começou a se vestir.
_ Presunçoso.
_ Tolinha.
Tonks mostrou-lhe a língua enquanto abria a carta; então, sempre lendo, uma ruguinha entre as sobrancelhas, pôs-se também a se vestir. Por fim, com um suspiro, deixou de lado o pergaminho.
_ Mamãe _ ela disse a ele, que se aproximava abotoando os últimos botões do casaco _ Quer saber o que vou fazer nas minhas férias. Aposto que ficaria louca se soubesse que metade delas vou passar com “aquele traiçoeiro do Snape”_ ela revirou os olhos.
Mas Snape não sorriu, pelo contrário: parecia muito tenso.
_ Quando pretende contar a ela?
_ Estava pensando num jantarzinho íntimo, nós dois e meus pais, o que acha? _ e, vendo a expressão do mais completo horror no rosto dele, jogou a cabeça para trás e gargalhou.
Snape a fuzilou com os olhos e seus lábios se crisparam enquanto a puxou pela mão.
_ Vamos. Estamos atrasados.
_ Pra variar _ ela abafou uma risadinha, entrelaçando os dedos nos dele _ Mas, sério. Nessas férias vou amaciando ela aos poucos. Contar tudo, do mal-entendido e tudo o mais. Você vai ver. Mamãe pode ter um péssimo gosto pra nomes mas... não é tão má pessoa assim.
Snape apenas lançou-lhe um olhar enviesado; e nada disse.
_ O que foi?
_ Se o gênio dela for igual ao da filha... _ ele respondeu, olhando para a frente e tentando parecer muito sério.
_ Snape!
*
_ Parece que foi ontem que batemos com o carro do papai no salgueiro lutador! _ disse Rony, alegre, tendo que falar num tom mais alto por causa das vozes animadas que enchiam o Salão.
_ E que descobrimos toda a verdade sobre o Sirius _ suspirou Harry, franzindo a testa e olhando para a mesa coberta de comida.
Os outros três se entreolharam e, rápidos, trataram de dar um jeito na depressão que ameaçava o garoto: Ron colocou-lhe um copo de suco de abóbora nas mãos, a namorada deu-lhe um beijo no rosto e Hermione perguntou:
_ É. Mas agora, temos que olhar pra frente. E então, Harry? Já resolveu se vai aceitar o convite do Ministro?
_ Você realmente acha que eu vou fazer isso, Hermione?
_ Que eu saiba _ disse Gina – seu grande sonho sempre foi ser auror.
_ É. Mas não quero nada do Scrimgeour. Se eu realmente decidir seguir essa carreira, vai ser por mérito meu... e se não der certo... digamos que eu tenha uma outra carta na manga.
Ele sorriu e tomou lentamente um gole de suco, enquanto os amigos o bombardeavam com perguntas. Mas, antes que pudesse responder, o burburinho no Salão morreu de repente. Seguindo o movimento de cabeças, os quatro se viraram... para ver adentrar o Salão, de mãos dadas, Severus Snape e Nymphadora Tonks. Harry engasgou com o suco, Ron soltou um palavrão, Hermione cobriu a boca com as mãos e Gina era o retrato da incredulidade.
_ Mas o quê...?
E o pior era: os dois pareciam tão absortos no que quer que estivessem se dizendo um ao outro que nem notavam o que ocorria à sua volta. Foi apenas quando estavam quase chegando à mesa dos professores que Snape estacou de repente; e sentiu as orelhas pegando fogo. Oh, Merlin! Tinham finalmente se traído. Sentiu a cor deixando o rosto e queria que um buraco se abrisse no chão. Tonks olhou para ele, franzindo a testa. Então, Snape indicou as mãos com um olhar. Ela mordeu o lábio, pensou um pouco e então disse, mal movendo os lábios:
_ Amigos. Nós somos amigos. Não há nada de errado nisso.
Não ia funcionar, não pelo olhar inquisidor e, ele podia jurar, levemente divertido que todos os professores e principalmente Minerva McGonagall, estavam lançando a eles. Nem pelos murmúrios às suas costas, os quais ele tentou ignorar mas não conseguiu. Mas, é. Tonks estava certa. Pensando se valia gastar todas as economias em um vira-tempo, Snape manteve a pose e só largou a mão de Tonks quando puxou a cadeira para que ela se sentasse.
*
Tonks não parava de balançar a perna, remexer os pergaminhos e analisar frascos de poção com o nariz torcido, perturbando o silêncio das masmorras.
_ Tonks.
_ O quê?
_ Preciso terminar isto _ e ele apontou uma pilha de pergaminhos com pelo menos meio metro de altura _ até o final da semana. E com todo esse barulho...
_ Ok, ok, já entendi. Vou ficar ali na poltrona, tudo bem?
Ele apenas assentiu com a cabeça e voltou a tentar mergulhar no trabalho. A cena da “entrada triunfal” dos dois no Salão não saía de sua mente. Havia sido tão cuidadoso até então, conseguindo ocultar com perfeição o que lhe ia por dentro, que não queria (e não conseguia) tirar os olhos dela, o quase-sorriso que se insinuava por seus lábios, e logo era reprimido, todas as vezes em que apenas *pensava* nela. Não acreditava muito que alguém além deles fosse comprar aquela história de amigos, mas pelo menos havia feito sua parte, agindo normalmente. Agora, era preciso que fossem ainda mais cuidadosos, ao menos enquanto ainda não contavam a Andrômeda Tonks. Snape ainda sentia as orelhas queimando quando empurrou os pensamentos pro fundo da mente, tentando se concentrar no trabalho. Porém, minutos depois...
_ Sev?
Ele bufou, olhando para o teto.
_ O que foi?
_ Posso abrir aquela garrafa de vinho?
Ele tinha prometido a ela que beberiam mais tarde. Mas agora...
_ Me deixando trabalhar em paz...
_ Uh, desculpa.
E ele nada respondeu. A sala pareceu mergulhar outra vez num abençoado silêncio até que...
_ Ops.
A taça escorregou das mãos dela e fez um estrondo ao bater no chão, tingindo as pedras de vermelho escuro. Snape bateu o calhamaço de papéis na mesa e fechou os olhos.
~* FIM *~
(notas e comentários no próximo capítulo)
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